No mesmo ano de 1960, por ocasião do centenário da unificação da Itália, Cantoni — juntamente com o conde e o estudioso piacentense Carlo Emanuele Manfredi — editou alguns escritos contrários ao Risorgimento, de autoria do sacerdote jesuíta Luigi Taparelli d’Azeglio (1793-1862), intitulados La libertà tirannia. Saggi sul liberalismo risorgimentale [Tirania da liberdade. Ensaios sobre o liberalismo do Ressurgimento]. De 1962 a 1966, dirigiu a seção de não ficção das Edizioni dell’Albero, fundadas em Turim por Alfredo Cattabiani (1937-2003). Nessa editora, ele publicou em 1964 a obra magistral de Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução. A publicação e divulgação deste trabalho continua sendo talvez o maior mérito de Giovanni Cantoni. Uma segunda edição veio à luz em 1972 e uma terceira em 1977, em ambos os casos na editora Cristianità, em Piacenza; em 1998 foi publicada uma quarta edição pela associação Luci sull’Est e em 2009 uma quinta, na Sugarco, por ocasião do cinquentenário da primeira aparição da obra no Brasil.
Enquanto isso, Cantoni havia se vinculado a seu colega piacentense Agostino Sanfratello que, após abandonar o neomarxismo dos Quaderni piacentini com o qual colaborava, abraçou completamente a fé católica e se tornou o líder carismático da oposição estudantil à Revolução de 68 que eclodiu na Universidade Católica de Milão. No final dos anos sessenta, Cantoni e Sanfratello fundaram a Alleanza Cattolica, da qual Sanfratello depois se separou.
Cantoni não completou seus estudos universitários, mas era um homem de vasta cultura, que gostava considerar-se acima de tudo um “filólogo”. Seu cuidado com os textos e notas era escrupuloso ao excesso. Basta pensar que a edição princeps de Revolução e Contra-Revolução, que ele anunciou para 1999, nasceu apenas 10 anos depois, devido à revisão meticulosa à qual ele queria submeter o trabalho. Essa atenção aos detalhes parecia obsessiva, mas contribuiu para uma formação cultural mais rigorosa dos jovens direitistas da época, propensos à superficialidade e à simplificação. Cantoni odiava a leviandade e o romantismo desses ambientes e queria se apresentar, mais do que como intelectual, como um “teórico da ação” severo e intransigente. Ele leu Gramsci e Lenin e, parafraseando o título de uma obra do revolucionário russo (Extremismo, a doença infantil do comunismo), gostava de repetir que “o moderantismo é a doença infantil do anticomunismo”.
Esse espírito intransigente levou-o a redescobrir e difundir o pensamento contra-revolucionário italiano e europeu. Em 1971, num encontro de jovens monarquistas em Monteombraro, perto de Modena, à pergunta “Quem mais é deles” (Dante, Inferno, canto X), ele respondeu com estas palavras: “O pensamento contra-revolucionário do século XIX e sua continuação em nosso século pela obra viva de Plinio Corrêa de Oliveira, Francisco Elías de Tejada, Rafael Gambra Ciudad, Marcel De Corte, Léon de Poncins e Gustave Thibon”. Cantoni gostava de citar o trecho no qual Plinio Corrêa de Oliveira — que mais tarde ele considerou seu mestre — definia o contra-revolucionário como aquele que “ama a Contra-Revolução e a Ordem Cristã, odeia a Revolução e a anti-ordem, e faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos seus ideais, preferências e atividades”.
O contra-revolucionário — explicava Cantoni — “sabe que a maioria nem sempre está certa, assim como nem o Estado, nem o líder carismático, nem a nação, nem a raça, nem o proletariado estão sempre certos e, portanto, também sabem que nem mesmo o rei está sempre certo. A loucura de um mundo ‘iluminado’, cheio de oráculos ‘infalíveis’, parece evidente para ele, enquanto a infalibilidade autêntica, a autêntica vox Dei, é cercada por muitas precauções legítimas. Portanto, como um bom católico, de acordo com as leis da Igreja, ele concorda com o que, sob certas formas e sob certas condições, é proclamado por Pedro, assim como um bom monarquista grita sua ‘longa vida ao rei, apesar de tudo!’ e continua em sua luta pela ordem natural e cristã, certo de que, respeitando todo direito legítimo, normalmente conclui pela monarquia”.
Eu estava entre os jovens que ingressaram nesses anos na Alleanza Cattolica em Monteombraro. De 1973 a 1981, fui editor chefe da revista “Cristianità”, da qual Cantoni foi diretor efetivo. Naqueles anos, conheci Marco Tangheroni, Mauro Ronco, Alfredo Mantovano, Massimo Introvigne, Rino Cammilleri, Ettore Gotti Tedeschi, AttilioTamburrini e muitos outros que eram militantes da Alleanza Cattolica ou estavam próximos, os quais, em medida diversa, receberam uma influência benéfica. O encontro da Alleanza Cattolica com os Exercícios Espirituais de Santo Inácio foi decisivo. Pregado segundo o método do padre Francisco Vallet (1884-1947) pelo padre Ludovic-Marie Barrielle (1897-1983), após esses exercícios alguns jovens da associação, liderados por Don Piero Cantoni, irmão de Giovanni, entraram no seminário de Ecône. A saída deles, alguns anos depois, causou profunda dor ao padre Barrielle, que morreu em odor de santidade e considerou-se o cofundador do seminário ao lado de Mons. Lefèbvre.
Com a eleição de João Paulo II em 1978, Cantoni, que tinha grande confiança no novo Papa polonês, julgou que a Alleanza Cattolica deveria mudar sua estratégia, passando da “oposição” para o “entrismo”, como ele chamava, servindo-se do jargão trotskista, a colaboração com autoridades e movimentos eclesiásticos. Quais foram os motivos dessa reversão da estratégia? Cantoni citou frequentemente a frase do Conde de Maistre de que a “Contra-Revolução não é uma revolução com sinal oposto, mas o oposto da Revolução”. Aquele que conhecia tão bem, além do pensamento contra-revolucionário, a filosofia de Gramsci e Lenin, talvez tenha esquecido que à filosofia da práxis não se deve opor uma práxis com um sinal contrário, mas o oposto da filosofia da práxis, ou seja, o primado da Graça divina na vida de homens e povos. De fato, existe um perigo oposto ao do sobrenaturalismo, que é o do naturalismo, o qual, no nível espiritual, consiste em querer prever e planejar tudo, sem considerar a ação imprevisível da Graça, à qual é preciso abandonar-se docilmente. A expressão dessa nova estratégia “praxista” foi, em 1981, o apoio de Alleanza Cattolica ao referendo “mínimo” sobre o aborto promovido pelo Movimento pela Vida, sob a égide do episcopado italiano. Isso acarretava problemas legais e morais espinhosos e, em consciência, senti-me compelido a me dissociar dessa escolha. Fui, portanto, forçado a deixar a Alleanza Cattolica à qual havia dedicado, sem reservas, nove anos da minha vida. A história da associação após esses anos não me pertence e outros a escreverão. Para mim, esta é apenas a hora de rezar pela alma de Giovanni Cantoni, um italiano sério a quem tenho uma dívida de gratidão.
ABIM
_____________
(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 22-1-2020. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário