João Farminhão,
investigador do Centre for Functional Ecology (CFE) da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Jardim
Botânico da UC (JBUC), liderou um estudo internacional, que revela
uma nova espécie de orquídea de Madagáscar com um tubo de néctar
que alcança os 33 centímetros (cm) de comprimento.
Nesta
investigação, agora publicada na revista Current
Biology,
é descrita esta nova orquídea, denominada solenangis-gigante
(Solenangis
impraedicta).
«Com
as suas pequenas flores de 2 cm de comprimento, apresenta,
proporcionalmente, o maior tubo floral existente entre as cerca de
370 mil espécies de plantas com flor, constituindo um novo paradigma
de hiperespecialização ecológica, com grande valor para o ensino
da evolução»,
explica João Farminhão.
O nome científico
da solenangis-gigante,
impraedicta
(imprevista em latim), «é
uma alusão à descoberta improvável de um novo caso de evolução
independente de um esporão desmesurado e uma vénia à previsão de
Darwin, que levou 130 anos a confirmar»,
revela o autor do estudo, contextualizando que esta previsão sobre a
existência de borboletas com uma língua gigante, em Madagáscar,
capazes de alcançar o néctar da orquídea angreco-cometa
(Angraecum
sesquipedale),
com um tubo floral de mais de 30 cm de comprimento, é uma das mais
famosas conjeturas da história da biologia, estando associada à
génese do conceito de coevolução.
«A
borboleta noturna Xanthopan
praedicta
é um dos únicos polinizadores possíveis. Além do angreco-cometa,
até ao momento, só se conhecia mais duas espécies de orquídeas de
Madagáscar com esporão de comprimento comparável. Desde 1965 que
não se descobria uma espécie com uma adaptação tão extrema à
polinização pelas borboletas de Darwin»,
afirma.
«Infelizmente,
esta espécie encontra-se ameaçada de extinção, devido à
destruição do seu habitat associada à exploração mineira e,
potencialmente, à colheita ilegal de plantas para o lucrativo
comércio internacional de orquídeas»,
lamenta o autor, acrescentando que, de forma a protegê-la da cobiça
de colecionadores não foram divulgadas as coordenadas exatas dos
locais onde ocorre na natureza.
Além disso,
«para
assegurar a sua conservação em jardins botânicos por todo o mundo
e satisfazer a futura procura desta espécie em coleções
particulares, iniciou-se já a produção de sementes para propagação
da espécie em cultivo»,
conclui.
O artigo
científico “A new orchid species expands Darwin's predicted
pollination guild in Madagascar” pode ser consultado aqui.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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