Você já parou para pensar, ao longo de um dia, em quantas vezes ingeriu algum alimento porque realmente estava com fome ou por algum outro motivo? Tédio, ansiedade, memórias afetivas e até convenções sociais nos induzem a comer mais do que o organismo necessita em termos de nutrientes.
Nos acostumamos a chamar esses impulsos de fome. No entanto, eles têm mais relação com estados emocionais do que com necessidades fisiológicas. Essa vontade de comer, geralmente, tem raízes em lembranças agradáveis, que foram adquiridas ao longo da vida, relacionadas à alimentação. E nem sempre ela deve ser reprimida: saciar o desejo de ingerir algo, assim como comer por prazer, mesmo sem a fome física, é ok, desde que não haja sensação de perda de controle ou sofrimento psíquico de culpa ou arrependimento desproporcionais.
O que vale aqui é o bom senso. Se você acha que está exagerando, há maneiras simples de controlar essa vontade --se elas não funcionarem, no entanto, pode ser o caso de procurar ajuda profissional. Pra começar, é fundamental que a fome fisiológica esteja regulada. Mas esqueça aquela regra de comer a cada 3 horas. Hoje, sabe-se que cada pessoa tem seu intervalo biológico particular. Por isso, é preciso estar atento aos sinais que o organismo dá.
Outra orientação é evitar dietas que restringem grupos alimentares específicos, pois esse hábito pode desorganizar a fisiologia do equilíbrio entre fome e saciedade. O resultado é o efeito rebote, quando há o aumento da sensação de fome pela restrição calórica e de grupos alimentares. A seguir, entenda melhor quais os tipos de fome e veja com qual --ou quais-- você mais se identifica. Os termos são uma maneira didática utilizada pela psiquiatria, endocrinologia e nutrição para expressar comportamentos relacionados à atitude alimentar.
1) Fome fisiológica
É aquela que surge da necessidade de ingestão de nutrientes para o organismo. Ou seja, é a fome “real”, que não vem acompanhada de aspectos emocionais. E essa fome não tem o mesmo ritmo nem tamanho para todo mundo --particularidades genéticas e ambientais fazem a diferença. Para quem não tem nenhum transtorno alimentar ou doença metabólica, ela pode ser identificada por um desconforto gástrico, ou seja, aquela velha sensação de “estômago roncando” ou “vazio no estômago”. Se não for saciada, o corpo trata de usar outros recursos para ser atendido, como uma sensação de fraqueza e tontura, dor de cabeça, cansaço, etc.
2) Fome social
Você acaba de almoçar e, em seguida vai a uma festa infantil, onde se delicia com quitutes doces e salgados, mesmo sem estar com fome fisiológica. Ou vai ao cinema depois do jantar, não resiste ao cheirinho de pipoca no local e compra logo o maior pacote. É aquela vontade de comer que surge em situações descontraídas de encontros entre pessoas, em que há uma oferta irresistível de alimentos.
3) Fome emocional
É quando o ato de comer envolve uma situação emocional específica, boa ou ruim, em que o alimentar-se representa uma “compensação” ou um “merecimento”. Muitas vezes, é disparada mediante situações de ansiedade, angústia, depressão ou alegria extrema. Geralmente, os alimentos mais procurados nesse caso são os doces ou farináceos (que se transformam em açúcar no organismo). Ambos estimulam uma parte do cérebro ligada ao prazer. Também pode surgir por conta de oscilações hormonais tipicamente femininas, mas, mesmo nesse caso, também há um componente cultural. Por exemplo, quando a mulher está grávida, diz-se que ela precisa comer por dois. Ou, na TPM, ouve-se: “Coma um chocolatinho que passa” --e a mulher acaba repetindo aquele ato mesmo sem real interesse.
4) Fome específica
Sabe aquela vontade de comer um alimento específico? Trata-se de um aspecto da fome fisiológica ou da emocional, e geralmente envolve alimentos preferidos pela pessoa ou que há tempos não são experimentados. Assim como a fome emocional, muitas vezes ela é disparada por lembranças prazeirosas relacionadas à alimentação.
Debora Oliveira