Uma equipa de
investigadores do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC) está a desenvolver biofilmes de nanocelulose, com o objetivo
de criar soluções eficazes e sustentáveis para a conservação e
restauro de documentos históricos em papel.
Estes filmes,
feitos de materiais renováveis, são semelhantes à película
aderente de cozinha, mas mais resistentes, apresentando-se como uma
alternativa inovadora aos métodos tradicionais, como o uso de papel
japonês, amplamente utilizado nesta área.
«Durante
séculos, a tinta ferrogálica foi bastante usada em manuscritos
devido à sua nitidez e permanência. No entanto, certas
características químicas que possui, como acidez e o elevado teor
de ferro, causam, com o tempo, degradação no papel, resultando em
fissuras, perda de resistência e até formação de furos no
documento, para além do desvanecimento da própria tinta resultando
em perda de legibilidade»,
explica José Gamelas, investigador do Centro de Engenharia Química
e Recursos Renováveis para a Sustentabilidade (CERES).
De acordo com o
líder do projeto “NANOCELIRONGAL - Nanocellulose films for the
repair of old documents containing iron gall ink”, os filmes de
nanocelulose oferecem vantagens significativas em comparação com os
materiais convencionais. Entre as principais caraterísticas
destacam-se a elevada resistência mecânica que possuem, garantindo
uma maior durabilidade e estabilidade estrutural do papel tratado, a
barreira protetora superior, que impede a entrada de oxigénio e
humidade, principais causas de degradação, e a transparência, que
permite uma aplicação quase impercetível do filme. Para além
disso, à semelhança do papel japonês, contribui para práticas de
conservação mais verdes.
Durante a
investigação, a equipa testou diferentes técnicas de aplicação,
incluindo a colagem do filme ao papel com adesivos específicos.
«Aplicamos
os filmes em papel de trapos (usado para simular papel antigo)
escrito com tinta ferrogálica (recriada em laboratório).
Posteriormente, são feitos testes de envelhecimento acelerado em
condições controladas de temperatura e humidade, entre outras, para
avaliar a durabilidade e eficácia dos filmes»,
conta Ana Marques, membro do projeto.
«Os
resultados obtidos são bastante promissores e indicam que os filmes
de nanocelulose superam o papel japonês em termos de resistência
mecânica e capacidade de proteção, posicionando-se como uma
alternativa mais eficaz»,
afirmam os investigadores.
Em março, José
Gamelas irá liderar um novo projeto, financiado pela Comissão
Europeia no valor de 2,2 milhões de euros, que dará continuidade à
investigação que tem vindo a ser feita nesta área. «Este
novo capítulo visa consolidar uma linha de investigação de ponta
na criação de materiais bio baseados por abordagens sustentáveis e
explorar o seu potencial na conservação de património histórico e
cultural»,
conclui o professor da FCTUC.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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