segunda-feira, 14 de novembro de 2016

QUANDO OS CACIQUES RURAIS SE IMPÕEM!...

  
1 – Apesar dos bons ofícios de Putin para com Donald Trump, no desespero de causa em relação às acumuladas desilusões propiciadas por Barack Hussein Obama (coloco aqui, não por acaso, o nome completo do personagem Nobel da Paz iludida, até por que ele demonstrou, no uso de sua completa entidade, ser tão permeável ao fundamentalismo das monarquias arábicas a ponto de contribuir para incentivar monstros como a Al Qaeda, ou o Estado Islâmico), é evidente que os riscos vão-se apresentar de outro modo, segundo outros métodos e orientações, no sentido de prejudicar ainda mais o tão depauperado estado do mundo e o quadro dos relacionamentos internacionais, em nome dos mesmíssimos 1% de antes!

Por conseguinte: a ruralidade e a “ferrugem” das mensagens de Donald Trump em campanha, demonstram como os Republicanos conseguiram manter o poder nos Estados Unidos da América, refém de seus próprios interesses, ainda que com menos votos dos que alcançados pelos Democratas e ganhando ao mesmo tempo Senado e Congresso!

A ruralidade e a “ferrugem” demonstrados, uma espécie de regresso às origens das culturas anglo-saxónicas protestantes dos velhos tempos da expansão, ou ao sonho do século americano que se perdeu na voragem das desaparecidas fábricas que animaram o apogeu do após IIª Guerra Mundial, teve um casamento quase perfeito com a perdulária inteligência elitista da obstinada Hillary em nome dos Clinton (que tributo fazem ao “rhodesschollarship” de Bill!), bloqueando profeticamente a esperança jovem depositada com Bernie Sanders e atirando-a para uma persectiva de “calendas gregas”!...

Notáveis esses 1%, manipuladores das contradições a esse nível: queimam as gorduras neoliberais de Hillary Clinton, com um maçarico enferrujado caciquismo dum bilionário franco-atirador… que em relação ao neoliberalismo disse nada!!! 

2 – Não pode haver dúvidas: o nacionalismo russo, que parte da expressão atingida por uma União Soviética que atingiu elevados graus de inteligência e sabedoria acumulados nas suas Academias, (que não são nem velharias nem depósitos desabitados), que parte dum legado enorme de infraestruturas e estruturas, indústrias e tecnologias duramente construídas ao longo do século XX e capazes de servir de base a novas projecções “energéticas” (muito visível por exemplo no potencial da Marinha de Guerra com navios cujo casco e só o casco são obra da década de 70 ou 80 do século passado), que produz um “know how” de ponta que nenhuma sanção pode “congelar”, o jovem nacionalismo russo, digo eu, nada tem a ver com a ruralidade do interior profundo dos Estados Unidos, ou com a “ferrugem” do cinturão industrial, feita ilusão nas obstinadas mensagens do Trump candidato, inestimável colector de caciques que terá de abandonar essas vestes e enfrentar os desafios da modernidade de que se afastaram os norte-americanos, em prejuízo de sua própria juventude, tudo por causa dum neoliberalismo que se tem tornado congénito.

A Rússia pode ter muitos defeitos, Putin também, mas aprenderam a lição da precariedade neoliberal conforme ao tandem Gorbatchov-Ieltsin, que foi ao extremo de perder até a Iª Guerra da Chechénia… algo incompreensível para o franco-atirador Donald Trump!

Bernie Sanders será como um fantasma social-democrata para Donald Trump, tanto como para o carácter da inteligência elitista que tolhe os Democratas que se aninharam ao apogeu finalmente desmistificado dos Clinton, ou ao tão “transversal” fracasso nos termos das obscuras alianças arábicas de Barack Hussein Obama, agora com mais uma maturação de quatro anos, uma maturação que se prolongará porventura ainda mais, até que os jovens de hoje, que desiludidos e marginalizados se erguem nas ruas e praças das cidades norte-americanas mais saudavelmente cosmopolitas, com uma desilusão ainda mais acumulada, mas também ainda mais amadurecida por que temperada na radicalização dos termos contraditórios espelhados pelo mapa dos resultados das eleições, assumam a fase adulta dum poder disponível para as suas muito legítimas quão proféticas convicções!

Nem neoliberalismo, nem social-democracias, muito menos caciques nesses futuros e enigmáticos horizontes, é o que nos diz claramente Naom Klein interpretando o “fenómeno Trump” com os sentidos abertos ao futuro:

…”As pessoas têm direito de estar com raiva, e uma agenda de esquerda poderosa e multitemática pode dirigir essa raiva para onde ela deve ser dirigida, enquanto luta por soluções globais que unirão uma sociedade desgastada.

Essa articulação é possível.

No Canadá, começamos a pavimentar essa união sob a bandeira de uma agenda popular denominada The Leap Manifesto (O Manifesto do Salto), endossado por mais de 220 organizações, do Greenpeace do Canadá ao “Black Lives Matter” de Toronto e alguns dos nossos maiores sindicatos.

A surpreendente campanha de Bernie Sanders percorreu um longo caminho na direção de construir esse tipo de coalizão, e demonstrou que há espaço, nos EUA, para o socialismo democrático. Mas Sanders não foi capaz de se comunicar com os eleitores negros mais velhos e latinos que são, demograficamente, os que sofrem mais abuso do nosso modelo econômico atual. Esse fracasso impediu a campanha de atingir seu potencial. Aqueles erros podem ser corrigidos e uma coalizão forte e transformadora pode ser construída.

Essa é a tarefa que temos à frente. O Partido Democrata precisa ser, ou decididamente arrancado dos neoliberais pró-corporações, ou abandonado”...

Internamente nada será pacífico nos Estados Unidos da América nos tempos mais próximos e externamente sua força terá muito menos praticabilidade inteligente, por muito que tentem a inteligência económica e o “soft power” do neoliberal costume!...

Só nessa altura haverá a possibilidade de quebrar efectivamente com os banhos de promessas dirigidas ao pesadelo rural e à “ferrugem” urbana, quebrar com a hegemonia unipolar e por fim quebrar definitivamente com o “estabelishment” de que Trump não se vai desenvencilhar de forma desenvolta, ainda que acionando prioritariamente toda a capacidade da inteligência económica nos seus relacionamentos internos e internacionais, em busca duma outra imagem, afinal no quadro do mesmíssimo posicionamento de domínio!

O segredo de qualquer progresso está numa cultura de inteligência historicamente consolidada mas sempre recriada, que se pode abrir a valores para lá dos simples negócios e desequilibrados relacionamentos, não numa ilusão de cultura meio “hollywoodesca” de inteligência recriada a partir de ilusões suportadas nos desequilíbrios acumulados do passado, desde os tempos duma expansão que foi tão pouco pacífica ao ponto de exterminar as nações autóctones e escravizar a mão-de-obra africana transportada à força pelos esclavagistas… algo que nos traz uma certeza: Putin não se vai deixar equivocar, quando do outro lado está um “candidato” que foi até apoiado pelo Ku Klux Klan!

Resta saber até quando durará a provavelmente tão efémera transitoriedade da aproximação norte-americana / russa, que oxalá se fizesse mesmo assim sobre os escombros das atávicas monarquias arábicas, ou pelo menos dos seus protegidos tornados catapultas de caos e terrorismo, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico!

Será que uma hegemonia unipolar assente num pressuposto de globalização neoliberal, vai chegar ao ponto duma autocondescendência, perdendo gorduras, apenas por causa dum manifesto “flirt” por demais evidente, que ainda não passa dum simples piscar de olhos para com a emergência multipolar?
  
Imagens: Para reflexão conforme as fotos, serão mesmo as armas de Putin e de Trump, desafiadoras da “nova ordem global”, ou estamos na presença de mais um equívoco para toda a humanidade?

A consultar:
El lenguaje gestual revela la verdad de la reunión entre Obama y Trump (Fotos) –  https://actualidad.rt.com/actualidad/223345-lenguaje-corporal-verdad-encuentro-obama-trump
"Bien hecho Putin": ¿Por qué se atribuye a Rusia la victoria de Trump? – https://actualidad.rt.com/actualidad/223310-victoria-trump-putin-rusia-medios
Como se colocou Donald Trump no poder – http://outraspalavras.net/capa/como-se-colocou-donald-trump-no-poder/  

Presidente timorense destaca trabalho de jornalistas que divulgaram massacre de Santa Cruz

HONRA E HOMENAGEM AOS HERÓIS
Todo o mundo que preza a democracia e a liberdade, assim como o respeito pelos direitos humanos, se associou com Timor-Leste e com a juventude timorense nas comemorações de 12 de Novembro. Recorremos ao vídeo do filme acima exposto e a texto parcial da Wikipédia para fazer constar no TA este dia que evoca o Massacre de Santa Cruz. (VER EM TIMOR AGORA)

No exterior, todos que amavam Timor-Leste e acompanhavam quanto possível a luta de libertação sentiram a verdadeira frustração, a impotência de modo assombroso, ao tomarem conhecimento do massacre levado a cabo em Santa Cruz pelas tropas ocupantes indonésias. Por este massacre muita tristeza e lágrimas foram vertidas em todo o mundo pelos apoiantes e amigos da causa libertadora do país. Foi um massacre arquitetado em Jakarta pelos generais do ditador Suharto. Alguns desses militares continuam no ativo e impunes, fazendo inclusive parte do atual governo indonésio. O que demonstra que muito pouco mudou na elite militar e civil pseudo democrática e humanista que prevalece na Indonésia.

Vinte e cinco anos volvidos desse dia fatídico para mais de 300 timorenses assassinados (os números oficiais de vítimas são falsos) Timor-Leste é livre e independente. Um jovem país em ascenção e democrático. Talvez o mais democrático do sudeste asiático. Orgulhemo-nos, todos os que amam Timor-Leste e o povo heróico timorense. Orgulho que deve estar espelhado no semblante e no coração dos timorenses, de todos os timorenses.

Homenagem e honra aos heróis caídos mas não vencidos. Honra aos que continuam a resistir, a construir o Timor-Leste democrático e a afirmar-se em todo o mundo. Vivam! (PG com TA)

Presidente timorense destaca trabalho de jornalistas que divulgaram massacre de Santa Cruz

Díli, 12 nov (Lusa) -- O Presidente timorense enalteceu hoje o trabalho dos jornalistas que "deram a conhecer ao mundo o crime em Santa Cruz", no dia em que se assinalam 25 anos sobre o massacre que mudaria a história da luta pela independência.

"Passam 25 anos sobre o massacre de Santa Cruz. Infelizmente, houve outros massacres terríveis na nossa terra. Mas o massacre de Santa Cruz chamou, especialmente, a atenção do mundo para o sacrifício dos nossos jovens -- e do nosso povo -- porque estavam em Santa Cruz jornalistas, incluindo jornalistas de outros países", disse Taur Matan Ruak.

"As imagens que esses jornalistas gravaram e as notícias que escreveram correram mundo e deram a conhecer o crime cometido em Santa Cruz, em 12 de novembro de 1991", acrescentou o Presidente de Timor-Leste.

A 12 de novembro de 1991 realizou-se uma missa e cerimónia em homenagem de Sebastião Gomes, morto por elementos ligados às forças indonésias uns dias antes no bairro de Motael, e milhares de pessoas dirigiram-se até ao cemitério de Santa Cruz.

Durante o percurso alguns abriram cartazes e faixas de protesto. As forças indonésias responderam com extrema violência, matando mais de 250 pessoas.

As imagens do massacre de Santa Cruz, recolhidas pelo jornalista inglês Max Stahl e que, para muitos marcaram um momento de viragem na questão de Timor-Leste saíram de Díli, dois dias mais tarde, a 14 de novembro de 1991, graças à intervenção da holandesa Saskia Kouwenberg, que escondeu a cassete numa 'bolsa' improvisada entre duas cuecas cosidas uma à outra, conforme contou à agência Lusa.

Hoje, Taur Matan Ruak reconheceu o trabalho dos "jornalistas Allan Nairn e Amy Goodman, presentes em Santa Cruz, em 1991", e destacou em particular "o grande amigo de Timor-Leste, Max Stahl, também presente nesse trágico dia, que pelo seu trabalho, o seu profissionalismo e a sua coragem mostraram ao mundo o sacrifício dos timorenses no país ocupado".

"Desta maneira, a imprensa livre e os valores do jornalismo contribuíram para a liberdade dos timorenses", disse.

Taur Matan Ruak deixou também um "agradecimento especial" para o jornalista da agência Lusa António Sampaio, pelo seu contributo para "divulgar por todo o mundo a luta do povo timorense".

Na altura do massacre, António Sampaio estava sedeado na Austrália, a partir de onde acompanhou o massacre, à distância, para a imprensa portuguesa.

"Vinte e cinco anos depois daquele trágico dia, Timor-Leste é independente e a liberdade de imprensa permanece um valor da maior importância, para dar voz à sociedade e aos cidadãos contra a violência e todas as formas de abuso", afirmou.

Para Taur Matan Ruak, naquele tempo "em que lutar pelo bem-estar e pelo desenvolvimento significava libertar o país", os timorenses "mostraram a sua capacidade, como povo".

O Presidente timorense destacou em particular o "sacrifício heróico de muitos jovens, que se ergueram contra a ocupação" e pela "libertação do povo timorense".

"Presto homenagem à memória dos mártires de Santa Cruz e de todos os jovens que tombaram noutros massacres, em Díli e outros lugares", disse, estendendo o reconhecimento a "todas as famílias cujos filhos e filhas tombaram em defesa da dignidade do povo e da independência da nossa terra".

No dia da homenagem aos mártires do 12 de novembro, em que também se assinala o Dia Nacional da Juventude, Taur Matan Ruak apelou "à unidade do país, em prol da estabilidade e do desenvolvimento".

Além disso, destacou ainda o papel da resistência juvenil na Frente Clandestina pelo planeamento da manifestação rumo ao Cemitério de Santa Cruz, e a continuidade deste trabalho pelo Comité 12 de novembro.

"Hoje é também um dia de celebração, pois o dia de hoje marca o início das atividades de um novo Comité. O Comité Orientador para a Elaboração da História da Organização da Luta da Juventude, a quem dirijo os meus sinceros votos de felicitações e a minha estima pessoal e apoio", afirmou.

FV (ASP) // FV 


MOÇAMBIQUE: CONTINUAMOS MERGULHADOS NO PÂNTANO DA DESGRAÇA

@Verdade, editorial

Não é preciso pendurar-nos nos relatórios lavrados nos escritórios em Maputo, cujos resultados do estudo dependem do humor e cor partidária dos pseudo-especialistas que vivem numa constante modorra física e produzem os documentos eivados de nada e de nenhuma coisa, para ter a real dimensão da desgrenhada miséria em que vivem centenas de milhares de moçambicanos.

Basta derrubarmos as ameias ideológicas e revestimo-nos de sentimento pelos empobrecidos deste país cinicamente baptizado por “Pátria de Heróis”. Basta abandonarmos o sossego dos nossos lares e andarmos pelo quarteirão vizinho para nos depararmos com a realidade mais obscena sem precedentes. Só não vê que não quer ver.

O estudo do Ministério de Economia e Finanças, recentemente apresentado em Maputo, mostra que a pobreza reduziu no país. Na verdade, essa avaliação não passa de conversa para boi dormir, ou seja, para o inglês ver e aplaudir. Não é novidade para os moçambicanos que o desempenho do Governo de Frelimo, desde a Independência, é uma verdadeira vergonha de proporções astronómicas. Pouco ou quase nada foi feito.

É, diga-se, inaceitável que um país rico em recursos naturais e minerais a maior parte da população tenha a sua barriga torturada pela fome todos os dias. Se o Governo da Frelimo será recordado por ter levado o povo moçambicano a desgraça.

Em 41 anos de Independência, não há resultados satisfatórios. Todos os dias assistimos a politiquices. O Governo da Frelimo deve avançar muito mais com ideias e acções concretas para, por exemplo, reduzir substancialmente a pobreza absoluta, além de mostrar transparência na sua governação. É claro que assistimos aos investimentos públicos e privados e um crescimento ligeiro da economia, mas isso não se traduziu na redução da pobreza, em mais postos de trabalho, em mais hospitais, escolas, estradas…e sobretudo no prato das famílias moçambicanos.

É, portanto, mais sensato acreditar que Jesus Cristo foi baptizado no rio Zambeze do que na redução da pobreza em Moçambique e na capacidade e vontade deste Governo em melhorar a situação deste país.

MOÇAMBIQUE: CONTINUAMOS MERGULHADOS NO PÂNTANO DA DESGRAÇA

@Verdade, editorial

Não é preciso pendurar-nos nos relatórios lavrados nos escritórios em Maputo, cujos resultados do estudo dependem do humor e cor partidária dos pseudo-especialistas que vivem numa constante modorra física e produzem os documentos eivados de nada e de nenhuma coisa, para ter a real dimensão da desgrenhada miséria em que vivem centenas de milhares de moçambicanos.

Basta derrubarmos as ameias ideológicas e revestimo-nos de sentimento pelos empobrecidos deste país cinicamente baptizado por “Pátria de Heróis”. Basta abandonarmos o sossego dos nossos lares e andarmos pelo quarteirão vizinho para nos depararmos com a realidade mais obscena sem precedentes. Só não vê que não quer ver.

O estudo do Ministério de Economia e Finanças, recentemente apresentado em Maputo, mostra que a pobreza reduziu no país. Na verdade, essa avaliação não passa de conversa para boi dormir, ou seja, para o inglês ver e aplaudir. Não é novidade para os moçambicanos que o desempenho do Governo de Frelimo, desde a Independência, é uma verdadeira vergonha de proporções astronómicas. Pouco ou quase nada foi feito.

É, diga-se, inaceitável que um país rico em recursos naturais e minerais a maior parte da população tenha a sua barriga torturada pela fome todos os dias. Se o Governo da Frelimo será recordado por ter levado o povo moçambicano a desgraça.

Em 41 anos de Independência, não há resultados satisfatórios. Todos os dias assistimos a politiquices. O Governo da Frelimo deve avançar muito mais com ideias e acções concretas para, por exemplo, reduzir substancialmente a pobreza absoluta, além de mostrar transparência na sua governação. É claro que assistimos aos investimentos públicos e privados e um crescimento ligeiro da economia, mas isso não se traduziu na redução da pobreza, em mais postos de trabalho, em mais hospitais, escolas, estradas…e sobretudo no prato das famílias moçambicanos.

É, portanto, mais sensato acreditar que Jesus Cristo foi baptizado no rio Zambeze do que na redução da pobreza em Moçambique e na capacidade e vontade deste Governo em melhorar a situação deste país.

ANGOLA: NEM AS MOSCAS MUDARAM

A independência foi há 41 anos. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, está no poder há 37 anos. Nunca foi nominalmente eleito. Angola é hoje um dos países mais corruptos do mundo. Angola é hoje o país do mundo com o maior índice de mortalidade infantil.
Orlando Castro – Folha 8

Apesar disto tudo, José Eduardo dos Santos defende, com toda a propriedade e legitimidade que se lhe reconhece, que “não pode ser tolerado o ressurgimento dos golpes de estado em África”.

Tem toda a razão. Aliás, a democraticidade do seu regime e a legitimidade do seu mandato são prova disso. Como bem estabelecem os donos do mundo, há ditadores bons e maus. Daí que só os maus devam ser derrubados. Não é, obviamente e por enquanto, o caso de Angola.

De acordo como Presidente angolano, o continente necessita de exemplos concretos que confirmem que África pretende “virar firmemente uma página do passado de uma história em comum”, marcado pela existência de “governos autoritários ou autocráticos, para dar lugar a sociedades e instituições democráticas”.

Ver Eduardo dos Santos fazer a apologia da democracia e condenar os governos autoritários é digno de registo… na enciclopédia das melhores anedotas mundiais. É, aliás, uma das suas especialidades.

Em 9 de Maio de 2008 já o chefe de Estado angolano, presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e Titular do Poder Executivo, lançava um desafio para combater a corrupção e o tráfico de influências, que “atentam contra os interesses nacionais”.

E os resultados foram de tal modo eficazes que Angola continua nos primeiros lugares do ranking mundial dos países mais corruptos.

Afinal, estando Eduardo dos Santos na Presidência da República há uma porrada de anos, estando Eduardo dos Santos há uma porrada de anos a chefiar o MPLA, estando o MPLA há uma porrada de anos no Governo, o que terão andado a fazer desde 11 de Novembro de 1975?

Andaram, com certeza, a garantir a liberdade de imprensa e de expressão e um bom funcionamento do sistema de justiça, que são “condições essenciais para o aprofundamento da democracia”.

O chefe de Estado angolano sublinha que estes desafios “não são promessas demagógicas porque são fundamentadas por um estudo elaborado por técnicos competentes sobre a realidade nacional, que teve em conta as necessidades do povo e os recursos da nação”.

A Educação é também uma prioridade, apontando o chefe de Estado para a criação de uma unidade de ensino superior ou médio em cada uma das 18 províncias angolanas. Outras das prioridades estabelecidas por José Eduardo dos Santos é a Saúde, nomeadamente no que diz respeito às mulheres grávidas e às crianças com menos de cinco anos.

Com este enquadramento, não se percebe por que é que os angolanos gostam de atazanar a vida do mais democrático país do mundo e, igualmente, do mais democrático presidente. É claro que, perante tão injusto e irreal motivo, o presidente fica chateado e manda prender uns tantos, dar porrada em mais alguns e fazer desaparecer muitos outros. Estávamos à espera de quê?

As forças do mal, como diz Marcos Barrica, teimam em dizer que no reino de Eduardo dos Santos há 70% de pobres. Mas alguém acredita nisso?

Segundo José Eduardo dos Santos, quando ele nasceu já havia muita pobreza na periferia das cidades, nos musseques, e no campo, nas áreas rurais. É verdade. E 41 anos de independência não chagam para resolver esta questão.

De facto, é difícil pôr o país em ordem, e na ordem, quando andam por cá uns tantos oportunistas que só pretendem promover a confusão, provocar a subversão da ordem democrática estabelecida na Constituição da República, e derrubar governos eleitos, a favor de interesses estrangeiros. É por isso que o Presidente alerta que “devemos estar atentos e desmascarar os oportunistas, os intriguistas e os demagogos que querem enganar aqueles que não têm o conhecimento da verdade”.

Assim, por manifesta falta de tempo, José Eduardo dos Santos esquece-se que para haver alternância democrática é preciso que antes exista democracia. Mas isso até não é importante…

Diz o Presidente, do alto da sua sábia cátedra que todos veneramos, que pôr os vivos (e até os mortos) a votar – mesmo que de barriga vazia – é democracia.

“Para essa gente, revolução quer dizer juntar pessoas e fazer manifestações, mesmo as não autorizadas, para insultar, denegrir, provocar distúrbios e confusão, com o propósito de obrigar a polícia a agir e poderem dizer que não há liberdade de expressão e não há respeito pelos direitos” refere com toda a propriedade o Presidente.

José Eduardo dos Santos diz que os opositores querem apenas colocar fantoches no poder, que obedeçam à vontade de potências estrangeiras que querem voltar a pilhar as riquezas e fazer o povo voltar à miséria de que se está a libertar com sacrifício desde 1975.

Segundo Eduardo dos Santos, no quadro do Programa de Luta contra a Pobreza, se continuar com esse ritmo de redução, a pobreza deixará de existir dentro de alguns anos. Tem, mais uma vez, razão. Aliás, se se excluir dos cálculos da pobreza todos os que são… pobres, pode já anunciar-se o fim da pobreza.

José Eduardo dos Santos afirma também que apesar de não existir país nenhum no mundo sem corrupção, o Governo está a fazer esforços para combater este mal. É verdade. Por isso repomos uma ideia já aqui ventilada: Se a lei não considerar a corrupção como um crime, o país deixa de ser o local do mundo com mais corruptos por metro quadrado.
Presidente, tenha vergonha!

Segundo o Boletim Oficial do regime de José Eduardo dos Santos, “o Governo reafirma o seu propósito de materializar o estabelecido nos instrumentos jurídicos, nacionais e internacionais, aplicáveis à protecção e à promoção dos direitos inalienáveis da pessoa humana e da criança em particular”.

Como anedota até não está mal. Mas a questão das nossas crianças não se coaduna com os histriónicos delírios de um regime esclavagista que as trata como coisas.

Numa declaração a propósito do Dia Internacional da Criança, o Governo sublinhou que, na qualidade de signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança, Angola adoptou e incorporou na legislação nacional os princípios estabelecidos naquele instrumento jurídico internacional, no que diz respeito à garantia da sobrevivência e ao bem-estar das crianças.

Assinar convenções, o governo assina. Cumpri-las é que é uma chatice. Por alguma razão, por cada 1.000 nados vivos morrem em Angola 156,9 crianças até aos cinco anos, apresentando por isso a mais alta taxa de mortalidade mundial em 2015.

No documento, o Governo garante que tem adoptado medidas administrativas, legislativas e de outra natureza, com vista à implementação dos direitos da Criança universalmente reconhecidos e plasmados na Constituição da República, sem distinção de sexo, crença religiosa, raça, origem étnica ou social, posição económica, deficiência física, lugar de nascimento ou qualquer condição da criança, dos seus pais ou dos seus representantes legais.

Muito gosta o regime de gozar com a nossa chipala, fazendo de todos nós um bando de malfeitores matumbos. Como se não soubéssemos que as nossas crianças são geradas com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome.

“Angola registou avanços consideráveis com o estabelecimento de um quadro legal de referência para a promoção e defesa dos direitos da criança em vários domínios, designadamente com a adopção da Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento Integral da Criança, que incorpora os princípios da Convenção dos Direitos da Criança e da Carta Africana e os 11 Compromissos para a Criança, que se constituem, de facto, no núcleo de uma agenda nacional para a criança angolana”, lê-se no documento.

Será por isso que Angola aparece na cauda da tabela da mortalidade infantil mundial e foi o país com a segunda mais baixa esperança de vida em 2015, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Governo afirma igualmente que a materialização dos Planos de Reconstrução e Desenvolvimento Nacional, associados às Políticas e Programas de Protecção Social, têm favorecido a melhoria das condições de vida da população e, consequentemente, das crianças angolanas.

Será por isso que a esperança média de vida à nascença em Angola cifrou-se nos 52,4 anos, apenas à frente da Serra Leoa, com 50,1 anos.

Diz o regime num texto enviado ao Boletim Oficial, que apesar das condições conjunturais difíceis por que passa a economia nacional e internacional, o Governo vai continuar a desenvolver esforços significativos para reconstruir os sistemas e infra-estruturas sociais, para aumentar a oferta, cobertura e qualidade dos serviços de saúde materno-infantil, para a expansão da educação e para a implementação dos programas de vacinação, de água potável e saneamento, a fim de se verificarem progressos substanciais no Índice de Desenvolvimento Humano.

“Nesta data especial, o Governo apela a todas as instituições públicas e privadas, às famílias, às igrejas e à sociedade civil em geral para transmitirem às crianças valores, informações e normas de comportamento de interesse social e cultural, no sentido de contribuírem para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, das suas aptidões e capacidade mental e física, para que elas assumam uma vida responsável numa sociedade livre, com espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade do género e respeito ao meio ambiente”, sublinha o documento.

No documento, o Governo salienta que a magnitude das tarefas que ainda tem por realizar, exige que os direitos das crianças sejam respeitados, protegidos e valorizados por todos os cidadãos, para que elas possam viver dignamente, com muito amor e carinho.

“Nunca nos devemos esquecer que elas serão o nosso futuro”, destaca o Governo no auge do seu etílico delírio, saudando todas as crianças, augurando que possam viver saudáveis e felizes e que a breve trecho possam desfrutar de todos os benefícios de uma protecção integral que garanta a realização plena dos seus direitos fundamentais.

Presidente, deixe de ser cobarde!

OPresidente da República, nunca nominalmente eleito e no poder desde 1979, assume o seu papel de autocrata e dá lições (aos angolanos) daquilo que desconhece: ética, democracia, verdade, moral, liberdade etc..

Nas reuniões do MPLA, Eduardo dos Santos puxa dos galões para, perante uma invariável plateia subserviente e amorfa, dizer que os angolanos não devem ser expostos a situações dramáticas idênticas à do 27 de Maio de 1977, onde foi parte activa no assassinato de milhares e milhares de militantes do MPLA, entre os quais Nito Alves, supostamente por tentar um golpe de Estado.

“Não se deve permitir que o povo angolano seja submetido a mais uma situação dramática, como a que viveu em 27 de Maio de 1977, por causa de um golpe de Estado”, afirma José Eduardo dos Santos.

Falando, por exemplo, na abertura da terceira sessão extraordinária do Comité Central do MPLA, o também presidente do partido, aconselhou os cidadãos interessados a conquistar o poder para formarem um partido político e concorrem às eleições.

“Quem quer alcançar a Presidência da República e formar o governo que crie, se não tiver, um partido político nos termos da Constituição e da Lei, e se candidate às eleições”, sugeriu o chefe de Estado, acrescentando que “quem escolhe a via da força para tomar o poder ou usa meios anti-constitucionais, não é democrata. É tirano ou ditador. Acusaram o MPLA e os seus militantes de intolerantes, mas a mentira tem pernas curtas, hoje todos sabem onde estão os intolerantes e nem é preciso dizer os seus nomes”, concluiu José Eduardo dos Santos.

Como Eduardo dos Santos não é, embora julgue ser, dono da verdade, falemos sempre que necessário desse 27 de Maio de 1977. E hoje, 11 de Novembro, é um bom dia para isso.

Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram – repita-se – muitos milhares de mortos, foram o resultado de um “contra-golpe” que foi pacientemente planeado, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder. Tal como agora acontece com José Eduardo dos Santos que até vislumbra na sua sombra um golpe de Estado.

Nessa altura, Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou uma manifestação para protestar contra o rumo que o MPLA estava a tomar. Tal como hoje fazem muitos angolanos descontentes com o rumo que o MPLA está a dar ao país.

E isso era inaceitável pelos ortodoxos que, por interesses pessoais, blindavam o presidente. Exactamente o que hoje se passa. Com o fantasma do Congresso, previsto para o final desse ano, urgia calar os nitistas pois, se o não fizessem, poderiam ver os congressistas renderem-se a Nito Alves. Tudo leva a crer que Neto temia mesmo perder o poder e, por isso, engendrou a tramóia.

Perante a blindagem que ainda hoje o regime faz ao que se passou, situação que impede consulta de documentos e que atemoriza muitos dos intervenientes cujo testemunho é imprescindível para um conhecimento que chegue perto da verdade, a história do massacre vai continuar com muitos capítulos especulativos mas, igualmente, como instrumento na mão do poder, como agora demonstrou Eduardo dos Santos.

Na versão oficial, através de uma declaração do Bureau Político do MPLA, divulgada a 12 de Julho de 1977, o 27 de Maio foi uma “tentativa de golpe de Estado” por parte de “fraccionistas” do movimento, cujos principais “cérebros” foram Nito Alves e José Van-Dunem, versão que seria alterada mais tarde para “acontecimentos do 27 de Maio”.

Nito Alves e José Van-Dúnem tinham sido formalmente acusados de fraccionismo em Outubro de 1976. Os visados propuseram a criação de uma comissão de inquérito, que foi liderada por José Eduardo dos Santos, para averiguar se havia ou não fraccionismo no seio do partido. As conclusões nunca chegaram a ser divulgadas publicamente mas, segundo alguns sobreviventes, revelariam que não existia fraccionismo no seio do MPLA.

Tal como hoje os jovens activistas não lideram nenhuma tentativa de golpe de Estado. Eduardo dos Santos sabe disso, mas é-lhe conveniente não saber.

Consta que o próprio José Eduardo dos Santos, tal como o então primeiro-ministro, Lopo do Nascimento, seriam alvos a abater pela cúpula do MPLA. Ao actual Presidente terá valido a intervenção do comissário provincial do Lubango, Belarmino Van-Dúnem.

Os apoiantes de Nito Alves consideravam que o golpe já estava a ser feito por uma ala maoísta do partido, liderada pelo secretário administrativo do movimento, Lúcio Lara, que terá instrumentalizado os principais centros de decisão do partido e os média, em especial o Jornal de Angola, pelo que consideraram que a manifestação convocada por Nito Alves foi “um contra-golpe”.

Em relação aos mortos, os números variam segundo as fontes. Terão sido mais de 15 mil e menos de 100 mil. É claro que, como continua a ser prática, nessa altura os ditos fraccionistas sofreram horrores terríveis, desde prisões arbitrárias, a tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias.

O apontado líder do alegado golpe de Estado terá sido fuzilado, mas o seu corpo nunca foi encontrado, tal como o dos seus mais directos apoiantes como José Van-Dúnem e Sita Valles, que foi dirigente da UEC, ligada ao Partido Comunista Português, do qual se desvinculou mais tarde, e foi expulsa do MPLA.

Em Abril de 1992, o governo angolano reconheceu que foram “julgados, condenados e executados” os principais “mentores e autores da intentona fraccionista”, que classificou como “uma acção militar de grande envergadura” que tinha por objectivo “a tomada do poder pela força e a destituição do presidente Agostinho Neto”.

Exactamente os mesmos argumentos que hoje o MPLA utiliza.

Moralmente, pelo menos, o principal responsável foi Agostinho Neto que, assessorado por alguns dos mais radicais membros do MPLA, não se preocupou em apurar a verdade, dispensou os tribunais, admitiu que fizessem justiça por suas próprias mãos.

Relatos dispersos dizem que o Presidente Agostinho Neto foi, antes de tudo, chefe duma facção e não o árbitro, o unificador, estando completamente dominado pela arrogância, inflexibilidade e cegueira.

Certo é, contudo, que Angola perdeu muitos dos seus melhores quadros: combatentes experimentados em mil batalhas, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes universitários. Dessa forma o MPLA decapitou os que sonhavam com um futuro melhor, mais igualitário e mais fraterno para os angolanos.

O mais recente livro da jornalista britânica Lara Pawson (“Em Nome do Povo – O massacre que Angola silenciou”) sobre este assunto, “levanta mais perguntas do que respostas” sobre as verdadeiras intenções, envolvidos e número de mortos.

O livro, que demorou sete anos a escrever, representa uma investigação de sete anos da antiga correspondente da BBC em Angola (1998-2000), demora que a autora atribui à própria “lentidão” e à incerteza criada pelos testemunhos que recolheu entre Londres, Lisboa e Luanda.

“Todas as pessoas com quem eu falava pareciam ter visões muito facciosas e eu achava difícil confiar em alguém. Esse é um dos interesses do livro, porque levanta a questão do rigor da informação sobre Angola e qual é a informação em que podemos confiar”, explica Lara Pawson.

O 27 de Maio de 1977 é descrito como uma tentativa de golpe de Estado por “fraccionistas” do próprio MPLA, então já no poder do país recém-independente, contra o Presidente Agostinho Neto e “bureau político” do partido.

Segundo vários relatos, milhares terão morrido na reacção das FAPLA, nomeadamente os dirigentes Nito Alves, então ministro da Administração Interna, e José Van-Dúnem, mas foi difícil para Lara Pawson alcançar uma “versão definitiva” sobre os interesses e objectivos daquele movimento, que alegou tratar-se de um `contragolpe`.

“Uma das discussões foi saber se foi manifestação ou golpe de Estado e o que aprendi após falar com angolanos, em particular o povo, é que muito deles acreditavam estar a participar numa manifestação pacífica. Mas, por outro lado, o facto de a 9ª Brigada se ter envolvido, de a rádio ter sido ocupada durante várias horas por homens com armas e as prisões invadidas parece difícil negar que não houve tentativa de golpe”, salienta a autora.

Outra questão controversa que tentou esclarecer foi o número de mortos resultantes da resposta do regime, e que variam, segundo as versões, entre 20 mil a 30 mil mortos, número dado à autora pelo irmão de José Van-Dúnem, João, a 100 mil mortos reivindicados pela Fundação 27 de Maio.

“O mais próximo que consegui de uma versão oficial foi de Fernando Costa Andrade, antigo director do Jornal de Angola. Ele disse que o ministro de Defesa da altura tinha estimado pelo menos 2.000 mortos. Se um ministro diz isto, é porque no mínimo foram 2.000 mortos, mas podem ter sido mais”, referiu Lara Pawson.

O envolvimento de Moscovo, a existência de fracturas entre os próprios fraccionistas são outras questões que continuam em aberto, bem como o papel do actual Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que sucedeu a Agostinho Neto no poder.

A “complexidade e contradições” que rodeiam o assunto contribuíram para a “obsessão” de Lara Pawson em querer escrever este livro num tom romanceado, mas descobriu que o assunto continua a ser um “tabu” e que muitos dos envolvidos têm medo de falar, pelo que a identidade teve de ser preservada no livro.

O próprio receio do MPLA em “abrir a ferida” abriu espaço para que Nito Alves seja actualmente idolatrado por jovens angolanos opositores ao regime, disse a jornalista britânica, concluindo: “Esconder a verdade está a criar cada vez mais o peso do próprio mito”.

MPLA desde 1975. Dos Santos desde 1979

OMPLA está no poder desde 1975 e por lá vai ficar. Com o poder absoluto que tem nas mãos (é também o presidente do MPLA e chefe do Governo), José Eduardo dos Santos é um dos ditadores ou, na melhor das hipóteses, um presidente autocrático, há mais tempo em exercício.

África, em nada abona do ponto de vista democrático e civilizacional a seu favor. Sabe todo o mundo, mas sobretudo e mais uma vez África, que se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. É o caso em Angola.

Só em ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, é possível estar tantos anos no poder. Em qualquer estado de direito democrático tal não seria possível.

Aliás, e Angola não foge infelizmente à regra, África é um alfobre constante e habitual de conflitos armados porque a falta de democraticidade obriga a que a alternância política seja conquistada pela linguagem das armas. Há obviamente outras razões, mas quando se julga que eleições são só por si sinónimo de democracia está-se a caminhar para a ditadura.

Com Eduardo dos Santos passa-se exactamente isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue imaginar de mau. Permitiu ao actual presidente perpetuar-se no poder, tal como como permitiu que a UNITA dissesse que essa era (e pelo que se vai vendo até parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país.

É claro que, é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilharam) carne para canhão.

Por outro lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamente EUA e União Europeia, ajudou a dotar José Eduardo dos Santos com o rótulo de grande estadista. Rótulo que não corresponde ao produto. Essa opção estratégica de norte-americanos e europeus tem, reconheça-se, razão de ser sobretudo no âmbito económico.

É muito mais fácil negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituído pela livre escolha popular.

É, como acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias, representante temporário do povo soberano.

Bem visível no caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santo, a História mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.

Reconheça-se, entretanto, a estatura política de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola.

Desde 2002, o presidente vitalício de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam fazer frente.

Não acreditamos que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhum ditador com 37 anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas.

Mas essa também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos.

Tudo isto é possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma, se consegue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma bala.

Acresce, e nisso os angolanos não são diferentes dos portugueses ou de qualquer outro povo, que continua válida a tese de que “se não consegues vencê-los junta-te a eles”. Não admira por isso que José Eduardo dos Santos tenha cada vez mais fiéis seguidores, sejam militares, políticos, empresários e até supostos jornalistas.

É claro que, enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois… com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 37anos é sempre o mesmo, José Eduardo dos Santos.

Até um dia, como é óbvio.

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ANGOLA: PR QUER UNIÃO ENTRE OPRESSORES E OPRIMIDOS

Raul Diniz, opinião
Os sucessivos discursos de JES começaram a enjoar até mesmo os ociosos oportunistas que o seguem ansiosos por obter alguma compensação financeira provenientes da subtração ilegal das receitas do erário publica nacional, ineficientemente controlado pelos filhos do presidente da ditadura musculada.

São cada vez mais visíveis as probabilidades do regime sucumbir e rapidamente terminar numa ruidosa derrocada irreversível.

O emaranhado de ações enrodilhadas de JES demonstra a constância degenerativa das politicas públicas exclusivista, que a todos os níveis são terminantemente mal sucedidas. O país está refém de um homem que mantem sequestrado o MPLA, o partido por sua vez caminha irremediavelmente para a profundeza do vale da morte.

Seria um enorme disparate os angolanos unirem-se em torno da classe dominante do país, sem nenhuma contrapartida viável. 

A união do povo independe dos caprichos de alguém, que trata os angolanos como meros utensílios que objetive o velho ditador manter poder pelo poder por tempo indeterminado. O discurso de JES foi absurdo e obscuro na sua forma, e, de todo tolo do ponto de vista intelectual, e, sobretudo foi plenamente desconfortante para a maioria dos angolanos.

Não existem insígnias ilustrativas credíveis na bandeira e no hino dito nacional, que justifique existir uma nação uma, indivisível e democrática em Angola. Assim sendo, qual seria a razão que levaria o povo unir-se em torno daquele que tem exaustivamente fundamentado a fragmentação das instituições do estado?  

Tudo que JES disse no seu discurso foram apenas falácias permissivas com prazo de validade espirado.

A emblemática ação discursiva de JES foi inócua, por outro lado foi de um condão infinitamente infame, e de todo politicamente perverso.

Foi um discurso inflexível e autoritário doseado de uma intrigante candura promiscua irritante, sem verdade alguma. O discurso foi de total ineficácia e de crescente demagogia exasperante, como sempre JES vem regularmente brindando o povo, evocando as suas repetitivas prosaicas verborreias sinuosas, e elasticamente desconcertantes.  

A culpa da corrupção, nepotismo e da opressão, não é da exclusiva responsabilidade dos presidentes africanos, que se recusam a sair voluntariamente do poder.

A culpa da miséria dos angolanos é dos Estados Unidos da América, disse o malandro ditador em discurso ao. Decididamente foi um momento hilariante e de rir a gargalhadas ouvir o desestabilizador mor acusar relutantemente, o democrata Barack Obama e o republicano George Bush, cidadãos legitimamente eleitos presidentes dos Estados Unidos da América, de serem os principais desestabilizadores de Angola e de África em geral. 

Responsabilizar personalidades estrangeiras de serem os responsáveis do estado crescente da corrupção endêmica, o nepotismo e da soberba dos dirigentes africanos, é no mínimo um ato desconfortante, medíocre e desprezível. Além de ser uma flagrante demonstração de imperativa deslealdade do presidente angolano perante a soberania do universo das democracias sustentáveis.

A longa (des) governação do país, é da total e direta responsabilidade do presidente da republica, que se mantem no poder há mais de 37 anos ininterruptos. 

É claro que os presidentes citados pelo insano ditador não podem ser responsabilizados de modo algum da fascizante pratica despótica, corrupção e do nepotismo que grassa no país. Em abono da verdade é bom salientar que o plano fracassado de desenvolvimento do MPLA/JES, sufragado em eleições passadas, onde o slogan era o de o país crescer mais para melhor distribuir, ter-se transformado num portento fiasco.

Mas, pior que tudo, foi ouvir o presidente discursar melodiosamente num tom amalandrado, pedindo socorro aqueles a quem ele severamente explora e de todo os despreza.

Como pode um povo oprimido acreditar no opressor e unir-se a ele, sua família e amigos adestrados, que afundaram desumanamente o país, desunindo-o continuamente a mais de 40 anos, só para manter como rei absoluto no poder, o ditador sanguinário.

JES deviria a muito perceber os sinais de impaciência do povo e tirar de imediato às devidas ilações das responsabilidades acrescidas do estado de miséria absoluta que o povo vive.

Ao invés de pedir união aos angolanos, José Eduardo dos Santos deveria ir-se embora voluntariamente a muito do poder. O povo quer ver JES fora do poder e se possível muito longe de Angola.

Pedir união aos oprimidos foi de facto um passo de irrefletida negligência, muito mal orquestrada pelo responsável máximo do MPLA e chefe lunático do regime totalitário.

Somente um regime cioso e desarticulado não reconhece a realidade social que o seu povo e pais atravessam. JES ainda não percebeu que se encontra socialmente desapoiado, e totalmente descapitalizado politicamente, para conduzir Angola e retira-la do estado de penúria em que se encontra.

O MPLA e JES vivem um momento de crise existencial de credibilidade sem precedentes.

Assim sendo, não se justifica a necessidade do povo aderir a uma união insana, gritantemente solicitada pelo presidente da república. É penoso um homem que tem o regime que tem o seu regime rejeitado popularmente, aspira exigir união da parte dos que o rejeitam.

Essa situação obriga o PR buscar apoio em pessoas indecorosas munidas de esquemáticos, entre os oportunistas, especialistas em bajulação políticas mal delineadas e inaceitáveis.

Assiste-se a um momento inusitado de perceptível ruína extemporânea imemorável da existência do MPLA.  É triste ver o MPLA caminhar cabisbaixo, penosamente cambaleante, sem resistir à ruinosa decadência imponente que se lhe empoe. 

Essa penosa situação retira legitimidade e força politica conciliadora ao presidente da república, que lhe dê suporte legitimo para gerenciar a crise que ele mesmo criou no país.

A outra face do discurso do Presidente da República

O governo parece ter sido dopado quando de propôs adoptar um “Programa de redistribuição do Rendimento”, com a finalidade de criar condições, que possibilite uma maior inclusão social dos cidadãos espezinhados e explorados, debalde.

Mas como acreditar na existência de tal fundo, uma vez o país estar afundado em dividas até o pescoço? Os credores externos não param de cobrar as dívidas contraídas pelo regime. A pergunta que não quer calar é: 

Aonde irá o PR e seu governo buscar dinheiro para esse publicitado fundo? Os limites das desinteligências de JES atingiram o êxtase da decadência acumulada. A natureza dos discursos alienantes de JES transporta consigo uma permissividade destrutiva que desqualifica qualquer tentativa real de unir o país.

JES não passa de um insípido idiota, enrolado em papel de alumínio.

O esquisito silêncio sequioso de JES face á verdadeira dimensão da crise econômico financeiro, apelidada por ele como simples crises temporárias em breve irão chama-la pelo nome certo, verdadeiro e/ou real, o nome real e/ou verdadeiro é hiper-recessão.
   
 JES não tem mais condições sérias de inteligência eficiente, que objetive retirar o país da agravada situação que atravessa.
     
É de louco ouvir a proposta de união entre o algoz e os angolanos oprimidos, JES quis ganhar algum tempo com essa auspiciosa anunciação de união. Não há nem nunca houve vontade politica da parte de JES para unir o país, de contrario o seu poder a muito estaria em ruínas.  

Para ultrapassar a crise instalada no país significa em primeiro lugar pacificar o país, e essa condicionante não poderá jamais vir do opressor.

José Eduardo dos Santos apelou para a união entre os angolanos, para vencer a crise instalada por ele e sua família em todo país, porem, a solução não é assim tão fácil.

Existe uma verdade nessa vontade expressa do ditador desejar “entre aspas”, unir o que ele mesmo desuniu. A verdadeira razão passa pela sua própria sucessão. Só que o ditador esquece que o povo e o país, não podem continuar a depender da vontade do tirano velho, caduco e feio, que desgoverna o país a mais de 37 longuíssimos anos de poder anacrônico.