Desde
as autárquicas de 2009 que a Concelhia do Bloco de Esquerda da
Figueira da Foz se tem batido para que a investigação e a formação
avançada estejam entre as prioridades de desenvolvimento do nosso
concelho. Saudámos a instalação do laboratório MARE da
Universidade de Coimbra (UC) bem como da Incubadora do Mar e
Indústria da qual a UC também é parceira. Visitámos o MARE e a
referida incubadora e ouvimos com toda a atenção as aspirações e
anseios de investigadores e responsáveis que nos receberam. Na
campanha de 2021 defendemos com clareza a ampliação física e
temática destas unidades onde se pratica já investigação de
qualidade e a transferência de conhecimento para a sociedade. Na
referida campanha registámos com agrado a importância dada a estes
assuntos por outras forças partidárias. É um tema que nos é
querido e para o qual estaremos sempre dispostos para fazer parte da
solução.
Não
obstante, nas recentes notícias sobre um desejável diálogo entre o
atual Executivo Camarário e a UC para a instalação de uma unidade
ensino superior na Figueira, fomos registando progressivas
incongruências sobre este processo, falta de clareza e até regozijo
por metas já atingidas que viemos a perceber que estariam ainda
muito longe de ser concretizadas. Depois de questionarmos o
Presidente do Executivo sobre este tema e de não obtermos respostas
satisfatórias da parte do próprio, resolvemos agendar uma audiência
com o Senhor Reitor da UC para esclarecer todas as incongruências
sobre este processo e poder transmitir a verdade sobre o mesmo aos
figueirenses.
Da
audiência com o Senhor Reitor da UC destacamos as seguintes
conclusões:
Atualmente
está em curso entre a Câmara e a UC a elaboração de um protocolo
que visa definir as responsabilidades de cada parceiro relativamente
aos espaços futuros a virem a ser ocupados pela UC, numa bem-vinda
estratégia de expansão da sua presença na Figueira da Foz. Este
está pendente da resposta do Executivo Camarário e enquanto não
for assinado a UC não poderá tomar alguma iniciativa relativamente
a esses espaços;
Numa
primeira fase, o espaço que ficar a cargo da UC servirá apenas
para dar apoio aos alunos de formação avançada, investigadores e
docentes da UC que já se encontram no nosso concelho em atividades
relacionadas com o laboratório MARE ou com a Incubadora. Não
servirão para novos cursos, não serão abertas novas inscrições
para alunos que virão estudar exclusivamente para a Figueira e,
sobretudo, não servirão para acolher um novo Polo da UC;
Legalmente,
as universidades não podem abrir novos polos, ao contrário do que
sucede com os politécnicos. As universidades podem sim abrir novos
campus universitários ou extensões. Os polos têm uma autonomia
que os campus não têm. A diferença não é apenas de semântica,
embora a instalação de um campus seja de qualquer forma um
acontecimento muito positivo para a Figueira;
A
abertura de novos cursos a serem lecionados na Figueira da Foz (no
domínio da economia do mar e do ambiente) aos quais concorrerão
novos alunos, esses sim com a obrigação de estudar permanentemente
na Figueira, deverá obedecer a um longo processo de aprovação e
de certificação dos cursos que passa por vários órgãos da UC
(faculdade, senado, conselho diretivo, conselho geral, etc.) e pela
Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).
Só depois deste longo processo poderão ser abertas matrículas
para cursos a ser lecionados num futuro campus da Figueira da Foz.
Este é um processo longo que pode durar na melhor das hipóteses
dois anos, mas que em geral é mais longo. Quer isto dizer que não
haverá certamente campus com ensino de novos cursos na Figueira da
Foz antes de setembro de 2024;
Foi
com agrado que constatámos que o Senhor Reitor nos apresentou uma
visão consistente a longo prazo, começando pela consolidação e
pelo reforço das atividades de investigação que já decorrem na
Figueira associadas ao laboratório MARE, para posteriormente ser
alargada a oferta de investigação e eventualmente ao ensino
superior à medida que os resultados forem surgindo. Deste modo,
evita-se a abertura apressada de cursos para os quais poderá não
haver procura e a triste repetição do encerramento de unidades de
ensino superior que já conhecemos no passado. O objetivo será de,
num horizonte temporal mínimo de 10 anos, a Figueira ter um campus
com algumas centenas de alunos com capacidade de ensino e/ou
investigação equivalente a uma faculdade.
Em
suma, apesar de apoiarmos todas as iniciativas que visem atrair para
a Figueira atividades de investigação e/ou ensino superior, é
claro para o Bloco de Esquerda que o atual executivo e o movimento
FAP têm comunicado com os figueirenses de uma forma no mínimo
inexata e por vezes até enganadora (ex.: intervenção da FAP na
última Assembleia Municipal sobre a instalação do “polo” da UC
na Figueira ainda este ano), criando falsas expetativas aos
figueirenses e às instituições e empresas que poderão
eventualmente beneficiar da instalação de um campus da UC na
Figueira da Foz. Da nossa parte estaremos sempre disponíveis para
ajudar neste processo, no entanto defenderemos a Figueira e os
figueirenses em todos os momentos que acharmos que este assunto possa
estar a ser instrumentalizado para campanhas eleitorais futuras
(presidenciais ou locais) ou outros fins que não sejam o
desenvolvimento do concelho.