quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Macroscópio – Duas histórias portuguesas (mais duas que só vão no adro)

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


O tema do Macroscópio de hoje podia bem ser o da pergunta a que o Observador dedicou hoje o melhor da sua atenção: O que faz uma mãe arrastar os filhos para a morte?, uma trabalho da Rita Ferreira e do Tiago Palma. Ou seja, o tema do dia, o tema que também levou a Alexandra Campos do Público a procurar perceber estas Mães que matam filhos porque acreditam que os poupam a futuro de sofrimento. Tal como podia ser a forma como uma juiza está a dirigir as audiências de um caso muito mediático – Juíza “censurou” Bárbara Guimarães. Associação de Mulheres Juristas preocupada – mas sobre este caso fico-me apenas por uma remissão, para um texto de Isabel Stilwell no Jornal de Negócios que me pareceu especialmente pertinente –Um país onde a justiça trai as crianças“Uma criança confia numa juíza, que lhe garante sigilo. A conversa é capa de revistas. Que País é este onde a Justiça trai e ataca, sem que ninguém diga nada?”

Mas julgo que as discussões que estes casos suscitam apenas agora começaram. Talvez possa, e deva, regressar a elas mais tarde, como mais “munições”, isto é, opiniões e argumentos. Vou por isso focar-me noutros dois temas onde, sem pretender ser exaustivo, gostava de deixar algumas reflexões: a controvérsia em torno dos voos da TAP a partir do Porto e o regresso do chamado “caso Liliana Melo”.

Começo pela TAP e pelo Porto, até porque esse foi tema do encontro que o presidente da Câmara, Rui Moreira, teve hoje com António Costa (um Rui Moreira que, é bom não esquecer,tem outros dossiers, ou reivindicações, em aberto e que terá de negociar com o Governo). Não vou multiplicar as referências, até porque muitos dos argumentos são semelhantes. Cinjo-me por isso a textos que sintetizam bem o que está em causa.

Do lado dos que defendem que a TAP não deve abandonar as ligações directas entre o Porto e Barcelona, Milão, Bruxelas e Roma o texto que escolhi foi o de Manuel Carvalho, no Público,A Carochinha a voar na TAP. Eis um dos seus argumentos, que questiona as opções de gestão da administração da companhia aérea: “Se transportar directamente 190 mil pessoas para as quatro cidades europeias em causa dá prejuízo, não se percebe como há-de dar lucro enfiá-las num avião da ponte aérea, desembarcá-las em Lisboa e reembarcá-las para Milão ou Roma.”

Já Vital Moreira, que não pode ser acusado se um defensor de Lisboa, e muito menos do centralismo de Lisboa, considerou no blogue Causa Nossa que boa parte do problema começa quando se discute em termos políticos a gestão de empresas privadas ou que têm de competir em mercados concorrenciais. Fê-lo em três posts – EquívocoEquívoco (2) e Equívoco (3) –, mas julgo que o argumento central está logo no primeiro desses textos, onde lembrava que a TAP não é uma empresa a que o Governo possa dar ordens, sobretudo não é uma empresa a que deva dar ordens: “Mesmo enquanto empresa pública, a TAP era uma empresa que operava num mercado concorrencial, pelo que a sua gestão devia guiar-se por critérios comerciais. Impor a empresas públicas que operam no mercado a realização de operações contrárias à gestão comercial sempre constituiu uma das piores pechas da gestão pública, com pesados encargos para os contribuintes.”

Já Ricardo Costa, no Expresso Diário, defende em O que o Porto nos pode dizer sobre a TAP (paywall) que o caso do Porto “é o exemplo perfeito de um debate entre a autonomia de gestão - que pretende encerrar rotas que defende não serem viáveis - e o interesse estratégico nacional, que pretende consolidar o Porto como centro de turismo europeu.” Quando se souber quem ganhou este debate ficaremos também a saber, caso “as rotas pura e simplesmente fecharem, (…) que o novo acordo [do Governo de Costa] pouco mudou a empresa, a não ser ao nível do discurso político” ou se, caso vençam os argumentos políticos, que “contas e acordos jurídicos à parte, o novo acordo obriga a TAP a estar condicionada a vontade do Estado”.


Enquanto ficamos à espera desta resposta, que pode demorar, mudo de tema e passo, de novo, para a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEHD) sobre o chamado “caso Liliana Melo”, pois este condenou o Estado português a pagar 15 mil euros à mãe a quem foram tirados sete filhos. O caso começou em 2007, envolveu uma mãe de origem guineense que teve dez filhos, sendo que em 2012, por ordem do Tribunal de Sintra, sete deles lhe foram retirados para serem entregues a instituições de acolhimento. Pelo meio houve uma outra ordem para que Liliana Melo aceitasse laquear as trompas, uma operação a que rejeitou submeter-se por ser muçulmana. A história é bem recordada por Andreia Sanches, do Público, que acompanhou o caso desde que se tornou conhecido: está tudo em Tribunal Europeu condena Portugal no caso da mãe a quem foram retirados sete filhos. Nesse texto citam-se alguns dos argumentos do TEDH, nomeadamente que "o recurso à esterilização nunca pode ser uma condição para [alguém] conservar os seus direitos parentais".

Devo dizer que na altura acompanhei este caso com bastante atenção e escrevi uma crónica para o Público, onde então assinava a coluna “Extremo Ocidental”: Liliana e os seus dez filhos, uma parábola sobre o que distingue uma sociedade decente. Passaram três anos mas julgo que o que aí escrevi se mantém actual, pelo que recordo a forma como concluía essa reflexão:
Uma sociedade decente não é uma sociedade com muito "Estado social", muitos serviços públicos de assistência, muitas instituições de acolhimento e muita burocracia. É sim uma sociedade que sabe olhar para os seus vizinhos e ajudá-los, que respeita e valoriza as famílias e que só se intromete no espaço de liberdade dos cidadãos quando isso é mesmo inevitável. Não me parece que numa sociedade decente o Estado e os seus agentes se comportem como neste caso da Liliana. 

Na mesma altura Henrique Monteiro também escreveu no Expresso um artigo que ia na mesma direcção, “Como se chamam juízes que roubam filhos a uma mãe?” e que agora recorda em nova crónica, Liliana e a pobreza do nosso Estado. Pequena passagem onde ele recorda a forma como o seu primeiro texto (e um segundo que publicou quando os tribunais portugueses validaram a decisão da primeira instância) foi recebida: “Enche-me de medo recordar a quantidade de pessoas que na altura, nas redes sociais e nos comentários na Internet, me insultaram a mim e a outros para defender a Segurança Social. Lembro-me da quantidade de gente que acha que se pode retirar filhos a uma mãe só porque ela é pobre, ou está desempregada e não consegue – no linguajar dosjuízes, “ter desafogo material”. Enche-me de medo a quantidade de pessoas que nunca põe em causa os critérios do Estado. Foram ideis assim que fizeram deste país o que foi e é – provinciano, salazarista, egoísta, sem alma”.

Hoje, em editorial, também o Público se juntava a este tipo de inuietações, notando a Má sorte ser negra e pobre: “Estamos no século XXI e não na Idade Média, o Estado de direito pressupõe um quadro jurídico assente na igualdade da lei para todos os cidadãos e leis cuja aplicação deve ser feita por tribunais capazes de ponderar a equidade e o equilíbrio social. Infelizmente, sabemos que a Justiça nem sempre é justa, mas é seu dever tentar sê-lo, sendo capaz de reconhecer o erro e emendar a mão. Se não fosse pobre e negra, sofreria Liliana o mesmo calvário?”

Às vezes são histórias como esta, ou como a do que se passou naquela praia de Caxias, ou até o relato de uma sessão de tribunal numa disputa entre famosos, que nos dizem mais e melhor sobre o país que somos – que ainda somos – do que muitos debates políticos. Por isso mesmo lhes deixo hoje este Macroscópio um pouco diferente, certo que estas histórias, e estes debates, não terminaram. São parte da nossa vida e da sociedade em que vivemos.

Tenham bom descanso, melhores leituras, que nos reencontramos amanhã.

 
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MITO DA CAVERNA E CRISTIANISMO


"Platão é aquela ambiguidade e fascinação chamada de Ideal, que possibilitou as naturezas mais nobres da antiguidade entenderem mal a si próprias e tomarem a ponte que levou a cruz", Nietzsche, Crepúsculo dos Ídolos, "O que devo aos antigos",$2 
"O Cristianismo é um platonismo para o povo", Nietzsche, Além do Bem e do Mal, Prólogo 


Nenhuma filosofia foi tão bem explorada e adaptada ao cristianismo do que o platonismo. O mito da caverna platónico foi usado inteligentemente pelo cristianismo para dar uma base filosófica à explicação para a vida após a morte, onde a vida aqui na terra seria o mundo das sombras platónico enquanto a verdadeira vida estaria no céu, quando da libertação da alma pelo corpo, o qual é cheio de vícios e pecados. Desta feita, o homem deveria em sua vida preocupar-se tão somente com a libertação da caverna e preparar-se para a vida eterna após esta libertação, ou seja: após a morte.

O VALOR DA VIDA HOJE


Há uma crise de valores que vem afectando praticamente toda a humanidade, sem distinção de credo, raça, modelo económico ou orientação religiosa. Todos parecem sofrer do mesmo problema, embora algumas sociedades sofram mais do que outras. A causa disso eu não sei exactamente. Talvez seja uma conjunção de factores, uma vez que o mesmo problema afecta os mais distintos povos. Quanto a essa crise, ela parece bem clara: a vida, tão valorizada nos últimos séculos, já não significa mais como há algumas décadas. É como se em duas ou três décadas ela perdesse um valor conquistado durante séculos. Usando um jargão financeiro, é como se fosse a moeda de um país que, ao passar por uma grave crise económica, perde completamente o valor. Parece que é mais ou menos isso que está acontecendo. As sucessivas crises económicas pelas quais a maioria dos países enfrentou e vem enfrentando desde os anos 90, devido a globalização, afectou não só o valor dos bens materiais, como o valor da própria vida, a qual não deveria jamais ser equiparada a qualquer outro bem. A vida do outro parece valer muito pouco, isso quando vale alguma coisa. Durante milhares de anos, até o advento da modernidade, matava-se por qualquer coisa. E sobreviver, principalmente os que não tinham nada ou muito pouco, era uma questão de sorte. Era uma verdadeira luta pela sobrevivência, digna da teoria darwiniana. Hoje tem-se a impressão da volta desse terrível período de nossa história. E uma das causas desse desprezo pela vida é fruto da perda de força e significado da religião. Como o próprio Nietzsche afirmou há quase 150 anos, “Deus está Morto. Nós o matamos”. O cristianismo não rege mais o dia a dia dos cristãos, assim como o Judaísmo a dos judeus e o islamismo a dos muçulmanos embora a presença dessa última seja muito maior na vida dos muçulmanos do que o cristianismo e o judaísmo na dos cristãos e judeus. E mesmo aqueles que ainda acreditam num deus, na vida após a morte, lidam com a religião de forma muito diferente daquela que os nossos antepassados lidaram durante mais de 1.000 anos. E o que sobrou dessas crenças, tanto no cristianismo como nas demais religiões monoteístas, foi o que de pior havia nelas: o fundamentalismo. Aliás, este não é nada mais nada menos que fruto da perda de poder das mesmas. Ou seja: uma luta desesperada pela sobrevivência. Assim, cada uma trata a outra e as demais crenças como inimiga, como um mal que deve ser eliminado, usando os mais desprezíveis artifícios. E para isso deve-se antes de mais nada eliminar o indivíduo, alguém que não é como nós e por isso sua vida não tem valor. Essa é uma das principais causas do desprezo pela vida actualmente. Mas não é só isso. O materialismo sem limites, o consumismo como fonte de felicidade, uma felicidade inalcançável diga-se de passagem, também é responsável por isso. O homem hoje transformou o dinheiro em poder, o qual deve ser buscado a qualquer custo. E se para isso tiver de tirar o seu semelhante do caminho, não pensará duas vezes. Isso aliás é uma das principais causas no aumento dos latrocínios, das mortes por encomenda, da corrupção e dos crimes financeiros. Em nome do dinheiro tudo vale. Esse capitalismo selvagem que se pratica desde o fim dos anos 80 é fruto do fim da ameaça comunista. Desde o fracasso do socialismo, um regime que pelos seus próprios erros cometeu atrocidades mas que por outro lado segurava o cabresto do capitalismo, contendo o seu lado selvagem e desumano, o mundo vem se tornando escravo do capital, o qual surge como o novo deus, cultuado a cada dia mais por mais gente. E embora “o valor da vida não possa ser medido” como afirmou Nietzsche, hoje ela é negociada por qualquer bagatela. Enfim. O que tem valor hoje é o capital e o que ele pode comprar, o resto é supérfluo, inclusive a vida. 




Hora de Fecho: Euro. Plano de "sábios" alemães ameaça nova crise

Hora de fecho

As principais notícias do dia
Boa tarde!
CRISE DA DÍVIDA 
Grupo de 5 conselheiros recomenda plano que, na opinião do único dissidente, "é a forma mais rápida de acabar com o euro". Portugal seria dos primeiros na linha deste plano (em que Schäuble se revê).
ORÇAMENTO 2016 
Agência de "rating" decisiva para Portugal diz que está "preocupada" com as políticas do governo e com a subida dos juros. Mas diz que Governo prometeu que haverá mais medidas caso o défice derrape.
EFISA 
Miguel Relvas vai ser chamado a prestar esclarecimentos ao Parlamento sobre as ligações ao Banco Efisa. Ao Observador recusa dizer se aceita ou não esclarecer as dúvidas dos deputados.
CASO BANIF 
O PCP exige a audição de Passos Coelho, Durão Barroso, Maria Luís Albuquerque e Mário Centeno na comissão de inquérito ao Banif. Do lado do PSD, deputados chamam António Costa.
CAXIAS 
Uma mulher lançou-se ao rio em Oeiras. Os filhos iam pelo seu braço. O que leva uma mãe a pôr fim a tudo? Os psiquiatras falam em suicídio piedoso – e o Observador lembra quatro casos semelhantes.
TRAGÉDIA EM CAXIAS 
A Polícia Judiciária deteve esta quarta-feira a mulher que se terá atirado ao Rio Tejo numa praia de Caxias, com as duas filhas. Há "fortes indícios da prática de dois crimes de homicídio"
IMPRESA 
O atual diretor do Jornal Expresso vai assumir o novo cargo de diretor-geral de informação do grupo Impresa. Eventuais alterações na direção do semanário podem ser decididas até dia 6 de março.
LESADOS DO BES 
António Costa acusa o Banco de Portugal de não ter um comportamento responsável na questão dos lesados do BES e de com isso atrasar uma solução de reposição dos direitos destas pessoas.
CASO JOSÉ VEIGA 
Banco de Portugal anula contrato de Novo Banco com José Veiga. Observador confrontou ontem regulador com entendimento do MP de que o contrato assinado pela administração do Novo Banco é ilegal
ASAE 
A Associação Sindical da ASAE publicou um vídeo intitulado "Toda a verdade" sobre as ações inspetivas. As imagens "reais, não editadas e não divulgadas" podem chocar as pessoas.
RESTAURANT WEEK 
Mais de 100 restaurantes em todo o país entram em saldos a partir de 18 de fevereiro. O motivo? Mais uma edição da Portugal Restaurant Week. Saiba quais são os restaurantes que se estreiam no evento.
Opinião

Luís Aguiar-Conraria
Gramaticalmente, Esteves Cardoso tem razão. Mas a questão não é gramatical. É saber se usar o masculino como neutro é ou não depreciativo para as mulheres. E se queremos ou não continuar a fazê-lo.

Maria João Marques
Era o que faltava a comunicação social querer dar notícias que contem verdades. E que permitam às mentes maldosas criar a ideia de que há quem à esquerda não saiba lidar com a liberdade de expressão.

Maria João Avillez
Sim, mais impopular que Vítor Gaspar é impossível. Paciência. Daqui a uns anos, quando de novo cumprirmos a tradição e entrarmos em estado de necessidade, falamos (já que nunca tivemos outra vida).

Laurinda Alves
Num país com 56 mil organizações sociais e mais umas 20 mil iniciativas público-privadas de resposta a problemas sociais, contam-se pelos dedos das mãos o número de projectos de prevenção ao suicídio.

José Conde Rodrigues
Mais do que combater o mal em abstrato (a desigualdade em abstrato) é fundamental evitar cada mal em concreto (reduzir desigualdades que afetam a integridade humana e o respeito pela sua consideração)
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GOVERNO VOLTA A REVER CONTAS DO ORÇAMENTO DO ESTADO


 
Depois da errata publicada na semana passada, o Ministério das Finanças publicou esta terça-feira uma nota explicativa onde revê os números para o Orçamento de Estado de 2016, nomeadamente valores de despesas com pessoal, contribuições e prestações sociais das Administrações Públicas.
Em resposta às dúvidas levantadas pelo Conselho de Finanças Públicas e a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) do Parlamento, o Governo faz assim mais uma correção à proposta orçamental, desta vez sob a forma de nota explicativa – e com apenas duas páginas, em vez das 46 da errata que identificou várias incorreções no relatório do Orçamento do Estado entregue na Assembleia da República.
Uma das questões levantadas pela UTAO foi o inexplicável aumento da despesa com pessoal da ordem dos 300 milhões de euros quando foi anunciada uma redução de 10 mil funcionários e uma poupança de 100 milhões de euros.
Diário Económico explica que o cálculo das contribuições imputadas à Caixa Geral de Aposentações (CGA) esteve na origem deste último erro, que ajuda a explicar os aumentos de despesas que não estavam suficientemente justificados até agora – e até “números que causavam estranheza a técnicos do próprio Ministério”.
As Finanças explicam que as “contribuições sociais imputadas dos empregadores representam a contrapartida das prestações sociais pagas diretamente pelos empregadores (estando inscritas quer como despesas com pessoal quer como prestações sociais propriamente ditas)”.
A nota explicativa das Finanças indica, assim, que “as despesas com pessoal deverão aumentar 357 milhões de euros face a 2015″, mais 1,8%, mas que nas contribuições sociais “perspectiva-se um crescimento de 3,1%”, ou 637 milhões face a 2015.
Esta revisão, no entanto, “não tem reflexos nas dotações orçamentais previstas para a receita e a despesa”, sendo que a meta do défice fica na mesma: 4.125 milhões de euros, que equivale a 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.
ZAP

CRISTAL DO TAMANHO DE UMA MOEDA ARMAZENA 360 TERABYTES DURANTE 13 MIL MILHÕES DE ANOS


 
Optoelectronics Research Centre / University of Southampton
Um só disco do tamanho de uma moeda pode armazenar a história da Humanidade
Um só disco do tamanho de uma moeda pode armazenar a história da Humanidade
Cientistas britânicos conseguiram criar um cristal do tamanho de uma moeda capaz de armazenar grandes quantidades de dados por milhões de anos.
Esqueça os CDs, DVDs, pendrives e qualquer outro meio de armazenamento de dados. Um só disco minúsculo pode agora armazenar (quase para sempre) toda a história da Humanidade.
Uma equipa de cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, criou um cristal do tamanho de uma moeda, capaz de armazenar 360 terabytes de dados durante 13 mil milhões de anos – sem perda de qualidade.
A proeza foi alcançada graças a um processo de gravação e recuperação de dados digitais, baseado num novo formato de dados digitais a 5 dimensões, que os cientistas designaram Eternal 5D.
Os investigadores usaram um feixe ultra-rápido que produziu pulsos de luz extremamente curtos e intensos.
Estes pulsos gravaram os dados em três camadas de pontos nano-estruturados, com apenas 5 micrómetros de distância entre si – o equivalente a 5 milionésimos de um metro.
Graças aos pontos nano-estruturados, a forma como a luz atravessa o cristal é alterada, modificando a sua polarização. O cristal pode assim ser lido por um microscópio óptico combinado com um polarizador.
Os cientistas chamaram Eternal 5D à nova tecnologia devido à sua enorme durabilidade e às suas“cinco dimensões” – tamanho, polarização e três posicionamentos diferentes de nano-estruturas.
“Estamos a desenvolver uma forma muito segura e estável de memória portátil, usando vidro, que pode ser muito útil para organizações com grandes quantidades de arquivos”, explicou Jingyu Zhang, investigador do Centro de Pesquisas em Optoeletrônicos e líder da equipa de cientistas.
“Neste momento, as empresas e instituições têm de fazer backup dos seus arquivos de cinco em cinco anos, devido ao curto tempo de vida dos discos rígidos”, diz Zhang.
Cada um destes discos de cristal pode gravar até 360 terabytes de dados, e a técnica já foi usada para guardar alguns documentos históricos, como a Magna Carta, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e uma versão da Bíblia Sagrada.
O cristal é tão resistente que demoraria 13,8 mil milhões de anos, a temperaturas de 190ºC, até se decompor.
Actualmente, o sistema de armazenamento de dados mais resistente é baseado em CDs revestidos com uma película de ouro, capazes de manter as suas propriedades durante algumas dezenas de anos.
“É emocionante pensar que podemos criar algo que provavelmente sobreviverá à espécie humana“, destacou o professor Peter Kazansky, supervisor do grupo de investigadores.
“Esta tecnologia pode um dia ser o último testemunho da nossa civilização”, concluiu.
ZAP / CanalTech

AGÊNCIA BRITÂNICA PUBLICA MAPA INÉDITO DA SUPERFÍCIE DE MARTE


 
O mapa foi feito a pedido especial de um cientista britânico que participa na equipa que quer levar um veículo de exploração a Marte em 2019.
A agência britânica Ordnance Survey divulgou recentemente um mapa inédito da superfície de Marte, revela a BBC.
Esta é a primeira vez que esta organização especializada em mapas traçou o território de um outro planeta.
O mapa foi criado a partir de dados disponibilizados pela NASA e foi posteriormente publicado na conta do Flickr desta agência britânica.
De acordo com a BBC, o mapa representa uma área de 10 milhões de quilómetros quadrados, o equivalente a cerca de 7% da superfície do planeta vermelho.
Segundo o cartógrafo Chris Wesson, inicialmente foi “difícil interpretar os dados” mas depois o processo de construir este mapa foi bastante “idêntico ao de um mapa da Terra ou de qualquer outro já feito pela OS”.
“Há grandes áreas que pareciam ser planas, mas na verdade são bem montanhosas e desniveladas. Essa foi a parte mais difícil do mapa: mostrar isso, mas sem perder a sua proporção em relação a essas gigantescas crateras”, explicou.
O mapa teve uma única cópia impressa e tem como destino as mãos do cientista britânico Peter Grindrod.
O cientista, da Universidade de Londres, faz parte da equipa que está a planear o envio do European ExoMars para terras marcianas em 2019.
O britânico revela que sempre gostou dos mapas da OS, uma vez que incluem muita informação mas que, ao mesmo tempo, não se tornam demasiado complexos.
“É maravilhoso ver o mesmo estudo aplicado a Marte, especialmente a uma região tão fascinante daquele planeta”, afirma Grindrod.
ZAP / BBC

CIENTISTAS DESCOBREM FLOR INTACTA EM FÓSSIL COM 15 MILHÕES DE ANOS


 
George Poinar
As flores, batizadas de Strychnos electri, estavam incrivelmente bem conservadas, o que facilitou seu estudo
Investigadores da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, descreveram uma nova espécie de planta graças à descoberta de flores fossilizadas dentro de pedaços de âmbar com pelo menos 15 milhões de anos.
As duas flores estavam entre os 500 fósseis recolhidos numa expedição realizada em 1986 pelo professor George Poinar, um famoso entomologista.
A maioria das amostras recolhidas era de insectos mas, depois de quase 30 anos de investigação o professor começou a analisar as flores.
Poinar percebeu que estas estavam praticamente intactas, algo muito difícil de acontecer com plantas presas em âmbar: regra geral, restam apenas fragmentos.
Em 2015, Poinar enviou fotos em alta resolução para Lena Struwe, da Universidade Rutgers, em Nova Jérsei.
“Parecia que essas flores tinham acabado de cair de uma árvore. Pensei que poderiam ser flores Strychnos“, conta Pionar.
Ao receber as amostras presas em âmbar, Struwe comparou a estrutura física de todas as 200 flores conhecidas da espécie Strychnosanalisando coleções inteiras de museus e acervos – e comprovou a descoberta do colega.
A professora explica que as características usadas para identificar espécies de Strychnos estão na morfologia da flor, e “por sorte era o que encontramos nesse fóssil”.
“Analisei cada amostra de espécie do Novo Mundo, fotografei e medi, e então comparei com a foto que George me mandou e fui-me perguntando: ‘Como são os pelos nas pétalas? Onde estão situados?’, e assim por diante.”
A descoberta foi publicada na revista especializada Nature Plants.

Veneno

George Poinar
As flores datam do fim do período cretáceo
As flores datam do fim do período cretáceo
A nova planta, batizada de Strychnos electri, pertence ao género de arbustos tropicais e árvores conhecidos por produzir a toxinaestricnina.
Para os animais do fim do período cretáceo que conviveram com ela, a planta era um perigo.
“Espécies do género Strychnos são quase todas tóxicas de alguma forma”, explica George Poinar.
“Cada planta tem os seus próprios alcalóides com efeitos variados. Algumas são mais tóxicas do que outras e pode ser que tenham sido bem-sucedidas porque os seus venenos ofereciam algum tipo de defesa contra os animais herbívoros”, acrescentou.
O mais famoso desses alcalóides, a estricnina, é uma toxina usada comobase de muitos venenos contra ratos.
Esta toxina também é citada em muitos trabalhos de ficção, como o filme Psicose, de Alfred Hitchcock. A estricnina era uma das armas do personagem de Norman Bates.
Contudo, essas plantas são também da família das asterídeas, que inclui mais de 80 mil plantas floríferas – até mesmo muitas que são de consumo humano, como a batata, o café e o girassol.
A descoberta destas flores quase intactas e tão antigas é um novo elemento muito importante no registo de fósseis desta família, que ainda não é totalmente compreendida pelos cientistas.
ZAP / BBC

EXPLICOLÂNDIA Noticias

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EXPLICOLÂNDIA em destaque no Jornal Diário de Noticias (Escola tempo inteiro, 10/2/2016)
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Aveiro . Amadora. Évora . Guimarães . Lisboa – Alvalade . Lisboa - Laranjeiras . Leiria . Oeiras . Reguengos de Monsaraz . Sacavém . Torres Vedras - Mais informações em www.explicolandia.com ou facebook.com/explicolandia

Magnata indiano acusado de ajudar a mulher a matar enteada


Um dos maiores magnatas dos meios de comunicação da Índia foi formalmente acusado do homicídio da enteada, num caso que está a abalar o país.
Peter Mukerjea, ex-presidente executivo do gigante da comunicação social Star India, foi também acusado de rapto, destruição de provas e de falsas declarações, segundo um funcionário do Departamento Central de Investigação (CBI) da Índia.
"Ele foi alvo das mesmas acusações", disse a mesma fonte à agência AFP, sob a condição de anonimato, referindo-se aos processos que envolvem a mulher de Mukerjea, Indrani, e outras pessoas.
Indrani Mukerjea é acusada, com o motorista e ex-marido, de ter estrangulado Sheena Bora até à morte antes de levar o corpo para uma floresta e de o incendiar.
Sheena Bora, de 22 anos, era filha de Indrani de um anterior relacionamento.
A jovem foi morta em abril de 2012 e o corpo queimado foi descoberto no mês seguinte.
Indrani foi detida em agosto por suspeita da morte da jovem, que mantinha um caso com um filho de Peter Mukerjea de um anterior casamento.
Foram apontados diversos motivos para o crime, incluindo uma disputa financeira em torno dos negócios imobiliários ou a antipatia em relação ao relacionamento de Bora com o filho de Peter Mukerjea.
Presidente executivo do Star India, detido pela Fox, entre 1997 e 2007, antes de deixar o grupo para montar a sua própria televisão, Peter Mukerjea é visto como um dos mais bem-sucedidos magnatas da comunicação social.
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Fonte: JN
Foto: facebook

Comentários polémicos de juíza sobre Bárbara Guimarães podem ser alvo de inquérito

O Conselho Superior de Magistratura poderá agir. Joana Ferrer criticou Bárbara por não ter apresentado queixa mais cedo contra Manuel Maria Carrilho.
O Conselho Superior de Magistratura poderá vir a abrir um inquérito à juíza do processo em que Bárbara Guimarães acusa o ex-marido, Manuel Maria Carrilho, de violência doméstica.
O colectivo feminista Maria Capaz publicou uma carta aberta criticando o comportamento da juíza. “Quando os sistemas de resposta à violência (saúde, apoio social, justiça) reforçam crenças promovidas por agressores estamos perante uma situação definida como vitimação secundária”, criticam as subscritoras da carta.
Esse documento será entregue ao Conselho Superior da Magistratura, o que poderá desencadear a abertura de um processo disciplinar.
Em causa está a forma como a juíza Joana Ferrer criticou Bárbara Guimarães e tratou a apresentadora apenas pelo nome próprio, Bárbara, enquanto se dirigiu ao réu, Manuel Maria Carilho, sempre por “professor”.
De acordo com o jornal “Público”, na primeira sessão do julgamento, na sexta-feira em Lisboa, a juíza perguntou a Bárbara Guimarães quando é que as coisas “mudaram”. “Confesso que estive a ver fotografias do vosso casamento”, disse Joana Ferrer, e tudo parecia maravilhoso. “Parece que o professor Carrilho foi um homem, até ao nascimento da Carlota [a segunda filha do casal], e depois passou a ser um monstro.” Ora, “o ser humano não muda assim”, disse a juíza.
Joana Ferrer criticou durante o julgamento a alegada vítima de violência doméstica por não ter apresentado queixa contra o então marido, logo quando ocorreu a primeira agressão.
A actuação da juíza foi também criticada publicamente pela Associação Portuguesa de Mulheres Juristas. Em comunicado, a associação diz que "não quer deixar de expressar publicamente a sua preocupação pelo que estas revelam sobre a persistência de prejuízos desconformes com o legalmente estipulado sobre o modo de agir com vítimas de violência doméstica”.
O antigo ministro socialista da Cultura Manuel Maria Carrilho, que se separou de Bárbara Guimarães em 2013 após um casamento de mais de dez anos, é acusado de violência doméstica. Segundo a apresentadora, os maus-tratos físicos ocorreram entre finais de 2012 e 2013.
Fonte: rr.sapo.pt

Abono de família chegou a 1.078.754 crianças em Janeiro, menos 46.750 face a Dezembro

O abono de família foi atribuído a 1.078.754 crianças e jovens em janeiro, menos 46.750 relativamente ao mês de Dezembro, representando uma quebra de 4,3%, revelam dados do Instituto da Segurança Social (ISS).
As estatísticas da Segurança Social, atualizadas a 16 de Fevereiro e sujeitos a atualização, referem que em relação ao mês homólogo de 2015 houve uma descida de 5,1% no número de beneficiários desta prestação social.
Segundo os dados do ISS, em Janeiro do ano passado 1.134.654 crianças e jovens beneficiaram desta prestação, mais 55.900 do que em Janeiro deste ano.
Lisboa é a região do país com o maior número de abonos de família atribuídos (213.397), seguindo-se o Porto (212.643), Braga (97.973) e Setúbal (83.525).
Em Janeiro, 731.250 crianças e jovens pediram para receber abono de família, enquanto em dezembro tinham sido 767.378.
Os aumentos dos abonos de família e dos abonos de família pré-natal entraram em vigor a 01 de fevereiro, trazendo subidas que variam entre os 2% e os 3,5%.
Em declarações recentes, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, afirmou que a atualização do valor do abono de família irá beneficiar 1,1 milhões de crianças, enquanto a majoração para famílias monoparentais, beneficiárias do abono de família, chegará a 270 mil agregados familiares.
Nas prestações familiares, que vão pesar mais 0,02% este ano face 2015, o Governo prevê a atualização do abono de família de 3,5% no primeiro escalão, de 2,5% no segundo escalão e de 2% no terceiro escalão.
Tem igualmente impacto no pré-natal, apesar de ser menor, por este ser indexado ao abono de família. É ainda reforçada a majoração para famílias monoparentais beneficiárias do abono pré-natal, aumentando em 15 pontos percentuais a taxa de majoração em vigor, passando para 35%.
O montante do abono de família varia de acordo com a idade da criança ou jovem e com o nível de rendimentos de referência do respetivo agregado familiar.
O valor apurado insere-se em escalões de rendimentos estabelecidos com base no Indexante dos Apoios Sociais (IAS).
Fonte: Lusa

As Alucinações e os Delírios na Psicopatologia

Dr. Geraldo Ballone
As alucinações e delírios são importantissimos sintomas de muitas doenças mentais, mas principalmente das psicoses, como a esquizofrenia. Os psiquiatrias têm acesso a estes fenômenos apenas através da conversa com o paciente, uma vez que são experiências individuais e íntimas. O seu estudo e conhecimento, entretanto, revelam muitos aspectos interessantes, que iremos apresentar neste breve artigo.
Alucinação é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável da pessoa que alucina em relação ao objeto alucinado. Sendo a percepção da alucinação de origem interna, emancipada de todas as variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.
Tudo que pode ser percebido pelos nossos cinco sentidos (audição, visão, tato, olfato e gustação) pode também ser alucinado. As alucinações sempre aproveitam o material consciente conhecido do pacientes. Na alucinação, por exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina deve ter percebido isoladamente cada um dos objetos e, mentalmente, combina uns com os outros.
Embora as alucinações possam manifestar-se através de qualquer um dos cinco sentidos, as mais freqüentes são as auditivas e visuais.
Quando uma alucinação passa a ser interpretada, como por exemplo, uma alucinação auditiva é interpretada como sendo a voz do demônio, de Deus, dos espíritos mortos ou uma audição telepática, então temos o delírio. Portanto, este, freqüentemente, acompanha a alucinação. Ouvir vozes faz parte da percepção e atribuir a elas algum significado faz parte do pensamento, cujos distúrbios veremos adiante.
Existem dois tipos de delírios: os delírios primários, ou puros, que são um juízo patologicamente falso da realidade. Este juízo falso deve apresentar três características:
  1. deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável;
  2. deve ser impenetrável e incompreensível para o indivíduo normal, bem como, impossível de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja através da experiência ou da argumentação lógica e;
  3. impossibilidade de conteúdo plausível.
Todos os casos que não satisfazem essa tríade não podem ser considerados delírios primários, mas podem ser as chamadas idéias deloiróides, ou delírios secundários.

AS ALUCINAÇÔES

Sendo as alucinações alterações da sensopercepção, é importante saber que existem fatores culturais e pessoais que interferem na percepção. Os valores culturais atribuídos aos objetos, às relações e aos acontecimentos, também podem desempenhar um papel significativo na maneira pela qual os objetos são percebidos.
Por exemplo, os habitantes das ilhas Trobriand (Nova Guiné), apegam-se a uma crença básica, segundo a qual uma criança não poderia jamais ser fisicamente semelhante à sua mãe ou a seus irmãos e irmãs mas apenas ao seu pai. Mesmo quando, para um estranho, havia uma notável semelhança física entre dois irmãos, os nativos eram incapazes (ou não queriam ser capazes) de descobrir qualquer semelhança. Além disso, havia uma tendência inversa para exagerar o menor grau de semelhança facial entre o pai e os filhos.

Como existe considerável amplitude quanto aos aspectos de um objeto que a pessoa pode focalizar e acentuar, também podem existir notáveis diferenças a respeito desses aspectos entre várias culturas. As experiências perceptuais que se tem ao olhar um borrão de tinta, por exemplo, são descritas de maneiras bem diferentes, por pessoas de diferentes sociedades. Essas diferenças, na ênfase perceptual, podem ser interpretadas como reflexos dos valores culturais desses povos. 
  
A pessoa com alucinação tem o senso imediato de que a sua percepção é verdadeira; em alguns casos, a alucinação provém de dentro do corpo. Algumas vezes, a pessoa com alucinação consegue ter o entendimento de que está com uma alteração de registro sensorial . Outras vezes, a intensidade do delírio (que normalmente ocorre junto com alucinação) concede ao indivíduo o peso de que o que percebe é a verdade absoluta. Em um sentido mais restrito, as alucinação indicam um distúrbio psicótico quando associadas a deficiência de prova da realidade. 
O termo "alucinação" não se aplica a falsas percepções que ocorrem durante o sonho. Alucinações manifestas em ritos religiosos não têm necessariamente significado patológico. Alucinações transitórias são freqüentes em indivíduo sem distúrbio mental quando submetido à privação física ou psíquica.

Diversos estudos utilizando neuroimagens funcionais, como a ressonância funcional magnética, indicaram que existe uma ativação real de diversas zonas cerebrais, associadas às sensações e percepções normais da esfera afetada.

Imagem de fMRI do cérebro de uma pessoa sofrendo alucinações auditivas e visuais. As áreas em laranja e vermelho representam as partes do cérebro mais ativadas. As zonas mostradas são (da direita para a esquerda), polo occipital (zona visual), polo temporal (zona auditiva), polo frontal (zona motora e área de Broca, da fala).

Alucinações auditivas
Como as mais freqüentes, podem aparecer sob forma de sons inespecíficos, tais como chiados, zumbidos, ruídos de sinos, roncos, assobios, ou vozes, as quais podem ter as mais variadas características: diálogos entre mais de um interlocutor, comentários sobre atos do paciente, críticas sobre a pessoa que alucina, podem ainda, por outro lado, proferir injúrias e difamações, comunicar informações fantásticas, sonorizar o pensamento do próprio paciente ou de terceiros. Na idéia do paciente tais vozes podem ser provenientes do além, do sobrenatural, dos demônios ou de Deus, etc.
Normalmente, a alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do paciente falamos em sonorização do pensamento, como se ele pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos: " lá vai ele lavar as mãos", "lá vai ele ligar a televisão" e assim por diante.
Algumas vezes as vozes alucinadas podem determinar ordens ao paciente, o qual as obedece mesmo contra sua vontade. Diante desta situação, de obediência compulsória às ordens ditadas por vozes alucinadas, chamamos de automatismo mental. Esta situação oferece alguma periculosidade, já que, quase sempre, as ordens proferidas são eticamente condenáveis ou socialmente desaconselháveis.

Alucinações visuais
São percepções visuais, como vimos, de objetos que não existem, tão claras e intensas que dificilmente são removíveis pela argumentação lógica. Mesmo o paciente referindo ter visto apenas vultos, tais vultos são muito fielmente percebidos, portanto são reais para a pessoa que os percebe. O objeto alucinado pode não ter uma forma específica: clarões, chamas, raios, vultos, sombras, etc, ou têm formas definidas, tais como pessoas, monstros, demônios, animais, santos, anjos, bruxas.
Há determinadas ocasiões onde o transtorno visual alucinatório adquire a consistência de uma cena, uma situação como, por exemplo, ver uma carruagem passando pela paciente e dela descer um príncipe. Neste caso falamos em alucinações oniróides, como se transcorresse num sonhar acordado. No delirium tremens do alcoolista, por exemplo, as alucinações visuais tem uma temática predominantemente de bichos e animais peçonhentos (cobras, aranhas, percevejos, jacarés, lagartos) e, neste caso, damos o sugestivo nome de zoopsias, promovedoras de grande ansiedade e apreensão.
Nas situações onde o paciente se vê fora de seu próprio corpo falamos em alucinações autoscópicas, quando ele consegue ver cenas e objetos fora de seu campo sensorial, como enxergar do lado de fora da parede.
O conteúdo das alucinações é extremamente variável, porém, guarda sempre uma íntima relação com a bagagem cultural do paciente que alucina. Não é possível alucinar com alguma coisa que não faça parte do mundo psíquico do paciente. Um físico nuclear pode alucinar com um certo brilho atômico a revestir seus inimigos, enquanto um cidadão menos diferenciado, com um espírito do morto a rondar sua casa, ambos porém, independentemente do nível sócio-cultural têm a mesma probabilidade de alucinar. A sofisticação e exuberância do material alucinado dependerá da bagagem cultural de quem alucina mas não interfere na valorização semiológica do fenômeno.

Alucinações táteis
A percepção de estímulos táteis sem que exista o objeto correspondente é observada principalmente nas psicoses tóxicas e nas psicoses delirantes crônicas, como veremos adiante. Nestes casos, principalmente no Delirium Tremens ou na dependência de cocaína, o paciente sente-se picado por pequenos animais, insetos esquisitos, vermes que caminham sobre a pele, pancadas, alfinetadas, queimaduras, estranhos carrapatos que penetraram em algum orifício fisiológico, etc. Não são raros os casos de alucinação tátil que se caracteriza pela sensação de ter-se as pernas puxadas à noite ou estrangulamento, sufocação ou opressão antes de conciliar o sono.
Quando esta percepção falseada diz respeito aos órgãos internos ou ao esquema corporal falamos em ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS. Nestes casos os pacientes sentem como se tivessem seu fígado revirado, esvaziado seu pulmão, seus intestinos arrancados, o cérebro apodrecido, o coração rasgado, e assim por diante. As Alucinações Cenestésicas devem ser diferenciadas das ALUCINAÇÕES CINESTÉSICAS, que não dizem respeito à sensação tátil, mas sim aos movimentos (cine-movimento). Nas cinestesias os pacientes percebem as paredes movendo-se ou eles próprios movendo-se no espaço.
Exemplo: um paciente delirante crônico sentia que seu cérebro estava infestado de germes, os quais, esporadicamente, escorriam-lhe pelo nariz. Neste caso uma Alucinação Tátil Cenestésica. Outro queixava-se de inúmeros percevejos que furavam-lhe a pele o tempo todo. Era um portador de Delirium Tremens, e, inclusive, mostrava os insetos que conseguia apanhar para o médico (zoopsia+aluc. tátil). Trata-se de Alucinações Táteis puras. Outro, já idoso, que sabia ter seus pulmões corroídos por vermes provenientes de carne suína, tossia seguidamente e vivia submetendo-se a freqüentes exames de raios X. Neste último caso, uma Alucinação Cenestésica pura.

Alucinações olfativas e gustativas
Normalmente, as Alucinações Olfativas e Gustativas estão associadas e são raras. Estados delirantes cujo tema diz respeito à putrefação, o gosto e os odores podem ser muito desagradáveis e são percebidos, como é típico de todas alucinações, sem que exista o objeto correspondente ao gosto e ao cheiro. Algumas auras epilépticas determinam o aparecimento de Alucinações Gustativas e/ou Olfativas. Em geral os gostos alucinados aparentam ser de sangue, terra, catarro ou qualquer outra coisa desagradável; os odores podem ser desde perfumes exóticos até de fezes.

OS DELÍRIOS
A prática clínica da psiquiatria deixa bem claro a constatação da primeira regra de diagnóstico do delírio (deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável). Diante de um paciente delirante, cuja ruptura com a realidade é evidente, não conseguimos demover tal conteúdo do pensamento mediante qualquer tipo de argumentação. Caso o paciente deixe-se convencer pela argumentação da lógica, razoavelmente elaboradas pelo interlocutor, decididamente não estaremos diante de um delírio, mas sim de um engano por parte do paciente ou de uma formação deliróide. Para ser delírio a convicção dever ser sempre inabalável. A argumentação racional não deve afetar a realidade distorcida ou recriada de quem delira, independentemente da capacidade convincente e da perseverança daquele que se empenhar nesta tarefa infrutífera.
Em relação à segunda regra, sobre a impossibilidade do delírio primário ser compreendido por pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade, a lógica da realidade do delirante não é aplicável à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de compreensão psicológica do delírio: carece relação entre a temática delirante e os elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do paciente.
Nos casos de delírio secundário, muitas vezes relacionados à vivências traumáticas, eles se apresentam de forma a sugerir um determinado mecanismo de defesa contra uma forte ameaça psíquica, normalmente angustiante. Por exemplo: um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de quatro dedos da mão direita, começou apresentar uma expressiva inadequação afetiva (ao invés de aborrecido, mostrava-se feliz) e com um delírio no qual julgava-se Deus, cheio de poderes, auto-suficiente e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele duvidavam. Tal ideação emancipada da realidade poderia ser entendida como um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em compensação mutilação e deficiência, o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de uma Idéia deliróide, a qual habitualmente pode fazer parte de numa reação psicótica aguda.
Delírios com temática semelhante ou mesmo igual ao exemplo exposto quando surgem em pessoas sem nenhuma vivência justificadora, sem nenhuma possibilidade de redução dinâmica vivencial e impossíveis de conteúdo ou de compreensibilidade são os verdadeiros Delírios Primários. Já, a Idéia Deliróide, seria conseqüência de um estado afetivo subjacente e perfeitamente relacionável com uma vivência expressiva, por isso secundário.
A Idéia Delirante, ou Delírio, espelha uma verdadeira mutação na relação eu-mundo e se acompanha de uma mudança nas convicções e na significação da realidade. O delirante encontra-se imerso numa nova realidade de forma à desorganizar a sua própria identidade e se desorganiza pela ruptura entre o sujeito e o objeto, entre o interno e o externo, ou seja, entre o eu e o mundo. É uma modificação radical das relações do indivíduo com a realidade, manifestando-se através de uma espécie de alienação do Ego.
O grande psiquiatra alemão, Emil Kraepelin escreveu que os "delírios são idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por meio do argumento". Outro grande psiquiatra da éploca, Bleuler, por sua vez dizia que "idéias delirantes são representações inexatas que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior. Não há necessidades senão afetivas". Como percebemos, Kraepelin parece deter-se mais naquilo que entendemos por delírio primário, enquanto Bleuler já ventilava uma possibilidade do delírio secundários.
Veremos agora como estão presentes as alucinações e delírios em várias doenças mentais:

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia é uma doença da personalidade total, que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospresa a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias.
Aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico baseia-se exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres.
O alienista francês Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia, depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores etiológicos da esquizofrenia é o modelo estresse-diátese, o qual supõe o indivíduo possuidor de uma vulnerabilidade específica colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante). Em determinadas circunstâncias o binômio diátese-estresse proporcionaria condições para o desenvolvimento da esquizofrenia. Até que um fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as teorias mais aceitas sobre o assunto.
Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico. Seriam:
  • audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes)
  • alucinações auditivas que comentam o comportamento do paciente
  • alucinações somáticas
  • sensação de ter os próprios pensamentos controlados
  • irradiação destes pensamentos
  • sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior.
Tentando agrupar a sintomatologia da esquizofrenia para sintetizar os principais tratadistas, teremos destacados três atributos da atividade psíquica: comportamento, afetividade e pensamento. Os delírios surgem como alterações do conteúdo do pensamento esquizofrênico e as alucinações como pertencentes à sensopercepção. Ambos acabam sendo causa e/ou conseqüência das alterações nas 3 áreas acometidas pela doença (comportamento, afetividade e pensamento).

Delírios
Os delírios na esquizofrenia podem sugerir uma interpretação falsa da realidade percebida. É o caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma percepção delirante. Desta forma, a percepção delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, duas pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma ocorrência delirante. O tipo de delírio mais freqüentemente encontrado na esquizofrenia é do tipo paranóide ou de referência, ou seja, com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se referem ao paciente (rádios, vizinhos, televisão, etc) no segundo caso.
Na esquizofrenia os delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Em relação ao delírio de referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc.

Alucinações
As alucinações mais comuns na esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em seguida. Conforme diz Schneider, "de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto), vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente". Esta sonorização do pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a sintomatologia que Schneider considerou como sendo de primeira ordem.
Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o que ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e irradiação do pensamento, também considerados de primeira ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo controlados por forças ou influências exteriores.
Todas as demais alucinações, auditivas, visuais, tácteis, olfatórias, gustativas, cenestésicas e cinestésicas, embora sejam consideradas sintomas acessórios por Bleuler, aparecem na esquizofrenia com freqüência bastante significativa. Normalmente as alucinações auditivas são as primeiras a aparecer e as últimas a sumir.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA PARANÓIA
A paranóia é uma entidade clínica caracterizada, essencialmente, pelo desenvolvimento insidioso de um sistema delirante duradouro e inabalável mas, apesar desses delírios há uma curisosa manutenção da clareza e da ordem do pensamento, da vontade e da ação. Ao contrário dos esquizofrênicos e doentes cerebrais, onde as idéias delirantes são um tanto desconexas, neste tipo de psicose delirante crônica as idéias se unem num determinado contexto lógico para formar um sistema delirante total, rigidamente estruturado e organizado.
Trata-se, portanto, do que chamamos de transtorno delirante persistente, cuja principal característica é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos um mês. Para o diagnóstico é muito importante que o delírio do transtorno delirante persistente não seja bizarro nem seja desorganizado, ou seja, ele deve ter seu tema e script organizado e compreensível ao ouvinte, embora continue se tratando de uma falsa e absurda crença. As alucinações não são proeminentes e nem habituais, embora possam existir concomitantemente. Quando existem, a alucinações táteis ou olfativas costumam ser mais freqüentes que as visuais e auditivas.
Normalmente o funcionamento social desses pacientes paranóicos não está prejudicado, apesar da existência do delírio. A maioria dos pacientes pode parecer normais em seus papéis interpessoais e ocupacionais, entretanto, em alguns o prejuízo ocupacional pode ser substancial e incluir isolamento social. A impressão que se tem é a de uma ilha de delírio num mar de sanidade, portanto, uma espécie de delírio insular.
Um paciente, por exemplo, convencido de que será assassinado por perseguidores implacáveis pode desenvolver isolamento social e abandonar o emprego. Em geral, além do funcionamentos social comprometido, também o relacionamento conjugal pode sofrer prejuízos. Na dsquizofrenia o comprometimento social mais acentuado costuma ser a regra.
Esses delírios normalmente são interpretativos, egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com idéias de invenção ou de reforma. Também é freqüente o delírio de ciúme, mais encontradiço nas mulheres. Estas estão sempre se deparando com provas "contundentes" acerca dos muitos relacionamentos sexuais de seus maridos.
Existem cinco tipos principais de transtornos delirantes persistentes, muitos dos quais já têm termos consagrados até no uso leigo ou vulgar:

Delírio erotomaníaco
Neste caso o delírio habitualmente se refere ao amor romântico idealizado e a união espiritual, mais do que a atração sexual. Acreditam, freqüentemente, ser amados por pessoa do sexo oposto que ocupa uma posição de superioridade (ídolos, artistas, autoridades, etc.) mas, pode também ser uma pessoa normal e estranha.

Delirio de grandeza
Neste subtipo a pessoa é convencida, pelo seu delírio, possuir algum grau de parentesco ou ligação com personalidades importantes ou, quando não, possuir algum grande e irreconhecível talento especial, alguma descoberta importante ou algum dom magistral. Outras vezes acha-se possuidor de grande fortuna.

Delírio de ciúme
Neste tipo a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade de sua esposa ou amante. Pequenos pedaços de "evidência", como roupas desarranjadas ou manchas nos lençóis podem ser coletados e utilizados para justificar o delírio. O paciente pode tomar medidas extremas para evitar que o companheiro(a) proporcione a infidelidade imaginada, como por exemplo, exigindo uma permanência no lar de forma tirana ou obrigando que nunca saia de casa desacompanhado(a).

Delirio persecutório
É o tipo mais comum entre os paranóicos ou delirantes crônicos. O delírio costuma envolver a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas ou estar sendo alvo de comentários maliciosos.

Delírio somático
Também chamada de parafrenia, caracteriza-se pela ocorrência de variadas formas de delírios somático e, neste caso, com maiores possibilidades de alucinações que outros tipos de paranóia. Os mais comuns dizem respeito à convicção de que a pessoa emite odores fétidos de sua pele, boca, reto ou vagina, de que a pessoa está infestada por insetos na pele ou dentro dela, esdrúxulos parasitas internos, deformações de certas partes do corpo ou órgãos que não funcionam.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NOS TRANSTORNOS AFETIVOS
depressão grave, ou maior, é um transtorno afetivo de características depressivas e de natureza predominantemente biológica. Era, anteriormente, chamada de PMD (Psicose Maníaco Depressiva), tipo ou fase depressiva. Atualmente classifica-se como um transtorno do humor, e que tem como subtipos o episódio depressivo (quando único) e o transtorno depressivo recorrente (quando múltiplos).
O que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são sintomas atrelados predominantemente à afetividade, normalmente sem severo prejuízo da crítica, sintomas estes decorrentes de uma tríade sintomática básica e caracterizada por:

1 - estreitamento do campo vivencial; 
2 - inibição psíquica e; 
3 - sofrimento moral.

Entretanto, nos casos mais graves há a classificação de depressão maior com sintomatologia psicótica, quando então temos delírios e alucinações, confusão ou outros sintomas francamente psicóticos. Apesar da exuberância de tais sintomas, devemos ter sempre o cuidado em considerar tais fenômenos psicóticos (neste caso da depressão) como sendo de natureza secundária ao humor e não primária como nas esquizofrenias. Como o nome diz, são sintomas e não uma doença psicótica. Em graus mais severos, a depressão maior pode resultar num quadro francamente autista, exuberantemente delirante ou mesmo alucinatório, porém, tais sintomas serão sempre de natureza secundária à própria depressão.
Embora o juízo crítico possa estar conservado nos pacientes deprimidos, suas vivências são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas tão pessimistas que a interpretação da realidade assume caráter alterado: vai desde idéias falseadas, passando por idéias supervalorizadas, até o delírio humor-congruente franco. Por não se tratar de um fenômeno de natureza primária, mas sim secundário ao afeto depressivo, alguns autores chamam esses delírios humor-congruentes de idéias deliróides .
O tema dos delírios nos pacientes deprimidos é, de acordo com a idéia de humor-congruência (compatível com o humor) de ruína, de pecado, de podridão ou qualquer outro tema auto-pejorativo. O mesmo fenômeno pode aparecer nos casos de euforia, ou seja, nas fases de euforia do transtorno afetivo bipolar (antigo PMD). Neste caso a temática delirada será de grandeza, de messianismo, de super-poderes ou coisas que enaltecem delirantemente o ego do paciente.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA ALUCINOSE ORGÂNICA
O termo alucinose designa uma síndrome cerebral orgânica na qual as alucinações, em uma ou mais modalidades sensitivas, constituem a anomalia psicológica predominante e às vezes única. Nestes casos os delírios são raridade.
As três características adicionais mais importantes para o diagnóstico para a alucinose orgânica são:

1- falta de prejuízo da consciência, 
2- ausência de sinais sugestivos de uma psicose e, 
3- atividade alucinatória constante e recorrente.

Na clínica, o termo alucinose encontra-se freqüentemente associado ao alcoolismo, chamando-se este estado de alucinose alcoólica. Trata-se de uma espécie de variante da síndrome de abstinência, mas que aparece nos alcoolistas independentemente da privação do álcool.
A alucinose é também decorrente de estados tóxico proporcionados por diversas drogas, como por exemplo a cocaína, o LSD, brometos, maconha, antiparkinsonianos. Além das drogas, reconhece-se o potencial psicotizante de estados infecciosos (pneumonias, etc.), metabólicos (uremias, diabetes, etc.) e traumáticos e lesionais (traumatismos cranianaos, tumores), ou ainda por foco irritativo dos lobos temporais e occipital, sempre porém, de origem extra-psíquica.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA PSICOSE REATIVA
A chamada psicose reativa breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e, habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros distúrbios psicóticos, como na esquizofrenia e nos transtornos afetivos com sintomas psicóticos. O prognóstico é bom e a persistência de sintomas residuais não ocorre. Durante o surto observa-se incoerência e acentuado afrouxamento das associações, delírios, alucinações e comportamento catatônico ou desorganizado. Há componentes afetivos com mudanças bruscas de um afeto para outro, perplexidade e confusão.
A Organização Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças (CID), recomenda que esta categoria de psicose deve ser restringida ao pequeno grupo de afecções psicóticas, em grande parte ou totalmente atribuídas a uma experiência existencial recente. Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores ambientais tem a maior influência etiológica.
Trata-se de reações cuja natureza não é só determinada pela situação psicotraumática, mas também pelas predisposições da personalidade. A maioria das reações psíquicas mórbidas desenvolve-se em função de uma perturbação de caráter que predispõe a elas. Tal perturbação será fruto de um desenvolvimento psicorreativo anormal.
O desenvolvimento da psicose reativa pode satisfazer a necessidade do paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.
Deve haver na psicose reativa breve, de uma maneira ou outra, um certo lucro subjetivo na medida em que o paciente vive à margem da realidade traumática e insuportável; transfere seu próprio fracasso para um delírio persecutório, recolhe-se da realidade numa postura autística, nega a existência num estado amnésico e assim por diante. Pode ser de grande alívio a transferência da tonalidade afetiva de um objeto para outro, ou de um complexo de idéias para um outro complexo secundário psiquicamente anárquico, onde as coisas se encaixam numa lógica doentia e fantástica.

Causas
Por definição, de acordo com Kaplan, um estressor vivencial significativo constitui um fator etiológico para este distúrbio, entretanto, melhor seria pensar nestes fatores estressantes mais como desencadeantes do surto psicótico agudo. Portanto, a patologia terá bases tanto biológicas quanto psicológicas. Devem ser enfatizados os mecanismos de relacionamento inadequados e a possibilidade de ganho emocional primário ou secundário com a eclosão do surto agudo. Há hipóteses que a psicose representaria um mecanismo de defesa a um estressor específico.

Sintomas
A característica essencial deste distúrbio é o início súbito dos sintomas psicóticos que persistem por um tempo inferior a um mês, com eventual retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros estados psicóticos, tais como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos.
O comportamento pode ser bizarro, com posturas peculiares, trejeitos esquisitos, gritos ou mutismo completo. Freqüentemente há significativa desorientação, confusão e distúrbios de memória. Alucinações transitórias, delírios e confabulações podem estar presentes. O quadro é mais freqüente na adolescência e idade adulta jovem.
São freqüentes, também, as modificações rápidas de um afeto intenso para outro, a perplexidade e regressão com atitudes pueris. O comportamento catatônico ou desorganizado é comum e isso pode confundir com os casos de simulação, Síndrome de Ganser ou mesmo histeria.

Curso e Prognóstico
Não existem sintomas prodrômicos anteriores ao estressor desencadeante, embora possam existir traços de personalidade sugestivos de algum distúrbio prévio. O aparecimento da sintomatologia segue o estressor em poucas horas, não duram mais de um mês e a depressão posterior é freqüente.

ASPECTOS DE BOM PROGNÓSTICO
  • Boa adaptação emocional pré-mórbida (antes do surto)
  • Poucos traços Esquizóides de personalidade pré-mórbidos
  • Grave estressor emocional precipitante
  • Aparecimento agudo e repentino dos sintomas
  • Sintomas afetivos presentes (depressão, normalmente)
  • Confusão e perplexidade durante a crise
  • Pouco empobrecimento afetivo
  • Curta duração dos sintomas
  • Ausência de parentes esquizofrênicos

 É muito difícil a diferenciação entre a psicose reativa breve e a depressão maior com sintomas psicóticos. Para tal distinção é fundamental a verificação minuciosa da personalidade pré-mórbida e suas associações com traços depressivos ou esquizóides. A abordagem antidepressiva medicamentosa consegue resolver grande número de casos, o que nos faz suspeitar do evidente envolvimento afetivo em tais transtornos, ainda que não tenha havido nenhuma manifestação prévia de depressão com nítidas características psicóticas. Teoricamente isso é bem possível, já que a eclosão da psicose posterior à agressão emocional pode significar uma falência adaptativa às circunstâncias vivenciais, atitude perfeitamente compatível com a dinâmica da depressão. 
 
 Imagem: "Delirium Tremens", de Lukáš Kándl

Geraldo J. Ballone
Especialista em psiquiatria pela ABP e ex-professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP. Coordenador do site PsiqWeb - Psiquiatria clínica didática para pesquisas e consultas