domingo, 6 de dezembro de 2015

Ainda há 35,8 milhões de escravizados no mundo



by Mira Online
Os 150 anos da ratificação da abolição da escravatura nos Estados Unidos, em 1865, assinalam-se este domingo, mas segundo uma organização não-governamental atualmente o número de escravos no mundo é de 35,8 milhões.
Os Estados Unidos recordam hoje a ratificação da abolição da escravidão no país, que ocorreu a 06 de dezembro de 1865, num processo que se iniciou em 1863 com a apresentação da 13.ª Emenda Constitucional pelo Presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil norte-americana (1860-1865).
Entretanto, ainda hoje existe escravidão em vários pontos do globo, seja em países em desenvolvimento ou desenvolvidos, de acordo com os dados recolhidos num relatório de novembro de 2014 da organização não-governamental australiana Walk Free Foundation, que aponta para 35,8 milhões de pessoas escravizadas no mundo.
A ONG australiana estimou que em 2013 havia 29 milhões de escravos modernos em todo o mundo, apresentando um Índice Global da Escravatura, enquanto em 2014 esse número subiu para 35,8 milhões, sobretudo pela melhoria na metodologia e recolha de dados e pela apresentação de casos de escravatura até agora escondidos.
De acordo com a ONG, Índia, China, Paquistão, Uzbequistão e Rússia concentram 61% do total de escravos estimados no mundo e o pior país em termos de prevalência da escravatura foi, tanto em 2013 como 2014, a Mauritânia, com quatro por cento da população em situação de escravidão (155.600 pessoas), ocupando a primeira posição do índice da ONG.
Em termos absolutos, a Índia surge em primeiro lugar com 14,3 milhões de vítimas de escravidão (1,141% da população escravizada), segundo o ranking.
A escravatura moderna implica o controlo ou posse de uma pessoa, tirando-lhe a liberdade individual com a intenção de exploração e isso inclui o tráfico de pessoas (para transporte de droga, para posterior exploração sexual, etc..) e o trabalho forçado.
No Índice Global da Escravatura de 2014 da ONG australiana, os Estados Unidos ocupam o 145.º lugar do ranking (0.019% de população escrava) entre os 167 países avaliados.
A Islândia apresenta os melhores resultados, ficando no último lugar da tabela, em 167.º (0,007%).
A região da Ásia/Pacífico apresentou números assustadores em 2014, de acordo com a ONG, dado que quase dois terços da população escravizada estão nesta parte do globo.
Mesmo sendo a região do mundo com o mais baixo índice de escravatura (1,6%), a Europa continua a ter mais de meio milhão de escravos, sendo que a maioria é para exploração laboral e sexual.
Portugal está no 157.º lugar (0.013%) da lista.
O Brasil - que aboliu a escravatura a 13 de maio de 1888, um dos últimos do mundo a terminar com este tipo de exploração -- teve uma avaliação positiva do relatório da Walk Free Foundation (143.º- 0,078%), apresentando melhorias neste campo.
De acordo com os dados recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), há cerca de 21 milhões de vítimas de trabalho forçado no mundo.
Em outubro de 2015, a OIT lançou uma campanha global para combater as formas modernas de escravatura. O projeto "50 for Freedom" (50 pela Liberdade) procura levar pelo menos 50 países a ratificarem, até 2018, o protocolo da OIT sobre trabalho forçado.
Este protocolo foi adotado pelos países-membros da agência da ONU em 2014 e inclui medidas para a prevenção, proteção e indemnização das vítimas, com o principal objetivo de eliminar a escravatura moderna.
Fonte JN
Mira Online | Dezembro 6, 2015 às 3:47 pm | Categorias: Internacionais 

Marco António Costa diz que Governo de Passos Coelho foi vítima de “artimanha” do PS

by Mira Online
O vice-presidente do PSD disse que o Governo de Passos Coelho foi vítima da "artimanha" do PS e que o partido, ao contrário do que outros fizeram na oposição, irá ajudar o país "a resolver os seus problemas".

"Nós fomos tão vítimas como os portugueses de uma artimanha montada nas costas dos portugueses para conquistar o poder não pelo voto, mas por arranjos políticos ou administrativos dentro do parlamento. E isto tem que ficar claro para todos os portugueses que nos depositaram a sua confiança", afirmou Marco António Costa.
O dirigente do PSD falava na Guarda, na sessão de encerramento da segunda edição da Academia do Poder Local realizada pelo PSD e pelos Autarcas Social-Democratas, com 71 participantes de todo o país, com idades entre os 24 e os 65 anos.
Na sua intervenção, disse que o PSD é um partido "responsável" e que se bate por princípios e dentro dos princípios que defende, "o respeito impecável pela democracia" é "fundamental".
Observou que "ficou claro para todos os portugueses" que só não foi possível obter do PS o apoio indispensável para uma maioria parlamentar "porque o PS desde a primeira hora estava com uma reserva mental e tinha montado esta artimanha para chegar ao poder não pelo voto e pela confiança dos portugueses", mas "por arranjo administrativo-político-partidário no Parlamento".
Marco António Costa disse no entanto que "a situação bizarra que sob o ponto de vista político hoje o país vive", não deve impedir o PSD de assumir "integralmente" as responsabilidades na oposição.
"Nós serviremos os portugueses onde tivermos que os servir: no poder ou na oposição. Contrariamente a muitos outros partidos que quando estão na oposição se recusam em colaborar com o país e em ajudar o país a resolver os seus problemas", assegurou.
Segundo o vice-presidente do PSD, para o partido "é claro que este Governo tem um pecado original, que é o pecado de não ter sido escolhido pelos portugueses e de não ter sido explicado aos portugueses no período de campanha eleitoral que este cenário se construiria se houvesse uma maioria de esquerda no somatório de todos os votos dos partidos que estão à nossa esquerda".
Fonte: Lusa
Mira Online | Dezembro 6, 2015 às 6:28 pm | Categorias: Nacionais

Sociedade Hipócrita, quem oculta é certo, quem declara é errado

Cansei dessa vida de regras impostas, de leis e viver numa sociedade hipócrita. Vou viver do meu modo e ser feliz. Anita Haz- Gy Motro
"Vivemos numa sociedade consumista porque a escola educa para os mesmos valores".

Reflectir na escola sobre o consumo responsável

Maria González Reyes tem 28 anos, é professora do ensino secundário e trabalha com o colectivo madrileno? Consume Hasta Morir? (Consome Até Morrer), um grupo que integra a organização não-governamental espanhola de âmbito nacional? Ecologistas en Acción?.
Em parceria com os restantes elementos do grupo, divulga pelas escolas espanholas uma iniciativa já com raízes na América do Norte - nomeadamente no Canadá, onde tudo começou? Mas ainda pouco conhecida na Europa: a contra-publicidade, isto é, a satirização da publicidade como ferramenta educativa para reflectir sobre o consumo responsável.
Nesta entrevista, procuramos saber mais sobre este tema e de que forma pode ser trabalhado na escola. Para uma informação mais completa pode-se consultar o site www.consumehastamorir.com


Que papel joga hoje a publicidade na educação das crianças e dos jovens?
A publicidade constitui actualmente um meio educativo por excelência. Diariamente, entre publicidade televisiva, cartazes nas ruas, anúncios nas rádios ou logótipos nas roupas, visualizamos cerca de três mil impactos publicitários. Isto faz da publicidade uma ferramenta educativa e socializadora indiscutível, cuja linguagem extremamente eficaz, baseada em imagem e texto, nos impele a comprar os mais variados produtos e a formar a actual sociedade de consumo que hoje caracteriza o modelo de desenvolvimento neoliberal.

Qual é o segredo por trás dessa estratégia?
A publicidade funciona como uma espécie de metáfora a que chamamos espelho publicitário?, isto é, como uma mensagem na qual nos vemos reflectidos, onde há sempre algo ou alguém com quem nos identificamos. Desta forma, tendemos a pensar que há sempre alguma coisa que ainda não temos e que nos faz falta.


Um universo onde as crianças e os jovens serão provavelmente mais influenciáveis do que os adultos?
A publicidade toca a todos de maneira diferente, já que há estratégias para todo o tipo de públicos. Quando nos perguntam nas escolas qual o tipo de publicidade que consideramos mais perigosa, costumamos dizer que é, sobretudo, aquela que nos agrada. Os adolescentes têm perfeita consciência da influência da publicidade nos seus gostos pessoais, mas assumem que as coisas funcionam assim e que não há volta a dar-lhe. As crianças, porém, já não têm essa capacidade.

Concorda com a ideia de que hoje em dia a publicidade já não vende tanto os produtos mas sobretudo marcas e modos de vida?
Sim, e isso acontece sobretudo desde os anos 80, altura em que se passou a distinguir a venda de produtos da criação e do consumo de marcas. Desde essa altura que a estratégia publicitária tem caminhado no sentido de nos sentirmos sentimentalmente identificados com um produto associado a um conceito.
Um anúncio da Coca-Cola, por exemplo, já não se limita a vender o produto mas antes de mais um sentimento positivo e uma atitude em relação à vida, ou seja, cria um sentimento e uma identidade de pertença.
É através desta estratégia que as crianças e os jovens se sentem desde pequenos identificados com a ideia de uma marca, mantendo-se, em princípio, fiéis a ela ao longo da vida.

Partindo da sua experiência como professora, de que forma considera que a escola encara esta questão?
Eu creio que hoje em dia vivemos numa sociedade consumista porque a escola educa para os mesmos valores que se difundem no exterior dela. Por vezes afirma-se que a escola já não tem a mesma função educadora de outrora porque existem meios complementares como a televisão, os meios de comunicação social, a família, que assumem tanto ou mais importância do que a própria escola. Pessoalmente discordo dessa ideia, porque essa é a forma mais fácil de se legitimar o actual sistema socioeconómico.
Se os professores tivessem uma formação inicial de carácter mais crítico, que permitisse não apenas transmitir conhecimentos mas educar para o pensamento, estou convencida de que a sociedade poderia evoluir de forma diferente.


Como pode a escola educar para a contra-publicidade?
A publicidade é basicamente uma mensagem unidireccional à qual não temos oportunidade de responder. Se algum anúncio ofende a minha condição de mulher ou de professora, por exemplo, eu não tenho qualquer hipótese de contestá-la.
A contra-publicidade é uma forma de podermos questionar as mensagens que nos são transmitidas através dos mais diversos meios, e é esse tipo de trabalho que o nosso colectivo tem vindo a trabalhar.
Para isso recorremos exactamente o mesmo tipo de estratégia utilizada na publicidade, desmontando o seu conteúdo e fazendo os alunos reflectir sobre ele.

Como é realizado esse trabalho na sala de aula?
Em primeiro lugar analisamos os anúncios juntamente com os alunos, procurando saber que tipo de mensagem nos estão a procurar passar. Habitualmente procuramos publicidade cujo conteúdo possa ser percepcionado como manipulador ou que veicule uma mensagem sexista ou classista. Desta forma conseguimos que a publicidade seja vista de uma perspectiva crítica e não passiva, como nos habituamos a vê-la diariamente.
É muito importante não iniciar esta primeira fase do trabalho com marcas conhecidas, que eventualmente lhes possam estar próximas, porque dessa forma é muito provável que os alunos não queiram ouvir. A melhor forma de iniciar esta abordagem é através de publicidade com menor impacto, que funcione apenas como meio para que os alunos se apercebam dos seus mecanismos de produção e possam desmontá-lo de forma a abordar os aspectos que os influenciam directamente no consumo.
Uma vez analisados os anúncios, os alunos são convidados a realizar contra-anúncios, ou seja, a procurar um determinado elemento ou característica que considerem criticável e a reinventá-lo de forma a satirizar uma determinada mensagem.

Que meios utilizam para fazer este trabalho?
A forma mais acessível de chegar às escolas é utilizar recortes de anúncios retirados de jornais ou de revistas e trabalhar a partir deles. É também possível fazê-lo através de anúncios de rádio, utilizando exactamente o mesmo método, mas recorrendo à linguagem sonora e auditiva, o que também resulta bem. Outra possibilidade é o vídeo, mas raramente recorremos a ele porque consideramos que neste tipo de iniciativa devem ser utilizadas ferramentas de trabalho que cheguem ao maior número possível de pessoas.


A técnica que privilegiam não limitará esta actividade à disciplina de educação visual? 
Não, pelo contrário. Este tipo de trabalho pode ser feito no âmbito de qualquer disciplina. É uma boa forma não só de abordar a educação crítica para o consumo, mas também de aumentar a motivação para os conteúdos das diferentes disciplinas. Pela minha experiência, esta actividade constitui igualmente uma excelente maneira de incluir todo o tipo de alunos, desde os habitualmente participativos aos mais desinteressados.

Como reagem eles a esta proposta?
Este tema funciona muito bem com os adolescentes porque a publicidade cativa-os de uma forma particular. Como nesta idade já não gostam que os enganem ou que lhes contem? Histórias? Quando se dão conta das subtilezas que estão por trás da publicidade passam a encará-la de um modo diferente. Além disso, atraio-os a oportunidade de conhecer as técnicas que se utiliza na sua realização e de a refazer na sua própria perspectiva.

E os professores? Qual é habitualmente a sua receptividade?
Os professores têm, geralmente, uma atitude diferente, porque esta é uma forma de eles próprios questionarem o seu modelo individual de vida, faltando-lhes por vezes uma posição crítica. Muitos deles desenvolvem um trabalho extraordinário, reinventando diariamente a sua profissão, mas falta ainda que reflictam um pouco mais sobre o consumo responsável e a possibilidade de outro modelo de sociedade.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa.

Postado por Sergio Levy - Jornalista 

Somos uma sociedade primata e hipócrita

Afonso Matos Martins
Cansei
Estou cansada
Cansada dessa vida
Desse mundo cheio de hipocrisia
Dessa sociedade padrão
De tudo que me faz sofrer
E machucar meu coração
Cansei de não ser ouvida
De tanto reprimir meus sentimentos
Pra não machucar quem amo
Cansada de ser tachada de grossa
Por falar o que merece ser ouvido
Queria gritar
Tirar de mim todo esse ódio
Essa raiva que tomou conta de mim
Gritar não adianta, mais me acalma!
Preciso de serenidade
Aqui dentro de mim
Eu não sou assim
Queria um escape
Algo que me fizesse sentir...
Mais será utopia o amor dentro de mim?

Érikinha Mariah


A Hipocrisia tornou-se uma in-virtude necessária, senão como conviveríamos em sociedade! Cristiane de Oliveira.

Pensamentos voam sem rumo, uma imaginação surreal distorcida por essa sociedade hipócrita, e já não se sabe, onde e quando, termina ou começa, a vida real, se é que existe. Thiago C. Barbosa


Uma hora eu canso dessa porra de sociedade hipócrita, alienada, com leis e padrões sem sentido, desse consumismo, de modinhas que não deixam saudades, largo tudo e pego a estrada, curtindo um bom som, bandas com algo a dizer que cantam a realidade e feitos de vida... Bruno Faccin Preischardt

Postado por J. Carlos

Os desafios da educação na sociedade do conhecimento


Convivemos com um tremendo paradoxo: não vivemos mais na sociedade para a qual continuamos a ser educados para viver. Nossa educação nos prepara para a sociedade industrial, mas já estamos num mundo onde o conhecimento se transformou no principal factor para se criar valor.

Nem sempre foi assim. Houve uma época onde terra era o principal factor de produção. Nesta sociedade agrícola, os grupos mais poderosos eram os donos de terra, os senhores feudais. No caso brasileiro, os “barões do café” e os senhores de engenho. Num determinado momento da história, esse mundo ruiu. A chamada Revolução Industrial, no fim do século XVIII/início do século passado, veio para transformar completamente o ambiente económico e social, abalar crenças, rever valores. O poder mudou de mãos, a maneira de ver o mundo mudou. Quando o Brasil foi descoberto (em plena era agrícola), se acreditava que a Terra era o centro do universo. O modo de produção era artesanal. Um artesão controlava todo o processo produtivo, desde a escolha da madeira mais adequada, passando pela feitura de uma mesa (por exemplo), até sua comercialização.

A Revolução Industrial inaugura a chamada modernidade e simboliza uma mudança de paradigma. O homem e a racionalidade passam a ocupar o centro do pensamento dito científico, e assistimos a emergência e hegemonia do paradigma cartesiano. A Revolução Francesa é um dos símbolos da passagem da França agrária, feudal e aristocrática para a França industrial, burguesa e capitalista. Aqueles que foram queimados como herege, por dizerem que o sol estava no centro do universo, foram resgatados. Os artesãos praticamente desapareceram, substituídos por fábricas automatizadas, que conseguiam fazer muito mais mesas, em menos tempo e a um custo muito menor.

Vivemos hoje outra revolução, da mesma magnitude e importância. É um processo de transição de um mundo tipicamente industrial onde terra, capital, trabalho, energia e matéria-prima eram os cinco factores de produção chave no processo de criação de riqueza, para um mundo onde o conhecimento se transformou no principal factor de produção de valor. Em 2000, mais da metade da riqueza do mundo, segundo a Organização para Cooperação em Desenvolvimento Económico (OCDE), veio do conhecimento. Em 2006, 55% das exportações americanas foram de bens intangíveis. Um bem intangível é um bem que eu não consigo segurar na mão (não tem átomos): software, produtos da indústria cultural (filme, música, programa de TV, informação), biotecnologia, patentes, pagamentos de royalties... Ou seja, mais da metade da riqueza que circulou no mundo não utilizou nenhum meio de transporte tradicional (caminhão, avião ou navio) e, portanto, não teve sua entrada no Brasil em nenhum posto controlado pela Polícia Federal!

E nossa educação? Nossa educação continua a mesma! Continuamos a despejar toneladas de conteúdo nas cabeças de nossas crianças de uma forma fragmentada e cartesiana. Todo o esforço está na aquisição de informações. O pressuposto é de que quanto mais informações o aluno tiver, maiores serão suas chances na vida. Quase nenhum esforço de criatividade e reflexão é exigido. Apenas decorar e repetir.

Exactamente como o mundo industrial exigia. Para Ford, um dos grandes “inventores” do modo de produção industrial, “o bom operário devia deixar seu cérebro em casa”. De fcto, diante da esteira da linha de montagem onde o funcionário exerce seu trabalho de forma repetitiva e rotineira, qualquer desvio de atenção (para pensar nos filhos ou na vida), vai fazer com que ele deixe de aparafusar uma peça e provocar a parada da produção.

Nossa escola (que nos moldes actuais tem mais de 100 anos) foi estruturada para produzir mão de obra, pessoas capazes de usar suas mãos, mas sem sentimentos, sem cérebro, sem cultura.

“Não vivemos uma era de mudanças. Vivemos uma mudança de era!” (Chris Andersen)

Mas toda mudança de paradigma significa uma revolução no modo de produzir, de pensar, de viver. Aceitar a ideia de que vivemos em uma nova sociedade, na sociedade do conhecimento, implica em repensarmos nossa educação. E para conseguir fazer esta transformação, o primeiro passo é mudar nossa maneira de ver e estar no mundo. Precisamos abandonar esta concepção cartesiana e compartimentada de lidar com a realidade. Ela já não nos serve mais. Os problemas se tornaram mais holísticos, sistémicos. Dificilmente um especialista consegue dar conta desta complexidade. A divisão do trabalho entre os que pensam e os que fazem está com seus dias contados.

Nesta nova era, criatividade e inovação são exigências do mundo da produção. Se antes a competição era a mola propulsora do desenvolvimento, hoje a colaboração assume papel preponderante. Se as empresas continuarem a ter um ambiente de trabalho competitivo e intolerante ao erro, estarão cada vez menos preparadas para sobreviver. De cada 100 ideias novas, menos de três viram produtos e serviços. O que significa dizer que 97 deram “errado”! Mas para termos estas três boas ideias, precisamos experimentar, errar, tentar de novo... O erro faz parte do processo de aprendizagem organizacional. Mas nossas empresas não estão preparadas para isto. Continuam querendo manter seus modelos arcaicos, “científicos”.

Nossa educação precisa estimular a criatividade e a reflexão. No século (e milénio) passado, íamos à escola para receber informação. Sentávamos em nossas carteiras, uns atrás dos outros, abríamos os cadernos e copiávamos o que o professor escrevia no quadro-negro (ou verde)... Depois íamos para casa decorar todas aquelas informações. A escola e o professor eram os donos da verdade, aqueles que nos traziam as informações (mas não o conhecimento!).

Hoje, qualquer das coisas que aprendíamos na escola há 30 anos atrás está na internet, de uma forma muito mais rica e interessante (com imagens, vídeos e links). Qual deveria ser o papel da escola HOJE? E do professor? Não mais os meros provedores da informação, mas os instigadores da reflexão e da produção de conhecimento! Uma “aula” deveria se transformar num espaço de discussão sobre as informações pesquisadas pelos alunos em fontes escolhidas por eles! Se alguém trouxer uma informação incorrecta, irão aprender que nem toda fonte de informação é confiável. Estarão exercendo, na prática, o espírito crítico! E muitos podem trazer informações que o próprio professor desconhece, tornando muito mais rica, interessante e informativa a aula!

A mudança na educação é urgente! O tempo joga contra nós. Parafraseando um economista, diria que a educação é um assunto sério demais para ficar nas mãos apenas dos educadores! A sociedade precisa chamar para si este debate sobre que tipo de educação precisamos para a sociedade do conhecimento.


*Marcos Cavalcanti é doutor em Informática pela Université de Paris XI, professor e coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial da COPPE/UFRJ.

COMPREENDER O MUNDO EM QUE VIVEMOS EM QUE VIVEMOS

Para entendermos a sociedade em que vivemos temos que traçar um caminho correto para não cairmos em armadilhas. Primeiramente, temos que nos afastar do senso comum, não podemos balizar nossa análise a partir do que vemos, do que achamos, do que parece ser.
É preciso que nos lancemos à uma imersão nos conceitos fundamentais que organizam a sociedade e, partir da compreensão e desenvolvimento destes conceitos, ousemos fazer uma análise da conjuntura, ou seja, analisar o universo que estamos inseridos.
Como fazer uma análise de conjuntura? Factores a serem analisados:
1) Factores económicos:
Sem entendermos como é organizada a economia no nosso país e no mundo (tendo em vista que nos dias de hoje elas estão directamente relacionadas) não podemos compreender o mundo em que vivemos.
O primeiro passo é saber qual é o modo de produção que move nossa sociedade, para que então possamos entender a forma que isto se relaciona com a política, com nossa vida cotidiana e como perpassa todas as nossas relações sociais.
Vivemos no modo de produção capitalista, hoje reinando absoluto no mundo todo. Se dizem haver diferenças entre um e outro país é porque dentro do capitalismo existem papéis diferentes para países diferentes.
No capitalismo globalizado imperialista existe uma estrutura de poder estabelecida onde a potência imperialista impõe sua política económica (e com ela a política social, ambiental e etc.) para todo o resto do mundo.
Para resumir: o capitalismo, modo de produção na qual uma pequena elite detém os meios de produção e uma grande massa vende sua força de trabalho para sobreviver. Sua base de funcionamento é a exploração, esta filosofia estende-se à relação entre pessoas, empresas, países, etc.
2) Factores Políticos:
Os factores políticos estão directamente relacionados aos factores económicos. Como diria o importante teórico económico e cientista político Karl Marx, o Estado é o comité de negócios da burguesia. Ou seja, em um sistema capitalista o Estado existe para defender os interesses dos empresários e manter a população trabalhadora controlada através de pequenas concessões e benesses.
O problema não está na forma que o povo vota, nos políticos que aí estão, tudo isso faz parte do funcionamento do sistema tanto nacional como internacionalmente, obedecendo critérios estabelecidos por aqueles que lideram o capitalismo internacionalmente, do qual somos somente subsidiários.
3) Factores sociais:
Factores sociais são o produto das operações realizadas pelos factores económicos e políticos. Se há fome e pobreza não é sem motivo e nem por falta de vontade das pessoas em fazerem diferente. Desde sua origem o sistema capitalista prevê que haja sempre uma massa de desempregados que serve como forma de pressão permanente para aqueles que estão empregados aceitarem condições inferiores de trabalhos com o medo de perderem seus empregos.
Ainda previa-se que outra multidão de pessoas permaneceria literalmente à margem da sociedade, não fazendo parte da engrenagem de funcionamento, jogado abaixo da linha da miséria e ignorados porque não fazendo parte do sistema produtivo e então pouco importam.
A partir da análise destes elementos fundantes é possível começarmos a desenvolver uma análise de conjuntura e estudar melhor o funcionamento real de nossa sociedade, tendo em vista que eles nos levarão à outras questões e assim sucessivamente.
Quanto mais perguntas você estiver mais perto estará da verdade, para além das aparências, para além do senso comum e mais forte para poder compreender e, quem sabe, compreendendo, lutar para mudar as coisas como elas são, mas sabendo que elas podem ser diferentes.


Autoria: Bruna Barlach

UMA SOCIEDADE IMORAL

Depois de ter falado da necessidade de um diálogo sério entre todos para construirmos uma sociedade mais justa, passo a uma outra exigência: a da conversão ou mudança do estilo de vida. Eu sei que “imoral” é mais uma das palavras desvalorizadas. E penso que a Igreja católica tem alguma ou até muita responsabilidade: ao reduzir a moralidade apenas, ou quase, à esfera sexual, fez esquecer e não ensinou que se trata de um polvo que infecta todas as áreas da vida e envenena as relações sociais. Exceptuando o sexto e nono mandamentos (já será o Sermão da Montanha o miolo da nossa catequese?), e o quinto, por outras razões, o resto eram pecadilhos quase banais: roubar ou mentir, que importância tinha? E, contudo, o roubo instalou-se nas relações laborais, degradando pessoas, famílias e empresas, e nas fiscais, levando à fuga aos impostos, como se tal fuga fosse o acto mais banal numa sociedade humanamente organizada.

Por isso, quando olho para a nossa vida social hoje, lembro logo as palavras de João Paulo II, escritas num documento, que poucos conhecem (RP 16), e citadas noutro (SRS 36) que muitos (muitos, mesmo!?) terão lido. Quanto à forma, recorda-me o “velho” Estatuário do P.e António Vieira, que decorei nos tempos de menino para aprender como usar de modo adequado os verbos gramaticais para descrever um determinado gesto. Na citação do papa, os verbos também são adequados, dolorosamente adequados, para descrever as inúmeras formas de praticar ou alimentar a imoralidade numa sociedade.

Começa por desmontar a ideia de que a culpa é das estruturas. É certo que há estruturas de pecado, mas foram criadas pelas pessoas. É certo que essas estruturas podem aparentemente autonomizar-se e controlar as pessoas. Mas isso não nos desculpabiliza: “A Igreja, quando fala de situações de pecado ou denuncia como pecados sociais certas situações ou certos comportamentos colectivos ou de grupos sociais, mais ou menos vastos, ou até mesmo de nações inteiras e blocos de nações, sabe e proclama que tais casos de pecado social são o fruto, a acumulação e a concentração de muitos pecados pessoais.”

Depois vem a enumeração desses “pecados pessoais” e é quase impossível que nenhum deles não nos encaixe na perfeição. Vou “partir” a citação em várias partes.

Primeira: “Trata-se dos pecados pessoalíssimos de quem gere ou favorece a iniquidade ou dela desfruta”. Portanto, não basta ser autor material da “iniquidade”, também somos responsáveis quando a favorecemos, por acção ou omissão (“tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica a guardá-la”) e, ainda pior, dela nos servimos: “desfrutar” do trabalho sujo dos outros, sem precisar de sujar as mãos, é muito mais limpo, deixa a consciência tranquila porque nada fizemos de mal; apenas aproveitámos “sabiamente” a ocasião que vida nos ofereceu.

Segunda: “(Trata-se) de quem, podendo fazer alguma coisa para evitar, eliminar ou, pelo menos, limitar certos males sociais, deixa de o fazer por preguiça, por medo e temerosa conivência, por cumplicidade disfarçada ou por indiferença”. Realmente há muita coisa que podemos fazer, mas não fazemos, para evitar, impedir que o processo se inicie, eliminar, cortar o mal pela raiz, ou, não sendo possível, pelo menos limitar desvios e disfunções sociais, seja como cidadãos comprometidos seja como governantes responsáveis. Mas a acusação tem uma segunda parte terrível: por que acontece toda esta “maldade”? Por muitas razões: preguiça, pois não estou para me incomodar e tenho mais que fazer; medo, que tolhe tanta gente e tanta reacção (posso perder o emprego, não subir na carreira, não garantir o tacho político, …); temerosa conivência, que tem muito a ver com o comodismo, com o estar a bem “com Deus e com o diabo”, mas também com o medo de perder alguma migalha que caia da mesa do poder; cumplicidade disfarçada, fazendo de conta que não notamos o que está a acontecer mas sempre atentos para não perder a oportunidade; indiferença, esta é o “pão nosso de cada dia”, pois “o problema não é meu” (de quem será?) ou “quem vem atrás que feche a porta”.

Terceira: “(Trata-se) de quem procura escusas na pretensa impossibilidade de mudar o mundo”. Esta desculpa é talvez a mais repetida e de modo consciente: afinal que posso eu fazer para alterar esta situação? Quem sou eu para mudar o mundo? Irrita-me este paleio alienante. A pergunta está mal feita. Devia ser: “o que podemos nós, nós todos, fazer para mudar o mundo?”. E depois, realmente ninguém muda nada no mundo, se não começar por se mudar a si próprio: nos seus vícios de estimação, nos seus comodismos, no seu estilo de vida. Isto é, nenhuma sociedade pode mudar se as pessoas não mudarem.

Quarta: “E (trata-se), ainda, de quem pretende esquivar-se ao cansaço e ao sacrifício, aduzindo razões especiosas de ordem superior”. Esta desculpa é mais subtil, pois apela ao meu cansaço (mas se tiver de andar cem quilómetros por semana para tirar um curso que me garanta maior salário, o cansaço desaparece, não!?) e ao meu sacrifício, que é tão doloroso e… para quê? Para ficar tudo igual? Isso é para malucos, não para mim que tenho a vida organizadinha!

Repare-se na quantidade de ditados populares que citei e muitos mais poderia ter referido. Ora quando certas atitudes chegam ao patamar dos provérbios é porque já foram interiorizadas pelas pessoas, já se tornaram banalidades em que ninguém repara, já fazem parte do ambiente e, por isso, nem damos conta da sua gravidade e injustiça. Afinal fazem parte da prata da casa.


Escrito por zé dias 

Para que estudar a sociedade?

A sociedade é uma complexa teia de relações que se estabelecem entre os seres humanos. São relações de ordem política, económica, cultural, afectiva, educacional, religiosa, dentre outras tantas. Em cada momento histórico os seres humanos inventam e reinventam fios que irão sendo tecidos de acordo com as suas necessidades, tanto materiais quanto subjectivas, isto é, seus valores e crenças, transformando as coisas do mundo.
Este ambiente onde os seres humanos constroem suas teias de relações sociais – a sociedade – é de fato o lugar no qual são ensinados e aprendidos os valores necessários à vida em sociedade. A este processo intenso e permanente chamamos de Processo de Socialização. Os valores, as crenças, os hábitos e os costumes são transmitidos por pais e mães e por toda a comunidade onde vivemos. Tudo isso irá construir ideias e valores que temos sobre o mundo.


Fonte: Sociologia - Jornal Mundo Jovem e Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS – ano 1, número 

O mundo em que vivemos

O que estamos vendo em torno de nós? As manchetes dos jornais assustam. Embaixadas são incendiadas, terroristas agem em toda parte, tropas se confrontam em muitas terras, a economia se descontrola, circunstâncias imprevisíveis levam empresas sólidas à falência, sistemas e valores entram em colapso, instituições tradicionais como a Igreja e a Família são violentamente abaladas, teóricos pregam o fim da História. Não faltam as vozes pessimistas que apregoam o abismo, o caos, o fim do mundo.

Não podemos desconsiderar os perigos reais que nos cercam: desastres nucleares, o buraco na camada de ozónio, a quebra da cadeia biológica pela extinção de muitas espécies. Se a velocidade da destruição da natureza não se inverter, é possível que se atinja um ponto de ameaça à sobrevivência do homem na Terra. Ao lado dos problemas descritos, contudo, surgem evidências da emersão de novos potenciais bem no meio da destruição e da decadência: a descoberta de fontes alternativas de energia menos danosa ao meio ambiente; o estabelecimento de novas relações geopolíticas; a expansão dos meios de comunicação; a instalação de novos métodos de manufactura, com máquinas realizando o trabalho mecânico e alienante; a estruturação de novas formas de relacionamento familiar, novas ideias, novas classificações, novos conceitos. Os velhos modos de pensar, as fórmulas antigas e antigas ideologias, por mais úteis que tenham sido às sociedades do passado, não mais se adaptam aos factos actuam.

Se olharmos o momento em que vivemos sob a óptica da revelação espírita, teremos motivos para desafiar o pessimismo que prevalece actualmente e concluiremos que o desespero e a desesperança são atitudes injustificadas. Segundo os Espíritos, são inúmeros os mundos habitados no Universo e podemos distribuí-los nas seguintes classificações: primitivos, de expiação e provas, de regeneração, ditosos, celestes ou divinos.¹

A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, mas deverá, no próximo milénio, passar para a classe dos mundos de regeneração. A vida nestes últimos não é acentuadamente diferente da que conhecemos, uma vez que os habitantes deles estão ainda sujeitos às leis que regem a matéria e experimentam como nós sensações e desejos, o que impede a vivência da perfeita felicidade. Mas, entre eles, o egoísmo e o orgulho não têm a predominância que observamos aqui e isso gera equidade nas relações sociais e, consequentemente, uma vida mais amena e tranquila.

A transição de uma categoria de mundo para a outra não se processa sem abalos. Há um momento em que o antigo e o novo se confrontam, estabelecendo a desordem e uma aparência de caos. Estamos vivendo esse momento e precisamos saber o que faz parte do antigo e o que constitui o novo, para podermos colaborar decisivamente na construção da realidade nova com que sonhamos. Para ter esse discernimento, precisamos de muita atenção e cuidadosa observação, já que muitas coisas apresentadas como inovadoras podem ser disfarces de um passado que se recusa a ceder lugar ao que é verdadeiramente renovador.

A sociedade do mundo de regeneração já está, pois, emergindo em nossas vidas. Ela traz consigo novos estilos de família, novos modos de trabalhar, de amar e de viver, uma nova economia; novos conflitos políticos; uma consciência renovada. Muitas pessoas já conseguem assimilar o novo ritmo enquanto que outras, temerosas diante do desconhecido, agarram-se ao passado e tentam reestruturar modelos antigos.

Como espíritas, somos chamados a contribuir para a construção dessa nova sociedade. Aceitar ou não o chamamento depende exclusivamente de nós, da consciência que tenhamos do momento que estamos vivendo e da importância da nossa contribuição, como também da quantidade de energia que estejamos dispostos a investir no trabalho necessário.

É preciso começar pela percepção de que toda sociedade tem regras e princípios que permeiam suas actividades. Se essas regras e princípios se apoiarem no respeito às leis divinas, a sociedade tenderá a corresponder aos anseios naturais do homem, resultando em uma estrutura que propiciará o crescimento de todos. Caso contrário, ao desrespeitar as leis naturais, as instituições sociais passam a reprimir o homem, criam privilégios e excepções, geram a violência e inibem o verdadeiro progresso. Cabe-nos, quando nos dispomos ao trabalho de contribuir para a construção de uma nova sociedade, buscar o conhecimento das leis naturais e reflectir sobre a sociedade em que vivemos, sobre a nossa posição nessa sociedade e sobre a acção que precisamos empreender.

Além disso, precisamos estar cientes de que o conjunto formado pela sociedade gera limites à actuação individual. Como ensinou John Lock:

"E, assim, cada indivíduo, ao consentir com os outros em formar um corpo político com um governo, coloca-se a si próprio sob a obrigação em relação a todos os outros membros dessa sociedade de se submeter à determinação da maioria e de aceitar suas decisões. Caso contrário, esse pacto original, pelo qual ele e os outros formam uma sociedade, não significaria nada, e não seria um pacto se ele permanecesse tão livre e tão sem obrigações quanto quando se encontrava no estado de Natureza

Respeitar o pacto que está em vigor, agindo para que o esclarecimento traga ao conjunto a possibilidade de novas determinações e, por conseguinte, de estabelecimento de alterações à vida do conjunto, eis o que se pode propor.

Fica claro então que o projecto de uma organização social que respeite as leis naturais deve realizar-se primeiramente pela educação dos indivíduos que compõem essa colectividade. Kardec aponta esse fato quando, ao analisar as aristocracias, afirma que o progresso pode determinar a redução considerável do comportamento vicioso, fazendo com que ele seja uma excepção, à medida que cada homem se eduque.³ Em vários pontos dos ensinos espíritas, percebemos esse cuidado em destacar o carácter individualizante da proposta educadora da Doutrina. Não há, pois, a intenção de se criar um movimento à semelhança dos sistemas religiosos, que já se estabeleceram na Terra com base no Cristianismo, que actuavam pela criação de um padrão de comportamento e imposição dogmática desse padrão aos adeptos, forçando-os a uma atitude de religiosidade apenas aparente, que não resistia à pressão dos impulsos ainda existentes na intimidade dessas criaturas. A História mostra que a hipocrisia institucionalizada foi o resultado dessa acção.

A acção espírita será a de difusão do conhecimento, para que o desenvolvimento de uma nova forma de entender a vida possa criar uma nova maneira de estar no mundo. O progresso do conjunto resultará do crescimento de cada um. "(...)a vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da actualidade."4

Se queremos actuar verdadeiramente, auxiliando o advento do Mundo de Regeneração, trabalhemos pela divulgação das ideias espíritas, corrigindo as distorções no rumo do movimento que abraçamos, a fim de que os condicionamentos adquiridos em outros arraiais religiosos não venham a contaminar nossa acção, pela intromissão de atitudes dogmáticas e intolerantes. Não nos cabe julgar o companheiro que está ao nosso lado, nem limitar as suas possibilidades de escolha livre dos seus caminhos, mas sim ajudá-lo a encontrar, na luz do esclarecimento espírita, as razões das suas mazelas de hoje, a fim de que possa construir sua própria felicidade futura. Ao mesmo tempo, cabe-nos desafiar o pensamento pessimista desta época, mantendo o coração cheio de esperança e fé e a mente aberta para o aprendizado novo. Isso significa que precisamos educar-nos pelo esforço do auto-conhecimento e pelo desenvolvimento de um projecto consistente de reformulação interior. Tudo isso irá reflectir-se beneficamente no conjunto em que estamos inseridos, melhorando as relações dentro da família e da colectividade. Reconheçamos com Emmanuel que "(...) ninguém é tão indigente que não possa concorrer para o progresso comum e tomemos com firmeza o lugar que nos compete no edifício da harmonia geral, distribuindo fragmentos de nós mesmos, no culto da fraternidade bem vivida".

Dalva Silva Souza

1. KARDEC, Allan. “O Evangelho segundo o Espiritismo”. 112ª ed. Rio de Janeiro: FEB, cap. III.
2. REZENDE, António. “Curso de Filosofia”. 6ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda 1986, cap.6.
3. KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 26ª ed. Rio de Janeiro, FEB. 1978. As Aristocracias.

4. Idem, ibidem.

Para que estudar a sociedade?

A sociedade humana é formada de pessoas que têm necessidade umas das outras para continuar a espécie, buscar seus objectivos e realizar sonhos. Sem as comunidades o homem não se organizaria e não sobreviveria. É o outro que ajuda na busca por alimento e abrigo. Seja da forma mais simples, quando o pequeno agricultor planta e colhe. Seja através do que constrói, do que cuida de doenças, do que educa. 
Enfim, uma imensa corrente permite que o ser humano nasça, cresça, viva. O mundo moderno exige cada vez mais que essa ajuda seja diária, porém ela é imperceptível para muitos. 
Seres humanos têm necessidades materiais e espirituais. Cada um precisa de afecto, atenção, carinho, respeito. Todos têm uma fé e esperança que o ajudam no dia-a-dia. Com isso adquirem forças, muitas vezes, até sobrenaturais. E conseguem transpor montanhas. Viver em sociedade é uma necessidade vital para o ser humano. 
Uma pessoa rica que se isola em uma ilha, porque lá tem alimentos suficientes para seu sustento, não estará bem. Ela sentirá falta de alguém para lhe fazer companhia. Será triste e sozinha, necessitará de alguém. Ninguém é uma ilha. Precisamos, porém, de uma sociedade organizada, para que todos vivam satisfatoriamente.
 Uma sociedade justa, onde todas as pessoas possam ter oportunidades e aproveitá-las. Benefícios e encargos distribuídos. Direitos respeitados e deveres assumidos. Responsabilidades e limites, na medida certa. Tenhamos sempre a esperança que estamos aprendendo a viver em sociedade. Afinal, cumprimos o nosso papel a cada amanhecer!? Assim caminha a humanidade...


VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE EM CRISE MORAL

Dias atrás fiquei observando um rapaz de moto, em uma das passeatas de Rodolfo Fernandes, rodando várias vezes na areia próxima ao Bar do Gavião. A poeira voava alto. Não teve ninguém que estivesse por perto que não tenha respirado areia naquele momento.
Fiquei pensando o que passa na cabeça de um jovem como este. Sei que jovem é jovem. Momento da vida em que tudo é muito intenso: os sentimentos, as acções, as vibrações, as emoções, as paixões. Mas uma atitude desse nível não me parece ser justificada apenas pela idade e inexperiência de vida.
Aquele acto me deu a certeza de que muitos de nossos jovens não estão tendo a formação necessária para conviver em sociedade, fruto de uma difícil realidade pela qual estamos passando, com grave crise familiar, ética e social.
Na família, hoje, a coisa mais comum é o desrespeito entre as pessoas. A falta de diálogo e compreensão resultando na agressividade constante entre esposa e esposo, pais e filhos, irmãos e irmãos. Dificuldades que quase sempre tem como raiz a falta de recursos financeiros que possam cobrir os desejos mais diversos de todos os seus membros. 
Na ética, somos obrigados a conviver com muito mais informações que nos trazem os belos exemplos de nossas autoridades roubando, se corrompendo, defendendo que o dinheiro deve estar acima dos princípios. E ainda muitas das pessoas que deveriam ser nossos guias e líderes, se acomodando em suas actividades, além de criticarem os que procuram lutar para construir algo bom. Exemplos negativos que são absolvidos por todos nós, como se fossem naturais.
Na sociedade, a olhos nus, afloram a vaidade, o orgulho, o desprezo pelo próximo, a individualidade, o mal caratismo, todos esses e muito outros, alimentados pelo desejo de consumo, as drogas e o materialismo.
Para onde vamos não sei. Sei que onde estamos reflecte, cada dia mais, uma sociedade sem horizonte, esperança e fé em Deus.
Talvez este quadro justifique actos como o da moto levantando poeira e outros que prefiro nem comentar, mas que somos forçados a ter que conviver em nosso dia a dia.
Torço para que a luz do Senhor possa clarear as mentes e os corações de nosso povo, enquanto ainda é tempo.


por Sergio Levy - Jornalista 

ESSÊNCIA DA VIRTUDE



A virtude é outra propriedade dos actos honestos, assim que que se repetem e deixam no sujeito uma impressão que facilita a boa conduta.

No entanto, não todos apreciam a virtude como um valor moral positivo. Apesar de que a mesma palavra está significando força, energia, virilidade, frequentemente se fizeram caricaturas das diferentes virtudes, as considerando no mesmo nível da gazmoñería, da mojigatería, da timidez ou até da hipocrisia.

Por isso é necessário definir com maior precisão a essência da virtude, clarificar os mal entendidos e descrever as principais virtudes concretas que o homem de fato possui.

DEFINIÇÃO DA VIRTUDE:

a) A virtude é uma qualidade. Em primeiro lugar, não devem ser confundido a virtude e o ato honesto. Uma pessoa pode realizar actos honestos sem ter virtude. Esta é uma qualidade que inclina e facilita a realização de ditos actos.

b) Qualidade adquirida. Este dado é de muita importância. Não há virtudes inatas. Todas devem ser adquirido a base de esforço e repetição. Verdadeiro é que o homem pode ter algumas predisposições favoráveis desde o nascimento; mas, em todo caso, tais predisposições só estão em potencial convertem em virtude até que se actualizam de um modo voluntário.

A virtude (como todo valor moral) depende da actuação voluntária e livre do sujeito. Outros valores podem ser herdado, mas não a virtude.

e) É uma qualidade estável. As virtudes são hábitos bons, segundo a definição aristotélica; adquirem-se e possuem uma verdadeira estabilidade na pessoa, susceptível de incrementar-se lentamente como uma linha de conduta mais ou menos característica de tal indivíduo.

d) Facilita o acto humano. Aqui está o efeito da virtude. Quem possui-a tem maior facilidade para actuar bem; fá-lo com agrado e, ademais pode realizar actos que, sem ela, séria impossível.

De todo o qual surge a seguinte definição da virtude: É uma qualidade estável e adquirida que facilita o ato honesto. Aristóteles definia a virtude como um hábito bom.

As PRINCIPAIS VIRTUDES.

As virtudes podem ser naturais (prudência, justiça, fortaleza e templanza) ou sobrenaturales (fé, esperança e caridade), segundo que correspondam ao nível humano ou estejam acima das capacidades próprias da natureza do homem. Também se dividem em intelectuais (prudência, ciência, arte, sabedoria e intuição) e morais (prudência, justiça, fortaleza e templanza), segundo que residam nos apetitos ou na inteligência.

Mas, sobretudo, as virtudes morais fazem ao homem bom. Não é possível as usar mau. Em mudança, as virtudes intelectuais só fazem bom ao homem em verdadeiro aspecto, e, em alguns casos, poderiam estar na contramão do valor moral. Somente a prudência é ao mesmo tempo intelectual e moral.

Prudência. É a virtude da razão, pela que o homem sabe o que há que fazer ou evitar no momento presente.

O homem prudente tem uma aptidão especial para dar-se conta das circunstâncias concretas que o afectam, e que podem influir em suas decisões livres O prudente se sabe aproveitar das experiências passadas. E, a respeito do futuro, sabe prever e fornecer. Sabe actuar com rapidez quando as circunstâncias o ameritan; e, em outros casos, se tomará seu tempo para meditar e eleger concienzudamente.

Justiça. Consiste em dar à cada um o que lhe corresponde. Uma pessoa que, de um modo constante, respeita os direitos alheios e lhe dá à cada um o que lhe deve, tem a virtude da justiça.

Pode ser considerado três classes principais de justiça: conmutativa, distributiva e legal ou social.

Chama-se justiça conmutativa a que rege os relacionamentos entre pessoas particulares. Por exemplo: um comerciante cumpre fielmente um contrato de compra. O roubo, a mentira, calunia-a, a injuria, o homicídio, os maus tratos, vão na contramão da justiça, assim que que violam os direitos alheios.

A justiça distributiva rege os relacionamentos entre a sociedade e o súbdito. Fica a cargo dos governantes, quem devem distribuir os benefícios e as cargas da sociedade, entre os diferentes súbditos, por exemplo: os impostos.

A justiça legal ou social rege os relacionamentos do indivíduo com respeito à sociedade. É a vontade de actuar em atenção ao bem comum. Tem importantes aplicações no terreno económico, tal como se estudará em um capítulo posterior.

Fortaleza. É a firmeza da alma, capaz de vencer as dificuldades próprias da vida.

O homem com fortaleza tem facilidade para sobreponerse aos obstáculos e penalidades que se encontram ao longo da vida; é perseverante e paciente; tem grandeza de alma (magnanimidad).

Opõe-se à temeridad e à covardia. É contrária à timidez, ao desespero e à ambição exagerada.

Templanza. É a virtude cujo objecto consiste em moderar os prazeres sensíveis.

Pode tomar a forma de sobriedad, no que se refere ao gosto pelos alimentos e a bebida; ou bem, se chama castidade, quando modera o instinto sexual.

A humildade é também uma forma de templanza, já que modera o gosto excessivo pela própria fama e glória.

Em fim, quem avança na posse destas virtudes esta realizando em si mesmo o valor moral, tal como ficou definido: a trascendentalidad da pessoa. Efectivamente: com a prudência adquire sua inteligência o conhecimento prático e concreto do caminho que deve seguir: transcende a ordem dos fatos. Com a justiça realiza a ordem moral (de direito) em seus relacionamentos com os demais. Com a fortaleza sortea as dificuldades. E com a templanza aparta-se do caminho fácil sugerido pelos apetitos sensíveis. Em uma palavra, as virtudes elevam ao homem para além do comum, dão-lhe ao sujeito uma autêntica personalidade, digna de admiração e de elogio, a única que pode ser chamado boa, de um modo pleno e adequado. A moralización do indivíduo só pode ser conseguido a base das virtudes pessoais:

Veracidade.

É a qualidade própria daquelas pessoas que sabem se expressar com a firme convicção de que o que dizem não pode ser fonte de enganos, pois o pesquisaram e reflectido com sumo cuidado. Se comete erro, este não se deve ao dolo ou a má fé, senão simplesmente às limitações naturais do conhecimento humano, e que por tanto estarão sempre dispostas a corrigir.

Sustentar a verdade ainda no meio das situações mais comprometidas, nas que vai de por médio a própria segurança pessoal, é amostra de grande valor e entereza morais.

A veracidade moral é diferente à verdade em sentido gnoseológico, mas as pessoas verazes fazem um grande uso da verdade, professam-lhe um sincero culto.

Tolerância.

É o respeito e consideração que nos merecem as ideias ou actuações dos demais, apesar da rejeição que sintamos por ser contrárias a nossa forma de ser e de pensar. Está fincada no respeito à pessoa e no entendimento de nossas limitações. Ao reconhecer que não somos possuidores da verdade absoluta devemos permitir a manifestação de ideias diferentes, por ser também diferentes os pontos de vista, da formação cultural e os costumes entre os homens.

Tudo isto dentro dos limites possíveis do respeito mútuo, pois se estes se rompem a tolerância não tem então por que se sustentar, sobretudo quando é demostrable o erro da parte contrária.

Bondade.

É a virtude moral por excelência, o valor mais alto da conduta, que se confunde inclusive com o mesmo conceito de virtude. Define-se quase igual que esta como a determinação da vontade para fazer o bem aos demais. Se o bem é o fim essencial da moral, então a bondade é a virtude suprema do ato moral, a meta ideal da moralización do indivíduo.

Devemos distinguir um matiz de diferença muito importante entre a benevolência ou benignidad, que são derivações da bondade, e a bondade em sentido estrito, capaz de converter o cumprimento do bem em uma obrigação autoimpuesta pela própria vontade. Os conceitos derivados implicam uma atitude mais bem passiva, muito tolerante, de suportar com grande resignação o dano que outros possam causamos.

Todas as virtudes mantêm entre si íntimos enlaces, mas a bondade é tão ampla que corno nenhuma envolve às restantes em um todo unitário.

Ante o problema muito discutido de se o homem é bom ou mau por natureza, nos avocamos a crer em sua bondade, e que sua maldade é mais bem o produto das frustrações e injustiças que sofreu ao longo de sua existência. O homem bom tem de ser livre, responsável, dono de suas palavras e acções, com pensamentos elevados e dispostos a construir sua vida com altruísmo, generosidade, tolerância, solidariedade, e demais virtudes.

Justiça.

É a virtude moral que faz referência à ordem, igualdade e harmonia que devem prevalecer no homem, em sua dupla dimensão social e individual.

Quanto ao indivíduo, a justiça expressa (segundo Platón) o adequado equilíbrio e harmonia entre as faculdades da alma; ficando subordinadas à razão a vontade e a sensibilidade. Quanto ao ser social, a justiça tenta integrar em uma ordem estável, harmónico e igualitário os relacionamentos interhumanas com o fim de obter o bem comum.

A justiça é a aspiração máxima do direito, a idéia que deve o inspirar constantemente. Embora tem um fundamento ético de grande transcendência, o local onde melhor se assenta é no dos relacionamentos sociais reguladas pelo direito. Isto se deve à própria natureza da justiça, que possui em nosso tempo uma connotación mais social que individual, mais positiva que metafísica.

A justiça natural tem à equidade (o mesurado) como um de seus princípios básicos.

A justiça, derivada do direito positivo, encontra-se plasmada nos diferentes ordenamentos legais promulgados pelo poder público. Esta é a justiça social ou legal, que pára muitos é a justiça propriamente dita.

A justiça legal divide-se de modo geral ou particular, "segundo que considere os actos humanos em relacionamento com o que exige a conservação da unidade social e o bem comum, ou em relacionamento com o que corresponde aos particulares entre si ou em frente à comunidade. A primeira regula os direitos da sociedade e a segunda os direitos dos particulares".

Esta última subdivide-se em distributiva e em comutativa.

A justiça distributiva, segundo a célebre definição de Ulpiano como: "a vontade constante e perpétua de dar à cada um o seu", estima, aprecia, ou distingue segundo a lei ou os princípios da equidade, o que à cada um lhe corresponde.

A justiça comutativa é a que deve ser dado nos relacionamentos bilaterais de truque ou mudança; consistente na igualdade ou proporção de tipo aritmético entre o que se dá e o que se recebe.

Magnanimidad.

Consistente na grandeza espiritual de ver a vida desde perspectivas muito elevadas, colocando sempre acima das nimiedades ou asperezas da existência, a força do ânimo empreendedor, o altruismo pelo próximo. Ninguém como Aristóteles nos ofereceu até agora um conceito tão claro e profundo desta virtude; vale demasiado a pena para não transcribirla, nos diz: "A magnanimidad, como seu mesmo nome o dá a entender, parece se aplicar às grandes coisas... O que é digno de coisas pequenas, e delas se julga digno, é discreto, mas não magnânimo, porque a magnanimidad está na grandeza, como a hermosura em um corpo grande; os pequenos são graciosos e bem fornecidos, mas não formosos.

A magnanimidad muéstrase bem como certa ordem bela das virtudes, pois fá-las maiores e não se dá sem elas. Pelo qual é difícil ser com verdade magnânimo, pois não é possível o ser sem nobreza moral.

O magnânimo é, pois, tal sobretudo nas honras e deshonores. Mas ainda nas grandes honras, e por mais que provenham dos homens de bem, o magnânimo desfrutará deles moderadamente, como quem obtém o que lhe pertence. Mas desprezará em absoluto as honras que vingam de gentes quaisquer ou por coisas miúdas, por ser inferiores a sua merecimento. Igual conduta observará nas afrentas, que não poderiam ser aplicado justamente a ele.

É próprio do magnânimo não haver menester de ninguém ou mal, senão ser cedo em dar ajuda; bem como ser altivo com os que estão em dignidade e prosperidade, e afable com os de média condição. Sobrepujar aos uns é coisa difícil e excelsa, mas fácil com respeito aos outros. Dar-se ares de superioridade com os primeiros não quadra mau a um homem bem nascido; mas fazê-lo com os humildes é uma vulgar insolência, tal como fazer alarde de sua força com os débis.

É também próprio do magnânimo não frequentar locais de moda, nem aqueles outros onde outros têm a primeira categoria. O magnânimo é indolente e demoro, a não ser que não tenha de por médio alguma grande honra ou empresa. É hacedor de poucas coisas, mas estas grandes e renomadas. É também uma necessidade para ele ser aberto em seus ódios e em suas amizades, porque esconder seus sentimentos é próprio do que tem medo.

Mais preocupa-lhe ao magnânimo a verdade que a opinião, e falar e fazer a plena luz. e porque todo o tem em pouco, fala com franqueza e veracidade, salvo o que diz por ironia, pois em seu trato com o vulgo é irónico.

O magnânimo não é propenso à admiração, porque nada é grande para ele. Nem também não recorda o mau que se lhe tem feito, porque não é próprio de uma alma grande conservar a lembrança de tudo, e menos se são ofensas, senão mais bem as desdenhar. Não é amigo de falar de ninguém: nem de si mesmo falará, nem de outro, nem de que ele seja alabado, nem de que outros sejam vituperados. E bem como não prodiga elogios, também não fala mau dos demais, nem sequer de seus inimigos como não seja para mostrar seu desprezo. Das coisas necessárias ou miúdas jamais se lamenta ou as solicita, pois qualquer destas atitudes seria indício de um ânimo afanoso. É inclinado a tentar-se coisas belas e infrutuosas mais bem que as fructuosas e úteis, por ser aquilo mais próprio do que se basta a si mesmo.

Humildade.

É a virtude que se assenta no reconhecimento profundo de nossas finitudes e imperfeições; de que somos por natureza seres débis e corruptibles.

A humildade é uma virtude essencialmente cristã, que se opõe à soberba dos que não aceitam o fato de nossa condição pecaminosa e são incapazes de acatar docilmente os ditados da autoridade, da verdade, da lei.

Facilmente confunde-lha com a humillación ou a abyección (bajeza, envilecimiento), mas é o mais contrária a esses sentimentos. A humildade deve ser enlaçada com a singeleza de sabemos limitados, mas ao mesmo tempo capaz de abrimos à transcendência e invocar o perdão de nossos pecados. Perdão que deve ser feito de algum modo extensivo às pessoas a quem ofendemos.

Também entranha o perigo de reduzimos em extremo com tal de obter o favor de outras pessoas, ou de Deus mesmo. Nestes casos, não atuamos com a humildade que impõe o serviço ou dever ao próximo, senão com a oculta hipocrisia de obter uma vantagem ou justificativa de nossas desmedidas ambições.

Altruísmo.

Em oposição ao egoísmo, é a virtude que nos leva a sentir uma funda complacência ao fornecer bem aos demais, ainda a costa de sacrificar o bem-estar próprio. O termo foi criado por A. Comte, com o fim de integrá-lo como valor supremo de seu moral positivista, que sintetizou na fórmula: "viver para o próximo".

Distingue-se da caridade, assim que que o altruísmo se origina na natureza (os animais de muitas espécies também dão amostras dele, no sentido de um sentimento instintivo que os une e protege) e tem como finalidade exclusiva o bem positivo da sociedade, enquanto a caridade se funda no amor a Deus e tem um fim sobrenatural.

O altruísmo é o produto do amor ao próximo, unido simultaneamente à abnegación do eu individual. É o amor desinteressado que pode ser desprendido do egoísmo, da inveja, do prazer pela desgraça alheia.

O altruísmo não deve, no entanto, subestimar o valor próprio de nossa individualidade, ao extremo de esquecer sua importância e abstraerla de sua dimensão real da sociedade. Somos indivíduos, e como tais devemos afirmamos no âmbito dos relacionamentos interpersonales, sempre desde a perspectiva de um mútuo respeito que propicie a eficaz ajuda que possamos fornecemos.

Solidariedade.

É a virtude que nos move a estreitar os relacionamentos sociais no plano da reciprocidade. É o altruísmo partilhado que nasce do sentimento de pertencer a grupos com igualdade de origem, destino, aspirações comuns e demais aspectos que fundamentam sua identidade, ou simplesmente pelo fato de pertencer à espécie humana.

A solidariedade implica interdependência e ajuda mútua entre os membros de um mesmo grupo, ou entre grupos heterogéneos, por razões históricas, sociais, políticas ou culturais.

Também deve tentar, uma vida social mais justa e igualitária, que evite o conflito entre as classes, a desproporcionada repartição da riqueza, a fome, a ignorância, e demais tarefas que lhe são próprias. Séria muito longa a enumeração de acções solidárias do Estado, mas não devemos esquecer que a solidariedade é essencialmente recíproca e, por tanto, em todos estes assuntos fica implícita a sua vez a resposta e participação que moralmente estamos obrigados a dar.

INSTITUTO POLITÉCNICO NACIONAL.
CECyT MIGUEL OTHÓN DE MENDIZABAL
ÉTICA CIDADÃ E VIRTUDES CÍVICAS.

FILOSOFIA
MÉXICO, DF A 22 DE ABRIL DE 2005.
ÉTICA CIDADÃ E VIRTUDES CÍVICAS


A VIRTUDE NEOCLÁSSICA E A MORAL DURKHEIMIANA: UMA LEITURA DO QUADRO O JURAMENTO DOS HORÁCIOS,
DE JACQUES-LOUIS DAVID (1748-1825)
Anderson Ricardo TREVISAN1