“La división internacional del trabajo consiste en que unos países se especializan en ganar y otros en perder.
Nuestra comarca del mundo, que hoy llamamos América Latina, fue precoz: se especializó en perder desde los remotos tiempos en que los europeos del Renacimiento se abalanzaron a través del mar y le hundieron los dientes en la garganta.
Pasaron los siglos y América Latina perfeccionó sus funciones.
Éste ya no es el reino de las maravillas donde la realidad derrotaba a la fábula y la imaginación era humillada por los trofeos de la conquista, los yacimientos de oro y las montañas de plata.
Pero la región sigue trabajando de sirvienta.
Continúa existiendo al servicio de las necesidades ajenas, como fuente y reserva del petróleo y el hierro, el cobre y la carne, las frutas y el café, las materias primas y los alimentos con destino a los países ricos que ganan, consumiéndolos, mucho más de lo que América Latina gana produciéndolos.
Son mucho más altos los impuestos que cobran los compradores que los precios que reciben los vendedores; y al fin y al cabo, como declaró en julio de 1968 Covey T. Oliver, coordinador de la Alianza para el Progreso, hablar de precios justos en la actualidad es un concepto medieval.
Estamos en plena época de la libre comercialización”...
(In “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano).
1- Qualquer abordagem que se faça acerca da Venezuela Bolivariana, deve antes do mais preocupar-se e levar em especial atenção, quanto a Venezuela Bolivariana é anti hegemonia unipolar e por conseguinte avessa ao fascismo típico das mais empedernidas oligarquias latino-americanas, aquelas responsáveis pelas mais sangrentas ditaduras desde o golpe fascista e neoliberal de Pinochet contra Salvador Allende a 11 de Setembro de 1973.
De facto toda a história dos relacionamentos dos governos progressistas bolivarianos, (com o Comandante Hugo Chavez, ou com Nicolas Maduro, à frente dos destinos do país), com as administrações dos Estados Unidos, reflecte essa clivagem que tem sido determinante para os destinos da América Latina ao longo das últimas duas décadas.
A oferta a Obama do livro de Eduardo Galeano “As veias abertas da América Latina”, por parte do Comandante Hugo Chavez, é das mais emblemáticas imagens da vocação progressista da Venezuela Bolivariana, intimamente associada a uma outra América Latina, independente, soberana, democrata, socialista e acérrima defensora da paz… foi em Abril de 2004!...
2- Depois, necessário se torna avaliar quanto os Estados Unidos têm articulado as armas económicas, político-diplomáticas e por fim de “guerra psicológica” contra a Venezuela Bolivariana e suas iniciativas internas e internacionais… voltando a procurar abrir uma vez mais as veias da América Latina em pleno século XXI…
As questões globais geoestratégicas no que ao petróleo diz respeito e no campo da hegemonia unipolar, estão a conduzir os Estados Unidos a uma cada vez maior crispação em relação à Venezuela Bolivariana, podendo suscitar em breve uma radicalização ainda maior.
Em perda no atoleiro do continente asiático, onde faz a patética gestão duma nuvem de contradições que integram a dimensão do caos e do terrorismo em que o mundo se encontra, os Estados Unidos estão motivados a voltarem-se de novo para o espaço americano e a questão relativa à Venezuela torna-se prioritária para os processos de domínio no âmbito da hegemonia unipolar em decadência, mexendo com as oligarquias agenciadas que se aprouverem, por falha de melhores alternativas noutros lugares.
É isso mesmo que confirma Jorge Beinstein, no seu artigo “Venezuela, entre o chavismo e a restauração colonial”, quando observa as questões que se prendem ao “Petróleo e geopolítica”:
“A Venezuela tem a maior reserva mundial de petróleo (cerca de 300 mil milhões de barris de crude, de acordo com as estimativas mais recentes), quase um quinto do total mundial, superando a Arábia Saudita (cerca de 265 mil milhões de barris). Em 2003 quase 70% das exportações de petróleo venezuelano foram para os Estados Unidos mas em 2016 tinham caído para 20%, em alternativa 40% vai para a China e 20% para a Índia.
Esta orientação asiática (principalmente chinesa) da maior reserva de petróleo do mundo, longe da velha dependência do mercado imperial, constitui um casus belli de primeira ordem na estratégia dos Estados Unidos, a perda da Venezuela agora associada à China aparece como uma situação intolerável.
Mais ainda quando as ilusões americanas sobre a sua produção de xisto betuminoso arrefeceram de acordo com a previsão oficial dada pela Energy Information Administration: no ano 2021 iria atingir-se o nível mais alto deste tipo de produção e a partir daí começaria a declinar.
As reservas petrolíferas do império esgotam-se e também a paciência de Washington, o império está a perder a sua grande guerra asiática e com isso a sua ilusão de controlar a maior parte das reservas de gás e petróleo do planeta. Consequentemente, a reconquista da Venezuela passa a estar no primeiro nível de suas prioridades. Além disso, este projecto faz parte da estratégia de recolonização da América Latina, retaguarda histórica do império a que a derrota na Ásia atribui excepcional importância”…
3- A perspectiva desesperada de Washington em relação à Venezuela Bolivariana pode, dentro em breve, levar a um clímax, ao nível dum “tudo ou nada”, que deverá estar bem presente nas análises mais projectivas que os progressistas de todo o mundo devem atender:
Os Estados Unidos indiciam estar a preparar a “bomba petrolífera” contra a Venezuela Bolivariana, enquanto fórmula determinante da escalada em curso, que se poderá conjugar com uma invasão a que se podem candidatar os sectores mais reaccionários da Colômbia como do Peru (em reforço do fascismo de alguns sectores da oligarquia venezuelana), correndo-se o risco duma conflagração extensiva na América do Sul, contrariando a vocação para a paz por parte das massas populares venezuelanas, do PSUV, do Presidente Nicolas Maduro, dos progressistas venezuelanos e de todo o mundo.
As reacções do Presidente do “Ministério das Colónias” (Organização de Estados Americanos), Luis Almagro, correspondem ao modelo de crispações em curso.
Recentemente a Sputnik News lançou um claro (e evidente) alerta:
“De acordo com informações provenientes de Washington, a administração de Trump está ponderando suspender as importações de petróleo da Venezuela, que levaria ao colapso econômico do país caribenho.
Além disso, esta medida poderia ter um sério impacto no mercado energético mundial, opina Yevgeny Bay, colunista do portal russo Politcom”…
Em simultâneo, o pequeno mas combativo Partido Comunista da Venezuela, alinhado com a Assembleia Constituinte cujo curso está em fase de preparação, lançou a doze do corrente outro alerta:
“El Buró Político del Partido Comunista de Venezuela (PCV) denunció en rueda de prensa la presencia de fuerzas militares de la Organización del Tratado del Atlántico Norte (OTAN) en las costas venezolanas, lo que hace presumir que se preparan para una posible invasión a Venezuela con el apoyo de las fuerzas fascistas de la derecha opositora.
Así lo dio a conocer, Douglas Gómez, miembro del Buró Político del Comité Central del PCV.”
A partir daqui, devem-se começar a fazer as abordagens regionais e nacionais, pois tudo o que está em curso corresponde aos parâmetros bem definidos por Galeano: a lógica mercantil neoliberal dos que, ao comercializarem, só pensam e agem em função do domínio e dos lucros e a lógica com sentido de vida social daqueles que secularmente, ao produzirem, só se podem contentar com os restos… continuando a longa e trágica praga-saga das “veias abertas da América Latina”!
Imagens:
Oferta, em Abril de 2004, do Comandante Hugo Chavez ao Presidente Barack Hussein Obama: “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano; O Presidente Nicolas Madura convoca a Assembleia Constituinte; Donald Trump e Macri (Presidente da Argentina, são dois “parceiros” contra a Venezuela; O fantoche Luis Almagro, Presidente do“Ministério das Colónias” conforme à Organização de Estados Americanos.
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