sábado, 9 de julho de 2016

O TPP NÃO É SOBRE LIVRE COMÉRCIO – É SOBRE PROTEGER OS LUCROS CORPORATIVOS

As partes mais significativas do acordo prejudicariam o livre fluxo de bens e serviços expandindo algumas políticas protecionistas e anti-competitivas.

Zaid Jilani, The Intercept – Carta Maior

Os veículos de mídia e defensores do acordo de comércio Parceira Trans-Pacífica (TPP) descreveram repetidamente os opositores do acordo como “protecionistas” ou opositores do comércio.

Por exemplo, depois de Donald Trump ter pressionado Hillary Clinton a reconhecer a veracidade legal do acordo, o New York Times relatou que Trump estava abraçando “políticas nacionalistas anti-comércio”. O Wall Street Journal disse que Trump expressou “visões protecionistas”. O presidente Obama alertou que não é possível retirar-se  de acordos e focar somente no mercado local.

Mas a oposição ao TPP não é descrita precisamente como oposição a todo o comércio ou ao livre comércio.

Na realidade, o maior impacto do acordo não estaria na área de redução de tarifas, as barreiras de comércio mais comuns. A TPP está mais focada em elaborar regimes regulatórios que beneficiem certas indústrias. 

Então, as partes mais significativas do acordo prejudicariam o livre fluxo de bens e serviços expandindo algumas políticas protecionistas e anti-competitivas procuradas por corporações globais.

“Já temos acordos de comércio com seis dos 11 países. O Canadá e o México – nossos dois maiores parceiros  – estão dentro. As tarifas são quase zero [com esses países] de qualquer modo”, disse Dean Baker, economista do Centro de Pesquisas Econômicas de Políticas, ao The Intercept. “O que está no acordo? Maiores proteções de patentes e direitos autorais!  Isso é protecionismo”.

O próprio relatório da Comissão Internacional de Comércio dos EUA nota que “poucas tarifas continuam entre os EUA e seus parceiros [de acordos de livre comércio] existentes”, que compõem a maioria dos países do TPP.

É verdade que acordos de comércio do passado como o Acordo de Livre Comércio da América da Norte (NAFTA), têm abaixado as tarifas dramaticamente, permitindo que as companhias movam os empregos de manufatura para fora do país. E como resultado, a própria noção de acordos de comércio deixou muitos norte-americanos compreensivelmente céticos.

Preocupações sobre se a TPP levaria a maiores perdas de emprego “são reais e eu acho que a discussão política está respondendo a essas preocupações de ambos os partidos”, disse Melinda St. Louis, diretora de campanhas internacionais do Public Citizen, ao The Intercept. Mas ela notou, “eu acho que os aspectos de comércio da TPP são uma pequena parte do acordo. São apenas seis dos 30 capítulos que falam sobre comércio e bens. O resto é sobre estabelecer regras globais”.

Uma das regras propostas pela TPP, por exemplo, envolve a expansão dos direitos autorais, o que iria impor custos anti-competitivos nas economias.

O acordo tem sido fortemente criticado por organizações humanitárias como Médicos Sem Fronteiras - que manda milhares de médicos além mar para oferecer assistência médica para aqueles que não podem pagar - porque expande o monopólio de proteções e patentes para várias drogas farmacêuticas.

Por exemplo, o acordo exige que os países envolvidos ofereçam oito anos de exclusividade de mercado, ou cinco anos mais outros mecanismos, para assegurar “resultados de mercado comparáveis” para uma classe de produtos farmacêuticos chamados de biológicos. Essas drogas de ponta, biologicamente manufaturadas têm sido usadas para tratar a doença de Crohn, artrite e outras doenças comuns – e expandir exclusividade de mercado significa que há menos espaço para competidores produzirem drogas genéricas mais baratas para competirem.

“Não temos uma posição sobre a TPP como um todo, não somos anti-comércio, somos uma organização humanitária”, explicou Judit Rius Sanjuan, conselheira legal de políticas dos Médicos Sem Fronteiras. “Algumas das provisões no texto também tornarão mais difícil que haja inovação, pois criam monopólios de patentes por grandes companhias farmacêuticas”.

A TPP também procura fortalecer e estender o monopólio de patentes para a indústria do entretenimento.

Em uma volta da vitória esse ano, o CEO da Disney, Bob Iger, escreveu aos empregados da companhia, que estavam se gabando sobre o papel da companhia na expansão das provisões de propriedade intelectual (IP) na TPP, dizendo  que a Disney foi capaz de “defender com sucesso um capítulo forte sobre a IP nas negociações de comércio da TPP”.

A Disney teve um grande papel no lobby de uma lei de 1998 que estendeu direitos autorais para criações de mídia.

A mudança de regra do Congresso em 1998 foi um boom para a Disney, que estava quase perdendo os direitos autorais do Mickey Mouse em 2003. Graças a essa mudança de lei, a qual os oponentes chamaram de “Lei de Proteção do Mickey Mouse”, os direitos autorais do Mickey Mouse foram estendidos até 2023.

A TPP procura expandir isso, estabelecendo um regime global de proteção ao Mickey Mouse. Michael Froman, responsável comercial dos EUA, viajou até Hollywood em maio para lembrar a um grupo de comércio que a TPP exigiria que os países mudassem seus termos de direitos autorais para o padrão de 70 anos dos EUA. Seria um aumento dos 50 anos, o padrão atual em muitos dos países que são parte da negociação.

Froman apontou filmes como Sound Of Music e Dr. Zhivago, notando que esses filmes são “vintage 1996, que sem a TPP ficariam sem proteção ano que vem”.

Créditos da foto: reprodução

RUMO A UMA ERA DA DESINTEGRAÇÃO?

No Oriente Médio, Estados independentes desmoronam. Guerras, políticas neoliberais e desigualdade extrema aceleram o processo. Mas e se o fenômeno tornar-se global?

Patrick Cockburn – Outras Palavras - Tradução: Cauê Seignemartin Ameni e Inês Castilho

Vivemos numa era de desintegração. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no Oriente Médio e na África. De lado a lado da vasta faixa de território entre o Paquistão e a Nigéria, há pelo menos sete guerras acontecendo – no Afeganistão, Iraque, Síria, Iêmen, Líbia, Somália e Sudão do Sul. Esses conflitos são extraordinariamente destrutivos. Despedaçam os países onde estão ocorrendo, a ponto que é de se duvidar se algum dia poderão recuperar-se. Cidades como Aleppo, na Síria; Ramadi, no Iraque; Taiz, no Iêmen; e Benghazi, na Líbia, foram reduzidas a ruínas, em parte ou totalmente. Há também pelo menos três outras sérias conflagrações: no sudeste da Turquia, onde as guerrilhas curdas estão combatendo o exército turco; na península do Sinai, no Egito, onde atua uma guerrilha pouco divulgada, porém feroz; e no nordeste da Nigéria e países vizinhos, onde o Boko Haram continua a fazer ataques assassinos.

Todos têm algumas coisas em comum: são intermináveis, e parecem nunca produzir vencedores ou perdedores definitivos. (O Afeganistão está em guerra desde 1979 e a Somália, desde 1991). Envolvem a destruição ou o desmembramento de nações unificadas, sua divisão de facto entre movimentos de massa da população e insurreições – bemdivulgados no caso da Síria e do Iraque, e menos em lugares como o Sudão do Sul, onde mais de 2,4 milhões de pessoas foram deslocadas nos últimos anos.

Some-se a isso mais uma semelhança, não menos crucial, embora óbvia: na maioria desses países, nos quais o Islã é a religião dominante, movimentos salafistas extremistas, entre eles o Estado Islâmico (ISIS), a Al-Qaeda e o Talibã, são essencialmente os únicos canais disponíveis para protestos e rebeliões. No momento, substituíram inteiramente os movimentos socialistas e nacionalistas que predominaram no século 20. Os últimos anos viram um significativo retorno à identidade religiosa, étnica e tribal, por movimentos que buscam estabelecer seu próprio território exclusivo pela perseguição e expulsão de minorias.

No processo, e sob pressão de intervenção militar externa, uma vasta região do planeta parece estar sendo cindida. Há muito pouco entendimento desses processos em Washington. Um bom exemplo disso foi o recente protesto de 51 diplomatas do departamento de Estado, contrários à política do presidente Barack Obama para a Síria e a sugestão de que sejam lançados ataques aéreos contra as forças do regime sírio, acreditando que o presidente Bashar al-Assad iria assim cooperar com um cessar fogo. A abordagem dos diplomatas mantém-se tipicamente simplória, num conflito extremamente complexo, ao acreditar que o bombardeio de áreas civis e outros atos impiedosos do governo sírio são a “causa raiz da instabilidade que continua a sufocar a Síria e a região mais ampla”.

É como se a mente desses diplomatas estivesse ainda na era da Guera Fria, como se eles ainda estivessem lutando contra a União Soviética e seus aliados. Contra todas as evidências dos últimos cinco anos, assume-se que uma oposição síria moderada, que mal sobrevive, seria beneficiada pela queda de Assad. Falta entender que a oposição armada na Síria é inteiramente dominada pelos clones do Estado Islâmico e da al-Qaeda.

Embora admita-se amplamente, hoje, que a invasão do Iraque em 2003 foi um erro (mesmo por aqueles que a apoiaram à época), não se aprenderam as verdadeiras lições. Por que todas as intervenções militares, diretas ou indiretas, dos EUA e seus aliados no Oriente Médio, no último quarto de século, apenas exacerbaram a violência e aceleraram a falência do Estado?

Extinção em massa de estados independentes

O Estado Islâmico (ISIS), que acaba de comemorar seu segundo aniversário, é o resultado grotesco desta era de caos e conflitos. A simples existência dessa seita hedionda é um sintoma do profundo deslocamento sofrido pelas sociedades de toda a região, governada por elites corruptas e desacreditadas. O crescimento do ISIS – e o de vários clones do estilo Talibã e Al-Qaeda – é uma medida da fraqueza de seus opositores.

O exército e forças de segurança do Iraque, por exemplo, tinham 350 mil soldados e 660 mil policiais, segundo os registros, em junho de 2014, quando alguns poucos milhares de combatentes do Estado Islâmico capturaram Mossul, segunda maior cidade do país, que ainda dominam. Hoje, o exército iraquiano, os serviços de segurança e cerca de 20 mil paramilitares xiitas, apoiados pelo poder de fogo maciço dos Estados Unidos e forças aéreas aliadas, abriram caminho a bala até a cidade de Faluja, cerca de 60 quilômetros a oeste de Bagdá, contra a resistência de não mais que 900 combatentes do ISIS. No Afeganistão, o ressurgimento do Talibã, supostamente derrotado em definitivo em 2001, aconteceu menos em razão da popularidade do movimento do que pelo descaso com que os afegãos viam o governo corrupto de Cabul.

Os estados-nação estão depauperados ou desmoronando em todos os lugares, enquanto líderes autoritários lutam pela sobrevivência frente a crescentes pressões, externas e internas. Esse não é, de modo algum, o modo como se esperava que se desse o desenvolvimento da região. Os países que escaparam do domínio colonial na segunda metade do século 20, com o passar do tempo, deveriam tornar-se mais e não menos unificados.

Entre 1950 e 1975, líderes nacionalistas assumiram o poder em grande parte do mundo anteriormente colonizado. Prometeram alcançar autodeterminação nacional criando estados independentes poderosos, por meio da concentração de todos os recursos políticos, militares e econômicos disponíveis. Em vez disso, no decorrer das décadas muitos desses regimes transformaram-se em estados policiais controlados por um pequeno número de famílias surpreendentemente ricas, e uma camarilha de empresários dependentes de suas conexões com líderes como Hosni Mubarak, no Egito, ou Bashar al-Assad, na Síria.

Nos últimos anos, esses países foram também abertos ao furacão do neoliberalismo, que destruiu qualquer contrato social rudimentar que existia entre os governantes e os governados. Veja a Síria. Lá, vilas e cidades rurais que em algum momento apoiaram o regime do partido Baath da família al-Assad, porque proporcionou empregos e manteve baixos os preços dos produtos básicos, foram depois de 2000 abandonados às forças do mercado, distorcidas em favor daqueles que estão no poder. Esses lugares foram a espinha dorsal da rebelião pós 2011. Ao mesmo tempo, instituições como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que tanto fez para aumentar a riqueza e o poder dos produtores de petróleo da região nos anos 1970, perderam a capacidade de agir unificadamente.

A questão do momento é: por que uma “extinção em massa” de estados independentes está acontecendo no Oriente Médio, no Norte da África e região? Os políticos e a mídia ocidentais referem-se frequentemente a esses países como “estados fracassados”. O sentido que esse termo implica é que o processo é autodestrutivo. Mas vários estados agora rotulados de fracassados, como a Líbia, reduziram-se a isso somente depois que movimentos de oposição, apoiados pelo Ocidente, tomaram o poder com o apoio e a intervenção militar de Washington e da OTAN, e mostraram-se muito fracos para impor seus próprios governos centrais e o monopólio da violência no território nacional.

O processo começou, em vários sentidos, com a intervenção no Iraque pela coalizão liderada pelos EUA, em 2003, que levou à queda de Saddam Hussein, ao fechamento do Partido Baath e à dissolução de seu exército. Qualquer que sejam seus erros, Saddam e o autocrático governante da Líbia, Muammar Gaddafi, foram claramente demonizados e acusados pelas diferenças étnicas, sectárias e regionais dos países que governavam — forças estas que foram, na verdade, liberadas de modo cruel depois de suas mortes.

Há, contudo, uma pergunta que não quer calar: por que a oposição à autocracia e à intervenção do Ocidente assumiu a forma islâmica, e por que os movimentos islâmicos que acabaram por dominar a resistência armada no Iraque e na Síria, em particular, toram tão violentos, regressivos e sectários? Colocado de outra forma, como poderiam esses grupos encontrar tantas pessoas querendo morrer por suas causas, enquanto seus opositores encontraram tão poucas? Quando os grupos de combate do ISIS estavam varrendo o norte do Iraque, no verão de 2014, soldados que haviam jogado fora suas armas e uniformes, e desertaram daquelas cidades do norte do país, justificaram sua revoada dizendo com desdém: “Morrer pelo [então primeiro ministro Nouri] al-Maliki? Jamais!”

Uma explicação usual para o crescimento dos movimentos de resistência islâmica é que a oposição socialista, secular e nacionalista foi esmagada pelas forças de segurança dos velhos regimes, ao contrário dos islâmicos. Em países como a Líbia e a Síria, contudo, os islâmicos também foram perseguidos com selvageria, e apesar disso dominaram a oposição. Mesmo assim, embora esses movimentos religiosos tenham sido suficientemente fortes para opor-se aos governos, eles geralmente não se mostraram fortes o suficiente para substituí-los.

Muito fracos para vencer, muito fortes para perder

Embora haja, claramente, muitas razões para a desintegração atual dos estados, e elas sejam de alguma forma diferentes de lugar para lugar, uma coisa é certa: o fenômeno está se tornando uma regra em vastas regiões do planeta.

Se você está procurando as causas da falência do estado nos dias que correm, deve sem dúvida começar pelo fim da Guerra Fria, um quarto de século atrás. Uma vez encerrada, nem os EUA, nem a nova Rússia que emergiu da implosão da União Soviética tinham interesse significativo em continuar apoiando “estados fracassados”, como fizeram durante tanto tempo, por medo de que o superpoder rival e seus aliados locais pudessem, então, tomar o poder. Antes, líderes nacionais de regiões como o Oriente Médio eram capazes de manter seus países com certa independência, equilibrando-se entre Moscou e Washington. Com a dissolução da União Soviética, isso não foi mais possível.

Além disso, na esteira do colapso da União Soviética, o triunfo da economia neoliberal de livre mercado somou a esse mix um elemento crítico. O neoliberalismo iria se mostrar muito mais desestabilizador do que parecia à época.

Veja a Síria, de novo. A expansão do livre mercado, num país onde não havia nem legitimidade democrática, nem o domínio da lei, significou acima de tudo uma coisa: plutocratas ligados às famílias que governavam as nações tomaram para si tudo o que parecia potencialmente lucrativo. No processo, tornaram-se assustadoramente ricos, enquanto os habitantes empobrecidos das vilas, das cidades e das favelas urbanas, que antes contavam com o estado para conseguir emprego e comida barata, sofreram. Ninguém deveria surpreender-se pelo fato de que esses lugares tenham se tornado redutos das rebeliões sírias, depois de 2011. Na capital, Damasco, à medida em que se expandia o reino do neoliberalismo, até mesmo os membros menos importantes do mukhabarat, a polícia secreta, passaram a viver com apenas 200 a 300 dólares mensais, enquanto o estado tornava-se uma máquina de ladrões.

Esse tipo de saque e leilão do patrimônio nacional espalhou-se por toda a região nestes anos. O novo governo egípcio, comandado pelo general Abdel Fattah al-Sisi, impiedoso em relação a qualquer sinal de dissidência interna, foi emblemático. Em um país que tinha sido referência para regimes nacionalistas em todo mundo, ele não hesitou, em abril deste ano, em abrir mão de duas ilhas no Mar Vermelho para Arábia Saudita, de cujo financiamento e “ajuda” seu regime é dependente. (Para a surpresa de todos, o Tribunal Superior do Egito suspendeu recentemente a decisão de Sisi).

Esse gesto, profundamente impopular entre egípcios cada vez mais pobres, foi o símbolo de uma mudança mais vasta  no equilíbrio do poder no Oriente Médio. Os estados mais poderosos da região – Egito, Síria e Iraque – eram regimes seculares nacionalistas, e foram um contrapeso genuino às monarquias da Arábia Saudita e do Golfo Pérsico. No momento em que o poder destas ditaduras seculares enfraqueceu, a influência das monarquias fundamentalistas sunitas só aumentou. Se em 2011 vimos a rebelião e revolução espalharem-se por todo Oriente Médio, com o breve florescimento da Primavera Árabe, também vimos a contrarrevolução ressurgir, financiada pelas milionárias petromonarquias do Golfo, que nunca tolerariam uma mudança para um regime democrático secular na Síria ou Líbia.

Adiciona-se a isso novos processos em curso que fragilizaram estes estados: a produção e venda de recursos naturais – petróleo, gás e minério – e a cleptomania que o acompanha. Esses países sofrem frequentemente com algo que se tornou conhecido como “a maldição dos recursos”: estados cada vez mais dependentes das receitas advindas da venda dos recursos naturais – o suficiente para fornecer para toda população, teoricamente, um patamar razoável de vida digna – tornando-se ditaduras grotescamente corruptas. Nelas, iates dos bilionários locais, com conexões cruciais para os regimes, vivem cercados por favelas com esgoto a céu aberto. Nesses países, a política tende a concentrar-se entre as elites, batalhando e manobrando para roubar as receitas do Estado e desviá-la o mais rápido possível para fora do país.

Este tem sindo o padrão da vida econômica e política em grande parte da África subsariana, de Angola à Nigéria. No Oriente Médio e África do Norte, no entanto, existe um sistema diferente, em geral mal entendido mundo afora. Há similarmente grandes desigualdades no Iraque ou na Arábia Saudita, com elites cleptocráticas semelhantes. Entretanto, eles governam seus estados com parte significativa da população, patrocinando oferta de trabalhos no setor público em troca da passividade política ou apoio a seus regimes cleptocráticos.

O Iraque tem uma população de 33 milhões de pessoas. No momento, nada menos que 7 milhões estão na folha de pagamento do governo, graças a salários e pensões que custam US$ 4 bilhões por mês. Esta forma rude de distribuir as receitas do petróleo à população sempre foi denunciada como corrupta pelos comentaristas e economistas ocidentais. Eles, por sua vez, geralmente recomendam o corte desses trabalhos, mas isso significaria que toda a receita advinda dos recursos naturais, em vez de uma parte, seria roubada pela elite. Isso, de fato, é cada vez mais o caso nessas terras, onde o preço do petróleo despenca e até mesmo a realeza saudita começa a cortar o suporte estatal para a população.

Por algum tempo, acreditou-se que o neoliberalismo seria o caminho para democracias seculares e economias de livre mercado. Na prática, tem sido tudo, menos isso. Ao contrário: junto com a maldição dos recursos naturais, e as repetidas intervenções militares de Washington e seus aliados, as economias do “livre” mercado desestabilizaram profundamente o Oriente Médio. Encorajado por Washington e Bruxelas [sede da União Europeia], o neoliberalismo do século 21 tem feito sociedade desiguais ainda mais desiguais e ajudado transformar regimes já corruptos em máquinas de saques. Esta é também, obviamente, a fórmula para o sucesso do Estado Islâmico ou qualquer alternativa radical para o status quo. Tais movimentos encontram facilmente apoio em regiões empobrecidas e negligenciadas, como o leste da Síria ou o leste da Líbia.

Note, contudo, que este processo de desestabilização não é uma peculiaridade do Oriente Médio e Norte da África. Estamos certamente na era da desestabilização, um fenômeno que está crescendo globalmente, espalhando-se para os Bálcãs e Leste Europeu (com a União Europeia cada vez menos capaz de influenciar os acontecimentos na região). Não se fala mais de integração europeia, mas de como prevenir a completa dissolução da União Europeia na esteira do supetão dado pelo Brexit na Inglaterra.

As razões pelas quais uma estreita maioria dos britânicos votou no Brexit tem paralelos com o Oriente Médio. As politicas econômicas de livre mercado perseguidas pelos governos, desde que Margaret Thatcher foi primeira-ministra, aprofundaram o fosso entre ricos e pobres e entre cidades ricas e boa parte do resto do país. A Grã-Bretanha pode estar indo bem, mas milhões de britânicos não compartilham da mesma prosperidade. O referendo sobre permanecer como membro da União Europeia, opção quase universalmente defendida pelo establishment britânico, tornou-se o catalisador para o protesto contra o status quo. A fúria dos que votaram a favor da saída tem muito em comum com a dos apoiadores do Donald Trump nos Estados Unidos.

Os EUA continuam a ser uma superpotência, mas já não são tão forte como antes. Eles, também, estão sentindo a tensão deste momento global, em que eles e seus aliados locais são suficientemente poderosos para imaginar que podem se livrar dos regimes de que não gostam — mesmo sem ter sucesso, como na Síria, ou tendo sucesso, mas sem poder substituir o que eles destruíram, como na Líbia. Um político iraquiano disse uma vez que o problema em seu país é que os partidos e movimentos eram “muito fracos para ganhar, mas muitos fortes para perder”. Este é cada vez mais o padrão de toda a região e está se espalhando para outros lugares. Isto traz consigo uma possibilidade de um ciclo interminável de guerras indecisas e uma era de instabilidade que já começou.

* Patrick Cockburn é um jornalista irlandês. Foi correspondente no Oriente Médio, primeiro para o Financial Times e depois pelo Independent. Já escreveu três livros sobre o Iraque a invasão americana no país.

BARROSO VAI PARA O “BANCO QUE DIRIGE O MUNDO”. O QUE É O GOLDMAN SACHS?

É conhecido como "the firm" (a firma) e enquanto o mundo se debate com crises financeiras, o gigante do mundo financeiro não só sobrevive como mantém e cresce em poder. O Goldman Sachs é um grupo financeiro anglo-saxónico, que esteve envolvido na crise da maquilhagem das contas da Grécia, no escândalo Abacus em que era acusado de enganar os próprios clientes e, depois de todos esses casos, cresceu a influência que tem no mundo.

“As pessoas que se preocupam apenas em ganhar dinheiro, não vão aguentar esta empresa – ou a confiança dos seus clientes – por muito mais tempo”. Este foi um dos avisos dados por Greg Smith, banqueiro do Goldman Sachs durante 12 anos, que se demitiu com uma carta que tornou pública no New York Times. "Why I am leaving Goldman Sachs" (Porque saio do Goldman Sachs) foi um texto que caiu com estrondo no grupo financeiro, que já estava a braços com alguns problemas de reputação, não de poder, sobretudo desde o grande escândalo Abacus, de 2007.

Mas não abalou o gigante financeiro, que para o jornalista francês Marc Roche, funciona com o lema: "Quem faz mais dinheiro, detém o poder". Ou, nas palavras do próprio CEO do banco de investimento, Lloyd Blankfein: "Sou um banqueiro que faz o trabalho de Deus".

O demissionário Greg Smith foi apenas um dos nomes que falou sobre os problemas do gigante financeiro que, muitos dos seus críticos dizem, mais do que dominar o mundo financeiro, controla governos e instituições com relevância por todo o mundo. E como o faz? "Funcionam em todo o mundo, gostam de arranjar pessoas inteligentes de outras partes do mundo, levá-las a Nova Iorque, dar-lhes cargos importantes no Goldman. É quase como uma universidade", explicou Richard Sylla, professor da Stern Business School, no documentário "Goldman Sachs - O banco que dirige o mundo", de Jérôme Fritel, baseado no livro do jornalista Marc Roche.

Para quem analisa o mundo financeiro, o Goldman Sachs funciona assim como uma porta giratória entre o banco e lugares de influência do poder. Muitos dos nomes influentes em altos cargos políticos passaram por lá, como o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. Durão Barroso fez o caminho inverso. Esteve primeiro em cargos de influência e agora vai para presidente não-executivo. 

Mas não só. Passaram por lá Hank Paulson, que foi presidente do Goldman Sachs e depois secretário de Estado do Tesouro dos Estados Unidos; António Borges, entretanto falecido, que chegou a ser director do Fundo Monetário Internacional para a Europa; Mário Monti, ex-primeiro-ministro italiano; Romano Prodi, ex-primeiro-ministro italiano e também ex-presidente da Comissão Europeia; Otmar Issing, que passou pelo BCE, entre outros. 

Com essa rede de influência, o grupo financeiro – que não funciona como um banco normal com agências e o edifício da sua sede nem tem sinalética a identificá-lo –, está no centro das decisões políticas em todo  o mundo. E isso já lhes trouxe alguns dissabores.
Afinal, o Goldman Sachs "é o banco que manda no mundo". Foi assim que o corretor bolsista Alessio Rastani classificou o Goldman Sachs em entrevista à BBC em 2011. Em plena crise financeira, o corretor tornou-se um fenómeno viral na Internet por ter dito aquilo que muitos críticos e políticos pensam.

Quando um escândalo não vem sozinho

Apesar de ter descido os lucros, os proveitos do grupo financeiro em 2015 foram de 5,6 mil milhões de dólares (cerca de cinco mil milhões de euros), o que fez aumentar o bónus salarial de Lloyd Blankfein, o CEO do grupo, para quase 30 milhões de dólares (27 milhões de euros). E, mesmo assim, o valor é mais baixo porque o banco teve de pagar multas por causa de casos judiciais.

Quais? Tudo remonta a 2007 quando o banco foi acusado de enganar os próprios clientes no caso Abacus, vendendo activos imobiliários que desvalorizaram, provocando perdas avultadas de dinheiro aos clientes e lucros astronómicos ao banco. Nesse ano, apesar do caso, os lucros do Goldman Sachs foram de 13 mil milhões de euros (quase 12 mil milhões de euros).

A vítima judicial deste caso foi apenas um jovem banqueiro Fabrice Tourré – que se auto-apelidava de "Fab, o Fabuloso". O banco só em 2010 viria a ser acusado, por não ter informado com rigor os seus investidores acerca do novo produto que colocou no mercado, o Abacus, antes de a crise eclodir. Associado ao chamado crédito de alto risco, este novo produto acabou por determinar perdas de mil milhões de dólares para quem nele arriscou o seu dinheiro.

Abalou o prestígio do Goldman Sachs, sobretudo nos Estados Unidos, isto apesar de um das vítimas deste esquema ter sido um banco alemão, IKB, que teria perdas avultadas e depois foi nacionalizado.

Pouco tempo depois, o banco veria o seu nome ser envolvido num escândalo, mas por outros motivos. Em plena crise financeira, o seu principal concorrente, o Lehman Brothers, pediu ajuda ao Governo norte-americano. E o secretário de Estado do Tesouro recusou, dizendo que não queria onerar os contribuintes com o resgate de um banco de investimento.

Contudo, o verdadeiro poderio do Goldman Sachs só foi reconhecido do lado de cá do Atlântico quando foi descoberto o seu papel na maquilhagem das contas da Grécia, desde o início deste século. Para responder às regras do euro, o Tesouro grego aceitou uma operação de dívida com o grupo financeiro, que viria a contribuir para que as contas do país parecessem melhores do que realmente estavam. E quando o acordo falhou, a Grécia caiu. 

Ora os ecos da ligação entre Goldman Sachs e a Grécia não se fizeram apenas sentir na finanças dos estados soberanos, com a crise a alastrar. Fizeram também sentir-se politicamente, mesmo que sem resultados práticos. Durante a audição no Parlamento Europeu antes da sua nomeação como presidente do BCE, Mario Draghi, acabou por ser confrontado sobre se sabia ou não do que tinha feito a gigante financeira. Aos eurodeputados, disse que essa relação era anterior à sua entrada no banco. "Não tive nada a ver com estes negócios, nem antes, nem depois", disse. E repetiu que nunca trabalhou com o sector público, mas com o privado e que essa foi uma das condições para ter entrado no Goldman Sachs.

Ao longo dos anos, vários têm sido os casos que atingem o grupo financeiro anglo-saxónico, mas o Goldman Sachs continua a ser, para muitos, o banco de investimento com mais poder no mundo.

Liliana Valente – Público – com vídeos no original

Na aldeia em Paços de Ferreira a família não esquece o Antoine

Griezmann, o temível avançado francês que é o líder dos marcadores do Europeu, tem raízes em Portugal. Uma prima confessou ao DN que amanhã na final vão estar divididos. O ideal era Portugal ganhar, mas o Antoine marcar
O avançado francês Antoine Griezmann será um dos jogadores que amanhã, na final do Campeonato da Europa, frente a Portugal, mais dores de cabeça poderá causar à seleção nacional. Mas o curioso é que o temido gaulês, pelos golos que marca, tem também a correr--lhe nas veias... sangue luso. Isto porque apesar de ser conhecido no mundo do futebol pelo apelido Grizemann, Antoine tem como segundo nome o bem nacional Lopes, oriundo da sua mãe, uma portuguesa radicada há vários anos em França.
Foi da pacata aldeia de Raimonda, em Paços de Ferreira, que a avó de Antoine partiu, nos anos 60, para França, em busca de uma vida melhor para a família. Mas apesar da distância nunca esqueceu a sua pátria, fazendo, tal como milhares de emigrantes, as férias de verão em Portugal e trazendo consigo a mãe e o... pequeno Antoine.
"Ele vinha passar férias com frequência aqui a Portugal, com a mãe e a avó, e como aqui as casas da família são todas juntas, lembro-me muito bem dele passar esses meses de verão connosco", contou ao DN Fátima Coelho, prima do avançado, que na aldeia é mais conhecido como Antoine.
"Sou prima da Isabel, que é a mãe dele, lembro-me bem do Antoine novinho aqui a brincar connosco, e já na altura sempre com a bola nos pés", lembra a familiar, completando: "Era um miúdo pacato, brincava muito com os meus filhos, e não se metia em confusões. Apesar de novinho mostrava ser muito humilde, é algo que lhe foi incutido pela avó."
Segundo Fátima Coelho, a avó de Antoine "sempre cuidou muitos dos netos", recordando que "o rapaz e a irmã mais velha praticamente foram criados com ela", apreendendo, assim, a dizer algumas palavras em português: "Desde os 8 anos que ele vinha para Raimonda e a avó falava sempre português com ele. Os miúdos perce- biam tudo, e mesmo não falando muito, sabiam o básico. Mesmo nas brincadeiras com os meus filhos, eles comunicavam sempre em português."
Fátima deixou de ver o primo quando Griezmann foi para Espanha, com 12 anos, confidenciando que o pequeno Antoine tinha saudades da família e de vir brincar para Raimonda.
"A minha prima dizia que ele lhe ligava para o irem buscar a Espanha, porque estava cheio de saudades da família. Mas o pai insistiu que ele ficasse lá e evoluísse as qualidades. Estou certo de que se assim não fosse, o rapaz teria vindo mais vezes visitar-nos", lembrou.
Contactado pela federação
Apesar da distância, e do pouco contacto com o avançado, Fátima Coelho garante que toda a família seguiu de perto a evolução do "pequeno" Antoine, e que o "rapaz é motivo de orgulho na terra".
"Acompanhámos sempre a evolução dele, e sobretudo pelos meus filhos vamos sabendo como ele está. Confesso que nunca imaginei que ele chegasse a este patamar, embora tivéssemos percebido desde muito cedo que o miúdo tinha jeito para a bola", contou.
Ora esse jeito de Griezmann para a bola também não passou despercebido aos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol, que a dada altura tentaram convencer o avançado a vestir a camisola da pátria dos avós. "Foi uma pena ele não jogar por nós, mas sei que isso chegou a ser falado com os pais dele, e que a nossa seleção estava atenta. Mas depois não se proporcionou", confessou, pesarosa, Fátima, pois agora, na final deste domingo, a família terá o coração um pouco dividido.
"Claro que estamos um bocadinho divididos, porque o Antoine é um dos nossos. Mas como sou portuguesa quero que Portugal vença, mas gostava que ele tivesse um prémio e marcasse um golo. Se ficasse 2-1 para Portugal já era bom", vaticinou a prima de Griezmann.
Ainda assim, seja qual for o desfecho, Fátima Coelho enviou pelo DN um recado ao primo: "Fica o convite para ele no final do Europeu regressar a Raimonda, e estar aqui uns dias com os primos e o resto da família. Se vencer, pode vir aqui festejar, e se perder nós estamos cá para o reconfortar.".
Para que se perceba o forte sentimento que os familiares ainda nutrem pelo jovem avançado gaulês, Fátima Coelho termina a conversa com uma inconfidência: "A minha mãe, que tem 88 anos, e é irmã da avó do Antoine, ainda hoje se emocionou quando lhe dissemos que o miúdo ia jogar a final com Portugal."
Fonte: DN

Sabe porque é que não se disputa o terceiro lugar no Euro?

Ao contrário daquilo que acontece no Campeonato do Mundo, no Europeu de futebol não de disputa o terceiro e o quarto lugar. A justificação para isto remonta ao século passado.
A última vez que se disputou o terceiro e quarto lugar foi em 1980. Nesse ano, a Checoslováquia derrotou a equipa da casa, a Itália, e conquistou o terceiro lugar do pódio.
A justificação para a decisão está relacionada com a falta de público para estes jogos. Em 1980, cerca de 27 mil pessoas assistiram ao jogo da Itália contra a Checoslováquia. Ainda assim, estes números foram superiores aos registados em 1976 (7 mil), 1972 (6 mil) ou 1964 (4 mil).
Um outro elemento que ajuda a compreender o fim do jogo do terceiro e quarto lugares resulta da mudança de regras na UEFA. Até 1976, apenas quatro seleções podiam disputar a fase final do Euro. Quem vencesse os primeiros jogos disputava a final e os derrotados competiam pelo terceiro lugar.
Em 1980, o torneio foi disputado por oito equipas, divididas em dois grupos. Os vencedores de cada grupo, Alemanha e Bélgica, disputaram a final e os segundos classificados a medalha de bronze. Em 1984, foi mantido o formato de oito equipas e pela primeira vez não se jogou a decisão do terceiro lugar. Curiosamente, Portugal caiu nas meias-finais contra a França e perdeu a oportunidade de alcançar o terceiro lugar.
Fonte: jn

Portugal pode tornar-se o 10.º campeão europeu

A França pode igualar Espanha e Alemanha no histórico de títulos.
A anfitriã França, que venceu as duas finais disputadas, pode igualar domingo os três títulos das recordistas Alemanha e Espanha, enquanto Portugal, derrotado no único jogo decisivo em que participou, tenta tornar-se o 10.º campeão europeu de futebol.
Vencedora em 1984, numa prova também disputa em solo gaulês, e em 2000, na Holanda e Bélgica, a formação tricolor está um jogo de igualar os três cetros da ‘Mannschaft’ (1972, 1980 e 1996) e da ‘La Roja’ (1964, 2008 e 2012).
Para conseguir, e manter-se como a única seleção 100 por cento vitoriosa em finais entre as que disputaram pelo menos duas, a França precisa de bater Portugal, a única formação que perdeu uma final em casa, em 2004, frente à Grécia.
Um golo de Angelos Charisteas, aos 57 minutos, foi suficiente para acabar com o ‘sonho’ da formação das ‘quinas’, que agora, 12 anos volvidos, conseguiu em solo gaulês o primeiro ‘passaporte’ para uma final em ‘reduto alheio’.
Pela frente, terá uma França que, em 1984, somou em casa o seu primeiro título, ao bater a Espanha por 2-0, com tentos de Michel Platini, o seu nono na prova, de livre direto, aos 57 minutos, e Bruno Bellone, aos 90.
Em 2000, e depois de como em 1984 ter batido Portugal nas meias-finais (2-1, depois de 3-2, sempre após prolongamento), a França, então campeã mundial em título, teve a final ‘perdida’, mas acabou por vencer com um ‘golo de ouro’.
Na ‘banheira’ de Roterdão, Marco Delvecchio, com um golo aos 55 minutos, colocou a Itália em vantagem, que Alessandro Del Piero podia ter ampliado, mas, aos 90+3, Sylvain Wiltord forçou o tempo extra, no qual decidiu David Trezeguet, aos 103.
A França manteve, assim, o pleno de triunfos em finais, que mais três seleções ostentam, mas só com um encontro disputado, contando-se entre elas a Grécia, depois de chegar ao Europeu de 2004 sem qualquer triunfo em fases finais.
Por seu lado, a Holanda venceu a final de 1988, em Munique, ao bater a União Soviética por 2-0, com tentos dos avançados Ruud Gullit e Marco Van Basten, e a Dinamarca a de 1992, em Gotemburgo, ao superar a Alemanha por 2-0, com golos dos médios John Jensen e Kim Vilfort.
Apesar do desaire de 1984, com a França, a Espanha apresenta um balanço muito positivo em finais, pois venceu as restantes três: 2-1 à União Soviética em casa, em 1964, 1-0 à Alemanha, em 2008, e 4-0 à Itália, em 2012.
Por seu lado, os germânicos somam três triunfos (3-0 à União Soviética, em 1972, com um ‘bis’ de Gerd Müller, 2-1 à Bélgica, em 1980, com um ‘bis’ de Horst Hrubesch, e 2-1 à República Checa, com novo ‘bis’, de Oliver Bierhoff, incluindo um ‘golo de ouro’, aos 95 minutos) e três desaires.
Os checos perderam esse embate com os alemães, mas, em 1976, a então Checoslováquia havia batido a então RFA por 5-3, nas grandes penalidades, depois de um empate a dois golos. Brilhou Antonin Panenka, com o seu penálti ‘à Panenka’.
A União Soviética perdeu três finais, depois de ter conquistado a primeira, por 2-1, face à Jugoslávia, num embate decidido aos 113 minutos por Viktor Ponedelnik, e a Itália soma duas derrotas, mas igualmente após um triunfo, em 1968, em casa, perante a Jugoslávia, e apenas num segundo jogo (2-0).
Além de Portugal, a Jugoslávia (1960 e 1968) e a Bélgica (1980) são as únicas seleções que chegaram à final e não somam qualquer título, sendo que a formação das ‘quinas’ tem a oportunidade de mudar o seu ‘destino’ no domingo.
Fonte: Lusa

Euro2016: Ronaldo diz que “tudo é possível”, mas dá ligeiro favoritismo à França

O 'capitão' da seleção portuguesa de futebol, Cristiano Ronaldo, assume que a França "é um pouco mais favorita" na final do Euro2016, agendada para domingo em Paris, mas é da opinião que "tudo é possível".
"A França é um pouco mais favorita do que nós, porque joga em casa. Mas, é uma final, em que tudo é possível. Estamos preparados. Acredito que Portugal vai vencer o seu primeiro troféu importante", afirmou Cristiano Ronaldo.
Em entrevista ao sítio oficial da UEFA, o avançado de 31 anos assumiu que a seleção nacional iniciou a competição de uma "maneira soft", com os três empates na fase de grupos, mas depois encontrou o seu caminho e chega com "todo o mérito" à final no Stade de France.
"Os resultados nos primeiros jogos não eram aquilo que desejávamos, mas, no geral, a prestação é positiva, porque para se chegar a uma final é preciso muito mérito e nós temos, jogadores, treinadores e toda a estrutura da seleção. Estamos todos de parabéns", referiu.
A um golo de se isolar no topo da lista dos melhores marcadores de sempre da história dos campeonatos da Europa, Ronaldo, que soma os mesmos nove golos de Michel Platini, disse que os recordes são algo que tem surgido de "forma natural" na sua carreira e que não está obcecado com isso.
"Quero é estar na história. Já o consegui nos clubes por onde passei e na seleção também. Quero continuar a minha história. Sinto-me bem, sinto-me jovem, com força. O que mais quero é continuar na minha linha de sucesso", reforçou.
O 'capitão' de Portugal considerou ainda que domingo, naquela que será a segunda final da sua carreira pela seleção, depois do Euro2004, a formação das 'quinas' vai ter pela frente uma França "fantástica", que vai ter a "grande vantagem" de atuar em casa e ter "todo um país a apoiá-la" em Saint-Denis.
"Estamos preparados e vamos ser, certamente, uma equipa difícil de vencer. Ainda ninguém nos derrotou neste torneio, por isso espero que a França também não nos consiga vencer. Vai ser um jogo complicado para ambas as equipas", disse.
O Portugal-França está agendado para as 21:00 locais (20:00 horas de Lisboa) de domingo e terá arbitragem do inglês Mark Clattenburg.
Fonte: Lusa

Rui Drumond: «Manter o sonho vivo mantém-nos vivos também.»

Desde há treze anos para cá, a vida de Rui Drumond tem sofrido algumas evoluções consecutivas.
Tudo teve início em 2003 quando decidiu participar no programa televisivo Operação Triunfo, na RTP1. Esta sua participação permitiu-lhe “entrar na indústria musical em Portugal” e, assim, começar a conquistar o público. Por sua vez, em 2004, integrou a comédia musical “In Love”. Em 2005 deu-se um dos pontos altos da sua carreira. Em conjunto com a Luciana Abreu representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção, na Ucrânia.
Mas é em 2014 que regressa a mais um concurso de talentos, na RTP1. Rui Drumond ganhou, assim, o programa The Voice Portugal, conquistando o carinho do público e mostrando o seu poder vocal.
Nesta entrevista, Rui Drumond fala-nos do seu percurso musical e dos seus projetos futuros.
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Com que idade percebeste que tinhas este gosto particular pelo mundo da música?
Penso que logo muito cedo, aos 9/10 anos. Eu vasculhava todos os discos que os meus pais tinham em casa e ouvia atentamente enquanto olhava para as imagens dos artistas nos discos, ficava fascinado.
Na tua página de facebook, a tua biografia começa dizendo que “desde há 12 anos para cá, a sua vida tem vindo a dar sucessivos “pulos” no mundo da música”. Que pulos são esses?
Desde há 13 anos, tenho de atualizar (Risos).
Desde a minha participação no programa Operação Triunfo que tenho vindo a crescer na música, participando em inúmeros projetos musicais distintos, onde aprendi imenso, daí esses pulos e esses passos marcantes para mim.
A “Operação Triunfo” foi uma espécie de rampa de lançamento para a tua vida profissional?
Sem dúvida, claro! Ajudou-me essencialmente a entrar na indústria musical em Portugal em várias vertentes.
O que guardas dessa experiência em termos de aprendizagem?
De tudo um pouco. Nós (os concorrentes) tivemos muita sorte em ter todos aqueles professores experientes e todo aquele acompanhamento da produção. Foi um passo gigante, deu-nos as bases para trabalharmos dali adiante.
Em que aspetos é que as comédias musicais te ajudaram a evoluir no ramo da música?
Vários aspetos! Foi das primeiras vezes que trabalhei com músicos ao vivo e todos eles de excelência! Trabalhei com colegas e amigos com quem aprendi muito mesmo. Cantei em teatros lindíssimos em Portugal e conheci pessoas que marcaram a minha vida.
Um dos pontos mais altos da tua carreira foi, sem dúvida, a tua participação no Festival Eurovisão da Canção. Como viveste esta experiência tão grandiosa?
É e será sempre gratificante representarmos o nosso país. É um sonho de muitos portugueses e eu tive essa sorte, por isso foi único!
Alguma vez sonhaste que um dia virias a gravar um dueto com o Paulo de Carvalho?
Nunca! (Risos). Sempre fui fã do Paulo, daquele timbre inigualável e foi uma experiência para guardar e repetir, quem sabe.
 
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O que te motivou a participar no programa The Voice Portugal?
O meu sonho e tudo aquilo que ainda falta alcançar. Achei que seria uma ótima oportunidade de entrar por ali dentro e lutar.
Foste o grande vencedor do concurso. O que achas que esteve na origem desse desfecho?
O mais importante neste meu percurso para mim: o público. Eles é que me escolheram, compreenderam e aplaudiram. Estarei grato para toda a minha vida.
Mediante o teu percurso e o trabalho todo que tens feito ao longo destes anos, lutar e nunca desistir compensa?
Compensa sempre! Manter o sonho vivo mantém-nos vivos também. O resultado só a Deus pertence.
Por fim, fala-nos um pouco acerca dos teus projetos futuros e do que estás atualmente a fazer.
Neste momento estou a compor. Vou, inicialmente, lançar dois temas originais em português. É um projeto independente e será também o primeiro que vai realmente mostrar o que sou. Espero conseguir gravar um álbum até ao final deste ano. Continuo também com muitas atuações em eventos privados (corporate) e não só.
Terminada esta entrevista resta-me agradecer ao Rui por toda a sua disponibilidade e, acima de tudo, por ter aceite responder às minhas questões.
Por Cátia Sofia Barbosa, aluna de Jornalismo na UC
Mira Online | Julho 9, 2016 às 10:15 am

Carromeu sobre rodas…

Desde Carromeu à Praia de Mira. Eis o percurso do Quinto Passeio Cicloturismo da Associação de Melhoramentos e Cultura de Carromeu que acontecerá este domingo, dia 10 de Julho, e que terá início pelas 9:30 horas.
O tempo bom está garantido. Garanta já a sua presença...
5 passeio cicloturismo
Mira Online | Julho 9, 2016 às 9:58 am | Categorias: Locais | URL: http://wp.me/p5tucu-fkA

Quando a ciência escolheu Mira como laboratório…

Fazendo parte do Protocolo assinado entre a Câmara Municipal de Mira e a Universidade de Coimbra, foram apresentados no dia de ontem, sexta-feira, as primeiras duas apostas destas entidades, que são frutos desta parceria. O autarca Raul Almeida e os Professores Miguel Pardal e Henrique Pereira apresentaram, no Salão Nobre da Câmara Municipal, o Summer School e a Ciência na Praia.
Summer School será um verdadeiro "curso prático", segundo as palavras do Prof. Miguel Pardal, que afirmou que "durante 3 dias - de 14 a 16 de Julho - entre 20 a 25 alunos daquela Universidade estarão em Mira para fazer investigação sobre assuntos tão variados como os cogumelos ou a pesca". Serão aulas ministradas desde o período da manhã até a noite, onde os alunos poderão "sair do ambiente fechado da Universidade, criando um verdadeiro espírito de grupo que trará ganhos indiretos para todos: universitários e comunidade local". Já Raul Almeida fez questão de vincar a ideia de que "a associação a uma Universidade de prestígio como esta, para além dos conhecimentos que acarretam, também são capazes de gerar empregos de qualidade" na região.
Quanto ao Ciência na Praia, trata-se de "uma forma de aproximarmos a ciência ao público, com diferentes temas durante 5 seções", nas palavras do Prof. Henrique Pereira... e a primeira é já hoje!
"Do desaparecimento das abelhas ao fim do mundo" (hoje, 9 de Julho); "A vida entre marés" (dia 16); "Plantas assassinas" (dia 23); "Machos e Fêmeas: juntos os separados?" (dia 24) e finalmente, "Aquacultura: o que come a nossa comida" (dia 30), são os temas diversificados que serão expostos e debatidos por cientistas daquela Universidade, trazendo ao "público comum" uma diferente visão da ciência.

summerschool
ciencianapraia

Mira Online | Julho 9, 2016 às 9:44 am | Categorias: Locais | URL: http://wp.me/p5tucu-fkv

AS PORTAS GIRATÓRIAS

Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

A expressão soa melhor no original, em inglês: "Revolving doors". É de portas giratórias que falamos quando falamos do fabuloso destino profissional de Durão Barroso, escolhido para ser o presidente não executivo da Goldman Sachs, o "banco do Mundo". É de portas giratórias que falamos quando queremos identificar os caminhos seguidos por uma bem urdida teia que funde interesses corporativos com agendas políticas. O "banco do Mundo" para onde agora vai Durão Barroso, ou "a firma", como também é desdenhosamente apelidado, tem, entre outras medalhas na lapela, a responsabilidade de ter ajudado a maquilhar, durante anos, as contas públicas da Grécia. Quando a coisa correu mal, Atenas caiu do Olimpo com o estrondo conhecido.

A contratação do ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro de Portugal só pode deixar boquiabertos os distraídos ou os ingénuos. No final do ano passado, o "Corporate Europe Observatory", uma organização sem fins lucrativos que se dedica à denúncia e divulgação de más práticas lobistas em Bruxelas, publicou uma investigação interessante: depois de abandonar funções, Durão Barroso assumiu um papel mais ou menos ativo em 22 organizações diferentes. E nove dos 26 comissários da segunda Comissão Barroso que haviam deixado o cargo em 2014 passaram pelas tais portas giratórias em direção a corporações com links a grandes interesses económicos. No aparentemente entediante mundo de Bruxelas, gere-se poder e criam-se leis e regulamentos que afetam 500 milhões de pessoas, vulgo clientes.

Todos temos direito a alimentar ambições profissionais, e a classe política não deve ser impedida de ter um emprego uma vez fora do seu habitat natural. Mas há casos gritantes como este de Durão Barroso, em que só nos é dada a oportunidade de termos futuro porque tivemos um determinado passado.

Não deixa, igualmente, de ser irónico que o mandato do ex-primeiro-ministro português na presidência da União Europeia tenha coincidido com os anos negros da economia no Velho Continente e que tenha sido precisamente um dos rostos mais diabólicos do conjunto dos predadores financeiros que arrastaram países para o fundo a escolhê-lo como empregador.

A ironia (leia-se descaramento) consegue ser tão refinada, que essa mesma Europa deambulante pós-Barroso que mobilizou a saída do Reino Unido esteja agora na base dos motivos invocados pelo gigante Goldman Sachs para recorrer aos serviços de Durão: "mitigar os efeitos negativos" do Brexit.

As portas giratórias são um mistério da carpintaria. Não fecham. Só abrem.

Editor-executivo-adjunto