A 25ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai ter a participação de 66 olarias e ceramistas de Portugal e de Espanha. O Centro Oleiro de S. Pedro do Corval terá 21 olarias no certame e o de Salvatierra de los Barros contará com 10 expositores.
Participam também nesta edição comemorativa olarias de Algés, Condeixa-a-Velha, Aveiras de Cima, Mourão, Assafora, Valongo do Vouga, Beringel, Loures, Queluz (3), Galegos Santa Maria, Odivelas, Évora, Guimarães, Redondo, Ermesinde, Ponte de Sor, Barcelos (2), Coimbra, Estremoz, Beja, Mafra (2), Baixa da Banheira, Albufeira, Vila Nova de Famalicão, Amares, Vila Nova de Milfontes, Trofa e Sabugal. De Espanha, vão estar igualmente no certame olarias de Badajoz (2) e de Mérida.
A Festa Ibérica da Olaria e do Barro é uma homenagem viva à arte da olaria através de exposições, demonstrações ao vivo, jornadas ibéricas e música tradicional, pretendendo-se valorizar a olaria, chamar a atenção para o seu valor artesanal e artístico e apontar estratégias para o seu desenvolvimento económico e profissional. Este evento transfronteiriço é organizado em anos alternados em cada município.
O programa da 25ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro abre no dia 23 de maio, às 18h, com a cerimónia oficial e a visita aos expositores. A primeira noite do Festival de Música ibérica vai receber pelas 22h a atuação do grupo Roda Pé.
Na sexta-feira, dia 24 de maio, na Sociedade União e Progresso Aldematense, decorrem a partir das 10h as Jornadas Ibéricas de Olaria e Cerâmica sobre “A sustentabilidade económica do setor”. A primeira apresentação será sobre “A olaria no quadro da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial da UNESCO”, por Ana Paula Amendoeira, Diretora da Direção Regional de Cultura do Alentejo, seguindo-se “Emprego e empreendedorismo no artesanato”, por Paula Caeiro, Diretora do Centro de Emprego e Formação Profissional de Évora. Ainda durante a manhã haverá intervenções de Vitor Dordio, da ADRAL – Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo, sobre “Oportunidades de investimento para o setor oleiro”, e de Jose Angel Calero, técnico do Museu de Alfareria de Salvatierra de los Barros, sobre “A evolução da olaria de Salvatierra de los Barros nos últimos 25 anos”, seguindo-se um debate.
As jornadas prosseguem a partir das 15h com as comunicações “Da tradição ao futuro”, por José Luís Almeida e Silva, Diretor da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, “Tradição e internacionalização” pela ceramista Sónia Borga, e “Diferenças e semelhanças entre a cerâmica espanhola e portuguesa. Projetos do Agrupamento Europeu de Cidades Cerâmicas”, por Oriol Calvo, da Associação Espanhola de Cidades da Cerâmica. A fechar haverá a apresentação “Memórias para memória futura”, por Antónia Conde, do CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, e o debate.
A Festa Ibérica da Olaria e do Barro prossegue às 17h30 com workshops de vientos andinos, tambores batá e ritmos afro-latinos com o projeto MICA. Este projeto argentino atua à noite, pelas 22h, no Festival de Música Ibérica.
No sábado, à mesma hora, o festival terá um concerto com a Banda da Sociedade Filarmónica Corvalense com o cantor lírico Carlos Guilherme e a soprano Filipa Lopes. O último dia da Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai ter um espetáculo de homenagem a Manuel Conde (26/09/1938 - 25/5/2005), natural de S. Pedro do Corval, que tendo aprendido o habitual ofício de oleiro, desde muito jovem revelou apetência e interesse pela música.
A aprendizagem amadora junto de filarmónicas do concelho, em particular com o Maestro Silva Domingues que durante cerca de trinta anos dirigiu a Banda da Sociedade Filarmónica Harmonia Reguenguense, viria a ser consolidada com o seu ingresso na Banda Militar de Évora, à época uma das principais estruturas de aprendizagem e desenvolvimento musical do sul do país. Possuidor de uma invulgar paixão e interesse pela execução instrumental, tocou um vasto e diversificado naipe de instrumentos (trompa de harmonia, trompete, guitarra acústica e elétrica, violino, piano, órgão eletrónico, entre outros), mas foi como compositor que o seu trabalho viria a ser reconhecido e valorizado, com mais de quatro dezenas de originais da sua autoria.
O espetáculo de homenagem a Manuel Conde inicia-se às 17h30 e terá em palco Celina da Piedade, Pedro Mestre, Mário Moita, Jorge Roque, Jaime Varela, Leila Silva, Ana Tareco, o poeta Manuel Sérgio, a Banda da Sociedade Filarmónica Corvalense, o grupo musical Newma, o Coro Polifónico da Sociedade Filarmónica Corvalense, o Grupo Coral da Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz e o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz. Os músicos de palco vão ser Sérgio Galante (guitarra), Der Medinas (contrabaixo), Hélio Ramalho (trompete), André Conde (trombone), Kajó Soares (guitarra portuguesa), Catarina Silva (flauta), Jorge Conde (guitarra), Vasco Ramalho (percussão), Raul Gouveia (saxofone), José Miguel Conde (clarinetes), Vanessa Gaspar (clarinetes), Francisco Rato (violino), Nelson Conde (guitarras), Ricardo Ramos (fagote) e Valter Marrafa (violoncelo).
Este certame transfronteiriço terá ainda a exposição “25 anos da Festa Ibérica da Olaria e do Barro”, composta por cartazes das edições anteriores e peças de todas as olarias dos centros oleiros de S. Pedro do Corval e de Salvatierra de los Barros, a mostra itinerante “Cerâmica Portuguesa”, da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, que conta com duas peças de cada um dos 14 municípios fundadores da associação, e “Alfarerias Extinguidas”, uma exposição que apresenta peças antigas da coleção de José Luis Naharro e do Museu de Alfareria de Salvatierra de los Barros.
Sobre o Centro Oleiro de S. Pedro do Corval
O Centro Oleiro de S. Pedro do Corval é considerado o maior de Portugal com 22 olarias em atividade que continuam a pintar os motivos típicos do Alentejo, como por exemplo o pastor, a apanha da azeitona e a vindima. Por entre potes, rodas de oleiros e fornos descobrem-se peças utilitárias tradicionais, de quando o barro se moldava às necessidades dos trabalhos dos campos e das vidas humildes no Alentejo.
No concelho de Reguengos de Monsaraz foram encontrados vestígios de olaria desde os tempos pré-históricos, como por exemplo fragmentos de peças e depósitos de argilas com características para a atividade. Em 1276, D. Afonso III, no foral Afonsino de Monsaraz, reconhece privilégios aos oleiros do seu termo que poderiam assim ter livremente fornos de olaria. No foral Manuelino, de 1512, também há referência à olaria do concelho, e já em 1905 S. Pedro do Corval teria cerca de 30 oficinas em funcionamento, havendo a distinção entre as de louça miúda, as de talha para o vinho (seriam quatro) e as de tarefas para a aguardente (seis), o que demonstra também a importância da localidade na produção vinícola.
A olaria de S. Pedro do Corval é uma marca registada pois o Município de Reguengos de Monsaraz registou em 2008 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial as marcas nacionais “Olaria de São Pedro do Corval”, “Rota da Olaria”, “Rota dos Oleiros” e “Olaria”. Em 2015 foi inaugurada a Casa do Barro, um centro interpretativo que visa preservar, promover e assegurar a sustentabilidade da olaria de São Pedro do Corval, proporcionando a todos os visitantes o conhecimento e a aprendizagem sobre a arte oleira e o barro através de oficinas, palestras e outras atividades.
A Casa do Barro resulta da reabilitação de uma antiga olaria, envolta em história e tradição, com dois fornos a lenha que serviam para cozer a louça, um tino onde se coava o barro e rodas de oleiro com as suas imponentes arquinas. A recuperação deste local permitiu recriar o ciclo do barro, desde a terra ao produto final.
O centro interpretativo tem à disposição do público o Espaço Atividade, onde se realizam iniciativas com oleiros e ceramistas e os visitantes podem aprender a manusear o barro e a produzir uma peça numa roda de oleiro. A Área Expositiva tem informação sobre todas as olarias em atividade e no Espaço Memória os visitantes encontram objetos e documentos sobre a história do centro oleiro, incluindo peças de barro antigas, dois fornos tradicionais a lenha, um tino, um tanque e rodas de oleiro. No Espaço Mostra podem ser apreciadas as peças produzidas pelas olarias atualmente em atividade.
Gonçalo Jordão, especialista em pintura decorativa que integrou a equipa de arte do filme “The Grand Budapest Hotel”, de Wes Anderson, vencedora do Óscar de Melhor Direção de Arte em 2015, pintou cinco painéis na Casa do Barro. Um painel é sobre os diferentes tipos de barro e os restantes são alusivos aos quatro elementos da natureza: terra, água, ar e fogo.
Carlos Manuel Barão