Em outras palavras, ao fazer a entrega simbólica de 90 mil carteiras em Nampula, o presidente Nyusi estava simultaneamente a representar o Estado que ele dirige – cliente - e a sua filha Cláudia - fornecedora das carteiras ao Estado.
Este acto inaugura uma nova era na governação Nyusi, em que a família presidencial envolve-se directamente em negócios com o Estado prática que já era habitual na governação de Armando Guebuza.
Os negócios da Cláudia Nyusi com o Estado
A Luxoflex Lda, empresa que tem na estrutura accionista Cláudia Filipe Jacinto Nyussi, filha do presidente da República, tem vindo a fornecer bens a entidades públicas desde que Filipe Nyusi assumiu o cargo de chefe do Estado e do Governo.
O mais recente foi este negócio para fornecer carteiras escolares às províncias de Nampula e Zambézia, no valor total de MZN 965 250 000, 00 dividido em duas parcelas iguais pelas duas províncias. O concurso foi lançado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS) em Dezembro de 2017, instituição pública tutelada pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, dirigido por Celso Correia.
Alega-se que as carteiras são fabricadas a partir da madeira apreendida no âmbito da “Operação tronco” porém há dados que indicam que a madeira foi sendo cortada deliberadamente, com a autorização do Ministério da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural. Mas este é outro assunto a ser tratado futuramente. Registos de 2016 mostram que a Luxoflex tem estado a fornecer diversos bens, entre carteiras e mesas a entidades públicas, somando milhões de meticais.
Nem sempre há concurso público, em alguns casos a adjudicação de negócios, fornecimento de carteiras pela Luxoflex à entidades públicas é através de concurso limitado. (Ver tabela 1).
A Luxoflex foi registada a 28 de Julho de 2010 tendo como accionistas Firoza Noormahomed, Yusuf Issa Jamal, Yasfir Yusuf, Yanisa Yusuf e Yumna Yusuf. A 21 de Abril de 2015, os quatro sócios deliberaram a transferência do total de acções para a favor da Dambo Investe, Limitada (99%) e de Hipólito Michel Ribeiro Amad Ussene (1%).
Por sua vez, a Dambo Investe, Limitada é detida por Hipólito Michel Ribeiro Amad Ussene e Cláudia Filipe Jacinto Nhussi, com 50% cada. Para o concurso de 2017, concorreram para o fornecimento das carteiras 24 empresas. Da avaliação foram apuradas apenas três empresas para fornecer as carteiras em todas as 11 províncias do país. A empresa Complexo Industrial do Planalto ganhou o maior bolo.
Foi apurada para cinco províncias, com o montante global de mais de MZN 1 200 000 000. Em segundo lugar está a Luxoflex –tem na estrutura accionista Cláudia Nyusi - que ganhou concurso para apenas duas províncias mas com o montante global de mais de 965 milhões de meticais.
Em terceiro ficou a L. Duarte dos Santos, empresa registada em nome do político e empresário Momade Camal, que fornece carteiras a quatro províncias mas com o montante global de aproximadamente 233 milhões de meticais.
No documento do concurso há uma cláusula que impede concorrentes em conflito de interesse. Contudo, na especificação de a quem se considera em conflito de interesses, excluem-se empresas que tenham como accionistas familiares directos do Chefe do Estado.
Pode não se configurar ilegalidade que uma empresa participada pela filha do chefe do Estado fornece bens e serviços ao Estado, mas do ponto de vista de ética de governação é questionável a independência do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável para julgar uma empresa concorrente participada pela filha do Chefe do Estado. O mesmo se aplica para as direcções provinciais que têm adquirido bens com a Luxoflex.
A prática de filho de chefe do Estado fazer negócio com o Estado foi recorrente nos dois mandatos de Armando Guebuza. Mussumbuluko Guebuza e Valentina Guebuza fizeram negócios milionários com o Estado. A integridade não durou. A família Nyusi entrou nos negócios com o Estado pela mão da Cláudia Nyusi, uma empresaria que está a despontar desde que Filipe Nyusi chegou ao poder.
Uma empresária em ascensão
Cláudia Filipe Jacinto Nyusi registou a primeira empresa em seu nome em 2011, três anos antes de o seu pai ser eleito presidente da república. Trata-se da ULANDA, Limitada, que tem como sócia Nimbuka Lagos Henriques Lidimo, filha de Lagos Lidimo. A Ulanda é empresa do sector imobiliário.
No ano em que Filipe Nyusi foi eleito chefe do Estado, Cláudia Nyussi registou a segunda sociedade. Chama-se Dambo Investe e tem como sócio Hipólito Michel Ribeiro Amad Ussene. Esta é uma sociedade de Prestação de serviços: importação e exportação, hotelaria e turismo e exploração mineira.
É através da Dambo Investe que Cláudia Nyusi começou a expandir as suas actividades comerciais com o Estado.
Em Abril de 2015, com Nyusi no poder, a Dambo Investe criou a Odja Alimentos, Limitada, empresa de importação e exportação, distribuição e comercialização de bens alimentares; prestação de serviços e representação de marcas internacionais. Ainda em Abril de 2015, a Dambo Investe criou outra empresa do sector imobiliário, denominada Sheba Gondola, Limitada.
Em Maio de 2015, a Dambo Investe criou a Macuse Trading Limitada, empresa de importação e exportação, prestação de serviços e representação de marcas internacionais. Também em Maio de 2015, a Dambo entrou na estrutura accionista da Luxoflex.
Em Abril de 2015, a Dambo Investe criou a Likaputela, Limitada, empresa de importação e exportação, prestação de serviços e representação de marcas internacionais.
Ainda em Abril de 2015, a Dambo Investe, Limitada virou-se para o sector de hidrocarbonetos, criando a Nykali Oil, Limitada, cujo objecto social é a exploração e produção de energia, gás e petróleo; distribuição comercial de energia, gás e petróleo; comercialização de derivados de gás e petróleo; transformação e refinamento de gás e petróleo e representação de marcas internacionais;
Assim, a Cláudia Nyussi parece seguir as pegadas dos filhos dos anteriores Presidente da República de Moçambique, mais concretamente Joaquim Chissano e Armando Guebuza que ao longo dos seus mandatos, os seus filhos aproveitaram-se da relação privilegiada que tinham com o poder político, para se tornarem empresários de “sucesso”.
Ao fazer negócio com o Estado, Cláudia Nyusi confirma a rotatividade do sucesso empresarial baseado na influência política, imagem de marca no mundo de negócios em Moçambique.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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