O primeiro som que ouviu foi Amália Rodrigues. A música sempre esteve presente na sua vida de uma forma ou de outra, mas foi no ensino secundário que percebeu que era isso que queria fazer para o resto da vida.
Alfredo Costa nasceu em Cabo Verde, mas veio para Portugal aos sete anos. Amante das palavras e da Arte, Alfredo afirma que “musicar as palavras é um desafio de estética muito interessante”. Assim, em 2015 decide mostrar a Portugal o seu talento através do programa The Voice Portugal. Fez parte da equipa de Marisa Liz e garante que o programa o ajudou a evoluir na forma de fazer música.
“A minha vida é a palavra e a música que consigo fazer com ela”. Se a tua vida fosse um género musical, qual seria?
Seriam tantas quantos estados de espírito existem. Se estiver a jantar ou a ter uma conversa, Jazz. Se estiver a jogar futebol ou PS, rock/metal. Se estiver a escrever, o silêncio serve-me bem. Se estiver a ler sobre política, qualquer malha do Kusturica.
Em que altura surgiu esta paixão?
O primeiro som que me lembro de ouvir foi Amália. Habituei-me à presença da música ainda antes de a ouvir conscientemente. Acredito que essa presença acabou por cultivar essa paixão em mim. Acabei por dar por mim a cantar, sempre escondido, sempre com vergonha que a minha mãe (que cantava deliciosamente o seu fado) ouvisse. O momento exato em que essa paixão acordou definitivamente terá sido algures no secundário, quando tive de cantar, pela primeira vez, para um público: os meus colegas de Teatro. A expressão na cara deles disse-me tudo o que eu precisava de saber acerca do iria fazer para o resto da vida.
Sei que escreves poesia desde os treze anos. Achas que uma paixão acabou por influenciar a outra?
Surgiu quando me apaixonei a sério, pela primeira vez. A palavra escrita ajuda muito, quando a boca treme perante quem se ama. Mas a música, quando apareceu, ajudou-me a escrever melhor. Musicar as palavras é um desafio de estética muito interessante.
Já fizeste inúmeras coisas na área da música, da comunicação e da arte. És daquelas pessoas que não consegue estar parado?
Sou um apaixonado pelas palavras, pelo teatro, pela música e pelo poder construtivo de uma conversa. Tudo isto acaba por me levar a explorar várias artes. Gosto de experimentar tudo o que sei que me aprofunda e alarga a existência. Viver é, para mim, isso mesmo. Afrontar as fronteiras, nutrir e cultivar a arte que temos dentro. E é quando sais da zona de conforto que aprendes verdadeiramente e evoluis não só como profissional ou artista, mas essencialmente como pessoa.
Lutar e fazer: tem sido isso que te tem permitido continuar a lutar pelos teus sonhos?
Acreditar, fazendo. Lutar e resistir, quando as circunstâncias te puxam o tapete. A resiliência é o que distingue o capricho, da paixão. Cultivar o sonho. Criar. E nunca esquecer que “a sorte é um feliz encontro entre o talento e a oportunidade”.
Na Imagem: Alfredo Costa e Luís Sequeira
“O mundo dos grandes continua a chamá-los, mas eles não atendem”. Como manter os pés bem assentes na terra num mundo tão conturbado?
Por mais que o mundo desabe e que isso até te possa mudar, de alguma forma (e muda, inevitavelmente), o importante é que essa mudança seja no sentido da aprendizagem, não da (des)evolução. Ou se ganha, ou se aprende. É essencial lembrar os princípios, a sensibilidade e o bom senso com que os nossos pais nos moldaram o caráter. E ainda que olhemos tempo demais para o abismo e que ele nos devolva o olhar, a memória do que éramos antes é a derradeira salvaguarda do nosso equilíbrio. Os amigos e a família também ajudam.
Em 2015 foste finalista do The Voice Portugal. O que recordas desta experiência?
Maravilhoso. Primeiro a incredulidade. Depois a realidade. Entretanto a magia da concretização. A adrenalina de cantar em direto para quase 2 milhões de pessoas. O coração da Marisa. O carinho da produção. O carinho das pessoas, na rua. E uma mão cheia de bons amigos com a mesma paixão do que eu.
O que é que mudou desde então?
Talvez tenha evoluído na forma de fazer música. Não era um amador quando fui para o programa. Tinha cerca de 10 anos de música, estrada e palcos: lembro-me que meses antes tinha tocado para 20 mil pessoas. Porém, acredito que as conversas que tive com a Marisa, as interacções que partilhei com outros artistas, as pessoas que conheci, tudo isso ajudou-me a ganhar alguma coisa que, quero acreditar, me tornou melhor no que faço.
O que nos podes dizer sobre os Skills and the Bunny Crew?
Para já, nada. As coisas vão acontecer. No tempo certo.
Para quando o álbum a solo?
Comecei, pela primeira vez desde que tenho a banda, a tratar do meu projeto a solo. Senti que estava na hora. Está a dar-me pica que eu imaginava. Mas é algo para acontecer apenas depois da banda estar lançada. Cada coisa a seu tempo. Primeiro a banda. Depois eu.

Terminada esta entrevista, resta-nos agradecer ao Alfredo por toda a sua disponibilidade e atenção e, acima de tudo, por ter aceitado o nosso convite.
Cátia Barbosa
Por Cátia Sofia Barbosa