segunda-feira, 6 de abril de 2020

Estado de Emergência para prevenir o covid-19 será um privilégio para poucos moçambicanos

Foto da Presidencia da República
O coro de vozes que se junta pressionando ao Presidente da República para que declare o Estado de Emergência e coloque em casa durante vários dias 30 milhões de moçambicanos alheia-se ao irrealismo da decisão num país onde 20 milhões de cidadãos tem de sair de casa para buscar água todos os dias, onde só cerca de 1 milhão de pessoas tem o salário garantido todos os meses e os restantes têm de pelo menos ir a machamba para que a comida não falte.

A classe média alta, a Sociedade Civil de Maputo, o Conselho de Estado e até o presidente do partido Renamo, que vive num hotel de luxo, fazem coro e pressionam ao Presidente Filipe Nyusi para que declare o Estado de Emergência como medida de prevenção da propagação do novo coronavírus que ainda tem os seu epicentro na capital moçambicana.

Estes privilegiados que vivem em casas de alvenaria, com água na torneira, sistema de saneamento, electricidade, emprego onde ganham o equivalente a muitos salários mínimos e podem dar-se ao luxo de fazer “rancho mensal” esquecem que ficar fechado em casa mais do que 1 dia pode significar a morte para a maiorida dos moçambicanos.

Em Moçambique quase 25 milhões de pessoas não tem água potável na torneira e todos os dias têm de ir ao fontanários, poço ou mesmo disputar com os crocodilos o acesso ao precioso líquido para beber, cozinhar e quiçá fazer a sua higiene.

Não poder sair de casa significa que quase 7 milhões de moçambicanos não poderão obter o sustento diário e colocar comida no prato pois no nosso país somente 1,2 milhão de pessoas tem emprego com contrato e salário ao fim do mês na Função Pública e no sector privado.

O distanciamento social que é apregoado pelas autoridades de Saúde é uma utopia para mais de 20 milhões de moçambicanos que vivem em habitações precárias de adobe, paus maticados ou caniço na maioria dos casos sem divisórias físicas no seu interior.

Aliás imaginando que o novo coronavírus já esteja espalhado entre nós, pelos vários cidadãos assintomáticos que entraram vindos dos países vizinhos e da Europa, confinar os moçambicanos pode significar propiciar a partilha da infecção entre os membros da mesma família como é comum acontecer durante os cíclicos surtos de cólera que Moçambique regista.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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