Um estudo
internacional, em que participam Ruben Heleno e José Miguel Costa,
da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC), concluiu que a vegetação natural carece muitas vezes de
espécies que poderiam estar presentes, especialmente em áreas
fortemente afetadas pelas atividades humanas. Esta investigação,
liderada pela Universidade de Tartu (Estónia), acaba de ser
publicada na prestigiada revista Nature.
Mais de duas
centenas de cientistas da rede de investigação DarkDivNet estudaram
plantas em quase 5500 locais, em 119 regiões à volta do mundo. Em
cada local, registaram todas as espécies de plantas e identificaram
a chamada “diversidade escura”, isto é, a ausência de espécies
nativas. Deste modo os investigadores conseguiram compreender todo o
potencial de diversidade vegetal em cada local e medir quanto da
diversidade potencial estava realmente presente. Esta abordagem
revelou o impacto invisível das atividades humanas na vegetação
natural.
Em regiões onde
o impacto humano é reduzido, os ecossistemas têm normalmente mais
de um terço das espécies potencialmente adequadas, estando outras
espécies ausentes principalmente devido a fatores naturais, como a
dispersão limitada. Em contrapartida, em regiões fortemente
impactadas pelas atividades humanas, os ecossistemas têm apenas uma
em cada cinco espécies adequadas. As medições tradicionais da
biodiversidade, como a simples contagem do número de espécies, não
detetaram este impacto porque a variação natural da biodiversidade
entre regiões e ecossistemas escondeu a verdadeira extensão do
impacto humano.
Em Portugal, a
equipa do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da FCTUC estudou 34
locais na zona centro do país, a maior parte deles fragmentos
florestais com vários tipos de perturbação, desde zonas bem
conservadas até antigos campos agrícolas abandonados. As espécies
presentes e as suas associações foram depois utilizadas para tentar
compreender as espécies em falta num local a Norte de Coimbra, onde
o grupo de investigação tem vindo a desenvolver trabalhos há mais
de dez anos.
Tal como em
Coimbra, nenhuma das 119 regiões incluídas neste estudo permite
obter conclusões relevantes quando analisada de forma isolada. No
entanto, quando os investigadores juntaram todos os dados,
descobriram que a proporção de espécies “em falta” é muito
maior em locais onde a presença humana é mais intensa. Mesmo que
esses locais continuem a manter todas as condições para suportar a
vegetação natural.
O nível de
perturbação humana em cada região foi medido através do Índice
de Pegada Humana (Human Footprint Index), que inclui fatores como a
densidade populacional humana, mudanças no uso do solo (como o
desenvolvimento urbano e a agricultura) e infraestruturas (como
estradas e caminhos-de-ferro). O estudo concluiu que a diversidade
vegetal num local é influenciada negativamente por este índice e
pela maioria dos seus componentes numa área circundante, até
centenas de quilómetros de distância.
«Este
resultado é preocupante. Por um lado, mostra que os efeitos das
atividades humanas, tais como estradas, deflorestação, poluição,
entre outros, se estendem muito para lá dos locais que são
normalmente entendidos como estando perturbados. Por outro, mostram,
pela primeira vez, que as plantas estão com dificuldades em
recolonizar locais que seriam perfeitamente adequados para elas. Este
é um sinal de alerta para o papel fundamental dos animais selvagens,
nomeadamente através da dispersão de sementes, um serviço que
parece estar comprometido com o declínio de muitas populações
animais»,
alerta Ruben Heleno, professor do Departamento de Ciências da Vida e
investigador do CFE e do Laboratório Associado TERRA.
O estudo destaca
a importância de manter e melhorar a saúde dos ecossistemas
(incluindo as plantas e os animais), para além das áreas
protegidas. Além disso, o conceito de diversidade escura fornece uma
ferramenta prática para identificar espécies que deviam estar
presentes num determinado local e, desta forma, acompanhar o
progresso na restauração de ecossistemas.
O artigo
científico “Global
dark diversity study reveals hidden impact of human activities on
nature”
pode ser consultado aqui.
Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário