Os frades dominicanos foram os principais mentores e executores do terror papal.
Sucedeu-lhe Inocêncio IV e nova bula reforça os autos da fé: “Ad Extirpanda”, que legitima a tortura e todos os horrores da perversidade humana a troco da confissão pretendida.
Filipe IV, O Belo, expulsa os Judeus em França ficando a coroa com todos os seus teres e haveres.
Não satisfeito a 13 de Outubro de 1307 são os templários extintos da face da terra por sua vontade e mando divino.
Assim, mandatado escolhe outro papa e decide que a sua morada seja em Avignon.
“Quem com ferros mata…”
D. Dinis é a excepção - Lisboa é o porto de abrigo da armada dos templários e a sua ordem toma o nome de Ordem de Cristo.
Em 1492 mais maus ventos e promessas de piores casamentos.
É publicado, pelos Reis Católicos, o Édito de Alhambra que expulsa os judeus imediatamente de Aragão e Castela.
No êxodo 120000 judeus acolhem-se em Portugal.
Torquemada, o confessor da rainha Isabel, é o inquisidor mor e o homem de mão da Santa Sé.
Dominicano de profissão obviamente insiste com os reis católicos para que o prometido casamento da princesa tenha o dote da expulsão dos judeus dos reinos de Portugal.
Perdido de amores o tristemente celebrado de venturoso publica em Abril de 1496 o édito que oferece dez meses para os judeus abandonarem Portugal.
“Amor com amor se paga”.
Os sefarditas escolhem a Holanda como terra de acolhimento.
Bento de Espinosa vai cómodo na barriga de sua mãe.
Abraão Zacuto , astrónomo que brilhantemente serviu em Portugal no reinado de D. João II, e Menasseh Ben Israel, nascido na Madeira com o nome de Manuel Soeiro, são meros exemplos dos notáveis que partem.
Ben Israel, lembro, acertará com Oliver Cromwell o regresso dos judeus a Inglaterra, expulsos em 1290 por Eduardo I, o celebrado “martelo dos escoceses”.
Os dois países, Holanda (hoje País Baixo) e Inglaterra, irão conhecer as suas maiores glórias e o mais sustentado desenvolvimento muito rapidamente e em força.
Na ocidental praia lusitana, de 19 a 21 de Abril de 1506, acontece a infame matança da Páscoa, onde três mil judeus são perseguidos, torturados, mortos e queimados.
Lisboa perde o título de honrada no brasão da cidade e a prisão de três dominicanos sabe a pouco para o sangue inocente que alagou o chão que ia do convento de S. Domingos até ao Rossio.
É o massacre de Lisboa, o “Pogron do Rossio”.
Ainda a procissão ia a meio…
A conversão forçada foi o destino de dois notáveis médicos, ambos professores na Universidade de Coimbra e amigos de Luís de Camões:
Garcia de Orta, cujos pais tinham sido expulsos de Espanha, nasceu em Castelo de Vide em 1501 e faleceu, em Goa, no meio da maior miséria, em 1568.
A santa inquisição para além de ter queimado sua irmã Catarina retirou-lhe todos os seus bens.
O auto de fé condena aquele que era ao tempo a maior referência na medicina na Europa e na Índia.
Foi médico de D. João III e do Sultão Ahmadnagar, aprendeu com os Hakumas (médicos árabes) e com os Vydias (médicos hindus) tendo publicado o “Colóquio dos Simples” e “Drogas e Coisas Medicinais da Índia” de estudo obrigatório.
Aí escreveu, pela primeira vez impresso em letra redonda, Luís de Camões:
“Favorecerei a antiga
Ciência que já o Aquiles estimou
Olhai que vos obriga,
Verdes que em vosso tempo se mostrou
O fruto daquele Orta onde florescem
Plantas novas, que os doutos não conhecem…”
Nesta Goa de S. Francisco Xavier foram sentenciados 13667 na santa inquisição.
Condenado a ser queimado e tendo já falecido, Garcia da Orta, foi exumado e os restos mortais queimados conforme o ordenado no auto de fé.
O outro cristão novo, bacharel em medicina, foi Pedro Nunes, professor de matemática na Universidade de Coimbra, um dos maiores cientistas do seu tempo, decisivo na arte de navegar e na cartografia.
Inventou o “anel náutico”, o “instrumento das sombras” e o “nónio”.
Lembro que Nunes em latim escreve-se “nonium”.
Foi fundamental nas artes de navegar:
Traduziu para português o “Tratado da Esfera” de João de Sacrabosco, indispensável para a leitura dos mapas de bem navegar, as “Novas teorias dos planetas” de Jorge Purbáquio, em especial o Sol e a Lua e instrumentos fundamentais para determinação da latitude e da longitude, e “Geografia” de Plolomeu, grego alexandrino autor do “Almagesto”, o grande tratado.
Foi referência ímpar na Europa e no Mundo.
Foi instrutor dos filhos de D Manuel I – os infantes Luís e Henrique.
Este foi durante quarenta anos inquisidor mor do reino e na sua saga persecutória nem os dois netos de Pedro Nunes se livraram.
Estiveram ambos, por dez anos, nos cárceres da “Santa Inquisição”
D. João III instala o seu Santo Ofício, com armas e bagagens, em 1536.
Antes o céu lhe caísse em cima.
Em Évora foram sentenciados 11245, em Coimbra 10388 e em0 Lisboa 10017 inocentes.
Nesta cidade foi enforcado e queimado António José da Silva, o judeu.
Era o seu único pecado e no Campo da Lã na presença de D. João V, em Outubro de 1734 morreu o enorme autor da ópera popular – o “teatro de bonifrates” sendo considerado dos mais massacrados escritores da inquisição:
Todos os ossos das mãos esmagados, sendo a sua esposa e a sua mãe as escrivãs de serviço.
0Todos denunciados pelo pai do “O judeu”.
Inacreditavelmente, só em 1774 é instituído o tribunal régio pelo mal-amado Marquês de Pombal, lavando com mãos monárquicas os pecados eclesiásticos.
Escandalosamente, só a 31 de Março de 1821 o santo ofício é extinto.
A revolução de 1820, em geral, e Fernandes Thomaz, em particular, souberam enterrar a maldita inquisição, que envergonhou para todo o sempre a alma lusitana.
Duzentos e trinta e oito anos de terror!
Para memória futura do “massacre de Lisboa” ficaram os escritos e os registos de Damião Góis, Alexandre Herculano e Oliveira Martins e a indignação de todos que da lei da morte se libertaram…
A sinagoga de Amesterdão e o cemitério dos sefarditas nessa cidade amargamente nos lembrarão para todo o sempre o” Pogrom de Lisboa”.
Os 238 anos de inquisição em Portugal são as mais vergonhosas páginas da história de Portugal e são as causas primeiras da sua contínua decadência moral, social, económica e cívica.
Se
Soubesse eu o rasto
Ou o Destino do rio
Nas pedras que arrasto
Nestes anos a fio…
E o sudário onde moro
Espero e demoro
Como se fosse oração
Seria o encontro
Do meu desencontro
Entre o sim e o não
Encontrasse eu tamanho
Em vez de riqueza
Na terra que amanho
Funda de pobreza…
E cumprira a sentença
E a dor na doença
Como se fosse imortal.
Seria outra lei,
Escolhia outra grei
Entre o bem e o mal.
Quisesse eu a luz
Nos caminhos da sombra
Que me guia e conduz
Ao medo que assombra…
E a linha desenhada
Sábia e acabada
Como se fosse a sorte
Seria o encanto
Do meu desencanto
Entre a vida e a morte.
Disse. Carlos Maia Teixeira
Artigo enviado por António Alves Ribeiro
*Fonte não identificada