Chegamos a tal ponto da decadência moral, que afirmações as mais graves parecem banais. Convido o leitor a comprovar essa minha impressão fazendo um teste com a seguinte frase: a inocência das crianças está sendo destruída.
De um lado, tal afirmação apresenta-se chocante. Basta lembrar as palavras do Divino Salvador: “Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que escandalizar a um só destes pequeninos” (S. Lucas 17,2).
Por outro lado, mencionar a destruição da inocência infantil já nos soa normal, banal! Isto porque ela se tornou cada vez mais recorrente. Algo como uma canção macabra cantada em todas as esquinas. Já nos acostumamos com sua trágica melodia e a repetimos quase sem atenção, sem levar em conta a sua gravidade.
De fato, vivemos num triste século. Mesmo os católicos, aqueles que deveriam reagir contra a indiferença, vão caindo inexoravelmente nas suas garras. Não se podem estranhar as lágrimas de Maria Santíssima, Mãe de Deus.
Nossas crianças são aliciadas e atacadas de todos os lados pelo vendaval da imoralidade. A televisão era sua grande promotora até há pouco. Mas também ela acabou por tomar aspecto um tanto antiquado! A internet surgiu como a máquina mais eficiente da perversão infantil. Com alguns cliques no mouse — ou alguns toques no smartphone — qualquer criança pode acessar as mais cruas cenas de pornografia online.
Mas o tufão da imoralidade possui outras frentes de ataque. E aqui vem mais um teste de banalização do que antes se afigurava chocante. Curiosamente, o tema “educação sexual para crianças” não causa mais sobressaltos como algumas décadas atrás. Hoje, algo mais malicioso entrou em todos os ambientes: a Ideologia de Gênero.
Agora, as crianças não são apenas submetidas ao aprendizado do sexo desde a mais tenra idade, como também são induzidas na escolha de outra orientação e identidade sexual.
Um exemplo para ilustrar essa alarmante realidade. O “Life Site News” publicou,(1) no início de janeiro último, reportagem sobre a nova série da “TV Fox”, nos Estados Unidos, intitulada The Mick. Além da promoção do aborto, da linguagem vulgar e do conteúdo sexual explícito, a série impulsiona a Ideologia de Gênero, visando sobretudo as crianças. Um dos personagens — menino de apenas sete anos — é apresentado trajando um vestido para menina. Na cena, o menino faz comentários sobre o vestido e sobre as partes femininas de seu corpo.
Chocante, dizemos! E o leitor concordará. Mas quanto tempo transcorrerá até que tais insinuações e atitudes ressoem também como banais ou normais aos nossos ouvidos?
A Rainha dos Céus tem sempre diante de si a gravidade da destruição da inocência infantil. Ela já havia previsto a atual onda de degradação das crianças quando de suas aparições à Madre Mariana de Jesus Torres, em Quito (Equador), no século XVII. As palavras Nossa Senhora do Bom Sucesso — profecias a respeito dos nossos tempos — são impressionantes pela sua atualidade. Eis alguns trechos aplicáveis ao tema do qual tratamos:
“Quase não se encontrará inocência nas crianças, nem pudor nas mulheres, e, nessa suprema necessidade da Igreja, calar-se-á aquele a quem competia a tempo falar.“Extravasarão as paixões e haverá total corrupção dos costumes por quase reinar satanás…, o qual visará principalmente à infância a fim de manter com isto a corrupção geral. Ai dos meninos desse tempo! Dificilmente receberão o Sacramento do Batismo e o da Confirmação.“Possuirá [o mal] sutileza para introduzir-se nos ambientes domésticos, que perderão as crianças. Nesse tempo infausto, quase não se encontrará a inocência infantil. Desta forma perder-se-ão as vocações para o sacerdócio e será uma verdadeira calamidade.”
Diante da avalanche contra a inocência infantil não devemos permanecer de braços cruzados. É por isso que a TFP norte-americana proveu abaixo-assinado(2) [imagem abaixo] no mês passado com o objetivo de coibir a exibição da citada série da “TV Fox”.
Não fiquemos indiferentes na consideração da gravidade da decadência atual. Oração, sacrifício e emenda de vida foi o que Nossa Senhora nos pediu em Fátima. Assim, seremos daqueles que de algum modo enxugam suas tão dolorosas lágrimas.
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Notas:
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