Adolescentes Leitores
Ler livros é uma actividade muito
importante para a formação cultural e intelectual de qualquer pessoa. Os
adolescentes, ou grande parte deles, lêem muito pouco, e na maioria das vezes
somente os livros indicados pelas escolas. E, em uma sociedade como a que
vivemos, onde a comunicação audiovisual é tão predominante, este hábito vem se
tornando cada vez mais raro. Por que isso acontece?
A literatura infantil, assim como a
leitura, enquanto fenómenos sociais, foram alvo de uma motivação maior quando
da consolidação da classe burguesa e da economia capitalista, na Europa do
século XVIII. Isso se deu por conta da necessidade de escolarização das massas
operárias em ascensão e a industrialização da literatura, por intermédio do
desenvolvimento dos novos meios de comunicação de massa. No Brasil, estes fenómenos
começam a se reproduzir apenas na passagem do século XIX para o XX.
Segundo o Ministério da Educação, o
brasileiro lê, em média, dois livros por ano, sendo um deles de cunho didáctico.
Ou seja, anualmente, o brasileiro lê apenas um livro pelo simples prazer da
leitura. Ao mesmo tempo, uma pesquisa feita por editores brasileiros constatou
que a leitura é um hábito crescente na população mais jovem presente em 45% dos
que têm entre 14 e 19 anos, 33% dos que têm 20 a 29 e 28% dos que estão na
faixa dos 30 aos 39. Depois dos quarenta, o número de pessoas que leu um livro
no último mês cai para 24%. É importante lembrar que nem sempre as estatísticas
reflectem a realidade, uma vez que é raro conhecermos alguém que tenha sido
consultado nessas pesquisas.
Afirma-se que existem algumas razões
para a pouca leitura do brasileiro: seu baixo índice de escolaridade; o
reduzido número de bibliotecas públicas e sua concentração nos grandes centros
urbanos; o alto preço dos livros e o pouco estímulo dado à leitura pelas
escolas. E mesmo entre as elites esta situação não é muito diferente.
Encontramos neste caso, algumas outras explicações: a cultura capitalista nos
ensina a aplicar todo o tempo na obtenção de lucro; a velocidade da informação,
que em nosso século está cada vez mais vertiginosa; e a efervescência dos
veículos literários destinados a agradar o mais confortavelmente possível os
leitores, baixando assim o nível de esforço para ler, como no caso das
revistas.
No caso dos adolescentes, há que se
concordar que não é comum vê-los lendo um livro. Na sociedade actual, são os meios de comunicação os maiores
influenciadores e ditadores do comportamento dos adolescentes. Para
descobrir o que eles andam lendo, se gostam de ler, o que lêem, o que acham dos
livros feitos para eles etc, foi feita uma actividade com alguns grupos de
jovens entre 12 e 16 anos de classe média, todos estudantes de escolas
particulares do Rio de Janeiro.
O
que você lê?
Ah,
eu até leio alguns livros, quando a escola manda. Tem alguns que eu não leio e
na véspera da prova pego um resumo da história na internet ou peço pro mais
nerd da turma me contar tudo. Mas gostar de ler livros, eu não gosto.
A adolescência é uma fase inquieta. É
muito difícil para um jovem de 12, 13 anos sentar-se para ler um livro, por
mais interessante e envolvente que a história seja, estando ele rodeado de
tantas outras fontes de informação – a internet, a televisão, a música, etc -
que são muito mais dinâmicas. Afinal de contas uma característica importante do
adolescente é a sua capacidade de dividir a concentração. Eles conseguem ler um
livro com o som e a tv ligados e ainda bater papo num chat na internet. Fazendo
tantas coisas ao mesmo tempo, é natural que nenhuma delas seja muito bem feita
e que a menos atraente seja deixada de lado depois de algum tempo.
Tenho,
claro! Mas como eu disse, são os mais nerds da turma. Fala sério, você acha que
eu vou ficar lendo quando eu posso estar conversando com meus amigos, jogando
bola, ou vídeo game? E tem outra coisa, se eu começasse a ler, todos iam achar
que eu virei um nerd também.
No período da adolescência os amigos e
"a turma" assumem um papel fundamental.
São os amigos da mesma idade e com as mesmas
características que possibilitam ao jovem enfrentar as modificações em seu corpo
e em seus sentimentos. São os integrantes da turma que entendem melhor suas ideias,
têm os mesmos interesses, as mesmas aspirações e estão dispostos a enfrentar os
mesmos desafios. A opinião do grupo importa muito, ás vezes mais do que a dos
próprios pais.
O adolescente precisa fazer parte desse
grupo.
Mas
você não acha que a leitura é importante? Esses tais nerds, que você diz, são
bons alunos?
Claro
que é! E os nerds são mesmo os melhores alunos da turma. Eu sei que ler livros
melhora o vocabulário, faz com que a gente escreva melhor… Quando eu leio um
livro, imagino os cenários, as caras dos personagens, etc.
Apesar se saberem da importância da
leitura, os jovens não têm paciência para sentar e ler um livro do início ao
fim. Eles dizem que muitas vezes a história é chata, ou o livro tem muitas
páginas e eles acham que nunca vão chegar ao fim, quando não acontece do filme
sobre a história que estão lendo ser lançado no cinema. Neste caso, eles não
pensam duas vezes e deixam o livro de lado.
Afinal, outro atributo comportamental é
a pressa. Eles estão rodeados de novas informações e só assimilam aquilo que
consideram essencial.
Mas então, o que você gosta mesmo de
ler?
Revistas,
blogs, gibis…
Por que?
Ah, porque eles são muito mais coloridos,
não têm aquele texto gigante que fala sobre um assunto só, são muito mais
fáceis de ler. Não preciso ler todas as páginas seguidas, posso pular uma ou
outra quando não acho o assunto ou a história interessante… Acho que as
revistas, os blogs e os gibis combinam muito mais comigo do que os livros, que
são muito bobos ou então sérios demais.
Os adolescentes reclamam muito disso, do
fato do livro não “falar a língua” deles. O escritor de ficção-científica
Thomas M. Disch diz que "os jovens não são seres inferiores, nem
miniadultos. São apenas diferentes dos adultos". Têm outras necessidades, outros
interesses, outro humor, menos respeito pelo passado, muita curiosidade sobre o
futuro, pouca paciência com regras que não criaram, imaginação fértil e muita
pressa. Há muitos livros que são feitos para o público juvenil mas que por uma
falha em seu projeto gráfico, acabam nem sendo abertos por um adolescente que,
como a maioria das pessoas, é atraído ou não pela capa da publicação.
Nas obras para jovens a partir dos 12
anos, notamos um tratamento gráfico bastante diferente: a diagramação e tipos
de letras se aproximam dos utilizados em livros para adultos. As ilustrações rareiam
e a função estética predomina sobre a informativa; a cor é totalmente dispensável,
à excepção da capa. Em termos de estilo, o discurso se adensa, joga com
múltiplos sentidos e possibilidades, a trama se complica e aumenta o número de personagens.
A linguagem coloquial é bastante privilegiada, apresentando registros de
diversos níveis sociais e regiões. A acção dos personagens juntamente com o
emprego do diálogo contribuem para o dinamismo da história.
Cabe ao design editorial contribuir para
reverter essa tendência, buscando tornar os livros mais atraentes e fazendo com
que sua leitura seja incentivada.
Entender a linguagem dos adolescentes e
desenvolver livros com a “cara” deles pode fazer com que este público passe a
ler mais, adquirindo mais cultura, conhecimento, experiências, desenvolvendo seu
poder de imaginação etc. Não há maneira melhor de transmitir informação densa
do que por meio de uma história. Por isso elas têm poder. E os livros incorporam
esse poder. Cada livro lido tem a capacidade de nos transformar, e essa mudança
passa a fazer parte da nossa história pessoal. A sequência das obras lidas por
cada um é única, pessoal e intransferível.
O objectivo primordial da Literatura
Infanto-Juvenil de hoje é despertar o hábito de ler, de uma forma lúdica e
prazerosa, levando o leitor a ter um posicionamento crítico sobre si mesmo e
sobre o mundo circundante.
A leitura, na nossa sociedade, é uma
forma de dar voz ao cidadão e é preciso prepará-lo para tornar-se um sujeito no
ato de ler. Quer dizer, o livro deve levar a uma leitura/interpretação da vida
que ajude o indivíduo na transformação do mundo.
Fernanda Bergier Cardoso
Fonte: net a 2-10-2012
Bibliografia
consultada
,Pondé, Glória. A arte de fazer artes –
Como escrever histórias para crianças
e adolescentes. Editora Nordica, Rio de Janeiro, 1985.
.http://paginas.terra.com.br/saude/montardo/indice/ind09.htm
.http://paginaseducacao.no.sapo.pt/educaradolescentes.htm
.http://www.adital.org.br/asp2/noticia.asp?idioma=PT¬icia=11868
.http://www1.folha.uol.com.br
.Declaração Universal dos Direitos da
Criança
.Site do Proler
.Site da Casa de Leitura
.Entrevistas com educadores e escritores
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