domingo, 8 de maio de 2016

Marcolino Moco. Ex-PM de Angola pergunta se Portugal deve "angolanizar" justiça

O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco considerou hoje à agência Lusa que a declaração "mirabolante" do ex-vice-primeiro-ministro português Paulo Portas sobre o risco de "judicialização" das relações luso-angolanas constitui uma vontade de "angolanizar a justiça" portuguesa.

Numa entrevista, em Lisboa, Marcolino Moco salientou que essa é a "tradução" que faz das palavras proferidas por Paulo Portas ainda na qualidade de governante português durante um período tenso nas relações luso-angolanas e que envolviam investigações de atos alegadamente ilícitos de altas personalidades de Angola.

"Nunca se perguntou de onde saiu tanto dinheiro para uma família comprar bancos, outros setores estratégicos de Portugal. Isso era importante saber", disse, aludindo à recente diretiva do Banco Central Europeu (BCE), que exigiu a Lisboa menor exposição financeira a capitais angolanos.

"Há pouco tempo, ouvimos aquela palavra mirabolante de Paulo Portas, que disse que «Portugal não deve judicializar a relação» (com Angola), o que eu traduzo por «Portugal deve angolanizar a sua justiça». Quando vierem para Portugal assuntos relacionados com Angola, Portugal abandona a sua regra de diamante, que é a de separação do poder político e judicial", comentou Marcolino Moco.

Para o também primeiro secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP, 1996/2000), os grandes empresários angolanos, "que são poucos", são "muito próximos do presidente (de Angola, José Eduardo dos Santos) e até parentes", dando como exemplo o caso de Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado.

"Fala-se todos os dias na Isabel (dos Santos), que agora tem o nome de «Princesa», e percebemos bem a questão de que estou a falar. Há uma certa animosidade, e como tudo isso é acompanhado por um poder efetivo desta classe tão restrita em Angola", sustentou.

Segundo Marcolino Moco, há uma "manipulação de conceitos" em torno das relações luso-angolanas, sobretudo por parte de Luanda, que "politiza" problemas que existem entre pessoas e empresas, lembrando que, há alguns anos, "alertou" para a "permissão" portuguesa de vender setores estratégicos a empresários angolanos.

"Já tinha alertado que essa permissão de Portugal de vender setores estratégicos a «angolanos» - por que não são uma classe empresarial verdadeira, são homens e mulheres do poder, que se eternizam no poder -, havia de custar a Portugal. Acho que não me enganei, porque é justamente isso que está a acontecer hoje", referiu.

"Perguntei, então, se a UE (União Europeia) não tinha uma forma de ajudar Portugal a livrar-se desta situação que iria criar problemas. Ninguém me ouviu na altura. Era a altura do entusiasmo, do maná, mas nunca entendi que se chamasse crescimento económico à valorização, que tinha sempre de ser temporária, de um produto único para um país. Nunca entendi", sublinhou Marcolino Moco.

O "milagre económico" de Angola era, porém, a frase mais destacada de então, acrescentou, o que permitiu que as coisas chegassem ao ponto de qualquer problema de negócios ser logo elevado ao nível de relações entre Estados.

"O que é mais curioso, algo masoquista, é que alguma elite portuguesa acha que deve ser assim. Que os tais «angolanos» devem exigir tudo o quiserem perante Portugal, como se Portugal tivesse alguma culpa", argumentou.

"Agora estamos nesta situação e parece que Portugal já começa a sentir que a relação com África não pode continuar com esta relação do tipo «chico-esperteza», mas sim numa base de respeito para os povos", concluiu

JSD // pja - Lusa

Marcolino Moco. "Resgate" do FMI irá, "por certo, agravar" crise económica - Ex-PM angolano

O "resgate" do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Angola, à partida, "não vai nem resolver nem agravar" a crise económica angolana, mas o "mais certo é que a vá agravar", defendeu hoje o antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco.

Numa entrevista à agência Lusa, Marcolino Moco considerou que o "repugna" abordar as coisas de forma pontual e que tudo se deve a um "contexto africano" que promove a "exclusão", permitindo que quem está no poder "não deixe o lugar a mais ninguém".

A 06 de abril, o FMI anunciou que Luanda lhe solicitara ajuda externa face à quebra de receitas do petróleo, pedido que o ministro das Finanças angolano, Armando Manuel, negou, um dia depois, que constitua um "resgate", estando em curso discussões para determinar o montante.

"Repugna-me um pouco abordar as coisas do tipo pontual. Quem quiser ver a África a progredir não vale a pena perder tempo com essas questões pontuais. Não será este resgate que vai resolver ou agravar o problema de Angola. Vai oscilar, para um lado ou para o outro. O mais certo é que agrave", disse Marcolino Moco à Lusa.

"O próprio contexto africano está errado. A própria estrutura do Estado africano está errada. Há a exclusão. Quem chega ao poder, provavelmente está conotado com um grupo específico, não deixa lugar a mais ninguém", acrescentou.

Para Marcolino Moco, o problema da exclusão da maioria angolana é provocado "por meia dúzia de pessoas, família do Presidente da República (José Eduardo dos Santos), isso não é novidade, e governantes", alguns deles generais que, disse, já não o deveriam ser por exercerem funções ministeriais.

"São esses que efetivamente preocupam. Depois há aqueles que enriqueceram naquelas circunstâncias da guerra (terminou em 2002) e hoje têm empreendimentos em Angola. Podem ter empreendimentos fora, mas não são tão impactantes, ao ponto de condicionar governos. Governos não. Condicionou sobretudo o Governo português. Isso é, efetivamente, só a família presidencial e pouco mais", acusou.

Marcolino Moco escusou-se a aprofundar o tema das relações entre o BPI e o Caixa Bank - "não sei o que vou achar porque não sei o que vai na cabeça dela (Isabel dos Santos), mas defendo que ela devia submeter-se às regras" - e entre o Banco Nacional de Angola (banco central) e o BFA - "sobre o BNA conhecemos pouco, pois é um instrumento de poder".

Sobre o poderio da empresária Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, o antigo chefe do Governo angolano lembrou que, hoje em dia, "já ninguém a incomoda" para saber de onde vem tanta riqueza.

"Isso já todos deixaram cair. De tanto isso ser ostensivo, caiu na rotina. Admira-me que a Isabel dos Santos não para, nem em Angola nem sobretudo em Portugal, que estava a abrir os olhos e não sei se agora começa a pôr um certo refreio. Contrariamente a outros Estados, como França Estados Unidos e Inglaterra. Agora começa-se a sentir algum travão, com o caso BPI", disse.

"Em Angola, Isabel continua a não parar. Recebeu as obras da cidade de Luanda e uns tantos milhões, enquanto há problemas sérios com os hospitais, com as cidades, que infelizmente são governadas a partir do problema da centralização. Mesmo perante esta situação, Isabel continua a somar e a seguir. O Benfica some e segue, mas agora digo a Isabel soma e segue", frisou.

"Há mortos nos hospitais, os cadáveres não cabem nas morgues e ela abre grandes centros comerciais, recebe de mão beijada obras para estradas que não têm validade imediata. O que se passa nos bairros de Luanda é uma calamidade", concluiu.

JSD // PJA - Lusa

Suspensão da ajuda externa vai ter um impacto "severo" em Moçambique - Economist

"A transparência orçamental é um processo politicamente conturbado em Moçambique, uma vez que os interesses empresariais dos principais políticos muitas vezes misturam-se com as suas responsabilidades públicas", escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica 'The Economist'.

Numa nota de análise sobre a suspensão das ajudas financeiras dos doadores internacionais, que representam 12% do orçamento para este ano, mais de 300 milhões de dólares, os peritos dizem que os cortes eram "inevitáveis depois de ser conhecido em abril que o Governo escondeu empréstimos que não tinham sido previamente disponibilizados ao Fundo Monetário Internacional, doadores, Parlamento e público".

O impacto a curto prazo, considera a EIU, será "severo", e o Governo deverá compensar a quebra orçamental através de empréstimos nacionais, adiamento de projetos de desenvolvimento e medidas para cortar na despesa.

"Para além do impacto orçamental, num país com um sistema de clientelismo político profundamente enraizado, e num contexto de um rápido aumento do custo de vida, o impacto negativo da austeridade nos moçambicanos também vai aumentar o risco de instabilidade política", consideram os analistas da Economist.

Os doadores, acrescenta a EIU, não deverão sair por completo do país, por causa da pobreza generalizada e dos projetos de ajuda em curso, mas para retomarem o financiamento, "o Governo vai ter de demonstrar um nível de transparência orçamental que até aqui tem sido relutante em mostrar".

Com a dívida pública "insustentável" e a economia a abrandar para valores do princípio do século, "a necessidade de ajuda externa deve convencer o Governo a cumprir com as exigências dos doadores", conclui a EIU, alertando, no entanto, que "restaurar a confiança dos doadores no Governo vai ser um processo lento".

MBA // PJA - Lusa

Pró-democratas pedem demissão de chefe do Governo de Macau por alegada corrupção

A Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território, acusa o líder do Governo local de "fraca integridade" e alegada corrupção pela atribuição de um apoio a uma universidade da China continental e pede a sua demissão.

As acusações, que o executivo já rejeitou, constam de uma petição colocada 'online' no sábado à noite e hoje apresentada numa conferência de imprensa pela Associação Novo Macau.

Em causa está a atribuição, através da Fundação Macau, de um apoio de 100 milhões de yuan (13,5 milhões de euros) à Universidade de Jinan.

A associação diz que a aprovação deste apoio foi feita sem conhecimento público e sublinha que o chefe do Governo de Macau, Fernando Chui Sai On, preside ao Conselho de Curadores da Fundação e é, em simultâneo, vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan.

Para a Associação Novo Macau, Chui Sai On está, "sem dúvida, envolvido num conflito de interesses".

A associação apela para a assinatura, até segunda-feira, da petição que pede a demissão do chefe do executivo pela sua "fraca integridade e alegado envolvimento em corrupção" e promete novas ações se não houver resposta por parte do Governo.

Ainda antes de se conhecer o teor da petição da associação, o Governo de Macau emitiu um comunicado sobre esta questão, para esclarecer "rumores e acusações no seio da sociedade".

"O chefe do executivo foi convidado para desempenhar as funções de vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan, não recebendo qualquer remuneração ou interesses, pelo que não existe tráfico de influências, tal como tem sido acusado", lê-se no texto.

Segundo a mesma nota, o apoio atribuído à universidade é para construir um edifício para o ensino na área da comunicação social no campus de Cantão e duas residências para estudantes de Hong Kong e Macau no campus de Panyu.

"Estas são instalações que beneficiam os estudantes locais, por isso, o Governo de Macau espera poder contribuir para o crescimento e o fortalecimento desses jovens, que após conclusão dos cursos, regressam e participam no desenvolvimento da Região Administrativa Especial de Macau", acrescenta.

O Governo diz ainda que Macau "registou um desenvolvimento acelerado" desde 1999, quando a administração do território passou de Portugal para a China, e, "por isso, retribuir à pátria e contribuir para o desenvolvimento e educação do país é de facto um dever de Macau".

O executivo garante, por outro lado, que esta doação não afeta os apoios a instituições do território.

Também a Fundação Macau emitiu um comunicado no qual explica que desde 1999 "tem prestado, de uma forma adequada, apoio financeiro às zonas menos desenvolvidas do interior da China (...) para ajudar a construção das suas infraestruturas, luta contra a miséria e desenvolvimento educativo".

"Por outro lado, a fundação tem mantido uma estreita cooperação com as universidades chinesas de renome" e a Universidade de Jinan já formou cerca de 20.000 alunos de Macau, que beneficiam de uma "política de preferência" e apoio por parte da instituição de ensino, nomeadamente ao nível das propinas e beneficiando de bolsas de estudo.

A fundação garante ainda que "todos os procedimentos sobre a concessão de subsídios da Fundação Macau foram devidamente cumpridos" neste caso.

MP // CSJ - Lusa

Comunidade lusa em Pequim celebra Dia da Língua Portuguesa com fotografia e cinema

João Pimenta, da Agência Lusa

Pequim, 08 mai (Lusa) - Após sete anos em Pequim, André Ferreira está "adaptado" à cultura local, casou e, em breve, será pai, mas a sensação que teve, quando aterrou pela primeira vez na China, permanece até hoje.

"Monumental", diz, quando desafiado a descrever o país mais populoso do mundo numa só palavra. "As praças, as ruas, os edifícios, a quantidade de pessoas, tudo é em grande escala", afirmou.

André, que trabalha no desenvolvimento de plataformas multimédia, visitou Pequim pela primeira vez em 2008.

No ano seguinte, decidiu voltar para viver: "Tive a oportunidade de fazer um projeto por cá e, obviamente, agarrei-a".

Nascido em Luanda e criado em Lisboa, é um dos dez participantes da mostra de fotografias "O Olhar dos Portugueses na China", organizada pelo Clube Português de Pequim (CPP).

"Há partes da cultura chinesa que amo e outras de que gosto menos; com a fotografia tento guardar os aspetos de que gosto mais", explicou André à agência Lusa.

Aquela exposição reúne 23 fotografias e retrata a China desde da cidade de Kashgar, na região autónoma de Xinjiang, junto à Ásia Central, até Shaoxing, uma histórica vila na costa sudeste.

Inaugurada na sexta-feira, está patente até hoje no 'Modernista', um icónico bar situado num dos raros 'hutongs' - os típicos becos de Pequim - que não foram arrasados para dar lugar a construções em altura.

Aquele quarteirão, cuja origem remonta ao século XIII, tornou-se nos últimos anos o novo centro da movida de Pequim e, onde outrora se erguiam habitações acanhadas, surgem hoje cafés, bares e restaurantes.

"O objetivo da exposição é os portugueses darem a conhecer a China através dos seus olhos", vincou à agência Lusa João Teixeira, um dos quatro organizadores do evento.
Formalmente constituído em novembro passado, o CPP é a primeira associação cultural e recreativa portuguesa criada em Pequim, cidade onde residem cerca de 150 portugueses, na sua maioria jovens.

A par daquela iniciativa, o CPP organizou também uma mostra de filmes de Angola, Brasil e Portugal, inserida na agenda de comemorações do Dia da Língua Portuguesa e Cultura Lusófona, assinalado a 05 de maio.

As longas-metragens, exibidas este sábado no jardim de uma pousada no coração da capital chinesa, foram "Cinco dias, cinco noites", "O Emigrante", "O Auto da Compadecida", "Atrás das Nuvens" e "Chinês é Tudo Igual".

"É bom que a comunidade portuguesa e a sociedade civil se encarreguem também de uma parte da tarefa de promover a língua portuguesa aqui", enalteceu o embaixador de Portugal na China, Jorge Torres-Pereira.

Além de Pequim, também Xangai, a "capital" económica da China, situada na foz do rio Yangtse, passou no ano passado a contar com uma associação portuguesa.

Em Macau e Hong Kong, as duas regiões administrativas especiais da China, existem ainda a casa de Portugal em Macau e o Clube Lusitano.

O 05 de maio foi instituído como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona há dez anos, numa cimeira dos oito países que constituíam então a CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), e que têm, no conjunto, cerca de 250 milhões de habitantes.

JOYP // CSJ

Em Bolama, na Guiné-Bissau, médicos portugueses tentam mitigar problemas

Luís Fonseca, agência Lusa

Bolama, Guiné-Bissau, 08 mai (Lusa) -- Bolama é uma ilha da Guiné-Bissau, mas quase não há maneira de transferir um doente. Médicos voluntários portugueses perceberam isso quando transferiram Eurizanda, de 13 anos, que caiu de uma árvore enquanto brincava.

Quatro médicos do Centro Hospitalar do Porto estiveram dez dias na ilha para tentar resolver problemas pendentes de saúde local, como é o caso da menina, que sofreu ferimentos internos graves num rim e havia sido deixada, sem diagnóstico, numa cama do único hospital.

Só há um médico para 8000 habitantes e nem sequer é cirurgião. Mesmo que fosse, ali não há bloco operatório, nem meios de diagnóstico, nem análises.

A ilha foi capital da Guiné Portuguesa entre 1879 e 1941, depois de disputada com a coroa britânica. Hoje é um retrato de decadência, com edifícios históricos a cair aos bocados e um hospital sem condições para funcionar: não há eletricidade permanente, nem outros apoios e os enfermeiros, apesar de dedicados, não conseguem compensar as fragilidades.

A unidade de saúde já fechou há anos e o que agora se chama de hospital é o conjunto de pavilhões do antigo quartel português, do tempo colonial, onde quatro médicos do Centro Hospitalar do Porto passaram dez dias a dar oportunidades de sobrevivência a pessoas como Eurizanda João Adolfo.

Quando a equipa a descobriu numa enfermaria pediu transferência urgente para Bissau, para poder ser operada.

Eurizanda viajou na caixa aberta de uma "pick-up" para o cais, que se encheu de gente para assistir à transferência de um doente -- coisa rara, porque muitas vezes é mais fácil morrer que sobreviver nesta antiga capital.

Colocá-la dentro do barco foi uma aventura, porque no cais não há acesso para passageiros, é preciso saltar do pontão e tentar não cair ao mar. Por vezes, o caminho é saltar de umas canoas para outras.

Lá do alto, a rapariga foi levantada, esticada e dobrada de várias maneiras e chegou a Bissau uma hora depois, estendida no chão do barco, com um lençol apenas a protegê-la das ondas e com uma enfermeira idosa a segurar o soro.

Num outro canto do Hospital de Bolama, a pediatra Guilhermina Reis, 50 anos, olhava para as pernas de Salimo Salmané, de três anos: uma crosta cobria-as dos joelhos aos pés e crescia "há muito tempo", queixava-se o pai.

O espanto cresceu na sala, entre médicas e enfermeiras, quando disse que só agora se lembrou de levar o filho para observação e aumentou ainda mais quando Guilhermina se apercebeu que boa parte daquilo era sujidade acumulada que agravou uma infeção.

"Isto já é muita terra e pó. Era fácil de resolver com outras condições", desabafou, mas nada garante que, no contexto em que Salimo vive, haja água ou sequer consciência de que a limpeza deve ser diária.

Um cenário que leva o médico Carlos Vasconcelos, 64 anos, a concluir que aquilo que a equipa ali fez é importante, mas ao mesmo tempo "não é nada".

Geram-se sentimentos contraditórios. "Satisfação", mas também "raiva" porque é sabido "qual o caminho", que inclui formação e informação da população, só que falta esse objetivo ser abraçado "pelo poder".

"Quando estão mal, as pessoas não têm o hábito de ir a uma consulta. É preciso educar para criar essa rotina, porque há enfermeiros extraordinários aqui", acrescentam Sandra Xará, 43 anos, infeciologista, e Rute Alves, 29 anos, interna.

Em Bolama, nem sequer se fazem as análises ao sangue mais básicas que se realizam noutros pontos do país, o que prova o abandono da antiga capital.

Após dezenas de consultas, Sandra e Rute têm o diagnóstico feito: há graves problemas de hipertensão, que podem ser fatais, e muitas infeções sexualmente transmissíveis -- e faltam registos com o histórico de cada doente.

Natural da Guiné-Bissau, mas formado e residente em Portugal há vários anos, Ricardo Sanhá criou uma fundação com o seu nome através da qual, desde 2009, angaria fundos e financia viagens de médicos portugueses até ao país onde nasceu.

Com a missão que decorreu de 20 de abril a 06 de maio já lá vão onze e além da equipa deslocada até à ilha de Bolama, uma outra realizou 18 cesarianas no Hospital de Cumura, perto da capital, "que de outra forma se poderiam ter complicado".

LFO // PJA

Jorge Sampaio desmente Durão Barroso e a sua “memória seletiva”

07.05.2016 às 23h22

PATRICIA DE MELO MOREIRA
Jorge Sampaio era Presidente da República e Durão Barroso era primeiro-ministro em 2003, quando se realizou a Cimeira das Lajes, que levou à invasão do Iraque

Em entrevista ao Expresso, Durão Barroso revelou que o ex-Presidente da República concordou com a Cimeira das Lajes, em 2003, mas Jorge Sampaio conta a história de outra forma.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio afirmou hoje que "não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar atos de política externa", respondendo ao ex-primeiro-ministro Durão Barroso, que disse que Sampaio concordou com a Cimeira das Lajes, em entrevista ao Expresso.

"Sim. Foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final. Depois de me ter sido proposto isso pelos outros países", afirmou Durão Barroso, sublinhando que contou, "na altura, com o apoio do parlamento português e com o apoio do Presidente da República de Portugal, o dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava".
Jorge Sampaio escreveu um artigo de opinião no site do jornal Público - intitulado "Iraque, evocações presidenciais" - em que começa por referir que "costuma dizer-se que a memória é seletiva e que os relatos históricos são reconstruções narrativas", para depois sublinhar que "as chamadas fontes em história permitem colmatar lacunas e reconstituir factos passados".
Sem nunca citar textualmente o nome de Durão Barroso, Jorge Sampaio diz que foi "inspirado pela leitura dos semanários de fim de semana", o que o levou a "fazer uma breve revisitação dos anos 2002-2003 deste século, determinantes que foram para o caos que hoje se vive no plano internacional", designadamente no Iraque.

No artigo, Jorge Sampaio, que foi Presidente da República (PR) de 1996 a 2006, revela que o Iraque foi um “factor de polarização PR versus PM” e apresenta uma extensa cronologia a explicar as semanas que antecederam a Cimeira - da qual foi informado dois dias antes.
“Sobre a Cimeira em si, e o processo que levou à sua realização nas Lajes – e não em Washington, Londres, Barbados e Bermudas, como terá sido ventilado –, a verdade é que a literatura internacional lhe dá pouca ou nenhuma importância e não tendo eu tido conhecimento dos preparativos, pouco posso dizer”, escreveu Jorge Sampaio.
“No entanto, quero recordar aqui o telefonema que, pelas 7 da manhã de 14 de Março, recebi do primeiro-ministro, solicitando-me uma reunião de urgência. Para minha estupefacção, tratava-se de me informar que havia sido consultado sobre a realização de uma cimeira nos Açores, essa mesma que, nesse mesmo dia, a Casa Branca viria a anunciar para 16 de Março, daí a pouco mais de 48 horas…”, acrescentou.
“Não é preciso ser-se perito em relações internacionais para se perceber que eventos deste tipo não se organizam num abrir e fechar de olhos; e também não é necessário ser-se constitucionalista, para se perceber que não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar actos de política externa”, refutou o ex-PR.
Sampaio termina este artigo de opinião a destacar que "o Presidente tem o direito constitucional a mostrar a sua discordância perante a condução da política externa e não está obrigado a acatar, sem intervenção e passivamente, decisões assumidas pelo Governo".
Referindo-se concretamente à Cimeira das Lajes, acredita ter conseguido "uma posição equilibrada", por ter evitado "abrir um conflito institucional que em nada serviria o país", ao mesmo tempo que, opondo-se ao envio de tropas para o Iraque, afirmou "decisivamente o papel efetivo do presidente como comandante supremo das Forças Armadas".
A 16 de março de 2003, reuniram-se na ilha Terceira, na base das Lajes, nos Açores, o Presidente norte-americano George W. Bush, o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, tendo sido recebidos pelo então primeiro-ministro português Durão Barroso. Quatro dias depois, na madrugada de 20 de março, tinha início a invasão militar do Iraque.

Fonte: Expresso



Sangue: fonte de vida

Dar sangue é dar vida. Esta é uma das frases promocionais que o tempo fez entrar na nossa memória. Nos dias que correm, dar sangue é cada vez mais importante. Porque as solicitações são cada vez maiores. Em média, são cinco a seis os litros de sangue que nos correm pelo corpo. Uma fonte de vida… e de alguns problemas.
O sangue é um tecido constituído por várias células sanguíneas, suspensas num líquido que se chama plasma. O plasma é constituído por água, sais minerais, moléculas hidrossolúveis como por exemplo a glucose e proteínas. As células sanguíneas são os Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos, os Glóbulos Brancos ou Leucócitos e as Plaquetas. É a medula óssea que se encarrega da sua produção, sendo constantemente renovadas.
São várias as funções do sangue, todas elas de grande importância para o vital funcionamento do corpo humano. Algumas dessas funções são bem complexas, entre as quais o transporte de oxigénio, nutrientes, hormonas, dióxido de carbono e outros produtos do catabolismo

Os componentes
Os Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos têm a particularidade de serem elásticos e deformáveis, permitindo assim um fluxo normal dentro dos vasos sanguíneos. Têm na sua membrana exterior elementos que são específicos para cada indivíduo, são herdados de pais para filhos, e permitem diferenciar as células de uma pessoa das de outra pessoa – são os grupos sanguíneos. Os mais importantes na transfusão sanguínea são o sistema ABO e Rh.
Os Glóbulos Brancos, ou Leucócitos, podem ser classificados de acordo com as diferentes morfologias e funções – Granulócitos Neutrófilos, Eosinófilos e Linfócitos. Têm um papel muito importante na defesa do organismo contra os vários agentes infecciosos.
As Plaquetas são as células mais pequenas do sangue, tendo cerca de 1/3 do diâmetro dos Glóbulos Vermelhos. São elas que actuam de imediato quando há uma hemorragia, formando o rolhão plaquetário tendo um papel muito importante na coagulação sanguínea.
 
A importância de dar sangue
O sangue não se fabrica artificialmente e só o ser humano o pode dar. Assim dito, facilmente se percebe que o sangue é um bem escasso. Por esta razão, o sangue existente nos serviços hospitalares depende inteiramente do gesto de cada um.
Todos os anos, com regularidade, as autoridades de saúde lançam campanhas de recolha de sangue. O gesto é rápido e demonstra preocupação pelos outros. Dar sangue é, pois, um gesto de vida, verdadeiramente essencial, porque alguns minutos perdidos na nossa vida podem ser suficientes para salvar outras.
O sangue é necessário todos os dias, pois todos os dias existem doentes com anemia, pacientes que vão ser submetidos a cirurgia, acidentados com hemorragias, doentes oncológicos que fazem tratamento com quimioterapia, transplantes, etc., que necessitam de fazer tratamento com componentes sanguíneos.
Enquanto um doente com anemia pode necessitar de uma ou duas unidades de sangue, um doente com transplante de fígado pode necessitar de mais de 20 unidades e um doente com leucemia pode necessitar de mais de 100 unidades.

O que o dador deve saber
Cada indivíduo tem em circulação 5 a 6 litros de sangue, dependendo da superfície corporal. Uma unidade de sangue representa 450ml. Mas o sangue doado é rapidamente reposto pelo nosso organismo. Daí não haver qualquer problema em dar com alguma frequência 3 a 4 vezes por ano, dependendo do sexo e constituição física do dador é a mais recomendada.
Outro aspecto importante a ressaltar: não existe qualquer possibilidade de contrair doenças através da dádiva de sangue, porque todo o material utilizado na recolha é estéril e descartável – é usado uma única vez -, garantindo assim por completo a saúde de quem, voluntariamente, se dispôs a um gesto benemérito.

O que acontece depois
O sangue proveniente de uma unidade total vai ser posteriormente separado nos seus constituintes: Glóbulos Vermelhos, Plasma e Plaquetas, com o objectivo de uma maior rentabilização e eficácia na terapêutica dos doentes com componentes sanguíneos, de acordo com a deficiência que apresentam. Assim, uma dádiva de sangue pode beneficiar pelo menos três doentes.
O sistema de sacos múltiplos para onde o sangue é colhido permite que todo o processo seja feito em circuito fechado e estéril, garantindo assim a segurança e qualidade máximas na obtenção dos componentes sanguíneos.
O sistema de sacos contém anti-coagulante para que o sangue não coagule e substâncias nutrientes para prolongar a viabilidade dos eritrócitos durante o armazenamento.
Numa primeira centrifugação vão ser separados os eritrócitos e um plasma rico em plaquetas. Numa segunda centrifugação obtêm-se as plaquetas e o plasma.
Cada saco contém o componente que foi separado – Concentrado de Eritrócitos, Concentrado de Plaquetas e Plasma Fresco. Estes componentes têm indicações clínicas específicas.
O Concentrado de Eritrócitos tem indicação para doentes com anemia, o Concentrado de Plaquetas para doentes com deficiência de plaquetas, e o Plasma Fresco para doentes com deficiência de factores da coagulação.
Paralelamente, cada dádiva é submetida a um conjunto de análises laboratoriais que tecnicamente garantem a melhor qualidade do sangue a transfundir, de acordo com o estado da arte em cada momento.
 
Receber o seu próprio sangue
A situação mais frequente é o nosso sangue ser aproveitado para salvar outras vidas. M as há casos em que o sangue que damos é o mesmo que recebemos.
A Transfusão Autóloga ou Autotransfusão consiste num processo de colheita prévia de sangue de um doente que vai ser operado para posterior administração, durante ou após a cirurgia. Neste caso o dador é o próprio doente.
Podem integrar um programa de Transfusão Autóloga doentes com bom estado geral e sem anemia, com valores de hemoglobina igual ou superior a 11g/dl. Os critérios de aceitação são mais flexíveis pois o dador é o próprio doente. O médico de Imunohemoterapia vai avaliar a situação clínica do doente antes de lhe ser colhido o sangue. Não há limite de idade e as crianças também podem entrar num programa de Transfusão Autóloga. As unidades de sangue colhidas vão ser submetidas aos testes analíticos, de acordo com a legislação existente para o sangue homólogo.
Além de permitir poupar sangue aos serviços hospitalares, este processo em que o doente recebe o seu próprio sangue tem inúmeras vantagens, para já não falar nos benefícios especiais para os doentes com grupos sanguíneos raros ou para que têm determinadas crenças religiosas.
Assim, se vai ser operado, e tem um bom estado geral, contacte o seu médico assistente para saber se está em condições de se submeter a um programa de Transfusão Autóloga. É necessário saber a data da intervenção cirúrgica e o número de unidades de sangue previstas para a operação.
As unidades são colhidas com uma semana de intervalo e a última ser colhida 72 horas antes da operação. Os doentes recebem um suplemento de ferro para melhor recuperação durante as colheitas.

As questões essenciais – será que posso dar sangue?
Podem dar sangue todas as pessoas com bom estado de saúde, com hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50kg e idade compreendida entre os 18 e 65 anos. Para uma primeira dádiva o limite de idade é os 60 anos.
Os homens podem dar sangue de 3 em 3 meses (4 vezes/ano), e as mulheres (3 vezes/ano), sem nenhum prejuízo para si próprios. Dar sangue não engorda, não enfraquece e não causa habituação.
De qualquer forma, a dádiva de sangue não deve ser efectuada em jejum. Deve-se tomar uma refeição ligeira sem álcool e sem gorduras, como por exemplo uma sandes e um sumo.

Onde me devo me dirigir?
Os Centros Regionais de Sangue do Instituto Português do Sangue em Lisboa, Porto e Coimbra, por norma os mais utilizados, embora haja outros locais adequados, como por exemplo o Posto Fixo da Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro – ADASCA, localizado no 1º. Piso do Mercado Municipal de Santiago, onde decorrem 6/7 sessões de colheitas de sangue por mês, podendo ser consultadas as datas no site www.adasca.pt

Já há tanta gente a dar sangue. Não devem precisar de mim
Não pense nisso, porque não é verdade. A procura de sangue, componentes e derivados não cessa de aumentar, graças aos progressos da ciência médica e à crescente extensão dos benefícios de uma assistência que se pretende da melhor qualidade, a um número cada vez maior de pessoas. As necessidades terapêuticas dos doentes exigem cada vez mais dadores, isto é, pessoas em boas condições de saúde e com hábitos de vida saudáveis.

Quem não pode dar sangue?
Uma entrevista prévia com o médico permite eliminar todos os doadores de risco. Dura um quarto de hora na primeira vez, cinco a sete minutos para um dador “habitual”. Por uma questão de segurança, as pessoas que acabam de sair de um episódio infeccioso, ou as que estão a seguir um tratamento medicamentoso (anti-inflamatórios, corticóides, hipotensores, etc.) são sempre excluídas.
Em princípio, as pessoas que algumas vezes receberam uma transfusão não podem dar sangue. Elimina-se desta maneira o risco de ver emergir uma contaminação ignorada durante a primeira transfusão. Da mesma maneira, os viajantes que residiram num país atingido pelo paludismo serão temporariamente recusados. A entrevista médica abordará, por último, os hábitos sexuais a fim de determinar se apresentam algum risco.
Todos os anos, um número significativo de doadores é afastado por uma ou outra destas razões.
 
Que testes fazem ao meu sangue?
Cada recolha de sangue – da qual se deve guardar uma amostra pelo menos durante cinco anos – é submetida a testes serológicos que permitem detectar as doenças transmissíveis como a sida, as hepatites B e C, o paludismo ou a sífilis.
Se análise demonstrar que uma amostra de sangue está contaminada, o doador é identificado e advertido de maneira confidencial.

Passados estes testes, já não há risco?
Não. É preciso ainda ter em conta a “janela serológica”, em período que pode durar dias, até mesmo várias semanas, durante o qual a pessoa ignora ter sido contaminada. Por exemplo, decorre um período de mês e meio a três meses antes que um organismo infectado pelo vírus da hepatite C (VHC) produza anticorpos detectáveis no sangue. Mas, na prática, para um resultado seguro, recomenda-se que seja feito um teste três meses após a eventual contaminação. Por isso, é absolutamente indispensável responder com franqueza total às perguntas, por vezes indiscretas, do médico durante a entrevista.

O meu sangue poder ser congelado?
Congelar e armazenar os produtos sanguíneos é muito caro. Actualmente, apenas as pessoas de grupos sanguíneos raros (além dos a, b, 0. Rh) podem “pôr de reserva” o seu sangue na previsão de uma necessidade vital.

NR: Tendo em conta o interesse público do presente artigo tomamos a liberdade de compilar para este espaço.


Fonte: Artigo da revista Farmácia Saúde do nº. 52 de Janeiro de 2001.

Sangue é vida... com poesia

O nosso sangue é muito importante para salvar vidas. Somos saudáveis e devemos agradecer a Deus todos os dias por nossa saúde e por isso devemos compartilhar com nossos irmãos um pouco deste líquido que é vermelho, como a cor do amor.

I

Sangue é vida que se doa,
Numa terna e grata prova;
Do amor de uma pessoa
Que pratica a Boa-Nova...

II
Sangue, viçoso e vermelho,
Fonte de vida que aquece...
Brota do corpo, aparece
Nos vasos do nosso aparelho...
Nome, que a lenda fez velho,
Na falta que alto se entoa...
Bate no peito, apregoa
Dádivas deste alimento...
Vida, é sangue em movimento,
Sangue é vida que se doa...

III
Brinda Bíblias etéreas,
Como nobre sacrifício...
Faz-se sinal do ofício
Correndo pelas artérias...
Soletra as letras mais sérias
No coração, que renova
O plasma, que se comprova,
Como um contrato de amor...
Quando o seu nome é "Dador",
Numa terna e grata prova...

IV
Dá-se um sinal de união,
Nos capilares de quem sente
O corpo sofrido e carente
Dos gestos de compaixão...
Actos, que são o que são,
Na compaixão que ressoa...
Sangue; esperança que voa,
No laço que é transmitido...
Tal como brinde oferecido
Do amor de uma pessoa...

V
Aurícula de paz e de fé...
Primor de quem dá o que tem...
Pratica os caminhos do bem,
Na dádiva de ser o que é...
Sangue de vida e que até,
Serve argumento que trova...
O gesto que alto se louva;
Saber repartir com os seus...
Como um agente de Deus,
Que pratica a Boa-Nova...



António Prates

Fatita Vieira disse...
 
A doação de sangue é muito importante, mas muitas pessoas só se sensibilizam quando precisam, infelizmente.
Meu pai precisou muito de sangue, pois tinha um câncer na medula e eu sei o quanto foi difícil arranjar dadores.

Onde posso fazer a minha dádiva em Aveiro?