O que torna um empregador atrativo? Para os trabalhadores em Portugal é a garantia de que pratica uma política salarial e de benefícios justa e adequada ao contexto económico, práticas de conciliação pessoal e profissional bem definidas, bom ambiente de trabalho, programas claros de progressão e segurança laboral. É o que conclui a edição 2023 do Randstad Employer Brand Research, o estudo global anual realizado pela consultora de recrutamento para avaliar a perceção dos profissionais face ao mercado de trabalho e identificar os empregadores e sectores mais atrativos em cada país.
Na edição deste ano, divulgada esta sexta-feira, a Microsoft regressa ao topo das preferências dos trabalhadores, logo seguida pela Delta Cafés e pela Hovione. Mas a análise mostra também que os empregadores nacionais estão a ter um desempenho inferior em relação a alguns dos aspetos que os trabalhadores consideram determinantes.
De acordo com o estudo da Randstad, “55% dos trabalhadores já abandonaram ou considerariam abandonar o seu emprego porque o seu salário é demasiado baixo e não acompanhou o aumento do custo de vida”. Nas mulheres esta percentagem é superior (57%), tal como nos trabalhadores ativamente à procura de emprego (63%). Indicadores que assumem uma relevância redobrada num contexto de escassez de talento e forte concorrência entre empresas para atrair e reter os melhores profissionais, como é o atual.
Nos últimos anos, os principais pilares de atratividade de um empregador não sofreram grandes alterações. Os trabalhadores continuam a valorizar fatores como a remuneração e benefícios, conciliação familiar, ambiente de trabalho, progressão. Contudo, apesar de não se alterarem face aos anos anteriores, alguns destes fatores surgem agora reforçados com os trabalhadores a atribuírem particular importância às questões salariais, equilíbrio trabalho-família e progressão. Ora, são precisamente estes os fatores onde as empresas pontuam pior.
Expectativas desajustadas
O relatório sinaliza que em Portugal “os empregadores registam um desempenho abaixo do adequado em matéria de salários, benefício, conciliação e progressão”, destacando que “este é um aspeto que tem de ser urgentemente alterado já que tem um impacto direto na capacidade de retenção de talento das empresas”. Os dados conhecidos esta sexta-feira revelam que, enquanto o salário atrativo é o primeiro fator para classificar o “empregador perfeito”, o mesmo indicador encontra-se apenas na última posição naquilo que pensam que os empregadores oferecem.
Já a estabilidade relativamente ao trabalho de longo termo e a localização são os principais fatores apontados pelos inquiridos na avaliação do empregador atual. Contudo, a possibilidade de ter o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é o segundo ponto que os participantes priorizam num empregador. Ora, Com um desempenho negativo em matéria salarial - fator que é este ano apontado como o mais relevante para os trabalhadores portugueses - “os empregadores arriscam perder trabalhadores de decidam aceitar outras ofertas simplesmente pelo incremento remuneratório”.
Contudo, o estudo também destaca que os benefícios materiais, na escolha de um empregador em detrimento de outro, “não são tudo” e variam consoante a geração a que pertencem os trabalhadores. Profissionais mais jovens, sobretudo a que se situa entre os 18 e os 24 anos, consideram menos importantes os benefícios materiais do que os outros grupos etários. Neste caso, são muito valorizadas as relações com a liderança ou colegas. Por outras palavras, os dados apontam que valorização dada aos benefícios não materiais se aproxima cada vez mais da importância atribuída aos benefícios materiais.
Em matéria de expectativas, o estudo lança ainda um outro alerta com impacto direto na capacidade de retenção de talento das empresas. “A progressão na carreira é apontada como muito importante por 82% dos trabalhadores inquiridos em Portugal. Contudo, só 53% consideram que o seu atual empregador oferece as oportunidades de que necessitam para o seu desenvolvimento pessoal”, realça o estudo.
Apesar disso, a comparação dos dados com a edição 2022 do estudo revela que em matéria de “lealdade” à empresa, o comportamento dos trabalhadores em Portugal não se alterou substancialmente. Cerca de 13% dos trabalhadores mudaram de empregador nos últimos seis meses e 26% ponderam fazê-lo. A predisposição para a mudança é maior entre os mais jovens, comportamento que se verifica também na generalidade dos países analisados. A merecer destaque está o aumento registado no universo de trabalhadores que teme perder o emprego, 18%, número que compara com 9% no ano passado.
Saúde é o sector mais atrativo para os trabalhadores portugueses
Além da Microsoft, Delta Cafés e Hovione, que ocupam as três primeiras posições do ranking dos empregadores mais atrativos em 2023, a lista integra ainda nas dez primeiras posições a Bosch, a OGMA, a Siemens, a CUF, a Nestlé, a Volkswagen Group Services e a Ikea Portugal. No atual contexto, nota Raul Neto, presidente executivo da Randstad Portugal, este reconhecimento das empresas “é ainda mais relevante, na medida em que lhes confere capacidade para atrair e reter os melhores talentos e contribui para se diferenciarem no mercado”.
Já no que toca aos setores, o estudo mostra que a área da saúde é a que mais atrai os portugueses para trabalhar, seguindo-se o turismo, desporto e entretenimento e ainda o setor das tecnologias de informação, o das telecomunicações e consultoria. A merecer destaque está ainda o sector dos bens de consumo rápido e a indústria alimentar, que nos últimos anos têm ganho relevância nas preferências dos trabalhadores em Portugal.
O estudo Randstad Employer Brand Research analisa a marca empregadora das principais empresas mundiais, identificando as mais atrativas para trabalhar com base na opinião da população ativa de 32 países, entre os quais Portugal. Na edição deste ano, o estudo agrega as perceções de mais de 185 mil inquiridos, 5255 dos quais em território nacional, sobre 6022 empresas, procurando responder a questões como o que leva as pessoas a escolher uma empresa em detrimento de outra, ou o que as motiva a ficar na empresa ou a sair.
Cátia Mateus/SIC Notícias