Almoçava
com um líder empresarial do Minho e este contou-me que há domingos
em que leva o filho de onze anos para a FNAC. Começam pela área dos
videojogos e demoram-se
na secção de livros.
Num destes domingos, no regresso a casa o filho falou-lhe num trecho
de um livro que falava do quarto
escuro do Elon Musk
(o norte-americano dono da rede X, ex Twitter). Contou ele ao pai,
que Musk tinha um quarto totalmente escuro e insonorizado onde ficava
uma hora por dia. E que, no fim, pegava
num bloco de papel e num lápis
e escrevia ideias que lhe haviam surgido.
“É
isso que nos falta. Isolarmo-nos e pararmos para refletir, pensar em
soluções, ideias. Até para melhor interpretar a realidade que nos
cerca”.
O meu interlocutor foi mais específico. “Os empresários,
embrulhados no quotidiano das suas empresas, de manhã à noite, não
se isolam para analisar, por vezes nem tempo podem reservar para
ouvir as oportunidades”.
Concordei,
sem esforço. Lembrei que faço uma coisa com muita frequência, que
sempre
senti que me traz inspiração para soluções.
Vou para um destino, um fim de semana, para assistir desde um musical
novo em Londres a uma palestra em Madrid. Lembro que certo dia estava
em Paris no Louvre a admirar uma das raras pinturas. Fiquei muito
tempo a olhar. A minha companhia a certa altura questionou-me. Eu
expliquei. “Estou
a conseguir imaginar uma solução para uma questão que me traz
preocupado”.
Anoto as ideias. Quando chego ao trabalho pego nessas notas e
trabalho-as.
“É
preciso sair da ilha para ver a ilha”, escreveu o nosso Saramago.
Temos
que conseguir sair do nosso frenesim
e vermo-nos ao longe.
*Eduardo
Costa, jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa
Regional
*Destaque
“É
preciso sair da ilha para ver a ilha”, escreveu o nosso Saramago.
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