A recessão que está afectar a África do Sul poderá saltar a fronteira e influenciar a economia moçambicana, “vai gerar tendências inflacionárias, principalmente para os produtos de primeira necessidade” explicaram ao @Verdade economistas do IESE que alertam que o “desemprego na RSA pode ter efeito negativo sobre as remessas dos trabalhadores moçambicanos” e ainda “há um risco de se despertar a onda de xenofobia”.
“Estamos em recessão. Divulgamos contracção no primeiro trimestre...e agora no segundo trimestre com queda de 0,7 por cento”, revelou o estatístico-geral da África do Sul Risenga Maluleke precisando que o cenário foi fundamentalmente influenciado pela queda na produção agrícola, caiu 29,2 por cento no segundo trimestre.
Sendo o País vizinho a fonte de um terço das importações de Moçambique, em 2017 importamos bens no valor total de 1,7 biliões de dólares norte-americanos, mais 4,4 por cento do que em 2016, o @Verdade perguntou ao Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) se a recessão poderá ter impacto na nossa economia que ainda em crise.
“A queda da produção e redução da demanda na África do Sul vai gerar tendências inflacionárias, principalmente para os produtos de primeira necessidade, visto que a produção agrícola esta a cair. Dada a dependência de importações deste tipo de produtos na região sul do país, há, por isso, risco de inflação importada. Claro, que estes efeitos dependem do comportamento da taxa de cambio Rand/Metical – durante as ultimas semanas, o metical tende a apreciar face ao rand, mas este efeito pode ser diluído pelas tendências inflacionarias nos produtos sul-africanos”, começaram por explicar os economistas Epifânia Langa, Carlos Muianga e Yasfir Ibraimo.
Antes do anúncio da recessão a moeda sul-africana esta cotada em Moçambique a 4/4,08, compra e venda, mas nesta quarta-feira havia depreciado-se para 3,83/3,91 meticais por Rand. A volatilidade do Rand, assim como do dólar norte-americano, é um dos principais desafios indicados pelo Banco de Moçambique para a economia nacional.
Mas os economistas do IESE acautelam que: “A longo prazo, o impacto final vai depender do balanço destes dois movimentos opostos. Pode haver aqui uma oportunidade para a promoção da produção agrícola doméstica, mas não é automático que vai existir a capacidade para responder a esta demanda a curto prazo”.
Moçambique importa quase tudo do País vizinho, de acordo com as Estatísticas do Comércio Externo de Bens - Moçambique, no ano passado foram mais de um milhar de diferentes produtos e serviços que são fulcrais para sector prioritários como são a Saúde, a Agricultura, a Indústria transformadora e a Energia.
As maiores importações foram de energia eléctrica, 269 milhões de dólares norte-americanos, automóveis, 67 milhões de dólares, e medicamentos, 24 milhões de dólares. Mas no rol de milhares de produtos que importamos da África do Sul há também farinhas de cereais, 9,7 milhões de dólares, cervejas e sumos de frutas, 27 milhões de dólares, todo tipo de hortícolas e legumes, e até mesmo milho, que supostamente o Moçambique produz e até cria excedentes, no ano passado foram importados 22 milhões de dólares.
“Há um risco de se despertar a onda de xenofobia”
Para os economistas do IESE: “A recessão também significa que o investimento sul-africano em Moçambique vai contrair dado o encarecimento do capital na África do Sul neste contexto. Por outro, as multinacionais sul-africanas mais competitivas vão também procurar mercados mais dinâmicos para sustentar o seu crescimento, olhando para a região e para o continente”.
“O grau de aproveitamento destas oportunidades vai depender da atractividade de Moçambique para o investimento estrangeiro comparativamente aos outros países da região. Para além das questões já discutidas do ambiente de negócios e (des)incentivos específicos que inibem (ou promovem) o investimento, também, não se pode esquecer que estamos também ainda em contexto de crise económica, o que não é encorajador ao investimento”, acrescentaram.
Ressalvando que há necessidade de uma análise mais aprofundada dos dados Epifânia Langa, Carlos Muianga e Yasfir Ibraimo prognoticaram ao @Verdade que: “O desemprego na RSA pode ter efeito negativo sobre as remessas dos trabalhadores moçambicanos na RSA, principalmente na região sul do país”.
Ademais, “Há um risco de se despertar a onda de xenofobia face ao contexto de redução de oportunidades de emprego e encarecimento do custo de vida”.
Há sinais de que este último alerta dos economistas do IESE já estará a acontecer, no passado dia 29 dezenas de lojas foram assaltadas e saqueadas no icónico bairro do Soweto, em Johannesburgo, degenerando numa nova onda de violência contra os imigrantes que são os donos desse pequeno comércio.
Em 2008, altura em que a África do Sul havia entrado em recessão pela última vez, a violência contra cidadãos estrangeiros na África do Sul causou a morte de 62 pessoas entre elas vários cidadãos moçambicanos.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique