MULHERES
ATACAM PAULO PORTAS DEPOIS DO DISCURSO EM VAGOS
O
que elas dizem do que Paulo Portas diz delas (e não é bonito)
O
discurso de Paulo Portas feito no domingo, em Vagos, durante uma acção de
campanha, está a gerar polémica por causa das declarações que fez sobre as
mulheres. O vice-primeiro-ministro traçou o retrato de uma verdadeira fada do
lar e há quem o acuse de ter parado no tempo.
“As
mulheres sabem que têm de organizar a casa e pagar as contas a dias certos,
pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos.” Eis a frase da polémica que
saiu da boca de Paulo Portas durante o seu discurso, improvisado, em Vagos.
Nem
o facto de o líder do CDS-PP ter relevado o papel da ministra Assunção Cristas
no actual governo, notando que foi ela “que levou a que os pagamentos à
agricultura estivessem em dia”, ameniza as críticas que lhe são feitas.
O
Expresso tentou falar com a própria Assunção Cristas sobre a polémica frase,
mas não conseguiu.
Conseguiu
sim falar com outras mulheres, com carreiras profissionais, que se manifestam
revoltadas com a posição de Paulo Portas.
“Não
nos podemos admirar com estas declarações. Afinal, correspondem à matriz
ideológica da Direita, que defende que a mulher deve cumprir o seu papel
biológico”, diz Manuela Tavares, doutorada em Estudos sobre as Mulheres e
membro da direcção do movimento União de Mulheres Alternativa e Resposta, ao
Expresso.
“Salazar
já dizia que a boa dona de casa tinha sempre muito que fazer. E quanto mais
mulheres estiverem em casa, menos dinheiro o Estado terá de gastar em
infraestruturas sociais”, acrescenta Manuela Tavares.
“O
ministro Paulo Portas parou no tempo“, lamenta ao mesmo jornal a presidente da
organização Mulher Século XXI, Maria Isabel Gonçalves, notando que “as mulheres
não são mais aquelas retratadas nas suas afirmações”.
A
professora de Literatura da Universidade de Lisboa Isabel Allegro de Magalhães
confessa-se, por seu lado, um pouco surpreendida, lembrando que Portas tem “uma
mãe economista, escritora, que não é exactamente aquilo a que antes se
convencionava chamar de ‘dona de casa’ típica”.
Já
a professora de Direito da Universidade Nova de Lisboa Teresa Pizarro Beleza
recomenda ao vice-primeiro-ministro que “leia com atenção a Constituição da
República, que certamente jurou cumprir quando tomou posse do cargo que ocupa”.
15 Setembro, 2015 por ZAP
Manuel de Almeida / Lusa
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