domingo, 3 de março de 2024

Caminho da Geira “vai ser muito importante” no panorama dos itinerários de Santiago


O Caminho da Geira e dos Arrieiros (CGA) “tem um potencial enorme e vai ser muito importante” entre as duas dezenas de itinerários jacobeus referenciadas nas estatísticas do Serviço de Peregrinos da Catedral de Santiago de Compostela, considera Manuel Rocha, Irmão Maior da Arquiconfraria Universal do Apóstolo Santiago.

Numa intervenção nas comemorações do 20º aniversário da Associação Espaço Jacobeus, no sábado, dia 2, em Guimarães, Manuel Rocha, um dos pioneiros do Caminho Português da Costa, afirmou que o CGA “tem um potencial enorme de crescimento”.

Provavelmente, será o sétimo caminho, dentro de pouco tempo, em número de peregrinos a receberem a Compostela em Santiago. Vai ser muito importante”, destacou o membro da Arquiconfraria Universal do Apóstolo Santiago, que também se considera “um pioneiro do CGA na forma de estar e de ser”.

O CGA foi principal responsável pelo crescimento de 5,7% no número de peregrinos que partiram de Braga e receberam em 2023 a Compostela à chegada à Catedral de Santiago.

O Caminho Central Português registou 674 peregrinos no ano passado, seguindo-se o CGA com 403 e o Minhoto Ribeiro com 21. No total do percurso, o CGA motivou a emissão de 547 compostelas – entre as 851 pessoas que cumpriram o itinerário, segundo as associações.

Entre elas, 516 (94,3%) partiram de localidades portuguesas, 408 (74,6%) são de nacionalidade lusa e 66 espanhola (12%). A Compostela foi entregue a peregrinos de 27 nacionalidades que cumpriram este itinerário jacobeu.

O Caminho da Geira tem 239 quilómetros, começa na Sé de Braga e passa pelos municípios de Amares, Terras de Bouro e Melgaço, entrando na Galiza pela Portela Homem.

Nos últimos seis anos foi percorrido por quase quatro mil peregrinos, sobretudo de Portugal e Espanha, mas também de outros 13 países europeus, e do Afeganistão, Aruba, Austrália, Azerbeijão, Bahamas, Belize, Brasil, China, Colômbia, EUA, Japão, México, Palestina ou Uruguai.

Foi apresentado em 2017 em Ribadavia (Galiza) e Braga, reconhecido pela Igreja em 2019 e em publicações da associação de municípios transfronteiriços Eixo Atlântico (2020) e do Turismo do Porto e Norte de Portugal (2021).

O percurso destaca-se por incluir patrimónios únicos no mundo: a Geira, via do género mais bem conservada do antigo império ocidental romano, e a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés. Além disso, o seu traçado é um dos escassos cinco que ligam diretamente à Catedral de Santiago de Compostela.


Associação Transfronteiriça do Caminho da Geira e dos Arrieiros (em instalação)
*José Manuel Almeida (presidente da comissão instaladora)

AEJ assinala 20º aniversário. Espaço Jacobeus defende parcerias para valorizar Caminho de Santiago

 

A “dimensão” da Associação Espaço Jacobeus (AEJ) “orgulha os associados”, mas esta “posição acarreta muita responsabilidade”, alertou o presidente da “maior organização jacobeia portuguesa” na sessão solene comemorativa do 20º aniversário.

Defender e promover o Caminho de Santiago não é apenas colocar o maior número de pessoas a caminhar”, disse António Devesa durante a cerimónia, no sábado, dia 2, em Guimarães, destacando que “é, sim, fazer com que o façam preparados e envolvidos pelos reais valores associados ao culto e à peregrinação jacobeia”.

Por isto, “desconhecer e desvalorizar as organizações que preparam, informam e acolhem peregrinos, é simplesmente desvalorizar o Caminho Português de Santiago”, adiantou o presidente da AEJ, considerando que “só trabalhando em conjunto, aprendendo com o seu testemunho e valorizando o trabalho desenvolvido” pelas entidades jacobeias “é possível potenciar a defesa do peregrino e do caminho”.

Nesse sentido, “trabalhar em parceria com as entidades públicas para valorizá-lo em todas as iniciativas, nomeadamente na verificação e validação de itinerários, promovendo a correta sinalização, a conservação e a limpeza dos itinerários, é uma forma de promover a defesa” de ambos.

No que respeita ao percurso de duas décadas da AEJ, que conta meio milhar de associados, o dirigente reconheceu: “por vezes as etapas não são percorridas da melhor forma, noutras perdemo-nos no caminho ou não comunicamos da melhor maneira com os companheiros de jornada, mas sabemos que deve ser sempre um caminho de verdade, honestidade e altruísmo”.

A AEJ, uma instituição com quase 30 delegações em Portugal e no estrangeiro, “existe com o único propósito de trabalhar para o Caminho de Santiago e para os peregrinos” e, por isso, “só deve estar na associação quem esteja para servir, e não para ser servido; quem queira dar um pouco de si próprio aos outros, e não quem pretenda usar a associação como degrau para alguma coisa”, salientou António Devesa. “O crescimento e a atual dimensão da AEJ é algo que orgulha, obviamente, os associados. Contudo, esta posição acarreta muita responsabilidade, ao nível de organização, comunicação e discussão de ideias entre todos os que nela veem a entidade que deve defender, intransigentemente, o superior interesse do peregrino e do caminho”, pelo que “nunca poderá esquecer-se, nem divergir, dos seus objetivos base: fomentar o culto e a peregrinação ao apóstolo Santiago, preparar e informar peregrinos e promover os itinerários do Caminho Português de Santiago”.

A sessão solene comemorativa do 20º aniversário da AEJ incluiu intervenções de João Freitas (sócio nº2 da AEJ), Carina Frazão (delegada da AEJ em Fátima), Lúcio Lourenço (hospitaleiro e ex-presidente da AEJ) e Nuno Pontes da Costa (ex-presidente da AEJ), focadas, sobretudo, na história da associação.

Num segundo painel, intervieram Manuel Rocha (Irmão Maior da Arquiconfraria Universal do Apóstolo Santiago), Artur Filipe dos Santos (professor, investigador, especialista em comunicação e património; protocolista e vexiloligo, jornalista) e Ana Rita Dias, presidente da Federação do Portuguesa do Caminho de Santiago, que abordaram diferentes temas relacionados com o itinerário. O presidente da mesa da assembleia geral da AEJ, Adelino de Oliveira Martins, encerrou os trabalhos, com uma apresentação sobre percursos jacobeus.

Antes da sessão solene, decorreu o 1º Congresso de Delegados da AEJ, uma visita a museus e locais relacionados com a peregrinação jacobeia, em Guimarães, uma missa e um almoço de convívio, no decurso de um programa organizado pelos representantes da associação em Vila de Prado/Vila Verde, Nuno Pimenta e em Guimarães, Leonel Pereira.

A Associação Espaço Jacobeus – Confraria de São Tiago foi fundada em 2004, é uma organização católica com sede em Braga, que “preserva, na sua essência, o espírito ecuménico de aceitação de todas as pessoas, de todas as raças e credos, congregando nas atividades pessoas de diferente fé e fundamentação humanística”.

Em 2006 foi oficialmente reconhecida pela Arquidiocese de Braga e agregada à Arquiconfraria Universal do Apóstolo Santiago, com sede em Santiago de Compostela.


*Presidente da AEJ: António Devesa