sábado, 23 de julho de 2016

AGORA NA FRANÇA, A “DEMOCRACIA” SEM POVO

Lei que achata direitos trabalhistas acaba de ser aprovada, mesmo enfrentando 70% de rejeição popular e sem maioria no Parlamento. Como isso foi possível?
Antonio Martins – Outras Palavras, em Blog da Redação

Em 1930, John Maynard Keynes, o economista que mais intensamente lutou por um capitalismo reformado previu que seus netos trabalhariam 15 horas por semana. O sistema, imaginou ele, promoveria incessantes avanços tecnolócios e aumento da produtividade do trabalho; também seria suficientemente sábio e generoso para distribuir estes ganhos com o conjunto da sociedade. Há poucas horas, a França, somou-se ao conjuntos dos países do capitalismo “desenvolvido” e aprovou a chamada Lei El Khomri. Na contramão do que previa Keynes, ela permite estender a jornada a 46 horas semanais, além de eliminar inúmeros direitos trabalhistas relacionados à irredutibilidade dos salários, descanso entre as jornadas, indenizações em caso de demissão, gozo das férias e proteção dos que sofrem acidentes laborais.

O retrocesso atinge, além dos direitos sociais, a própria democracia. Desde que apresentada, há cinco meses, a lei foi alvo constante de protestos. Os sindicatos promoveram seguidas jornadas de luta contra ela — algumas vezes reprimidas pela polícia com ferocidade. A juventude ergueu-se no movimento Noites Despertas (“Nuits Debout”). Além disso, todas as sondagens de opinião feitas no período revelaram: ao menos sete, em cada dez franceses, eram contrários às mudanças propostas.

Além de praticar a democracia sem povo, a França capitalista estabelece que, em certas situações, as leis podem ser aprovadas também sem maioria parlamentar. O estranho artifício está previsto no Artigo 49, alínea 3, da Constituição. O Poder Executivo tem a faculdade de invocar o chamado “compromisso de responsabilidade” e impor a adoção de um projeto mesmo quando percebe que não contará com os votos da maior parte da Assembleia Nacional. Neste caso, a única forma de derrubar a lei é aprovar, na própria Assembleia, uma moção de censura ao gabinete de ministros, provocando sua queda.

Manuel Valls, o primeiro-ministro, apelou para o Artigo 49.3 ontem à tarde, ao discursar na Assembleia. Foi a terceira vez em que adotou tal expediente. Nas ocasiões anteriores, fracassou, devido ao repúdio da opinião pública. Mas agora, pôde contar com o inesperado auxílio do terror. Na semana passada, o país foi abalado por atentadocometido por um motorista de caminhão em Nice, que matou 84 pessoas por atropelamento ou a tiros. As ondas de choque que se seguiram monopolizaram as atenções da opinião pública. Também ontem, o Parlamento estendeu até janeiro de 2017 o Estado de Emergência, que restringe os direitos constitucionais — entre eles, o de manifestação. Esta tarde, 24 horas depois, a Lei El Khomri entrou em vigor.



Uma situação particular permitiu tal desfecho. O governo é exercido por um Partido Socialista que aderiu sem pudores ao neoliberalismo. Há dez anos, ainda distante do poder, o atual presidente, François Hollande, declarava, sobre o Artigo 49.3: “é uma brutalidade, uma negação da democracia”. Eleito chefe de Estado em 2012, graças às críticas que fez à hegemonia da Alemanha sobre a União Europeia, o “socialista” passou a praticar exatamente o contrário do que propusera aos eleitores.

Hollande é acossado por uma oposição de direita, expressa tanto por Les Republicains(LR), mais tradicionais, quanto por Marine Le Pen, da Frente Nacional, xenófoba e semi-fascista. Mas a tática habitual do Executivo tem sido ceder a estas direitas, ao invés de enfrentá-las. Na sessão em que o Estado de Emergência foi estendido até janeiro, o jogo ficou claro. Les Republicains e a Frente Nacional apoiaram a restrição aos direitos e liberdades. Mas, ao discursar, os representantes destes dois partidos afastaram-se do governo, defendendo medidas ainda mais autoritárias. O deputado Laurent Wauquiez, favorárvel ao Estado de Emergência, pediu que ele incluísse a criação de campos de internamento, onde ficariam concentrados os suspeitos de atividades terroristas. As eleições presidenciais estão marcadas para 2017. Se ocorressem hoje, indicam todas as sondagens, o segundo turno seria disputado por um candidato de direita contra outro de extrema direita.

Oitenta e seis anos após o sonho nunca realizado de Keynes, é assim que caminha o capitalismo. Será possível detê-lo? Como?

Brasil. O DESMONTE SOCIAL NO PLANO TEMER - MEIRELLES

O Projeto de Emenda Constitucional nº 241 (PEC 241) demonstra de forma clara o que está na agenda política do governo Michel Temer e na pauta econômica do ministro Henrique Meirelles
Daniel Arias Vazquez, São Paulo – Correio do Brasil, opinião

A proposta impõe um limite para o aumento do gasto público federal definido pela inflação do ano anterior, por um período de 20 anos. Ou seja, propõe congelar o gasto público em termos reais, retirando a decisão de gasto da esfera da política ao estabelecer um indexador econômico fixo, que não possui qualquer relação com capacidade de arrecadação (receita) ou com as demandas por bens e serviços públicos (despesa), que são as variáveis centrais da função alocativa de qualquer governo.

Ao congelar o gasto federal, a PEC 241 desestrutura o financiamento da política social brasileira ao eliminar a vinculação de receitas destinadas à educação e ao orçamento da seguridade social, que compreende as políticas de saúde, previdência e assistência social. Tais vinculações expressam conquistas sociais que foram garantidas na Constituição de 1988, visando estabelecer prioridade e preservar o gasto público nestas áreas sociais, independentemente do governo que estivesse no poder.

Caso a PEC 241 seja aprovada, os recursos cativos para a educação, saúde, previdência e assistência social serão desvinculados e limitados à evolução dos gastos à correção da inflação. Diante disso, quais são os efeitos esperados da PEC 241 sobre a trajetória do Gasto Social Federal – GSF?

Se realizarmos uma simulação para o período de 2003 a 2015, em vez da trajetória ascendente do GSF aplicado nos governos Lula e Dilma, o Plano Temer/ Meirelles significa um congelamento de todo gasto federal em termos reais. Em valores reais de dezembro de 2015, a PEC 241 teria retirado R$ 3,2 trilhões de recursos federais aplicados na política social. Caso ela estivesse em vigor desde 2003, o GSF seria 37% menor que os recursos destinados à política social nos governos Lula e Dilma.

Por área de atuação, as perdas de recursos seriam da ordem de: R$ 437,7 bilhões na assistência social (o que representa uma redução de 68,5%); R$ 453,9 bilhões em educação e cultura (39% a menos); R$ 253,4 bilhões na saúde (26,5% a menos); R$ 1,7 trilhão na previdência (perda de 32,6% dos recursos destinados ao pagamento dos benefícios previdenciários).

Como o efeito da medida é acumulativo, os recursos disponíveis para o GSF seria menos da metade dos recursos efetivamente aplicados no ano de 2015, mais precisamente 55% a menos. Por área, a redução do gasto social seria de: menos 79% na assistência social; menos 62% na educação e cultura; menos 45% na saúde e menos 49% na previdência, mostra o artigo “O plano Temer/ Meirelles contra o povo: o desmonte social proposto pela PEC 241”.

É importante ressaltar que o Plano Temer/ Meirelles tem como ponto de partida os gastos públicos em um período de recessão, que afetou o orçamento e, portanto, os gastos federais. Ou seja, a PEC 241 pretende projetar no futuro a restrição orçamentária atual para os próximos 20 anos, mesmo quando o país retomar o crescimento e as receitas governamentais voltarem a crescer acima da inflação.

Embora a “falácia da confiança dos mercados” afirme que um ajuste fiscal dessa magnitude e de longo prazo seja um pré-requisito para a retomada do crescimento econômico, sabemos que uma política fiscal restritiva atua no sentido contrário e que, na realidade, os investimentos atraídos por essa estratégia são de caráter eminentemente financeiro.

No lugar de estabelecer uma trava ao gasto público, deveria se identificar que tipo de gasto público poderia ter maior efeito multiplicador, uma vez que o aumento das desonerações e subsídios concedidos ao setor privado não foram capazes de estimular o investimento produtivo. Além de combater a desigualdade e a pobreza no Brasil, o gasto social também cumpriria esse papel de estímulo para a retomada do crescimento.

Em direção contrária, a PEC 241 impõe outra trajetória para os gastos públicos federais como um todo para os próximos 20 anos e, inexoravelmente, reduzirá as possibilidades de atuação do Estado na área social. Trata-se de um duro golpe para a espinha dorsal da proteção social no Brasil, estabelecida na Constituição de 1988 e ainda em consolidação.

*Daniel Arias Vazquez, é doutor em desenvolvimento econômico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

JUIZ FEDERAL DESMENTE MINISTRO SOBRE PRISÃO DE “TERRORISTAS” NO BRASIL

Juiz Federal que decretou a prisão de dez brasileiros que supostamente planejavam um ataque durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro contradiz ministro da Justiça e diz que os suspeitos não são 'terroristas'. Especialista em mídias sociais também expôs contradições do ministro sobre mensagens criptografadas
O juiz federal Marcos Josegrei da Silva, titular da 14ª Vara Federal de Curitiba, deu uma coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira 21 sobre sua decisão que resultou na prisão de dez suspeitos que supostamente estariam planejando um ataque terrorista durante a Olimpíada do Rio de Janeiro, em agosto.

Em sua fala, o magistrado contradisse o ministro interino da Justiça, Alexandre de Moraes, que disse horas antes à imprensa que o líder do grupo estava preso em Curitiba. “Essa questão da liderança, quero esclarecer que foi uma leitura feita pelo ministro da Justiça”, disse o juiz, que reiterou que os suspeitos não podem ser considerados “terroristas”.

“É preciso deixar bem claro o seguinte: são afirmações por internet, que pessoas fazem por meios virtuais. As prisões e as buscas buscam obter elementos que confirmem ou não isso. Nem tudo que uma pessoa preconiza no meio virtual, ela vai realizar no real”, disse ainda.

Especialista também questiona ministro

De acordo com as informações do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, o serviço de inteligência brasileiro teve acesso a conversas em aplicativos de troca de mensagens instantâneas como o Whatsapp e o Telegram.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, a especialista em mídias sociais, Patrícia Andrade Ladeira, questionou a declaração do ministro, alegando ser impossível ter acesso às conversas de WhatsApp devido a medida de segurança existente no aplicativo, conhecida como criptografia.

“Na última terça-feira (19), a Justiça pediu o bloqueio do whatsapp alegando que eles se negaram a quebrar o sigilo de pessoas suspeitas, porém, não existe uma maneira do aplicativo fazer isso, pois nem eles próprios conseguem acessar as conversas. Existe uma forma de segurança chamada criptografia, usada no Whatsapp. O que a criptografia faz, é basicamente embaralhar nossas conversas e criar códigos para que outras pessoas não consigam entender sobre o que se trata a conversa. Não existe uma maneira de burlar essa medida de segurança”, comentou Patrícia.

A especialista comenta também que, nem mesmo seria possível grampear as conversas realizadas através do serviço de ligação do Whatsapp, feita através de uma tecnologia chamada VoIP.

“É muito diferente, por exemplo, do telefone normal, onde você pode instalar um grampo e ter acesso às conversas da pessoa grampeada. No caso desse tipo de mensagem chamada VOIP, não existe uma maneira de grampear as conversas”, explicou.

Durante entrevista coletiva, o ministro informou que os indivíduos estavam sendo monitorados desde abril pela Polícia Federal, e que, apenas dois deles tinham contato pessoal, e ambos já haviam sido condenados há seis anos de prisão por homicídio.

Segundo a esposa de um dos presos, ele não possuía o aplicativo Telegram instalado em seu celular, apenas o Whatsapp, e, que os únicos grupos com relação com o islã que ele participava eram os grupos de estudos da língua árabe. Idioma que era lecionado pelo suspeito através de vídeos no youtube (assista abaixo), e que ele usava os grupos para tirar dúvidas dos alunos.

Patrícia lembrou que, antigamente, quando as conversas eram feitas através do MSN era possível quebrar o sigilo das mensagens pois havia uma maneira de salvar o histórico de conversas e ter acesso através de outros computadores, o que não é possível com os celulares.

Questionado sobre a possibilidade de investigar os suspeitos por meio das conversas criptografadas do WhatsApp e do Telegram, o ministro não quis responder. “Pelo amor de Deus”, ele se limitou a comentar.

“Amadores”

Outro ministro do Michel Temer, Raul Jungmann, da pasta da Defesa, admitiu que os dez brasileiros presos não passavam de ‘amadores’.

“Era um grupo que não tinha nenhuma tradição, algo que você possa dizer que havia um preparativo histórico”, afirmou Jungmann.

Ele disse que a ação deste grupo é um fato isolado e não modificará a classificação de risco no Brasil.

“Todos temos que ter preocupação, e ela existe. Mas nossa capacidade de antecipação foi demonstrada nesse caso”, afirmou.

Outros grupos estão sendo monitorados, segundo o ministro, que não entrou em detalhes sobre outras investigações em curso.

(Imagem em cima: Alexandre Moraes, ministro interino da Justiça e o juiz federal Marcos Josegrei da Silva)




O que está por trás da ação “antiterrorismo” anunciada pelo governo Temer?

Pronunciamento confuso e suspeita de propaganda política: afinal, foram presos 10 terroristas ou 10 zé-manés? A maneira como a operação “antiterrorismo” foi conduzida e as explicações dadas sugerem que há outros interesses por trás que vão além da simples prevenção. Confira as várias perguntas que ficaram sem respostas

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (21) dez brasileiros suspeitos de simpatizarem com grupos terroristas. Quem anunciou a operação foi o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, através de um pronunciamento à imprensa.

Em seguida, ao ser confrontado por jornalistas em entrevista coletiva, a confusão de Moraes ao tratar da “ação antiterrorismo” gerou ainda mais dúvidas acerca das verdadeiras intenções por trás da operação. O ministro não conseguiu responder perguntas simples sobre as prisões.

A seguir, confira duas análises sobre o episódio e as perguntas que carecem de respostas:

Leonardo Sakamoto*

A menos que algum fato novo apareça, o governo brasileiro provocou um estardalhaço midiático, nesta quinta (21), pelo fato da Polícia Federal ter prendido dez zé manés suspeitos de simpatizarem com grupos terroristas.

Há quem diga que isso nos tranquiliza por mostrar que o governo é capaz de garantir a segurança e a integridade de atletas, jornalistas, visitantes e brasileiros durante os Jogos Olímpicos – a serem realizados no Rio, em agosto.

Na verdade, o que todo esse episódio mostra, e isso ficou evidente na entrevista coletiva do ministro da Justiça Alexandre de Moraes sobre o assunto, é que o país não faz a mínima ideia do que seja terrorismo. E de como combatê-lo. Mas agora vai usar o caso como carta branca para outras ações do tipo Minority Report baseadas na famigerada Lei Antiterrorismo.

Além disso, se o governo Michel Temer queria que a visibilidade de sua operação mostrasse ao mundo que estamos preparados para os Jogos (dúvida que ganhou força após o ataque que matou mais de 80 pessoas em Nice, na semana passada), o resultado pode ser o inverso.

O estardalhaço feito sobre evidências frágeis e a notoriedade dado a um grupo sem ligação comprovada com lideranças do terror tem um potencial nocivo. A divulgação gratuita obtida através de um caso como esse pode incentivar atentados reais por qualquer idiota que queira visibilidade – idiotas que podem não ter relação alguma com os fundamentalistas de sempre, mas agirem por conta própria guiados pelas ideias alheias ou por sua própria sede por sair da invisibilidade.

Se algo causa impacto, é claro que será copiado. E rapidamente, por conta da informação circulando em tempo real, seja via rádio e televisão, seja pela internet. Não estou jogando a culpa no mensageiro ou dizendo que o mimetismo é a causa das desgraças do mundo, mas temos certa parcela de responsabilidade quando transmitimos fatos acriticamente, como se notícias fossem neutras, não houvesse contexto social e todos os receptores da informação compartilhassem dos mesmos valores.

Por fim, vale sempre lembrar que podemos sofrer um ataque terrorista no Rio. É uma possibilidade. Mas, certeza mesmo, é que morremos diariamente pelas mãos do tráfico, da polícia ou da milícia. Nestes momentos, uma tristeza toma conta porque banalizamos a violência cotidiana a ponto de não render mais manchetes.

O governo usou um canhão para abater passarinho. Espero que não ajude a inflar os mesmos monstros que ele quer destruir.

*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo

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Não é de surpreender que, diante dos fatos ocorridos pelo mundo nos últimos anos, governos e chefes de estado se preocupem com a segurança da população e dos turistas em megaeventos, como é o caso dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Talvez tenha sido essa a motivação do governo interino de Michel Temer, por meio de seu ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao deflagrar a operação que prendeu dez pessoas suspeitas de ligação com o grupo Estado Islâmico nesta quinta-feira (21). A maneira como a operação foi conduzida e as explicações dadas, no entanto, sugerem que há outros interesses por trás que vão além da simples prevenção.

De acordo com Moraes – que foi secretário de Segurança Pública de São Paulo e comandou uma série de operações questionáveis do ponto de vista dos direitos humanos –, os suspeitos já estão sendo investigados há algum tempo, mas a operação só foi divulgada nesta quinta-feira por “motivos de segurança”.

Na Europa e em países que costumam a ser alvo de ataques terroristas, quase todas as investigações relacionadas ao tema são mantidas em máximo sigilo para que as investigações não sejam atrapalhadas e também para não criar pânico na população. Ora, se era essa a linha de pensamento há até um dia atrás, por que resolveu-se midiatizar o episódio hoje?

A pergunta e torna mais relevante se levarmos em consideração uma outra colocação do ministro da Justiça. “São grupos amadores. Tudo leva a crer que eles jamais agiriam de maneira séria”. Se não são tão perigosos assim, como justificar as prisões e as conduções coercitivas, além da convocação de uma coletiva de imprensa para amplificar ainda mais as suspeitas? Investigações que envolvem a segurança nacional podem ser feitas dentro do mais absoluto sigilo. Não podem?

E mais: não é muita coincidência que um “assunto bomba” como esse repercuta justamente na semana em que está em evidência a fraude da pesquisa do Datafolha para beneficiar o presidente interino? Seria uma jogada de ‘timing político’?

Todas as prisões e conduções foram feitas com base em uma única “evidência” que tornaram, para a Polícia Federal, essas pessoas suspeitas: conversas em aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram. Ora, esse não era o país em que juízes conseguem tirar o serviço desses aplicativos do ar como uma sanção por eles não fornecerem os registros de conversas dos usuários? A criptografia desses sistemas torna a recuperação do histórico praticamente impossível e nem mesmo agentes do FBI têm fácil acesso à essas informações.

Moraes, quando perguntado sobre isso, se enrolou e justificou dizendo que não pode explicitar os métodos de investigação e que há “outros meios” de se descobrir. A partir daí surgem ainda mais perguntas: temos na PF agentes mais qualificados ou tecnologia ainda mais avançada que as agências de inteligência mundiais para recuperar conversas criptografadas com tamanha facilidade? Estaria ele mentindo ou blefando? Se há “outros meios”, por que os juízes não acionam outras esferas da Justiça para dar seguimento às suas investigações e evitar a retirada desses serviços do ar como aconteceu essa semana?

As perguntas já são muitas, mas não param por aí. Por que as informações do ministro da Justiça e da Polícia Federal não batem? Na coletiva, Moraes afirmou que os dez presos eram um de cada estado. A PF, no entanto, informou que só em São Paulo foram presos quatro suspeitos.

À parte o desencontro de desinformações, há também no fato que tomou as manchetes dos jornais desta quinta-feira o uso e reforço de estereótipos e preconceitos alinhados a uma narrativa clássica e óbvia de “guerra ao terror”. Um dos suspeitos presos em São Paulo, conforme noticiado em matéria exclusiva da Fórum, era convertido ao islamismo e, de acordo com sua esposa, estava apenas em grupos de WhatsApp de aulas de árabe. Ele trabalha em uma funilaria com o pai para conseguir sustentar os dois filhos e ainda sugeriu que a polícia vasculhasse sua residência – já que foi apreendido na casa de sua sogra – para provar que não tem nada a dever. Brasileiro, convertido ao islamismo, “barbudo”, dá aulas de árabe: ingredientes perfeitos para criar o estereótipo de uma pessoa que teria ligações com grupos terroristas.

Mais curioso ainda é constatar que antes mesmo da prisão do jovem, na semana passada, a revista Veja já utilizava uma foto sua segurando o “estandarte negro”, uma das bandeiras do islamismo – que hoje foi apropriada pelo grupo terrorista – para associá-lo ao planejamento de atos criminosos.

E, claro, nessa história toda não podia faltar uma AK-47. Hoje esse tipo de armamento é facilmente encontrado para venda em favelas brasileiras e não é difícil se deparar com seu uso dentro do crime organizado. Associar um ataque terrorista ao uso de uma AK-47 soa um tanto quanto óbvio e cai como uma luva à narrativa do terror quando se noticia que os suspeitos estariam tentando comprar uma dessas no Paraguai – país que também tem tradição de ser, aqui no Brasil, associado ao crime. Até agora nem a tentativa e nem a compra foram confirmadas.

Cabe lembrar também da real possibilidade de o Brasil ser atacado pelo Estado Islâmico. O país não é signatário da coalizão internacional de combate ao grupo. Não somos, portanto, um alvo tão em potencial assim dos terroristas tendo em vista que seus ataques têm se limitado aos países quem compõem a coalizão.

Por fim, o efeito que essas narrativas todas causam também parece óbvio: o ódio e o preconceito. Não precisou de muito tempo para que veículos de imprensa começassem a chamar os suspeitos de terroristas, como se algo já estivesse comprovado. Um deles foi o G1, através do blog ‘Segurança Digital’, com a manchete: “Como o governo teria grampeado terroristas no WhatsApp?”.

*Ivan Longo é jornalista

(Imagem em cima: Alexandre Moraes, ministro da Justiça)

POKÉMON, O JOGO QUE TRAZ ESPIÕES PARA DENTRO DE CASA

Sergey Kolyasnikov

Pode falar-me do "Pokemon Go"?

Já dei três entrevistas sobre isso, de modo que agora tenho de me aprofundar nas fontes primárias.

- Programador do jogo: Niantic Labs. É uma start-up da Google. Os laços da Google com o Big Brother são bem conhecidos, mas irei um pouco mais fundo. 

- A Niantic foi fundada por John Hanke, o qual fundou a Keyhole, Inc. – um projecto de mapeamento de superfícies cujos direitos foram comprados pela mesma Google e utilizados para criar o Google-Maps, o Google-Earth e o Google Streets.

- E agora, atenção, observe as mãos! A Keyhole, Inc. foi patrocinada por uma empresa de capital de risco chamada In-Q-Tel , que é uma fundação oficialmente da CIA estabelecida em 1999.

As aplicações mencionadas acima resolvem desafios importantes:

Actualização do mapeamento da superfície do planeta, incluindo estradas, bases [militares] e assim por diante. Outrora tais mapas eram considerados estratégicos e confidenciais. Os mapas civis continham erros propositais. 

Robots nos veículos da Google Streets olhavam tudo por toda a parte, mapeando nossas cidades, carros, caras...

Mas havia um problema. Como espiar dentro dos nossos lares, porões, avenidas com árvores, quartéis, gabinetes do governo e assim por diante?

Como resolver isso? O mesmo estabelecimento, Niantic Labs, divulgou um brinquedo genial que se propagou como um vírus, com a mais recente tecnologia da realidade virtual.

Uma vez descarregada a aplicação e dadas as permissões adequadas (para acessar a câmara, microfone, giroscópio, GPS, dispositivos conectados, incluindo USB, etc) o seu telefone vibra de imediato, informando acerca da presença dos três primeiros pokemons! (Os três primeiros aparecem sempre de imediato e nas proximidades).

O jogo exige que você dispare para todos os lados, atribuindo-lhe prémios pelo êxito e ao mesmo tempo obtendo uma foto da sala onde está localizado, incluindo as coordenadas e o ângulo do telefone.

Parabéns! Acaba de registar imagens do seu apartamento! Preciso explicar mais?

A propósito: ao instalar o jogo você concorda com os termos do mesmo. E não é coisa pouca. A Niantic adverte-o oficialmente:   "Nós cooperamos com agências do governo e companhias privadas. Podemos revelar qualquer informação a seu respeito ou dos seus filhos...". Mas quem é que lê isso?

E há o parágrafo 6:   "Nosso programa não permite a opção "Do not track" ("Não me espie") do seu navegador". Por outras palavras – eles o espiam e o espiarão. 

Assim, além do mapeamento alegre e voluntário de tudo, outras oportunidades divertidas se apresentam.

Por exemplo: se alguém quiser saber o que está a ser feito no edifício, digamos, do Parlamento? Telefones de dúzias de deputados, pessoal da limpeza, jornalistas vibram: "Pikachu está próximo!!!" E cidadãos felizes agarrarão seus smartphones, activarão câmaras, microfones, GPS, giroscópios... circulando no lugar, fitando o écran e enviando o vídeo através de ondas online...

Bingo! O mundo mudou outra vez, o mundo está diferente.

Ver também 

A versão em inglês encontra-se em www.fort-russ.com/2016/07/pokemons-in-every-yard-every-military.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

Autor de “Diário de Guantánamo” vai deixar prisão após 14 anos detido sem culpa formada

Mohamedou Ould Slahi, nascido na Mauritânea em 1970, está detido há 14 anos na prisão de Guantánamo sem nunca ter sido formalmente acusado de qualquer crime

Mohamedou Ould Slahi, detido na prisão de Guantánamo desde 2002, sem nunca ter sido formalmente acusado, vai ser libertado.

“Estamos satisfeitos com esta decisão. Vamos agora fazer tudo para que ele seja libertado o mais rápido possível e regresse para junto da sua família. Esperávamos há muito tempo por isto”, afirmou Nancy Hollander, uma das advogadas de Slahi. A decisão foi tomada após recomendação do Periodic Review Board (PRB), organismo responsável por determinar se os detidos em Guantánamo estão em condições de ser transferidos ou libertados da prisão ou se, pelo contrário, continuam a constituir uma ameaça, devendo por isso continuar nas instalações da prisão militar de Cuba.

Nascido em dezembro de 1970 numa pequena cidade da Mauritânea, Mohamedou Ould Slahi partiu para a Alemanha aos 18 anos, depois de lhe ser atribuída uma bolsa de estudo. Frequentou os primeiros anos do curso de Engenharia Eletrónica, mas depois abandonou o país para se juntar à insurreição contra o governo de facção comunista no Afeganistão. Frequentou um campo de treino e fez um juramento de lealdade à Al-Qaeda. Ter-se-á depois afastado do grupo terrorista, como conta em “Diário de Guantánamo”, mas os Estados Unidos continuarão a suspeitar durante muito tempo da sua ligação ao grupo.

Em 2000, Mohamedou Ould Slahi regressa à Mauritânia. Um ano depois, é detido pelas autoridades mauritanas, a mando dos Estados Unidos, e enviado para a prisão de Amã, na Jordânia; será depois reencaminhado para a base das Forças Aéreas de Bagram, no Afeganistão e, finalmente, para a prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba, onde permanecerá durante os 14 anos seguintes.

“Estamos felizes por Mohamedou e pela sua família, mas este novo capítulo da sua vida só terá início quando o Pentágono autorizar a transferência, e isso tem de acontecer imediatamente”, afirmou Hima Shamsi, advogada e diretora da American Civil Liberties Union’s National Security Project, alertando para “as dezenas de homens” que ainda se encontram detidos em Guantánamo sem terem sido acusados. “Obama prometeu encerrar a prisão durante o seu mandato, mas o tempo está a esgotar-se”, acrescentou a advogada.

Durante os seus primeiros anos na prisão, Mohamedou escreveu um diário. Nele, descreve com extraordinário detalhe as dezenas de interrogatórios a que foi submetido e as humilhações, tortura e ameaças de que foi alvo. O documento foi publicado no início deste ano num livro intitulado “Diário de Guantánamo” (editora Vogais). Larry Siems, escritor e ativista dos direitos humanos, que durante muitos anos dirigiu o Freedom to Write Program da PEN American Center, editou o manuscrito original de Mohamedou Ould Slahi. A versão final mantém os cortes feitos pelo Governo norte-americano. Mais de 2500 linhas foram censuradas.

Helena Bento - Expresso

Portugal - UE. Uma "Comissão que anda entretida a tentar punir Estados mais frágeis"

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, acusou hoje a Comissão Europeia de andar entretida a tentar punir Estados que estão numa situação frágil quando devia estar preocupada em resolver problemas como o terrorismo ou os refugiados.

"Temos uma Comissão Europeia que devia estar virada para resolver esses problemas [terrorismo e dos refugiados] e anda entretida a tentar punir Estados que se encontram numa situação mais frágil, quando foi muito complacente com outros", afirmou Capoulas Santos.

O governante deslocou-se hoje a Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, onde vai inaugurar o Festival da Melancia.

Questionado sobre o eventual processo que o Governo português está a ponderar em relação à Comissão Europeia, no caso de haver sanções por défice excessivo, o ministro sublinhou que o Governo "está muito serenamente" a executar o seu programa.

"Vamos ver, acho que o Governo está a ter uma atitude que é aquela que os portugueses exigem. Uma atitude de não confronto mas, de acordo com as regras dos tratados, defender com dignidade aqueles que são os nossos interesses e que passam pela normalização da situação, criação de condições para atração de investimento e na boa execução dos programas com fundos europeus", disse.

O ministro da Agricultura disse ainda que lhe causa "alguma estranheza" o facto de nas últimas semanas ter sido colocado na agenda política "a sensação que as instituições europeias, se preparam para sancionar o Estado português na ultrapassagem do défice que ocorreu na vigência do Governo anterior".

"Eu penso que nos tratados, como vários comissários têm vindo a referir e alguns altos responsáveis, tem que ser tratados e interpretados com inteligência", concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

POKÉMON GO. AS MARCAS, OS LUCROS E AS LOUCURAS EM PORTUGAL

O jogo de realidade aumentada para smartphones já é considerado o mais popular de sempre. E está a caminho de ser também o mais lucrativo
Nos dias que se seguiram à introdução do Pokémon Go nos Estados Unidos, a cadeia de hotéis Marriott International notou um salto espetacular nas interações das suas contas nas redes sociais. De um dia para o outro, os utilizadores começaram a publicar centenas de fotos que mostravam as pequenas criaturas nos quartos, na piscina ou no ginásio dos seus muitos hotéis, cujas marcas vão do Ritz-Carlton ao JW Marriott e Renaissance. A cadeia tinha acabado de implementar, em junho, um novo “centro de comando” dedicado à atividade nas redes sociais com base em geo-localização, o M Live. E foi através deste sistema que a Marriott conseguiu ser das primeiras e mais bem sucedidas marcas a aproveitarem a loucura em torno do jogo. “O Pokémon Go é um excelente exemplo de marketing geracional”, explica Gabriel Shaoolian, responsável da agência digital Blue Fountain Media. “Traz tecnologia relevante para recuperar a ligação com aqueles que se interessavam em miúdos e para atrair novos consumidores.”

Duas semanas depois do início da febre, a McDonald’s tornou-se a primeira empresa a estabelecer uma parceria oficial com a produtora do jogo, Niantic Labs (a Nintendo investiu nesta empresa e detém 32% da Pokémon Company, que gere o franchise). O acordo, confirmado depois de uma fuga de emails, será por enquanto focado nos seus três mil restaurantes no Japão. E por boas razões: o mercado nipónico é um dos melhores do mundo para jogo móveis, visto que os utilizadores estão habituados a gastarem dinheiro neste tipo de aplicações. A cadeia de comida rápida vai oferecer bonecos com as suas refeições mais populares, mas, mais importante que isso, os seus restaurantes irão entrar no jogo. Serão “ginásios” patrocinados. Promoção gratuita É algo que as empresas, até aqui, não puderam controlar. As PokéStops, onde os jogadores podem ir abastecer-se de bolas (PokéBalls) e outros items são determinadas por pontos de interesse escolhidos por utilizadores de um outro jogo da Niantic, Ingress. O mesmo é válido para os “ginásios”, onde os jogadores treinam os seus Pokémon para lutarem com outros. As empresas que têm a sorte de estarem localizadas perto destes pontos estão a beneficiar de forma direta e indireta, já que muitos utilizadores partilham fotos dos locais onde “caçam” nas redes sociais, oferecendo publicidade gratuita aos negócios. O aumento do tráfego de pessoas nessas áreas também tem sido aproveitado. Outras empresas estão a usar truques engenhosos, como a Thumbzz.com. Os fundadores desta startup, que consiste num site de “microempregos”, começaram a jogar Pokémon Go de forma intensiva e foram mudando os nomes dos seus bichos para o nome da empresa. Depois, espalharam-se pela cidade de Atlanta, onde estão sediados, para tomarem de assalto os “ginásios” e colocarem lá os seus Pokémon. Resultado: “Tivemos um Hypno no topo do aeroporto Hartsfield-Jackson em Atlanta durante várias horas na quarta-feira”, diz a fundadora, Lisa Johnverrell, que já vai no nível 21. “Foram horas de promoção gratuita para o nosso site num dos aeroportos mais frequentados do mundo. Outros jogadores de Pokémon Go vinham constantemente ter connosco a perguntar o que era o Thumbzz.com. Conseguimos um número elevado de novos utilizadores e planeamos continuar a usar esta tática até quando for possível.” O Thumbzz tem 250 anunciantes que pagam aos consumidores para visitarem sites, descarregarem apps, assistirem a vídeos e escreverem críticas a produtos ou serviços. Agora, a empresa vai ela própria pagar 1 a 2 dólares aos jogadores para que ponham o nome “Thumbzz” aos seus Pokémon. A loucura em Portugal O fenómeno chegou em força. A Vodafone lançou uma campanha de verão com a oferta de 15 gigas de internet na compra de um smartphone e ligou-a ao Pokémon Go, que consome dados. A Super Bock publicou uma imagem da sua cerveja com o nome “Bockémon Go” e a assinatura “Tens de apanhá-las a todas”, uma referência ao mote de quem caça Pokémon. A Fnac começou a promover carregadores móveis de bateria com um Pikachu: “Se queres apanhá-los todos… vais precisar disto!”. E o Lidl desenhou um Pickachu com frutas e legumes e desafiou os jogadores: “Que tal fazer uma Pokéstop nas nossas lojas e ganhar uma energia eletrizante com as nossas frutas e legumes?” As interações foram bem recebidas pelos utilizadores nas redes sociais.

Compreende-se. A Nintendo Portugal diz que não há números oficiais, mas o jogo já foi descarregado por mais de um milhão de portugueses – só na primeira semana. “Ainda é muito cedo para compreender o real impacto que, especificamente em Portugal, o Pokémon Go terá no universo Pokémon, mas em relação à semana anterior já quase duplicámos as vendas do conjunto dos títulos Pokémon para Nintendo 3DS disponíveis no mercado”, revela ao Dinheiro Vivo Nélson Calvinho, gestor de produto na subsidiária nacional. Leia mais: 9 regras para jogar Pokémon Go em segurança “Esperamos também registar um impacto positivo na venda de figuras amiibo de personagens Pokémon. Os clientes também estão atentos a esta notoriedade acrescida da marca Pokémon e a preparar-se em conformidade.”

Calvinho nota, no entanto, que isto não é bem um regresso. “Os jogos Pokémon são consistentemente ‘best sellers’ em Portugal, a comunidade Pokémon sempre foi muito solidária e ativa ao longo dos anos”, sublinha, revelando que “é entre os 21 e os 25 anos que se encontra a maioria dos jogadores ativos.” A Nintendo Portugal vai agora lançar uma nova campanha em televisão para o Pokémon Super Mystery Dungeon, para a consola portátil 3DS, depois de o título ter sido lançado em fevereiro. Leia mais: Como o Pokémon decide onde aparecem as personagens Entretanto, multiplicam-se os grupos, páginas e organizações dedicadas ao jogo – apesar de haver muita gente que não compreende ou critica o fenómeno. Os fãs não ligam. No Facebook, o grupo Pokémon Go Portugal já vai nos 25 mil membros e o de Lisboa está nos três mil. Na próxima sexta-feira, os dois grupos organizam a “primeira caminhada PokeGOpt”, que sai da Estação do Oriente, no Parque das Nações, e pretendem torná-la num evento mensal. Na semana passada, teve lugar um encontro de aficionados em Coimbra. E esta quarta-feira, a Câmara Municipal de Braga organiza uma “Lure Party” na Praça do Município. “Aproveitando as funcionalidades de georreferenciação do jogo, esta iniciativa pretende divulgar o património histórico do centro da cidade, junto do público mais jovem, o principal utilizador”, explica ao Dinheiro Vivo fonte da câmara. Foi desenhada uma rota no centro histórico, que segue dez Pokéstops, e será fornecido um mapa físico com informações sobre cada um dos locais escolhidos.

“Queremos aproveitar a dinâmica do jogo e chegar a este público mais novo, colocando-o em contacto com alguns dos monumentos desta desta cidade bimilenar”, acrescenta. É o melhor da realidade aumentada: o jogo não só obriga os jogadores a saírem do sofá e a irem para a rua, como pode funcionar para a descoberta de novos locais – é a beleza da georreferenciação. “Ao entretenimento proporcionado por esta aplicação alia-se a vertente lúdica e pedagógica, estimulando-se ainda o convívio e o ambiente de boa disposição entre os participantes.” Revitalização dos negócios A história de que se tem falado mais é sobre as ações da Nintendo, que duplicaram em questão de dias o valor da empresa, mas o verdadeiro impacto-surpresa será na Apple. A tecnológica, que tem os investidores à beira de um ataque de nervos por causa da estagnação das vendas do iPhone, poderá lucrar diretamente 3 mil milhões de dólares com o Pokémon Go, nos próximos 12 a 24 meses. Foi o que escreveu a analista Laura Martin, da corretora Needham & Co, numa nota aos investidores. “Acreditamos que a Apple retenha 30% do dinheiro gasto no Pokémon Go em aparelhos iOS, o que sugere uma subida de receitas”, referiu a especialista. Para chegar a estes números, Martin usou os dados que estão disponíveis: a consultora Sensor Tower estima que o jogo já tenha gerado 35 milhões de dólares. As taxas de conversão são de 20%, o que se refere ao número de jogadores que começa a fazer compras dentro da aplicação.

Este é o modelo de negócio do Pokémon Go: é gratuito para quem quiser jogar, mas tem uma loja onde se podem adquirir items que permitirão uma progressão mais rápida. Estes items são comprados com PokéCoins, que podem ser ganhas com vitórias nos ginásios ou adquiridas com o dinheiro muito real que sai dos cartões de crédito associados à App Store (ou Google Play). O mais barato custa cerca de um euro por 100 moedas, o mais caro vai aos 100 euros por 14500 moedas. Todos os dados indicam que o jogo tem o dobro da rentabilidade da média da indústria, e o rácio de jogadores pagantes é 10 vezes maior que o do lucrativo Candy Crush. Além disso, os jogadores passam muito mais tempo na aplicação que no WhatsApp e Facebook. Depois, há também o impulso dado às fabricantes de carregadores de bateria móveis e capas para telemóvel que incluem carregador, visto que o uso de mapas e GPS consome energia rapidamente. O jogo é responsável, por exemplo, pela subida de 12,5% no valor das ações da Zagg, que fabrica este tipo de capas. A procura disparou em quase todos os retalhistas, e outra marca, a Anker, beneficiou de uma promoção atempada no site da Amazon. Novas ideias Não se sabe ao certo quantos jogadores há neste momento em todo o mundo, agora que o jogo chegou a 35 países. A Sensor Tower estima mais de 30 milhões: são muitos, e estão por todo o lado. A febre já está a gerar novos negócios, além de impulsionar segmentos existentes. Por exemplo, estão a ser reportados casos de pessoas que montam uma pequena barraca perto de PokéStops para venderem refrescos, snacks e outros items; chamam-lhe “PokéShops” ou “PokéMarts.” Regista-se ainda o surgimento de profissionais que oferecem os seus serviços de “caçadores” de criaturas contra pagamento, e em Portugal há diversas cidades com oferta de “Poké Táxis” – transporte para jogadores entre os 20 e 30 euros por hora. Mas há mais, e melhor. A Tranquilidade criou o seguro “AP GO” para responder ao surto de acidentes pessoais que têm acontecido por causa do jogo. Não é bem um produto individual, mas uma oferta que será dada aos clientes que subscreverem um novo seguro até 15 de agosto. O “AP GO” será válido até ao final do ano. Outro caso semelhante chega do Reino Unido, onde a especialista em seguros para gadgets Row lançou um produto especial para este jogo: o seguro Pokédex. E o que dizer do PokéDates, o primeiro site de encontros para os aficionados? Foi lançado esta semana pela Fixup e é gratuito na primeira utilização, mas depois passa a 20 dólares por cada encontro. Os pares são decididos não por um algoritmo mas por especialistas humanos, e os locais de encontro – é claro – são PokéStops. Bónus: a Legendary Pictures conseguiu os direitos para o primeiro filme Pokémon, que irá centrar-se no “Detective Pikachu.” A Universal Pictures fará a distribuição fora do Japão e a produção começa em 2017. Alguém vai (mesmo) conseguir apanhá-los a todos no grande ecrã.

Ana Rita Guerra – Dinheiro Vivo – Imagem: Spanish Interior Ministry/Handout via REUTERS

CAMBALACHO AQUI, CAMBALACHO ALI… ASSIM É A POLÍTICA E A ASCENÇÃO NA BOA VIDA


Mário Motta, Lisboa

De ontem há a referência no PG ao cambalacho da CNE em S. Tomé e Príncipe (ver post a seguir). Claro que os das lavagens dos cambalachos chamam enganos involuntários a estas “coisas”. Só podem, salafrários que são. De cambalacho em cambalacho os que têm sucesso tomam por sua a ascenção na boa vida. Depois é vê-los, de papo cheio e contas bancárias recheadas. Por vezes tão recheadas que recorrem aos chamados paraísos fiscais que são aqueles ao mesmo estilo dos criminosos receptadores dos vulgares ladrões.

Os cambalhachos são tramóias, vigarices, praticadas por Chicos Espertos que, dependendo dos resultados positivos lhes ganham o gosto e até se viciam nisso, nas vidas fáceis que lhes proporcionam vantagens de vários tipos.

Se ontem aqui foi abordado o cambalacho nas eleições de S. Tomé, hoje vem a propósito um cambalacho português, entre milhentos. A “vedeta” é Miguel Relvas, que queria e quer ser doutor (que não da Mula Ruça) à viva força, sem dar de bandeja o seu vício nos cambalachos. Só por isso, pela sua luta em defesa do direito dos cambalachos para alguns “notáveis” como ele, o PR Marcelo devia condecorar o calambacheiro Relvas.

Conversa feita, para situar e por aqui se poder desopilar um pouquinho, vem a propósito lauda do Público assinada por Ana Henriques. É que Miguel Relvas não é doutor, não se licenciou (estou farto de perguntar sem que me esclareçam: o meu cão tem licença, também é doutor? Doutor não é quem concretiza o doutoramento? Então porque existem tantos doutores sem o serem?) E então o que fazer às imensas placas de inaugurações de Relvas em que indevidamente o calambacheiro é definido por doutor? Como repor a correção, a verdade, a honestidade no assinalar do ato de inaugurar?

É essa a abordagem no Público. A quem compete apagar o “doutor” usurpado por Relvas? Ao Estado? Às instituições que nas suas instalações têm por lá a placa inaugurativa que refere a vigarice?

Decidam-se, mas apaguem o cambalacho que consta. Há realmente doutores que são uns grandes vigaristas, mas não é o caso de Relvas, que é somente vigarista. (MM / PG)

Significado de cambalacho: Plano com intenção de enganar alguém; tramóia, conluio; Transação fraudulenta; negociata, trapaça… (imagem em baixo com dois exemplos que referem a "obra" de Relvas)




Que fazer às placas do tempo em que Relvas era doutor?

Ana Henriques - Público 

Blogue Má Despesa Pública lança campanha para que título académico de ex-ministro seja apagado. Ex-ministro vai recorrer de sentença que lhe tirou licenciatura.

O blogue Má Despesa Pública lançou uma campanha destinada a corrigir as placas de inaugurações feitas um pouco por todo o país pelo ex-ministro Miguel Relvas que o apelidam de “doutor”. O antigo governante do PSD perdeu a licenciatura que lhe tinha sido dada pela Universidade Lusófona no final do mês passado, por decisão de um tribunal, quatro anos depois de se ter descoberto que tinha feito uma das disciplinas do curso apenas com base na discussão oral de sete artigos da sua autoria, publicados em jornais, e sem mais nenhum exame.

“Algo que tape o ‘dr.’ basta, de forma a que seja reposta a verdade”, dizem os autores do blogue, que não querem fomentar aquilo que eles próprios criticam com veemência: os gastos públicos injustificados. Entre pavilhões desportivos, câmaras municipais e lares de idosos, por exemplo, é extensa a lista de edifícios públicos agraciados com placas de todos os tipos a atestar a qualidade académica do inaugurador. Algumas delas antecipam até a licenciatura em vários anos, uma vez que foram descerradas anos antes de Relvas terminar os estudos na Lusófona, o que só sucedeu em 2007 . Em Lagoa há uma placa nos Paços do Concelho a recordar que “sua excelência o secretário de Estado da Administração Local, dr. Miguel Relvas” por ali passou em 2004. O mesmo sucede na sede da Junta de Freguesia de Antas, em Esposende, inaugurada em 2003.

“A nossa placa foi feita com letras chumbadas. Não tenho forma de a rectificar a não ser enviando-a novamente para a fábrica – e isso, sim, seria má despesa pública. Só o faríamos se um tribunal o ordenasse”, reage a presidente da Câmara de Alvaiázere, Célia Marques, eleita pelo PSD. Aqui, o ministro teve a honra de descerrar a placa de um pavilhão desportivo em 2012.

Um dos autores do Má Despesa Pública, Rui Oliveira Marques, não acredita que a maioria das entidades que o blogue irá contactar venha a responder-lhe de forma positiva, por forma a “reporem a verdade” e a  “higienizarem o espaço público”. Mas isso não o demove. De resto, explica, a ideia partiu de um leitor do Má Despesa Pública, que lhes chamou a atenção para a quantidade de placas alusivas a Relvas existentes no distrito de Santarém, região à qual o antigo governante tem fortes ligações.

O centro escolar Luís Ribeiro Pereira, em Ferreira do Zêzere, também tem uma destas placas, descerrada em 2012. O acrílico que a reveste estalou e já teve de ser substituído, conta a sua coordenadora, Maria da Luz Martins, que não percebe por que motivo os títulos académicos constam quase sempre deste tipo de distinções solenes. Corrigir ou não o que se tornou há menos de um mês um erro depende da autarquia, salienta a educadora, que observa ainda que “haverá muitos casos idênticos” país fora. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mação é dos que vai esperar para ver antes de decidir se faz alguma coisa à recordação da ida do "Dr." Relvas ao novo lar da terra: “Teremos de nos inteirar do assunto para ver se tomaremos ou não alguma decisão”.

Em Antas, o presidente da junta, Viana da Cruz, não se mostra preocupado, embora admita que tem sentido rectificar o que deixou de ser verdade: “Tenho coisas mais importantes em que pensar”. Miguel Relvas vai recorrer da decisão do tribunal que lhe tirou a licenciatura.