Joaquim Carlos* |
O
dever! Que força mágica tem esta palavra! O dever bem cumprido
enriquece o indivíduo e as nações; o dever desprezado pode
arruiná-los. Os povos que cumprem o seu dever alcançam sempre
vitória sobre os inimigos; aqueles que são desleixados são
condenados a desaparecer.
Numa velha igreja de um país estrangeiro
existe uma imagem interessantíssima que representa as diversas
vocações que os homens podem seguir. Ali se via o Papa, em toda a
sua pompa, com esta inscrição por baixo: «Sou eu que vos ensino a
todos»… um imperador com esta legenda: «Sou eu que nos governo a
todos»… um general do exercito, de espada em punho, que anuncia:
«Sou eu que vos defendo a todos»… um agricultor que abre um
fundo sulco com a charrua e diz «Sou eu que vos alimento a todos»…
e, bem ao fundo do quadro, um demónio fazendo esgares e chacoteando:
«Sou que eu vos levo a todos, se não cumpris o vosso dever».
Que
ideia profunda se esconde atrás destas cores! Que importa que sejas
neste mundo imperador ou agricultor, se cumpres o teu dever! A
vida humana é uma imensa peça de teatro, e é o próprio Deus
quem distribui os papéis. Não depende de ti receber este ou
aquele, mas depende de ti desempenhar bem ou mal o teu. O que é
importante é como se desempenha, e não o que se desempenha. Pode
acontecer que se pateie aquele que faz o papel de imperador porque o
desempenhou mal, e que, inversamente, se aclame aquele que fez o
papel mais modesto de um aprendiz de sapateiro.
Com
frequência oiço os jovens dizerem-me, lamentando-se: «Não sei que
carreira seguir! Em todas há gente de mais»! Não temas tu! Em
todas as carreiras há sempre penúria de homens hábeis,
activos e fiéis ao seu dever!
A
fidelidade inabalável ao dever encerra uma grande força educativa.
Faz sempre o que a tua situação tem direito a esperar de ti, e,
sobretudo, aquilo que não gostas de fazer. Acredita no poeta que nos
assegura que o valor da vida não se mede pelos desvios satisfeitos,
mas pelos deveres bem cumpridos:
Não
´stá, ó homens, a felicidade,
Nesta
vida de amargo sofrer,
Em
nossos desejos bem satisfeitos,
Mas
no bom cumprimento do dever.
Uma
vida sem trabalho assemelha-se a um quadro sem imagem.
Li
em algures, que durante a guerra de 1914 a 1918, os dois ocupantes de
um avião foram atingidos por um obus no momento em que regressavam à
base, após um voo de reconhecimento.
O
oficial encarregado de notificar as posições do inimigo morreu
imediatamente, mas o piloto, apesar das feridas mortais, conseguiu
aterrar à retaguarda das próprias linhas. Correram logo para ele.
Queres saber quais foram as suas últimas palavras? Por frases
entrecortadas descreveu as posições inimigas registadas no aparelho
fotográfico que o seu companheiro apertava ainda na mão crismada.
E, à hora em que os dois eram enterrados, foram tomadas as referidas
posições. Que herói do dever cumprido até o fim!
Vivemos
numa sociedade em que se reclama mais por direitos, em detrimento dos
deveres. Porque será? Por acaso não dependemos todos uns dos
outros, independentemente da profissão de cada um? Vamos assumir a
responsabilidade pelos deveres, porque os direitos vêm por
acréscimo.
*Director