Mário Miguel
Mendes, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente
(MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC), descobriu mais duas novas espécies de coníferas
atribuídas à extinta família Cheirolepidiaceae,
recolhidas na região de Juncal.
De acordo com o
cientista, a primeira das novas espécies corresponde a um cone
masculino, denominada Classostrobus
doylei,
no qual se observam pólenes de tipo Classopollis
triangulus.
«Estes
pólenes nunca haviam sido reconhecidos dispersos nas nossas
palinofloras e estamos convictos de que, após a sua libertação
assumiam uma forma esférica, não sendo possível detetar as pontes
de exina»,
revela Mário Miguel Mendes.
Esta nova
espécie, descrita e publicada na revista científica Cretaceous
Research,
foi dedicada a James Doyle, professor da Universidade da Califórnia
(EUA). A realização deste trabalho envolveu a combinação de
técnicas de microtomografia computadorizada de raios X (microCT),
microscopia ótica, microscopia eletrónica de varrimento e
microscopia eletrónica de transmissão.
A segunda
espécie, denominada Frenelopsis
callapezii,
foi descrita com base nos caracteres morfológicos dos eixos
caulinares da planta e nas suas características cuticulares, tendo
sido dedicada a Pedro Callapez Tonicher, professor da FCTUC.
«Ao
contrário de outras espécies do mesmo género, esta não possui
longos tricomas, apenas papilas, e apresenta um tipo de ramificação
pouco usual nos frenelopsídeos»,
descreve o investigador.
As coníferas da
família Cheirolepidiaceae
foram extremamente abundantes durante o Mesozoico, predominando em
várias regiões do globo, incluindo aquelas que hoje correspondem à
América do Norte e à Europa. Os primeiros membros desta família
datam do início do Triásico Superior e, ao longo de 160 milhões de
anos, continuaram a diversificar-se, entrando em declínio no final
do Cretácico.
«Acredita-se
que os últimos representantes do grupo tenham resistido na América
do Sul até ao início do Paleogénico, sobrevivendo à extinção em
massa do Cretácico/Paleogénico (K/Pg). A descrição das novas
espécies portuguesas demonstra que a diversidade deste grupo é
muito maior do que se pensava e salienta também a importância
destas plantas nos ecossistemas do Cretácico»,
considera o especialista do MARE/FCTUC.
Segundo Mário
Miguel Mendes, a paleoecologia destas plantas é bastante variável.
«Acredita-se
que tenham ocupado ambientes de estuário, planícies aluviais de
água doce e locais mais elevados, sob influência de clima quente a
temperado e, sazonalmente, com humidade significativa. A plasticidade
morfológica e ecológica destas plantas pode explicar o seu grande
sucesso evolutivo e a resistência a condições ambientais extremas.
Além disso, há evidências de que a poliploidia pode ter sido
crucial para a especiação dentro das Cheirolepidiaceae»,
revela.
Os estudos das
Cheirolepidiaceae
têm
permitido reconstruir a sua evolução em termos de diversidade e
riqueza de espécies, história biogeográfica e inferir sobre as
causas da sua extinção. «Estas
plantas têm sido modelos fantásticos, pois o seu estudo tem
contribuído, sem dúvida, para compreender como as coníferas se
diversificaram e adaptaram ao longo dos tempos»,
conclui.
Estes trabalhos
foram realizados em colaboração com investigadores da República
Checa, Rússia e Holanda, tendo recebido financiamento da Czech Grant
Agency e do MARE/FCTUC.
O artigo
científico “Classostrobus
doylei, a new cheirolepidiaceous cone with in situ pollen
from the
Figueira da Foz Formation (lower Aptian e upper Albian), western
Portugal”
pode ser consultado aqui.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
NB: Figura 1 – Imagens obtidas em microscopia eletrónica de varrimento de Classostrobus archangelskyi sp. nov. do Cretácico Inferior da Formação de Figueira da Foz (Juncal). A. Cone masculino com microsporofilos dispostos helicoidalmente; escala 1 mm. B. Sacos polínicos com grãos de pólen in situ atribuíveis a Classopollis triangulus (setas); escala 50 µm.
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