A violência sobre idosos registada pelo serviço SOS Pessoa Idosa aumentou 20% em 2018, sendo cerca de 70% dos agressores familiares das vítimas, segundo dados a que a agência Lusa teve hoje acesso.
Dados da Fundação Bissaya Barreto, que opera aquela linha de apoio de âmbito nacional, em 2018 registaram-se 317 pedidos de ajuda/contactos e 280 processos internos, tendo sido efetuadas 489 articulações interserviços, o que representa um aumento de cerca de 20%, comparativamente ao ano anterior.
Entre 2015 e 2018, o número de pedidos de ajuda duplicou e os processos quadruplicaram, indicam os dados conhecidos no Dia Mundial da Família.
Na sua maioria (66%), as vítimas são mulheres e quase metade da amostra (47%) corresponde a pessoas em situações de viuvez e a média de idades é de 79 anos.
Do total de vítimas registadas, 39% vivem sozinhas, 21% residem com os filhos, 14% com o cônjuge e 9% em instituições.
Segundo os dados, os casais são vítimas em conjunto em 10% das situações.
A auto negligência teve lugar em 10% dos casos, correspondendo à adoção de comportamentos por parte dos idosos acompanhados que ameaçam a sua própria saúde ou segurança.
“Em Portugal, um dos fatores que pode contribuir para aumentar a vulnerabilidade da população idosa face às situações de violência é o facto de este ser um dos países da Europa onde existe uma maior proporção de pessoas com 75 e mais anos a coabitar ou ao cuidado de familiares diretos, por afinidade, ou por pessoas sem laço familiar”, refere a fundação.
Nas denúncias efetuadas ao serviço SOS Pessoa Idosa, no ano de 2018 cerca de 70% dos agressores estão identificados como familiares, “pelo que se pode inferir que a relação entre a vítima e o agressor é, na maior parte dos casos, de parentesco. Cerca de 50% dos agressores são filhos das vítimas.
O género é primeiro dado relevante em relação à caracterização do presumível agressor: 46% dos agressores são homens. Relativamente ao estado civil do agressor, 26% dos identificados são solteiros, com idade média de 50 anos.
O denunciante corresponde a toda e qualquer pessoa que contacta o serviço, a fim de responsabilizar alguém por um crime ou relatar a situação de violência sentida pela vítima e/ou testemunhada por terceiros. Pode ou não identificar-se, o que não permite, por vezes, traçar o perfil de quem realiza a denúncia, mas os dados recolhidos indicam que a maior percentagem corresponde a pessoas do sexo feminino (62%) e são na sua maioria, vizinhos e amigos.
Os familiares denunciam cerca de 29% dos casos, em particular filhos que denunciam irmãos, outros familiares, vizinhos ou profissionais.
“Estes resultados levam a crer que a proximidade com o contexto onde ocorre a violência, ou a afinidade com a vítima, é preponderante para a sinalização de situações que necessitam de proteção e intervenção. Em 16% dos casos é a própria vítima que denuncia a situação”, refere a Fundação Bissaya Barreto.
A Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra (Ministério Público), foi responsável por 15% das sinalizações realizadas ao Serviço SOS Pessoa Idosa.
No Alentejo e no norte do país, com mais casos de isolamento e com menor densidade populacional, verifica-se um aumento considerável do número de denúncias e de situações de violência sinalizadas em comparação com os dados dos anos anteriores, segundo os dados divulgados.
Como formas de violência mais frequentes, de acordo com a identificação realizada pelo SOS Pessoa Idosa, surgem agregadas a violência psicológica e a violência física (17%), o abuso financeiro e a violência psicológica (16%) e a negligência e abandono (15%).
O distrito com mais pedidos de ajuda e denúncias é o de Lisboa, com 24%, seguido de Coimbra, com 21%, de Setúbal, com 14% e do Porto, com 9%.
Para a responsável pelo Serviço, Marta Ferreira, “o lugar de honra e a dignidade que as pessoas idosas de tempos anteriores tinham como garantidos, encontram-se atualmente comprometidos”, sublinhando que “as gerações familiares mais jovens, hoje em dia, assumem direito sobre o destino dos mais velhos, sem considerar a opinião e vontade que têm sobre a sua própria vida”.
Lusa