Uma
equipa internacional coordenada pelo cientista Lino Ferreira, da
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e do Centro
de Neurociências e Biologia Celular (CNC-UC), descobriu
uma enzima (proteína) que está envolvida em doenças relacionadas
com o envelhecimento vascular.
Os
resultados da investigação, iniciada em 2012, foram hoje publicados
na revista científica Nature
Communications
e podem contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos para
combater doenças associadas ao envelhecimento prematuro e ao
envelhecimento fisiológico.
Neste
projeto, foram usadas células de indivíduos com Síndrome
Hutchinson-Gilford ou Progeria, uma doença muito rara, caracterizada
pelo envelhecimento precoce e morte prematura, normalmente por
doenças cardiovasculares, por volta dos 14 anos de idade. Esta
doença, explica Patrícia Pitrez, primeira autora do artigo
científico agora publicado, «é
provocada por uma mutação genética rara, no gene LMNA, que resulta
na acumulação de uma proteína anormal no interior das células,
denominada progerina. Esta proteína é também observada no
envelhecimento normal, ainda que em menor escala».
«Estando
este projeto relacionado com o envelhecimento vascular patológico
(progeria), o conhecimento gerado tem também grande importância no
envelhecimento vascular fisiológico»,
sublinha.
O
estudo incidiu nas células do músculo liso (células que se
encontram nos vasos sanguíneos), uma vez que são as células «mais
afetadas na progeria, existindo uma diminuição do seu número nas
artérias envelhecidas. Mas a razão para esta perda não era ainda
conhecida. Recolhemos células da pele (fibroblastos) de indivíduos
com e sem progeria, reprogramámos em células estaminais e depois
diferenciámos em células do músculo liso»,
clarifica a investigadora do CNC.
Depois,
para avaliar os mecanismos envolvidos na biologia vascular, a equipa
desenvolveu dois microchips
vasculares – um saudável e outro envelhecido (progeria). Nestes
dispositivos, relata Patrícia Pitrez, foi possível «manter
as células em condições de fluxo arterial, muito semelhantes às
condições existentes nas artérias, e isso permitiu-nos estudar a
suscetibilidade destas células de progeria no laboratório. Após
alguns dias verificámos a diminuição do número de células do
músculo liso de progeria, mas não das saudáveis. E através deste
sistema, foi possível analisar as diferenças entre os dois
microchips, ou seja, comparar os dois tipos de células e perceber o
porquê da diminuição do número de células no caso da progeria».
E
foi, justamente, no processo de análise das diferenças entre as
células saudáveis e de progeria que os investigadores descobriram
«uma
enzima, a metaloproteinase 13 (MMP13), cuja concentração está
cerca de 30 vezes aumentada nas células de músculo liso de progeria
em comparação com as saudáveis»,
salienta.
Na
tentativa de inibir a ação desta enzima, os investigadores testaram
ainda um fármaco, tendo conseguido desenvolver uma terapia
específica para contrariar a diminuição do número de células nas
artérias que ocorre com o envelhecimento vascular.
Face
aos resultados obtidos, os autores do estudo acreditam «que
a administração do fármaco em estágios iniciais da doença,
combinado com outros fármacos já testados e que reduzam a
quantidade de progerina, pode ser de valor acrescentado para melhorar
a qualidade e esperança média de vida destes indivíduos».
Por outro lado, concluem, o microchip
desenvolvido no âmbito desta investigação «abre,
também, novas perspetivas para o desenvolvimento de outros
tratamentos, não só para indivíduos com progeria, mas também para
o envelhecimento vascular fisiológico».
O
projeto foi cofinanciado por fundos europeus – FEDER, através do
Programa COMPETE, e ERAatUC - e portugueses, através da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Além da Universidade de
Coimbra, participaram na investigação cientistas do Instituto de
Medicina Molecular (Portugal), I-Stem (França), Universidade de
Aix-Marselha (França), Universidade Autónoma de Barcelona
(Espanha), Laboratório de Genética Molecular (França), Instituto
Francis Crick (Reino Unido), Universidade de Liverpool (Reino Unido),
Instituto de Envelhecimento de Leibniz (Alemanha), AFM Telethon
(França) e Parque de Ciência de Cambridge (Reino Unido).
Cristina
Pinto