Incontáveis indígenas desejam progredir, produzir, inserir-se no mundo civilizado. Mas muitas ONGs e elementos da “esquerda católica” querem impedir esse progresso e deixá-los com seus costumes selvagens. Querem também impedir o ensinamento do Evangelho aos índios, como já se percebe na orientação do próximo “Sínodo da Amazônia”.
Fonte: Entrevista publicada na revista Catolicismo, Nº 825, Setembro/2019.
Foto: Ministério da Agricultura/divulgação
No ano passado, no Mato Grosso, os indígenas Parecis fizeram um plantio de 12 mil hectares de soja, e como “prêmio” receberam… 44 multas do IBAMA, totalizando 129,2 milhões de reais. Alguém pode pensar que se trata de piada, mas é a pura realidade. O motivo dessas multas? Castigo imposto aos índios, porque ousaram plantar e colher.
Isso indica que estamos em tempos novos. Muito novos mesmo, pois agora nossos índios querem produzir, empreender, sair do humilhante “zoológico” em que costumam ser mostrados para o mundo, uma espécie de cobaias para antropólogos e missionários inescrupulosos. Sem falar nas ONGs estrangeiras ou não, gente com interesses pouco claros, mas muito evidentes.
Essa trama esquerdista, em que missionários da igreja “progressista” são contrários ao desenvolvimento espiritual e material dos índios, chegando até à negação de lhes ensinar o evangelho, foi denunciada em 1977 por Plinio Corrêa de Oliveira, em seu livro Tribalismo indígena – ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI.
Empenhado sempre em trazer para seus leitores informações valiosas mas pouco divulgadas, Catolicismo enviou seus colaboradores Paulo Henrique Chaves e Nelson Ramos Barretto a fim de conferir in loco a experiência dos índios Parecis. Rompendo com a secular inércia indígena, eles plantam e colhem, civilizam-se e progridem,servindo de modelo para os silvícolas do Brasil inteiro. A pesada multa que caiu sobre eles serviu apenas para despertar a atenção para um fenômeno novo.
Em fevereiro último, estiveram em Campo Novo do Parecis (MT) a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,e o Secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, para o encerramento do primeiro Encontro Nacional de Agricultores Indígenas. Um dos temas discutidos na ocasião foi a utilização de sementes transgênicas nas plantações deles. A Ministra declarou que a vontade dos índios é soberana, cabendo a eles decidir o que fazer ou deixar de fazer. Admitiu ser viável mudar a lei, para que eles possam produzir em escala sem ser penalizados. E o Ministro Ricardo Salles observou que os índios plantam e produzem com muita competência, demonstrando aptidão para se integrarem ao agro sem perder suas origens e tradições.
A FUNAI (Fundação Nacional do Índio) informou que os índios Parecis plantaram mais de 8 mil hectares de soja na safra 2018/2019.No ensejo, eles entregaram à ministra uma carta na qual solicitavam uma linha de crédito para adquirir insumos e maquinário, além de mudanças na lei que os impede de comercializar o que vêm produzindo nas terras que lhes foram demarcadas. A ministra Tereza Cristina se declarou favorável a essas reivindicações, e
reafirmou ao líder indígena Ronaldo Zokezomaiake Paresi [foto], presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresis, Nambikwara e Manoki – Coopihanama, que eles merecem o mesmo apoio que o governo vem dando aos demais produtores rurais brasileiros. Identificou nesses fatos um momento de renascimento, pois espera que o exemplo do povo Pareci possa contribuir para “mudar a miséria e a manipulação que existe hoje em torno dos povos indígenas do Brasil”.
Na região do Campo Novo, no noroeste de Mato Grosso, a 400 quilômetros de Cuiabá, os índios das etnias Pareci, Nambiquara e Manoki vêm se destacando pela produção agrícola mecanizada de soja, milho e feijão. Trata-se de produção autorizada pelo Ministério Público Federal, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Na atual safra, segundo informações dos próprios indígenas, eles plantaram cerca de 19 mil hectares com grãos.
Para a ministra Tereza Cristina, cuja família é mato-grossense, a FUNAI deve trabalhar com um novo olhar, cuidando dos direitos indígenas, mas sem considerá-los como “coitadinhos”, dando-lhes todas as condições para que consigam a autonomia de produzir, bem como possam desfrutar de boa qualidade de vida.
Já familiarizados com o tema, nossos dois colaboradores chegaram a Campo Novo do Parecis no último dia de maio, ao cair de uma tarde fresca para os seus habitantes, pois uma frente fria proveniente do Sul atingira aquelas paragens. Acompanhou-os de Cuiabá até lá a filha do cacique, a advogada e assessora parlamentar Sonia Pareci. Com rapidez e eficiência, apesar da inconveniência do horário, ela não tardou muito para conseguir que fôssemos cortesmente atendidos na muito boa sede da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresis, Nambikwana e Manoki – Coopihanama, localizada bem no centro da cidade. Na sala de reuniões, em torno de uma grande mesa de madeira maciça, Paulo Henrique e Nelson Barretto ouviram o depoimento de algumas lideranças indígenas, inclusive dois diretores da cooperativa.
O Diretor Financeiro da Cooperativa, Adilson Muduywane Paresi, 32 anos, fez um resumo da exploração agrícola que os Parecis vêm fazendo nas terras que lhes foram reservadas pela União. Segundo ele, “a etnia possui nove terras reconhecidas como Reserva Pareci, somando 1.500.000 hectares, que abrangem cinco municípios circunvizinhos”. Deve-se levar em conta que o Estado de Mato Grosso é enorme (903.357 km2) e pouco povoado (3.400.000 habitantes), a densidade demográfica não chega a quatro habitantes por quilômetro quadrado. Para efeito de comparação, São Paulo tem cerca de 44.000.000 de habitantes em 248.209 km2.
Para Adilson, “há nessas terras 63 aldeias, totalizando mais de 2.000 indígenas”. Outra informação para o leitor, sobretudo se não for brasileiro, é que essa área indígena corresponde à metade da Bélgica, hoje com mais de 11 milhões de habitantes. “No Mato Grosso nós temos 43 povos indígenas em diferentes estágios de desenvolvimento, vivendo realidades diferentes. Os Parecis criaram uma política de auto-sustentação dentro do seu território”.
Índios Parecis plantam soja em Campo Novo do Parecis
Catolicismo — Quais são os principais projetos dos Parecis para fazer da Reserva um local desenvolvido, e ao mesmo tempo sustentável?
Adilson — Temos projetos agrícolas, pecuários, turísticos, de piscicultura e de apicultura, entre outros. Todos vêm sendo desenvolvidos dentro da área indígena, ao lado de uma rodovia que corta a Reserva, e nós cobramos um pedágio. O projeto agrícola é o carro-chefe dos demais. Hoje temos 19 mil hectares plantados com grãos, mas isso representa em torno de uns 0,7% das terras da Reserva. De acordo com as leis que pautam a exploração da agropecuária na nossa região, penso que poderíamos cultivar até uns 250 mil hectares. Fizemos um plano de gestão, levando em conta o aumento da população para os próximos 50 anos, e até lá poderemos estar cultivando até 50 mil hectares. Não estamos fazendo isso para ficar ricos, mas para manter a tranquilidade do nosso povo, pois é preciso que ele esteja bem, tenha moradia e saúde, condições para educar os seus filhos e atender a todas as suas necessidades.
Adilson Paresi em frente à oca do cacique da aldeia
Catolicismo — Qual a população atual de sua etnia, e como se acham distribuídos na Reserva?
Adilson — Há 20 anos éramos apenas uns 400 indígenas na área, distribuídos em 13 aldeias. Hoje somos cerca de 2.500, porque muitos tinham saído para trabalhar nas fazendas vizinhas e acabaram voltando para a Reserva. Então imaginamos que com essa projeção de desenvolvimento manteremos o povo dentro da Reserva.
Catolicismo — Para tocar as lavouras, vocês já conseguem financiamento em bancos?
Adilson — Até agora não temos acesso a bancos, mas é um desejo nosso. Esperamos que daqui a 30 anos esse projeto agrícola possa ser auto-suficiente, junto com a piscicultura e a apicultura. Nosso projeto maior é trabalhar as terras. Do que adianta termos um milhão e meio de hectares, se as terras não são trabalhadas? O povo morre de fome. Daí a razão de necessitarmos dos bancos.
Cacique Raimundo Paresi mostra à reportagem a cachoeira do Rio Sacre, que bordeja a aldeia dele.
Catolicismo — Quais são as características mais marcantes desta região?
Adilson — Todas as terras circunstantes são cultivadas, nosso território está a 12 km de Campo Novo e a 40 quilômetros da cidade de Sapezal. Campo Novo é o maior produtor de milho de pipoca do mundo, seu povo está rico, e os índios vivendo na miséria. Sapezal é o maior produtor de algodão do planeta, e os índios vivendo na miséria. Nós vivemos ilhados aqui dentro. Se vigorarem para nós os mesmos direitos de um cidadão brasileiro, vamos poder explorar a nossa terra, procurar uma forma melhor de viver. São direitos garantidos na Constituição, e os índios têm direito de se desenvolver de acordo com suas necessidades e organização. Os Parecis não fizeram agricultura porque gostam de soja, mas por necessidade.
Catolicismo — Antes de partirem para esses projetos, como viviam aqui os índios Parecis?
Adilson — Nossos pais e avós saíam para trabalhar como empregados nas fazendas, desbravavam terras, plantavam e colhiam. Sabem trabalhar nas terras, portanto, aprenderam a operar um trator, fazer uma lavoura. Porque não podem fazer isso aqui dentro da Reserva, que tem o mesmo solo? Em vez de continuar funcionários de terceiros, porque não se tornam o seu próprio patrão e vivem do próprio trabalho? Hoje vem se apresentando para os Parecis uma alternativa que vai substituir a forma antiga de viver, e que dará prosperidade e estabilidade ao povo, com educação, saúde e bem-estar social.
Almoço no alojamento dos indígenas, junto à unidade de produção de grãos.
Catolicismo — Como se encontra hoje a educação escolar e saúde para os indígenas daqui?
Adilson — O governo não tem projetos específicos de saúde e de educação para os Parecis, nem para qualquer outra etnia do Brasil. Nossa saúde está fraca, a educação está fraca. Da renda que estamos obtendo hoje, pretendemos empregar 30% na educação e na formação de nossos jovens. A Sônia, que está aqui conosco, é advogada e assessora parlamentar. Ela tem uma irmã médica, outra que está também aqui, a Meire, é enfermeira. Os irmãos da Sônia são todos formados com recursos próprios — dentista, agrônomo, psicólogo, nutricionista, farmacêutico. Por outro lado, de que adianta alguém entrar numa faculdade, se não tem condição de chegar lá bonita, bem vestida? Vai ser maltratada… O nosso celular [tira do bolso i-Phone e mostra] custa 4 mil reais! Nós compramos. Um filho nosso chega à escola com um bom i-Phone, e vai ser bem considerado.
As duas irmãs – Miriam Paresi, enfermeira, e a advogada Sonia Paresi – mostram o Mapa da Reserva Indígena dos Parecis
Catolicismo — Como vocês eram vistos na cidade até algum tempo atrás, e como são vistos hoje?
Adilson — Em Campo Novo, hoje nós somos bem vistos, bem recebidos em qualquer lugar, podemos almoçar num restaurante. Isso porque temos poder aquisitivo e situação financeira boa. Há 20 anos, nossos pais entravam nos supermercados e os donos os vigiavam, porque tinham medo de ser roubados por eles. Hoje não há mais isso. As nossas crianças vão à escola e são tratadas como os filhos dos produtores rurais. As pessoas de baixa renda costumam ser discriminadas, enquanto os nossos índios são bem tratados. Mas se acabar tudo isso que nós possuímos, será que continuaremos a ser tratados do mesmo jeito? Se hoje temos a nossa terra, os nossos produtores, não estamos invadindo terras de ninguém. Construímos isso, e acreditamos nos resultados positivos para as gerações futuras.
Catolicismo — Vocês pretendem fazer tudo isso guardando as suas tradições?
Adilson — Isso não vai atrapalhar em nada a nossa cultura. Vamos continuar comendo peixe assado, porco assado, vamos subir em árvores do mesmo jeito, nossas crianças estão aqui. Hoje temos eletricidade, internet, campo de futebol iluminado, temos tudo aqui na aldeia. As ONGs falam que estamos acabando com a nossa cultura. Acontece que há 40 anos moravam só umas 300 pessoas aqui dentro, e os índios tinham de trabalhar fora para garantir sua subsistência. Hoje, como nós fizemos a lavoura aqui, todos voltaram. Quer dizer que estamos preservando a nossa cultura.
Catolicismo — Quais são as necessidades mais urgentes?
Adilson — Precisamos de licenciamentos, de meios e condições para enfrentar a enorme burocracia, pois todo o equilíbrio de nossa estabilidade se acha em nossos projetos. Para isso temos de conversar, estar junto às autoridades do município, do Estado e da União, falar com deputados. Afinal, sabemos ler e escrever, compreendemos o que os outros têm a nos dizer, sabemos como temos de viver e preservar a natureza. A nossa vida inteira consistiu em preservar a natureza, disso nós entendemos. Estamos tocando a Cooperativa, plantamos o feijão-azuki [e mostra um vidro com um feijão miúdo e vermelho]. Ele está custando por volta de R$20,00 o quilo nos supermercados, e é quase todo exportado.
Catolicismo — Vocês pretendem passar para outras etnias a experiência que estão implantando aqui?
Adilson — Estamos mantendo contatos com autoridades em todos os níveis, a fim de pedir políticas públicas para as nossas necessidades. Quanto à pergunta, não adianta querermos implantar um projeto agrícola com outros povos que vivem no meio da mata. Nossa realidade é diferente. O plantio é feito de acordo com o nosso solo. Nós não consumimos soja, mas a soja que produzimos nos dá o dinheiro para comprar o que consumimos.
Catolicismo — Com essa água abundante que existe aqui, como pensam em desenvolver a criação de peixes?
Adilson — Nós já temos alguns tanques aqui. Algumas aldeias criam peixes, outras produzem mandioca e farinha, outras se ocupam da produção de mel. O dinheiro circula aqui dentro mesmo. O que nós precisamos é que a legislação brasileira permita a comercialização do que produzimos aqui.
Os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Agricultura, Tereza Cristina, vestiram-se de indígenas nesta 4ª feira (13.fev.2019) ao participar do 1º Encontro Nacional do Grupo de Agricultores Indígenas do Povo Pareci, em Campo Novo do Parecis (MT).
Catolicismo — E a instalação de pequenas hidrelétricas nessas quedas de água?
Adilson — Estamos em cima de um potencial hídrico enorme. Há três projetos em estudo para a implantação das PCH (pequenas centrais hidrelétricas) no nosso entorno, mas estão todos embargados. Qualquer projeto novo é analisado por nós. Queremos inclusive que a FUNAI os estude e nos oriente, mas a decisão final deve ser nossa. Algumas pessoas pensam que podemos fazer tudo o que um particular faz, mas não é bem assim. As pessoas que não conhecem bem as nossas limitações, pensam, e até reclamam, que temos muitas terras. Mas acontece que nós não podemos produzir, e nos tratam como se fôssemos vagabundos, preguiçosos. O que o governo recém-eleito prometeu — e parece que vai cumprir — é tratar o índio de maneira como nunca foi tratado no Brasil. Os índios não querem ficar dentro da Reserva, como se fossem um bicho dentro de uma jaula para receber visitas do público.
Catolicismo — Qual o tratamento que vocês vêm recebendo das pessoas que não querem o desenvolvimento dos índios?
Adilson — Se um francês vem morar no Brasil, e adapta o seu paladar ao paladar brasileiro, não vai deixar de ser francês por isso. Mas se o índio chega bem vestido em algum lugar, vão dizer que ele deixou de ser índio. Por que essa diferença de julgamento? Um dia chegou uma mulher do Instituto Chico Mendes, e foi dizendo: “Olha, o que vocês estão fazendo aqui vai acabar com a mãe natureza”. Respondemos que ela vê a mata, mas esquece que lá dentro está o ser humano. Como essa senhora ganhava bem, perguntei se os filhos frequentavam os melhores colégios da cidade, se eram atendidos nos melhores hospitais. Depois das respostas, perguntei por que nós índios não podemos ter isso, se perante a Constituição somos iguais. Não podemos ter acesso a bons hospitais, a boas escolas, ao bem-estar?
Catolicismo — Vocês são assistidos por alguma ONG, recebem apoio de alguma organização?
Adilson — Alguns povos indígenas estão há 10 anos, 20 anos em contato com os não-índios. Mas nós convivemos com os não-índios há 370 anos, ou seja, desde o primeiro contato com os bandeirantes. O que nós queremos não é obrigar todos os povos indígenas a produzir, pois além de serem muitos, cada qual se encontra num estágio diferente de civilização. O que nós queremos é permitir, aos que quiserem, que também produzam. Para nos inserir na sociedade e manter as nossas tradições, precisamos produzir, pois a nossa realidade exige. Grande parte dos Parecis vive hoje nas aldeias, diferentemente de outros povos. Se estamos aqui defendendo essa política, é porque entendemos que isso é o melhor para nós. Consigo compreender, consigo me expressar, posso perfeitamente trabalhar na prefeitura, mas penso nos outros índios. Vão ficar na miséria aqui? Para que reine o bem-estar dentro da Reserva indígena, alguns de nós têm de morar na cidade, outros vão lá para estudar. Conhecemos a realidade do nosso povo, e podemos ponderar o que é bom e o que não é bom para nós.
Um pouco de história e costumes dos índios Parecis
Segundo creem, sua etnia teria surgido ali mesmo na região. Em geral, uma aldeia se compõe de várias ocas. Já existem casas de alvenaria, mas sempre se distingue uma oca onde vive o cacique, cuja autoridade é acatada por todos da aldeia. Em outra vive o pajé, ou sábio. E há também uma pequena oca onde se guardam as flautas sagradas,tocadas durante as suas festas.
Conforme nos informou a Dra. Sônia Paresi, em cada casa mora uma família composta de três gerações. Até aí vai o parentesco. Há ocas de vários tamanhos, sempre construídas com a mesma forma elíptica. Internamente há um só espaço, com duas pequenas aberturas ou portinholas, sendo a principal voltada para o nascente, e a dos fundos voltada para o poente.
A estrutura das ocas é de madeira. São construídas sempre obedecendo a uma mesma arquitetura, cobertas do teto ao piso com folhas de palmeira da região. Pela explicação do pajé, a porta principal é baixa para a pessoa, ao entrar na oca, reverenciar o espírito que lá habita.
Nas 4 ou 5 aldeias visitadas, notamos dentro das ocas um só ambiente, com redes e camas junto às paredes, que se prolongam da cobertura que chega até o piso. Os objetos são todos pendurados onde é possível, mas não existem móveis para se guardar nada.
Tempos novos, muito novos! Chamou-nos a atenção nessas ocas o fato de todas possuírem luz elétrica, geladeira, freezer, televisão, sinal de internet, ventiladores, e até motocicletas estacionadas. Todas as crianças de certa idade já possuem o seu celular na palma da mão. Das várias ocas visitadas, apenas a do cacique — nova, cujo custo foi de 25 mil reais, segundo ele — apresentava certa divisão de ambientes, feita de toalhas plásticas ou tecidos.
ABIM