sábado, 23 de abril de 2016

Macroscópio – Agora que já é sábado, um passeio, algumas divagações e a contagem decrescente para o regresso de A Guerra dos Tronos

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

Pois é. Há dias assim, que se prolongam, pelo que este Macroscópio entrou pela noite dentro e segue para as vossas caixas de correio quando já é sábado. Paciência, mas verão que vos compensarei, e começo logo a fazê-lo com uma sugestão diferente do habitual: em vez de vos indicar uma leitura, aconselho-vos um passeio. Por Lisboa, a pé, não muito longo (4,5 km), mas primaveril quanto baste para aproveitar um fim-de-semana que, por fim, se anuncia bonançoso e solarengo.

O passeio de que vos falo é o primeiro de uma série que Pedro Dórdio preparou para os leitores do Observador, sendo que este irá Da Rua das Barracas à Rua da Inveja, percorrendo uma parte da cidade que não costuma ser calcorreada pelos turistas e que, estou seguro, a maioria dos lisboetas desconhecerá. Mas uma parte bem interessante. Como se escreve logo no arranque do texto, “Podia ser um fado que nos levasse do Desterro à Inveja, passando pela Cruz dos Ciganos. Em vez disso é um percurso por uma época de Lisboa onde os pobres, os burgueses e as rainhas viviam lado a lado.” Estão curiosos? Pois então sigam as passadas deste guia, procurem os locais das dezenas de fotografias, vão encontrando os pontos de referência no GPS e verão que há muito para descobrir no vale da avenida Almirante Reis. Muito mesmo.



Deixado este desafio – que eu próprio tratarei de seguir na primeira oportunidade – vou voltar a sair da norma para esquecer deliberadamente uma indicação que deixei no Macroscópio de ontem: não, não escreverei sobre o Programa de Estabilidade nem sobre o Plano Nacional de Reformasapresentados quinta-feira pelo Governo. Outra oportunidades haverá. É fim-de-semana, os mais inquietos já terão entrado em estágio à espera do regresso de A Guerra dos Tronos – na madrugada de domingo para segunda – mas antes de abrir uma pequena janela para a sexta temporada (e última?) dessa série de culto vou deixar-vos algumas leituras variadas, mas espero que interessantes.

A minha primeira sugestão é um texto provocatório do Telegraph – ou que pelo menos tem um título provocador: Are men hard-wired to be less monogamous than women?  Já estou a ver muita gente aos saltos, mas devo dizer que o tema faz todo o sentido. No essencial trata-se de saber se algumas das diferenças de comportamento entre homens e mulheres se devem apenas a questões culturais (ao machismo das nossas sociedades, como diriam muitas feministas), ou se podemos encontrar também uma explicação na forma como a nossa espécie evoluiu, isto é, na forma como a selecção natural foi valorizando certos comportamentos em detrimento de outros. Como imaginam é um tema tudo menos consensual, mas este texto é uma boa introdução a uma discussão que divide os cientistas (e não só os cientistas sociais). Por exemplo, “Evolutionary psychologist David M Buss, Professor of Psychology at the University of Texas and author of The Evolution of Desire: Strategies of Human Mating, says men are simply wired to seek out as many female partners as possible.” Em contrapartida “New York Times writer Daniel Bergner, author of What Do Women Want? Adventures in the Science of Female Desire, doesn’t subscribe to such a narrative. He believes women aren’t “evolutionary scripted” to be monogamous, but are “culturally caged”.”

Não vejam nesta última leitura qualquer sugestão mais subliminar e dada aos dias mais primaveris, passem antes a outra leitura sobre o estranho clima que parece ser o deste ano. Continuo com referências científicas, só que agora salto para o Financial Times e para El Niño: Feeling the heat. O El Niño de que falo é a conhecida corrente do Pacífico cujo aparecimento e desaparecimento influencia o clima à escala global. O actual El Niño está a ser especialmente intenso, e isso é muito bem explicado neste artigo, que trata de demonstrar que “The current cycle of the weather pattern is one of the most intense, sparking droughts and floods”. Mais: “El Niño helped to make 2015 the hottest year on record, according to Nasa. The US space agency said it marked the first time global average temperatures were 1C or more above the 1880-99 average, the point when modern record-keeping began. Even as the weather pattern weakens, its effect will continue to hit communities andprices for commodities from palm oil to natural gas.” O gráfico que a seguir reproduzo dá uma ideia da sua intensidade comparada com os registados desde 1950.



Deixo agora a ciência para passar para a história e para recordar um evento de há 100 anos: a revolta irlandesa que, em 1916, ficou conhecida como a Revolta da Páscoa, marcando um ponto de viragem nas reivindicações nacionalistas de uma nação então totalmente incorporada no Reino Unido. Em Inventing the Irish o historiador Barry Kennerk explicou no New York Times o significado desse levantamento, que seria violentamente reprimido pelo exército de Sua Magestade. Um significado porventura menos grandioso que o celebrado pelos nacionalistas irlandeses: “The Rising was dreamed up largely by a group of educated visionaries, but when much of this leadership was executed at Kilmainham Gaol in Dublin, the creation of the Free State was then left to Irish Irelanders whose atavistic Gaelicism ushered in a church-dominated, anti-modern society that served only to reinforce Ireland’s economic isolation for decades after.” Felizmente esse tempo já passou, como todos sabemos.

Uma boa discussão sobre este mesmo assunto foi a mantida por Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto em Há 100 anos, a revolta de que nasceu a Irlanda, o Conversas à Quinta da semana passada, como sempre também disponível em podcast ou viaRSS Feed.

Continuando no domínio da história, o sempre interessante Robert D. Kaplan publicou na The Atlantic um ensaio muito curioso intitulado How Islam Created Europe. É uma tese que pode surpreender muitos, mas que este autor defende com bons argumentos. A começar assim: “For centuries in early and middle antiquity, Europe meant the world surrounding the Mediterranean, or Mare Nostrum (“Our Sea”), as the Romans famously called it. It included North Africa. Indeed, early in the fifth century a.d., when Saint Augustine lived in what is today Algeria, North Africa was as much a center of Christianity as Italy or Greece. But the swift advance of Islam across North Africa in the seventh and eighth centuries virtually extinguished Christianity there, thus severing the Mediterranean region into two civilizational halves, with the “Middle Sea” a hard border between them rather than a unifying force. Since then, as the Spanish philosopher José Ortega y Gasset observed, “all European history has been a great emigration toward the North.”



Mas acho que já chega pois não posso adiar mais os aperitivos destinados a abrir o apetite para mais uma temporada de A Guerra dos Tronos. Será a última? Talvez não. Mas bem pode ser a última com dez episódios, como explica a mesma The Atlantic em Game of Thrones, Take Your Time: Future seasons may be shorter—and that’s a good thing. Eis a explicação: “I think we’re down to our final 13 episodes after this season,” David Benioff told Variety’s Debra Birnbaum. “We’re heading into the final lap. That’s the guess, though nothing is yet set in stone, but that’s what we’re looking at.” He added that the hypothetical finale run would be split into seasons of six and seven episodes in length—shorter than the standard annual Thrones serving of 10.”

Não sei se é uma boa ou uma má notícia para os fãs, certo é que a partir daqui a série prossegue sem ter por base os livros de George R. R. Martin, que este ainda continua a escrever, o que abre um enorme campo à especulação. É por esses caminhos que se aventura ainda a The Atlantic, em Game of Thrones Ventures Into the UnknownIndo, como não podia deixar de ser, ao ponto que mais expectativa criou para esta nova temporada: será que Jon Snow morreu mesmo naquela tremenda cena final da quinta temporada? Sem spoilers, eis a especulação de Christopher Orr:
 Which brings us to the biggest question of all: Is Jon Snow dead? Or perhaps a better way of phrasing it is: Will Jon Snow remain dead? Everyone involved continues to insist that he is done for, and the trailers have been at pains to show him as a lifeless corpse as frequently as possible. But there’s still plenty of reason to think otherwise. Ser Davos seems to be protecting Jon’s body in one of the trailers. To what end? Could raising Jon be a way for Melisandre to start making amends for torching Shireen? After all, Jon and the Red Woman—remember, this is the title of the premiere—did develop some notable sexual chemistry last season. And there is a split-second flash in one of the battle scenes in the first trailer in which someone with awfully familiar-looking hair can be seen on horseback in the background …

Mas se todos se recordam bem da cena com que terminou a temporada do ano passado, talvez nem todos se recordem onde é que a história deixou os diferentes personagens. Para ajudar a retomar o fio à meada o El Pais preparou um interactivo bem eficaz, ¿Dónde dejamos a cada personaje de ‘Juego de tronos’?De Tyrion Lannister a Arya Stark, passando por Melisandre ou por Daenerys Targaryen, o diário espanhol coloca-os no mapa das terras imaginadas por George R. R. Martin e recorda do que fugiam, para onde se dirigiam ou o que estavam a preparar. Muito útil, mesmo para os menos desmemoriados.

Assim vos desejo um bom fim-de-semana e, também, um bom feriado do 25 de Abril. Reencontramo-nos terça-feira.

 
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