♦ Plinio Corrêa de Oliveira
O canto singelo de uma avezinha inspirou a aplicar-lhe o nome de bem-te-vi. Ele pode se manter isolado no topo de uma árvore, como se fosse um detetive tentando resolver um mistério. Dá a impressão de não estar procurando nada, mas de repente brada sua vitória: Bem-te-vi! Bem-te-vi!
Quando os bem-te-vis se encontram em bandos, multiplicam-se os gorjeios alegres, em vozes um tanto desconexas.
No seu gracioso brado aparentemente inútil, o bem-te-vi presta grande serviço à Providência. Lembra-nos a virtude da vigilância, pois é preciso prestar atenção em todas as coisas. A ufania com que proclama bem-te-vi é como se dissesse: “Eu venci algo em mim, quando consegui ver-te, e seria tolo se não tivesse visto”. Bem-te-vi, portanto, é um brado de vitória. Lembra-nos também as virtudes da prudência, sagacidade, desconfiança, como quem adverte: eu te vi bem! Mais ainda, lembra que há um olhar divino pousando sobre cada homem. Quando alguém se esquece do olhar divino, e se aproxima do pecado, pode funcionar como a voz da consciência dando o alerta: “cuidado, pois bem-te-vi!”.
O semelhante se alegra com o semelhante (similis simili gaudet), como ensina São Tomás de Aquino. Uma criança que corre para outra alegremente tem uma alegria que realiza esse princípio filosófico. São dois semelhantes que se encontraram, por isso se alegram. Mesmo sem nenhuma noção de filosofia, assim vivem e assim se alegram, pois aplicam um princípio da ordem universal através do instinto e do afeto. É a primeira etapa da vida: desanuviada, brilhante, tão cheia de recordações de toda ordem.
Fonte: ABIM
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 16 de julho de 1983. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.
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