"Fazer cinema em Portugal requer muito esforço e muita paixão". Foi esta uma das principais conclusões do Prelúdio de Ideias que, no passado dia 4 de maio, decorreu em Figueiró dos Vinhos, tendo como tema central de reflexão 'Cinema e Audiovisual: Olhares que nos movem, ecrãs e objetivas, lentes que contam de nós'.
Esta ideia foi corroborada pelo painel de oradores convidados:
- Marta Brás, vereadora da Cultura Figueiró dos Vinhos;
- Rafael Almeida, diretor Shortcutz Figueiró dos Vinhos;
- Bruno Carnide, realizador de cinema e diretor Leiria Film Fest;
- Teresa Garcia, presidente da Associação Os Filhos de Lumière;
- João Lopes, crítico de Cinema, Encenador, Professor e Realizador;
- e Pedro Neves, documentarista.
A importância "fundamental" que a educação tem no que diz respeito ao Cinema foi também defendida no encontro, sobretudo por Teresa Garcia, presidente da Associação 'Os Filhos de Lumiére', que partilhou a sua experiência e o trabalho que tem realizado nas escolas, no âmbito do projeto 'Crescer com o Cinema'. As abordagens mais didáticas, que permitem aos jovens experienciar, conhecer e até realizar são, no seu entender, de extrema importância para a formação de públicos. "Não se aprende a gostar, a conhecer cinema, sem se ser confrontado com o cinema, desde cedo, sem ver e pensar, verbalizar, os filmes", defendeu. E isto numa época em que os mais jovens passam o tempo a olhar para ecrãs (seja de telemóveis, seja de computadores), mas desconhecem a forma de olhar e captar a imagem, segundo esta responsável. E para o crítico de cinema João Lopes, essa proliferação de ecrãs do dia-a-dia está, até, a afastar as pessoas das salas de cinema convencionais.
Em seu lugar, admitiram os oradores, com alguma preocupação, o espaço do cinema está a ser ocupado, em horário nobre nas televisões, pelas telenovelas, cuja mensagem que passa, ao contrário da cinematográfica, é de um consumismo imediatista e não "o fazer pensar".
Os dois jovens realizadores do painel, Rafael Almeida e Bruno Carnide, partilharam as suas experiências de dirigir festivais de cinema (o Shortcutz de Figueiró dos Vinhos e o Leiria Film Fest, respetivamente), lamentando, por um lado, a dificuldade de conseguir apoios e, por outro, de conquistar público. Rafael Almeida chegou mesmo a dizer que a "falta de pessoas" o está a levar a ponderar ter de sair de Figueiró dos Vinhos, onde reside.
A vereadora Marta Brás explicou a dificuldade de, sendo uma vila com baixos recursos, conseguir disponibilizar verbas para apoiar as atividades culturais.
Finalmente, o documentarista Pedro Neves, lembrando que na atualidade, tudo é mensurável, e num país onde é tão difícil congregar apoios para as iniciativas cultuais, questionou "quanto custa a ausência de cinema".
Acerca da candidatura a Capital Europeia da Cultura, os oradores, a exemplo de outros encontros, voltaram a defender a importância de, nesta estratégia, se apostar em várias dimensões culturais, com diversas referências, inspirações e projetos, congregando o que é local com o europeu, de forma a criar algo que persista para além de 2027.
Plataforma digital
Nesse âmbito, foi apresentado mais um importante passo dado no âmbito do trabalho da Rede Cultura 2027: a construção de uma plataforma digital que vai congregar os agentes locais do território dos 26 municípios que compõem a rede e constituir-se como uma única e gigante agenda cultural de toda esta região que tem, no total, 805.150 habitantes. Neste momento, estão inscritos 1.081 agentes. E, passo a passo, vai ser carregada a criação cultural de cada um. Mais do que um site, este espaço da Rede Cultura 2027 vai ter como ferramenta essencial uma APP, cuja conclusão e apresentação será feita nas próximas semanas. Esta será responsável por fazer a ligação entre a oferta disponível e as preferências do público.
Este projeto digital tem ainda a particularidade de vir a criar uma rede de embaixadores que irão catapultar toda a dinâmica cultural.
Os Prelúdios
Este ciclo de Prelúdios de Ideias que já passou por Alcobaça, Leiria, Torres Vedras, Caldas da Rainha e Figueiró dos Vinhos, está dividido por temas e tem como palco vários concelhos do território desta Rede.
Os próximos terão lugar nas seguintes datas e locais:
- Dia 1 de junho, Nazaré. 'Etnografia e o Folclore: o antropológico, o património imaterial, o craft e as filarmónicas onde ficam?';
- Dia 15 de junho, Tomar. 'Património Material: memórias, as pedras e os sonhos que contam de nós';
- Dia 22 de junho, Óbidos. 'O Livro e o Pensamento: o sentido das coisas e das palavras possíveis'.
Refletir a Cultura
A Rede Cultura 2027 e a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura, sustentadas por esta união de 26 municípios (das CIM de Leiria, Oeste e Médio Tejo) que foi formalizada no dia 22 de fevereiro último, têm como matriz a realidade, mas sobretudo as ambições e a fórmula de interagir e complementar-se dos agentes culturais e das comunidades que habitam todo o território destas vilas e cidades parceiras.
Desde finais de 2018, e para além dos Prelúdios de Ideias, que o órgão executivo deste projeto tem vindo a realizar reuniões mais intimistas em TODOS os municípios que integram a Rede, dando voz aos seus agentes culturais. É uma atividade em curso e que só terminará quando todos tiverem oportunidade de expressar o seu sentir.
Este projeto começou a ser delineado em 2015, com a intenção de Leiria assumir a candidatura a Capital Europeia da Cultura. Nos dois anos seguintes, foi constituído um grupo de missão que, após um exaustivo estudo e trabalho, concluiu pela constituição de uma Rede de Municípios parceiros, tendo como prioridade a Cultura, à qual se foram associando vilas e cidades das CIM de Leiria, do Oeste e do Médio Tejo.
São hoje 26. E são estes que dão forma a esta Rede, participando na preparação e apresentação do programa da candidatura.
Todo o trabalho realizado no terreno permitirá a criação de uma base de dados digital, que possibilitará conhecer a oferta cultural de cada um destes parceiros, possibilitando ainda ao Conselho Estratégico coligir as principais conclusões e prioridades culturais a integrar o documento da candidatura a Capital Europeia da Cultura.
Helena Silva