sábado, 9 de setembro de 2023

A deteção mais distante do campo magnético de uma galáxia


Esta imagem mostra a orientação do campo magnético da galáxia distante 9io9, observada quando o Universo tinha apenas 20% da sua idade atual — a deteção mais distante do campo magnético de uma galáxia. As observações foram obtidas pelo ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do qual o ESO é um parceiro. Os grãos de poeira no seio de 9io9 estão mais ou menos alinhados com o campo magnético da galáxia e, por isso, emitem luz polarizada, o que significa que as ondas de luz oscilam segundo uma direção privilegiada, em vez de aleatória. O ALMA detetou esta polarização, a partir da qual os astrónomos puderam determinar a orientação do campo magnético, que aqui mostramos como linhas curvas sobrepostas à imagem ALMA.A luz polarizada emitida pela poeira magneticamente alinhada de 9io9 era extremamente fraca, representando apenas 1% do brilho total da galáxia, no entanto os astrónomos usaram um "truque" da natureza para obter este resultado: uma lente gravitacional. Apesar de 9io9 estar muito longe de nós, a sua luz aparece-nos distorcida e muito mais brilhante, uma vez que se curva por efeito da gravidade de um objeto muito maior que se encontra entre ela e a Terra.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/J. Geach et al.
Com o auxílio do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), os astrónomos detetaram o campo magnético de uma galáxia tão distante que a sua luz demorou mais de 11 mil milhões de anos a chegar até nós: estamos a observá-la quando o Universo tinha apenas 2,5 mil milhões de anos de idade. Este resultado forneceu aos astrónomos pistas cruciais sobre como é que se formaram os campos magnéticos de galáxias tais como a nossa Via Láctea.

Há imensos objetos no Universo que apresentam campos magnéticos, sejam eles planetas, estrelas ou galáxias. "As pessoas podem não se aperceber, mas na nossa Galáxia e noutras galáxias entrelaçam-se campos magnéticos com dimensões da ordem das dezenas de milhares de anos-luz," diz James Geach, professor de astrofísica na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e autor principal deste estudo publicado na revista Nature.

"Na realidade, sabemos muito pouco relativamente à formação destes campos magnéticos, apesar de serem fundamentais para compreendermos a evolução galáctica," acrescenta Enrique Lopez Rodriguez, investigador na Universidade de Stanford, EUA, que também participou no estudo. Não é claro quão cedo na vida do Universo, e quão rápido, é que os campos magnéticos se formaram nas galáxias, isto porque, até agora, os astrónomos apenas tinham mapeado campos magnéticos em galáxias próximas.

Agora, e com o auxílio do ALMA, do qual o ESO é um parceiro, Geach e a sua equipa descobriram um campo magnético completamente formado numa galáxia distante, semelhante em estrutura àqueles observados em galáxias próximas. O campo é cerca de mil vezes mais fraco do que o campo magnético da Terra, mas estende-se ao longo de mais de 16.000 anos-luz.

"Esta descoberta dá-nos novas pistas sobre como é que os campos magnéticos se formam à escala galáctica," explica Geach. A observação de um campo magnético completamente desenvolvido tão cedo na história do Universo indica que os campos magnéticos que englobam galáxias inteiras podem formar-se rapidamente na altura em que as galáxias jovens ainda se estão a desenvolver.
Esta imagem infravermelha mostra a galáxia distante 9io9, que aqui vemos como um arco avermelhado que se curva em torno de uma galáxia brilhante próxima de nós. Esta galáxia próxima atua como uma lente gravitacional: a sua massa curva o espaço-tempo à sua volta, curvando assim os raios de luz que nos chegam de 9io9, que está ao fundo e, por isso, nos aparece com esta forma distorcida.
Esta imagem colorida resulta da combinação de imagens infravermelhas obtidas com o telescópio VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) do ESO, no Chile, e com o CFHT (Canada-France-Hawaii Telescope), nos EUA.
Crédito: ESO/J. Geach et al.

A equipa pensa que a formação estelar intensa no Universo primordial poderá acelerar o desenvolvimento de campos magnéticos. Adicionalmente, estes campos podem, por sua vez, influenciar o modo como se formam as gerações seguintes de estrelas. Rob Ivison, coautor do trabalho e astrónomo do ESO, afirma que esta descoberta abre "uma nova janela para o funcionamento interno das galáxias, uma vez que os campos magnéticos estão ligados ao material que está a formar novas estrelas."

Para fazer esta deteção, a equipa observou a radiação emitida por grãos de poeira de uma galáxia distante, 9io9. As galáxias estão repletas de grãos de poeira e quando um campo magnético se encontra presente, estes grãos tendem a alinhar-se, fazendo com que a radiação que emitem seja polarizada. Isto significa que as ondas de luz oscilam segundo uma direção privilegiada, em vez de aleatória. Quando o ALMA detetou e mapeou um sinal polarizado emitido pela galáxia 9io9, confirmou-se pela primeira vez a presença de um campo magnético numa galáxia muito distante.

"Nenhum outro telescópio teria conseguido fazer esta observação," diz Geach. A esperança é que com esta e outras observações futuras de campos magnéticos distantes, começaremos a desvendar o mistério da formação destas estruturas galácticas fundamentais.

*Pela APImprensa


EXPOSIÇÃO CELEBRA CENTENÁRIO DE NATÁLIA CORREIA REENCONTRO EM PARIS

 Por António Valdemar *
A Casa de Portugal, um local emblemático de Paris, celebra, em todas as oportunidades relevantes, o património lusófono em França. Neste contexto, vai realizar uma exposição com o titulo “Mulher Atlante”,para comemorar o centenário do nascimento de Natália Correia.
A coordenadora geral da exposição, Paula Lisboa, salientou que não seria possível «deixar passar em branco esta efeméride, contando com o trabalho muito empenhado do curador Rui A. Pereira, que idealizou e organizou a exposição». O seu reconhecimento foi extensivo a Ana Paixão, «uma talentosa intelectual, garante da exposição ‘Mulher Atlante’ que possui uma qualidade artística notável, em plena sintonia com a tradição de excelência que caracteriza os acontecimentos efetuados pela Casa de Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Enalteceu ainda Paula Lisboa «o importante contributo da Perve Galeria, através de Carlos Cabral Nunes e Nuno Espinho da Silva, pela cedência das obras agora apresentadas. Agradeceu, ainda, a todos os artistas convidados, pela qualidade das obras expostas e a dedicação, sem limites, dos trabalhadores da Casa de Portugal. Revelou, entretanto, que uma das participantes é a pintora Carmo Pólvora, uma das amigas mais íntimas de Natália: «Foi a artista plástica a quem Natália Correia dedicou o seu último texto de análise crítica sobre arte e onde surgiu a ideia da Mulher Atlante que prepondera em toda a exposição.»
Paula Lisboa, ao concluir o seu depoimento, referiu que «Natália fez tudo o que estava ao seu alcance para a construção de um país melhor, não deixando passar em vão os valores da democracia que expressava nas suas obras literárias e artísticas e nas suas intervenções políticas. A apresentação desta exposição em Paris, é uma homenagem mais que merecida: «Natália recorria a esta cidade, como uma necessidade de rejuvenescimento».
Por sua vez, o curador da Exposição Rui A Pereira, também, agradeceu a todos quantos contribuíram para a concretização da homenagem a Natália Correia, que se pode enquadrar nos seguintes versos de um notável poema de Bertolt Brecht: «Do rio que tudo arrasta se diz que é violento./Mas ninguém diz violentas/as margens que o comprimem.”
A diretora da Casa de Portugal – André de Gouveia, Cité Internationale Universitaire de Paris, Ana Paixão, é da opinião que «a criação literária, a produção editorial e as intervenções políticas e sociais de Natália Correia são feitas de um rasgo imperioso que agita e derruba códigos e formas de dominação. (…) Ao colocar em causa todas as formas de poder, de autoritarismo e de mordaça sobre as ideias e sobre os corpos, a missão oceânica da autora de Mudar o Futuro continua atual em territórios e temporalidades distintas».
Louvou a atividade de Paula Lisboa que, «de forma entusiasta e competente, soube, com o seu saber e em todas as fases do processo, estar presente na idealização geral desta homenagem.( …) Trazer Natália Correia para Cité Internationale Universitaire de Paris é relembrar a luta que travou pelas liberdades individuais, contra todas as formas de opressão e de domínio continuam a ser atuais num contexto global». (…) A autora de A Madona nos permanentes combates que travou pela diversidade e afirmação sexual, pelo direito a dispor do próprio corpo, os princípios de diferença, da inclusão e do respeito, inseridos na Carta de Valores da Cidade Universitária. Falar de Natália Correia, realçou Ana Paixão, «é uma forma de dar um exemplo, demostrar a sua ação precursora na luta por princípios que continuam por conquistar e que nunca podem ser considerados como adquiridos».
Além desta exposição (que será inaugurada na próxima sexta-feira, dia 8 setembro, às 18 horas, e que continuará patente até 28 Outubro), a Casa de Portugal organizará ainda um colóquio internacional em parceria com as Universidades de Paris Sorbonne, Paris Nanterre, Paris 8, Universidades Nova de Lisboa e de Göttinghem, nomeadamente com a Cátedra Almada Negreiros.
A repercussão em França do centenário do nascimento de Natália Correia destaca a sua presença nacional e internacional na literatura e artes plásticas na segunda metade do século XX e, simultaneamente, a dimensão dos valores cívicos, políticos, sociais e culturais que promoveu e nas mais diversas circunstâncias.

*Jornalista, carteira profissional número UM
**APImprensa