Pelos caminhos da Biblioteca Nacional
Beatriz Dias Coelho
06/03/2016
Passaram 220 anos desde que foi criada, por alvará régio, a maior biblioteca do país. Viagem por 75 quilómetros de prateleiras, 66 mil m2 de edifício, 4,7 milhões de documentos.
Estamos numa sala com 600 m2. Tem duas portas corta-fogo de três toneladas, é anti-sísmica e anti-incêndio — aqui, o simples acto de acender um isqueiro é impossível, uma vez que o ar não é combustível. Há várias estantes: algumas estão vazias, ainda à espera de serem preenchidas. Outras, guardam relíquias que poucos têm oportunidade de ver. Como uma colecção de documentos impressos até 1500 e os espólios de Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa, Eça de Queirós eAlmeida Garrett. E de muitas outras figuras da cultura portuguesa. Preciosidades que estão guardadas em pequenas caixas de cartão, devidamente identificadas com o número do espólio a que pertencem. Qualquer um as poderia abrir, na verdade. Mas antes teria de conseguir entrar na cave da torre de depósitos, onde funciona a casa-forte da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), a maior biblioteca do país. Nesta casa-forte, que é a zona mais segura dentro da BNP, não estão necessariamente os documentos mais antigos, mas aqueles que têm mais valor, os mais raros, os mais importantes. “É como o cofre de um banco”, diz-nos a directora, Maria Inês Cordeiro. E visitá-la é um privilégio — “entre os técnicos da biblioteca ninguém entra sozinho e não entra ninguém que seja de fora”. Há excepções, claro: os representantes de Estado. E os técnicos da manutenção. Nunca, nunca sozinhos.
O privilégio justifica-se — afinal, estamos aqui porque a BNP faz 220 anos. E há, aliás, mais para ver: como se visitar a casa-forte não fosse já suficiente, ao centro da sala, numa comprida mesa rectangular, espera-nos uma pequena amostra do tesouro. Dispostos por ordem cronológica, estão dezasseis documentos cujo peso na História e na Cultura portuguesas é inegável. “A selecção foi feita por Margarida Pinto, responsável dos Impressos, Ana Cristina Santana, responsável dos Manuscritos, e Fátima Lopes, responsável dos Espólios do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea”, informa-nos a directora da BNP. E é então que vemos, entre os documentos — uns, mais do que outros, com um admirável estado de conservação — o mais antigo livro da BNP, que remonta ao século XII; um dos 50 exemplares existentes no mundo da Bíblia de Gutenberg; uma carta de Vasco da Gama; a primeira edição d’ Os Lusíadas; a carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro a explicar a origem dos heterónimos, escrita em Janeiro de 1935.
Nos bastidores da biblioteca
O acervo da BNP integra actualmente cerca de 4,7 milhões de documentos. Com algumas doações e aquisições, o número cresce principalmente graças ao depósito legal, uma lei que remonta a 1805 e que obriga a que sejam entregues à BNP onze exemplares de todas as obras impressas ou editadas em Portugal. Nove exemplares são depois enviados para bibliotecas um pouco por todo o país, incluíndo Açores e Madeira, e para a Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, no Brasil. Os dois restantes integram o acervo da BNP. É esse o percurso que Maria Inês Cordeiro desvenda ao PÚBLICO: a viagem que estas obras fazem, nos bastidores da biblioteca, até serem entregues aos leitores.
Ao chegarem — em paletes coloridas, com diferentes tamanhos, vindas directamente das tipografias —, as obras com destino às outras bibliotecas são empacotadas em caixotes que, uns em cima dos outros, ocupam os dois lados de um corredor largo. Nuns lê-se “Madeira”, noutros “Rio de Janeiro”, mas o critério é igual para todos: “antigamente, era a BNP que enviava todos estes livros para as várias bibliotecas, mas agora isso é insustentável e cada instituição paga o transporte dos seus livros, incluindo o Rio de Janeiro”, assegura Maria Inês Cordeiro, que dirige a BNP desde 2011. A biblioteca recebe mensalmente cerca de 40 mil livros através do depósito legal, “e passa cerca de um mês entre a chegada, a sua distribuição e a catalogação”, conclui a directora.
Impõe-se um pequeno desvio ao trajecto principal, informa-nos Maria Inês Cordeiro, com passos apressados: “Vamos ao sector de conservação e restauro”. Conhecemos então o sr. Gonçalves, que já não vai para novo e é o único encadernador a trabalhar na biblioteca — um sintoma da escassez de funcionários de que os utilizadores da BNP actualmente se queixam. Numa parede estão pendurados vários rolos de tecido colorido: “São usados para as lombadas”, explica a directora. Aqui restauram-se “tanto manuscritos como obras impressas, e não só livros, mas todo o tipo de documentos — mapas, desenhos, pergaminhos…”. A cada documento é atribuída uma ficha, na qual se apontam “todas as suas características, doenças e intervenções que vai sofrer” e se incluem algumas fotografias.
Mais à frente, já noutra sala, ficamos a saber que os documentos também são lavados, em banheiras próprias, com chuveiro. Maria Inês Cordeiro justifica: “para serem restaurados, a maior parte dos documentos são primeiro desmanchados, lavados aqui com uma água controlada, e depois secam naturalmente” em secadores próprios que fazem lembrar os vulgares estendais de alumínio. Quanto ao restauro, há vários processos para o fazer, e a directora da BNP mostra-nos um documento restaurado através de reintegração mecânica, um procedimento que recupera documentos “rotos, bichados ou com falhas”.
Feito o desvio, estamos de volta ao trajecto principal e passamos à zona de catalogação. Dispostas, aos pares, em carros de livros, as obras aguardam a sua vez de serem “introduzidas nas bases de dados”. São, depois, classificadas e voltam novamente para os carros de livros, “prontas para seguirem para a torre de depósitos”. Essa é justamente a paragem seguinte; mas antes voltamos à área aberta ao público e visitamos a sala de referência geral, onde os leitores pesquisam e requisitam as obras que querem consultar, e passamos pela mais emblemática sala de leitura da casa — a sala de leitura geral, conhecida pela enorme tapeçaria feita propositadamente por Guilherme Camarinha para decorar a parede do fundo e alusiva à Leitura Nova, uma colecção de cópias de importantes documentos mandada fazer por D. Manuel I e iniciada em 1504. Percebemos, desgostosos, que está por estes dias encerrada “para substituição do sistema de iluminação”, justifica Maria Inês Cordeiro. Conhecemos a sala de leitura temporária, onde filas e filas de secretárias acolhem leitores concentrados, e entramos no elevador que nos leva à icónica torre de depósitos, ampliada entre 2008 e 2012 e que guarda todo o acervo da biblioteca em 10 andares.
Luís Sá, responsável pela sala de leitura e pela torre de depósitos, junta-se a nós a partir daqui. Subimos até ao sétimo andar — “vamos ao depósito de ciências e artes”, informa-nos. “O depósito está organizado por grandes temas”, acrescenta a directora. As portas abrem-se e ouvimos o som incomodativo de uma campainha intermitente, uma medida de segurança accionada automaticamente à entrada e à saída de pessoas em cada piso. Chegamos a um corredor de que quase não se vê o final — tem 133 metros de comprimento por 15 metros de largura —, ladeado por filas e filas de prateleiras repletas de obras e conhecidas como “comboios”, devidamente identificadas com placas que, entre outros dados, indicam o tema e o número do comboio. Para aproveitar o máximo de espaço possível, as obras estão organizadas por três formatos: “livros de bolso, livros com formato até A4 e A4 ou superior”, explica Luís Sá, que acrescenta que outro dos critérios de organização é a data de publicação.
Enquanto andamos pelo interminável corredor, Maria Inês Cordeiro fala sobre as condições de conservação: “a temperatura está normalmente entre 19.º e 22.º e a humidade relativa deve estar entre os 50% e os 55%”, diz, explicando que o tratamento do ar é feito por várias máquinas implementadas no último piso da torre e na cave. A incidência de luz solar é controlada pelas janelas — que são pequenos rectângulos, como convém. Mas a conservação passa também por armadilhar o espaço para combater eventuais habitantes indesejáveis: “colocamos armadilhas com um comprimido que atrai todo o tipo de insectos”. A segurança é assegurada por um sistema anti-intrusão e anti-incêndio e, quanto à limpeza do pó, “não é como lá em casa, não é possível andar sempre a limpar as prateleiras”.
Estamos no fim do percurso: é a partir de uma sala com pequenos elevadores, que existem em todos os pisos da torre, que os livros — e todos os outros documentos — são enviados lá para baixo, para os leitores. “O talão do pedido do leitor é impresso cá em cima e depois os técnicos colocam-nos nestes elevadores próprios”, indica Maria Inês Cordeiro. Nós voltamos ao elevador e deixamos os livros para trás.
Um pouco de História
Hoje, a BNP é um mundo, já se viu. Mas muito aconteceu antes de ficar assim. Nasceu a 29 de Fevereiro de 1796, sob o nome de Real Biblioteca Pública da Corte. Em alvará régio, D. Maria I determinava: “Eu a Rainha faço saber aos que este Alvará virem: que sendo um dos objectos, que ocupam a Minha Real consideração, o cuidado de promover eficazmente os progressos da Literatura Portuguesa; e conhecendo quanto será útil, e vantajoso para se conseguir este fim, o estabelecimento de uma Livraria Pública, […] onde se achem […] os Livros mais precisos pela sua raridade, […] que constituam um riquíssimo depósito, não só de todos os conhecimentos humanos, mas também dos meios mais próprios para conduzir os homens a conseguirem a virtuosa sabedoria, […] ordeno que na Minha Corte, e cidade de Lisboa se erija, […] a Real Biblioteca Pública da Corte.”
Mas a História da BNP começa anos antes. “A BNP é o resultado do pensamento iluminista de algumas figuras muito importantes na segunda metade do século XVIII”, resume a directora. Tudo começou por volta de 1771: Imbuído do espírito iluminista da valorização da razão, Frei Manuel do Cenáculo, que ficaria para a posteridade como uma das personalidades mais relevantes da Cultura portuguesa setecentista, propôs ao rei D. José I a criação de uma biblioteca pública. E assim, em 1775, D. José I decretava que a ala ocidental do Terreiro do Paço acolheria o projecto. Mas só duas décadas depois é que os planos se concretizariam — e o alvará de D. Maria I viria finalmente a fundar a Real Biblioteca Pública da Corte.
Do acervo da Real Biblioteca, gerido pelo bibliotecário-mor António Ribeiro dos Santos, faziam parte as obras da Biblioteca da Real Mesa Censória que, até à sua extinção em 1794, fiscalizava as obras a publicar. Entre doações particulares e aquisições, a Real Biblioteca Pública da Corte foi crescendo e, em 1834, depois da guerra civil contra os absolutistas, os liberais tomaram o poder e a Real Biblioteca passou a chamar-se Biblioteca Nacional de Lisboa. Nesse mesmo ano, a extinção das ordens religiosas viria a contribuir para o aumento do seu acervo: “vieram carroças e carroças cheias de livros de mosteiros e conventos para Lisboa”, conta Maria Inês Cordeiro. O Terreiro do Paço tornou-se pequeno para tão vasto acervo e a Biblioteca acabaria por se mudar para o Convento de S. Francisco, no Chiado, donde saíria apenas em 1969, para ocupar o imponente edifício do Campo Grande projectado por Porfírio Pardal Monteiro propositadamente para a acolher.
A BNP hoje: utilizadores, problemas e o desafio do digital
Dos 66 mil m2 de área total do edíficio, 35 mil m2 estão ocupados pelos 75 quilómetros de prateleiras. Mas a quem serve um património tão extenso? “Os principais utilizadores e exploradores do acervo da BNP pertencem à comunidade académica”, esclarece Maria Inês Cordeiro, que acrescenta que entre os cerca de 45 mil leitores que visitam anualmente a biblioteca — um número que se tem mantido estável nos últimos anos, diz —, quem procura a BNP não são apenas pessoas da Literatura, da História ou das Ciências, mas de muitas outras áreas.
Prova disso é o realizador e encenador Frederico Corado: “As minhas idas à biblioteca são frequentes, por motivos profissionais, quando faço pesquisa para novos trabalhos, em particular no que diz respeito ao teatro”, conta ao PÚBLICO. Corado dá o exemplo de uma exposição que organizou no final de 2015, sobre teatro no Cartaxo, e para a qual se socorreu da BNP: “Infelizmente, o Cartaxo não tem um arquivo muito completo, e tive de ir à BNP sobretudo para consultar jornais antigos. Em relação a alguns jornais, foi-me dito que não podia consultá-los porque estavam muito danificados, mas ofereceram-me alternativas: podia consultá-los digitalmente, se pagasse a sua digitalização”.
Um dos problemas mais recorrentes que os utilizadores da BNP identificam ao PÚBLICO é precisamente o estado de conservação das publicações periódicas. “É uma pena, porque vamos acabar por perder a memória do que era a actividade jornalística nos séculos XIX e XX. O papel é muito frágil, desfaz-se e a consulta deixa de ser possível”, lamenta Paulo Silveira e Sousa, investigador de História e utilizador frequente da biblioteca, numa conversa conjunta na cafetaria com presenças igualmente assíduas nas salas de leitura — o historiador Diogo Ramada Curto [colaborador do PÚBLICO] e João Pedro George, autor de obras como Marquesa de Paiva (2015) e O Que é um Escritor Maldito? (2013).
Os três investigadores partilham diariamente a sala de leitura geral e concordam que há actualmente dois problemas de base que condicionam o seu trabalho. Em primeiro lugar, “faz falta a formação de uma nova geração de profissionais dentro da biblioteca, que beneficie da passagem de testemunho do saber acumulado das pessoas mais velhas, que se vão reformando”, diz Diogo Ramada Curto. A análise dos relatórios de actividade da biblioteca mostra que, de facto, o panorama não é animador: enquanto que em 31 de Dezembro de 2010 “estavam ao serviço 231 trabalhadores”, na mesma data, em 2014 — de acordo com o mais recente relatório disponível —, “estavam ao serviço 195 trabalhadores”.
Em segundo lugar, continua Diogo Ramada Curto, “uma biblioteca nacional não pode viver apenas do acervo que herdou do passado, tem de comprar obras”, considera, preocupado com a falta de recursos para a aquisição de obras. João Pedro George vai mais longe e diz mesmo que esta é uma realidade que “atrasa imenso o conhecimento do país, porque os investigadores não têm acesso a determinados documentos, que acabam nas mãos de privados”. Também aqui os dados dos relatórios de actividade são reveladores: em 2010 foram adquiridas “105 obras de bibliografia corrente”, lê-se no relatório, e 1873 “no âmbito de leilões, espólios e raridades”. Já em 2014, “não foram adquiridas obras de bibliografia corrente” e foi “suspensa a assinatura de publicações periódicas estrangeiras”, tendo sido adquiridas 53 obras “no âmbito de leilões, espólios e raridades”.
Associada ao acervo da BNP está a memória colectiva do país, lembra Diogo Ramada Curto: “essa memória colectiva relaciona-se com a investigação que fazemos, é através da investigação que pensamos a memória colectiva, e por isso a biblioteca tem de ter condições para que possamos investigar, não basta ter o acervo”. Silveira e Sousa, Ramada Curto e George reconhecem, no entanto, que a falta de dinheiro é um problema transversal às instituições culturais em Portugal e elogiam a competência da equipa da biblioteca dadas as actuais circunstâncias.
Luís Ribeiro, um historiador de arte que trabalha em projectos relacionados com manuscritos medievais, não hesita: “a actual direcção é extremamente receptiva a colaborar com investigadores”, diz. O verdadeiro problema é o horário — é limitado e limitativo. “Sei que há condicionantes orçamentais e de recursos humanos, mas o horário devia ser mais alargado e mais noturno. Para quem está a fazer investigação em part-time, o fim-de-semana é ideal, por isso a biblioteca devia estar aberta mais horas ao fim-de-semana e não fechar ao domingo”. Mas Maria Inês Cordeiro diz que o alargamento do horário não é, “com os recursos que a biblioteca tem” hoje, uma hipótese “viável”: “a média de pessoas na sala de leitura geral a partir das 18h30 — apenas 10 ou 15 pessoas — não o justificaria”.
Maria Inês Cordeiro olha para o processo de digitalização dos documentos e a expansão da Biblioteca Nacional Digital, criada em 2002, como desafios: “A partir do momento em que a Internet e os meios tecnológicos se vulgarizaram, a BNP mudou radicalmente a forma como fornece os vários serviços e como dá acesso àqueles documentos [mais antigos e valiosos] a que só muito poucas pessoas antes podiam aceder”, explica. É a esses documentos que é dada prioridade na “difusão através da digitalização”, continua a directora da BNP, que destaca as vantagens da Biblioteca Nacional Digital: “qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, a qualquer hora e para qualquer efeito, não só tem acesso aos documentos como pode fazer o download e reutilizar. Por sua vez, a BNP, enquanto gestora desses bens culturais, consegue garantir o cumprimento da missão de os preservar a longo prazo”.
Apesar da evolução natural para o digital, o grande objectivo mantém-se: “Queremos preservar para o futuro, mas ao mesmo tempo ter relevância para a sociedade viva e que quer hoje utilizar a biblioteca. Temos de ter um equilíbrio entre as duas coisas”. A actuação da instituição, no entanto, mudou: “Até há 20 ou 30 anos, a biblioteca era reactiva — estava aqui, guardava o acervo para quem quisesse utilizá-lo —, e hoje é proactiva — temos de o ser para chegarmos à sociedade”. Por isso tem vindo a promover, nos últimos anos, exposições, mostras, colóquios, congressos, publicações e edições. “Anualmente, fazemos entre 60 e 70 eventos e lançamos entre 10 e 15 edições”, refere.
Quinze anos depois do seu lançamento, a Biblioteca Nacional Digital disponibiliza actualmente 27 mil documentos para consultaonline, entre os quais o único exemplar conhecido de História de mui nobre Vespasiano (1496), sobre o imperador romano, e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, uma cópia do século XVI do maior cancioneiro de poesia trovadoresca em português. Frederico Corado compreende a morosidade e as dificuldades inerentes ao projecto, mas lamenta que seja apenas possível aceder a um número tão reduzido de documentos, tal como Dora Santos Silva, investigadora do Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que consulta frequentemente o portal. “Gosto de ir vendo as obras que vão sendo disponibilizadas”, explica, apesar de considerar que “o site não é user friendly”. “Não há, por exemplo, a organização em temas, que tornaria a consulta e a descoberta mais fáceis. A biblioteca permite a descoberta, mas a descoberta também deve ser um pouco facilitada”.
“A exigência do público é imensa e não perdoa nada”, concorda a directora. “Se não tivermos a última facilidade para o telemóvel ou para o tablet, já ficamos para trás; se não tivermos o acervo com uma boa visibilidade e recuperabilidade no Google, já existimos menos”, admite. Destaca, por outro lado, os recursos que a criação da Biblioteca Nacional Digital exigiu — e continua a exigir — e que envolvem “a transformação das infraestruturas técnicas, a necessidade de os profissionais adquirirem novas competências e a constante actualização dos meios de fornecimento do serviço do ponto de vista tecnológico”. “É uma realidade tão mais complexa quanto mais simples parece a sua utilização e tão ou mais dispendiosa do que a biblioteca das prateleiras”, advoga. Mas não tem dúvidas de que este é o caminho do futuro: “em 2013, apercebemo-nos de que o volume de tráfego na Biblioteca Nacional Digital é tal que pode corresponder, num ano, a vinte anos do volume de leitura nas salas de leitura aqui na BNP”. E conclui: “isso é o que as pessoas querem, é isso que nos convém”.
Texto enviado por José Rui Rabaça