♦ Péricles Capanema
Se possível, todos desejam muito mais, óbvio, almejam a vida mergulhada na grandeza. Quando despretensioso tem grande potencial, é ideal nobre e civilizatório, embebido do impulso de perfeição. Existem dele incontáveis formas, a grandeza moral, a política, a militar, artística, patrimonial, intelectual, familiar, tantas outras, enfim. São avanços na ladeira da perfeição, dificultam retrocessos sociais.
Tais reflexões flutuavam meio descosturadas, enquanto ouvia atento o Evangelho da missa de domingo, dia 19 de agosto. Como luva na mão, o pensamento se encaixava no texto lido. São Lucas relata a visita de Nossa Senhora a Santa Isabel, sua prima, casada com Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, posição de destaque na sociedade do tempo; ambas esperando um filho. Tratava de cinco personagens de expressão insuperável na história humana, em especial na história da salvação: Nosso Senhor, Nossa Senhora, São João Batista, Santa Isabel, São Zacarias. E das atitudes de dois deles, Nossa Senhora e Santa Isabel [representação ao lado].
Nenhuma ostentação, nenhuma bazófia, total ausência de fanfarronice na conduta e nos diálogos. E nem poderia ser diferente, cenas a anos-luz do que estamos acostumados a presenciar da manhã à noite em nossa sociedade obcecadamente exibicionista. Ali pululavam lições de que a grandeza (a verdadeira) é irmã da humildade e ambas respiram veracidade.
Nossa Senhora, muito jovem ainda, foi assim recebida pela prima, anos mais velha, mulher em situação social de destaque: “A que devo a ventura de que a mãe de meu Senhor venha ter comigo?” Enuncia a razão: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Santa Isabel, reverente, reconhecia alegre, não estava à altura de receber e ter a prima em casa. Modelo de conduta para quem aspira à grandeza, o primeiro passo sempre é reconhecê-la alegre e reverente quando em outro a percebe, não importa o campo.
A história do mundo toma rumo novo por tal manifestação de humildade, expressa em frase leve de pessoa educada, respondida por outra lição de modéstia, que também atravessou os séculos. Maria cantou o Magnificat iniciando-o no mesmo tom: “A minha alma engrandece o Senhor; e meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Porque pôs os olhos na baixeza de sua serva”. Ali estava uma escrava.
Maria, como hóspede, despretensiosa, por três meses ficou na casa de Isabel, anfitriã, ajudando-a. Depois voltou para a sua. Como disse, cinco pessoas conviviam ali, Nossa Senhora, Santa Isabel e São Zacarias. Falavam de duas outras, que ainda não tinham visto a luz do dia: Nosso Senhor e São João Batista. Aquele encontro poderia ser intitulado a estadia das preparações.
Pela presença, atitude e palavra a Mãe de Deus moldou o ambiente em que viveria o Preparador do caminho para seu Filho. São João Batista tinha por missão preparar caminhos. “preparai o caminho do Senhor” (Is 40,3). E o profeta Malaquias disse dele, haveria de preparar “o caminho diante” de Cristo. É a voz que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor” (Is 40, 3). Sua missão, nas palavras de são Lucas, era “habilitar para o Senhor um povo preparado”.
João Batista seguiu o exemplo da mãe, reconheceu sempre seu lugar de preparador, precursor: “Eu não sou o Cristo” (Jo., 1, 20). E quando viu Cristo de longe, apontou-o para que seus discípulos o deixassem e seguissem ao Mestre divino: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). “Estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus” (Jo 1, 35-37). Que ficasse sem discípulos, pouco lhe importava, só desejava preparar as vias para Quem anunciava.
Acabou minha labuta. Cogitava em formas várias da grandeza, a leitura do Evangelho atraiu minha atenção para textos bíblicos a ela relativos, dali retirei extratos, neles cintilam condições para caminhar até ela. Achei útil compartilhar o trajeto com leitores. É caminho também para a perfeição, qualquer delas, até contêm conselhos para a santidade. Lições para cada um de nós.
Fonte: ABIM
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