quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cantanhede | No próximo sábado, 20 de novembro Carlos de Oliveira será tema de um colóquio

 

Carlos de Oliveira, Uma Escrita Tatuada é o tema do colóquio que vai estar em debate no auditório da Biblioteca Municipal, em 20 de novembro. Organizado pelo Município de Cantanhede e integrada na vasta programação que a Câmara Municipal preparou para assinalar o Centenário do nascimento de Carlos de Oliveira, a sessão contará com a presença de académicos de reconhecido mérito na abordagem à vida e obra do escritor gandarês, designadamente Rosa Maria Martelo, Sérgio Dias Branco, Ida Alves, Rita Patrício, Osvaldo Manuel Silvestre e António Pedro Pita.

As inscrições encontram-se abertas e deverão ser formalizadas na antiga escola Conde Ferreira, através do telefone 231 429 813/962 048 217 ou do email dc@cm-cantanhede.pt.

Rosa Maria Martelo irá abrir a sessão com a abordagem ao tema “Visões do Crepúsculo”, enquanto tópico de grande relevância na escrita de Carlos de Oliveira, merecendo, por parte do escritor, desenvolvimentos temáticos surpreendentes e de grande criatividade. Tomando como ponto de partida as visões do crepúsculo presentes em Entre Duas Memórias (1971) e Pastoral (1976), a docente aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto irá analisar alguns dos sentidos e amplitudes formais de que podem revestir-se as meditações crepusculares em Carlos de Oliveira.

O programa prossegue com Sérgio Dias Branco, Professor Auxiliar de Estudos Fílmicos na Universidade de Coimbra, com uma alusão à temática “Urdidura e lavores: refazer Uma Abelha na Chuva”, com particular incidência no projeto de adaptação cinematográfica do romance de Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva (1953), iniciado na década de 1960, mas o filme só estreou em 1972. As qualidades lacónicas do filme, feito de composições desabitadas, densas texturas visuais e sonoras, gestos que pesam, palavras que estremecem, contribuem para refazer a narrativa e o tom de Uma Abelha na Chuva noutra forma artística, já não como literatura mas como cinema.

A abordagem de Ida Alves, Professora Titular de Literatura Portuguesa do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense-UFF, Niterói, no Brasil, irá incidir sobre “De tatuagens e texturas, modos de ler (em) Carlos de Oliveira”, em que a comunicação se foca na atenção que o escritor dá ao ato de ler e seus efeitos na escrita. Em diversos momentos de sua obra poética isso é fortemente encenado e muito já se falou sobre suas práticas intertextuais, tendo como ponto de partida a obra O Aprendiz de Feiticeiro.

Sob o tema “No centro do assombro: Dante em Carlos de Oliveira”, a docente Associada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro do seu Centro de Estudos Comparatistas, Rita Patrício, irá apresentar um ensaio que privilegiará a leitura de Descida aos Infernos, procurando discutir os gestos que desenham uma poética própria a partir da convocação do texto dantesco e relacionar estes traços com a restante poesia de Carlos de Oliveira.

Por outro lado, Osvaldo Manuel Silvestre, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, apresentará uma preleção sob o tema “Tatuar, gravar, inscrever o mundo”. O mundo, o mesmo é dizer, a Gândara, ter-se-á inscrito em Carlos de Oliveira com o cunho indelével de uma tatuagem, nas suas próprias palavras. Nesta comunicação será indagado o sentido da metáfora da tatuagem em Oliveira e dos seus desdobramentos figurais: a gravação, a inscrição, assim como toda uma oscilação entre estruturas de superfície e estruturas de profundidade, bem como sobre a relação especular entre umas e outras. Um ponto central será a interrogação sobre o diferente regime de inscrição no corpo ou na memória.

A intervenção de António Pedro Pita, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX – CEIS20 incidirá sobre “O Aprendiz de Feiticeiro: ensaio de releitura”, relacionado com a obra que Carlos de Oliveira publicou em 1971, livro esse que retoma, profundamente reelaborados, artigos que publicara dispersamente ao longo de cerca de trinta anos. No entanto, a obra não tem a configuração de uma “recolha” de artigos, mesmo remodelados, como é prática frequente. É a apresentação de uma “poética”, tal como Carlos de Oliveira a concebia, no termo de um longo trabalho de incorporação, de sedimentação e de depuração do que foi pensado ao longo desse período. Incorporação de leituras, referências e ressonâncias, depuradas através da sua própria experiência e sedimentadas na complexidade de um “ponto de vista”, entre o “astrólogo” e o “inventor de jogos”. A comunicação ensaia uma releitura da obra nesta linha.

A sessão encerra com um recital intitulado “Canções de Fernando Lopes-Graça, sobre textos de Carlos de Oliveira, com a participação da soprano Carla Simões, da Mezzo-soprano Carolina Figueiredo e do pianista Ricardo Martins, num dia que será inteiramente dedicado a Carlos de Oliveira, revelando-se uma oportunidade única para conhecer e mergulhar no extraordinário contributo que nos legou, pela literatura e a participação pela música, relevando o nosso território, a sub-região da Gândara.

Programa:

10h00 – Abertura

10h15m – Rosa Maria Martelo: “Visões do Crepúsculo”

10h45m – Sérgio Dias Branco: “Urdidura e lavores: refazer Uma Abelha na Chuva

11h15m – Ida Alves: “De tatuagens e texturas, modos de ler (em) Carlos de Oliveira”

Pausa para almoço

15h00 – Rita Patrício: “No centro do assombro: Dante em Carlos de Oliveira”

15h30m – Osvaldo Manuel Silvestre: “Tatuar, gravar, inscrever o mundo”

16h00m – António Pedro Pita: “O Aprendiz de Feiticeiro: ensaio de releitura”

17h00m – Recital Canções de Fernando Lopes-Graça, sobre textos de Carlos de Oliveira

Carla Simões – Soprano

Carolina Figueiredo – Mezzo-soprano

Ricardo Martins – pianista

NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS

Sobre Rosa Maria Martelo

Professora catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem privilegiado o estudo da poesia e das poéticas modernas e contemporâneas. Enquanto investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa estuda as ideações da imagem na poesia e os diálogos intermediais da literatura com as artes visuais e audiovisuais. Entre os mais recentes livros de ensaio publicou O Cinema da Poesia (2.ª ed. 2017) e Os Nomes da Obra – Herberto Helder ou o Poema Contínuo (2016). Co-organizou a antologia Poemas com Cinema (Assírio & Alvim, 2010) e organizou a Antologia Dialogante de Poesia Portuguesa (2020). Co-dirige a revista Elyra (www.elyra.org).

Sobre Sérgio Dias Branco

Professor Auxiliar de Estudos Fílmicos na Universidade de Coimbra, onde dirige o Mestrado em Estudos Artísticos e coordena o LIPA - Laboratório de Investigação e Práticas Artísticas. É investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e colabora com o Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa e o Instituto de Filosofia da Nova. Lecionou na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Kent, onde lhe foram atribuídos os graus de Mestre e Doutor em Estudos Fílmicos. Foi Presidente da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento entre 2018 e 2020 e membro da sua Direção entre 2014 e 2020. Co-edita a revista Conversations: The Journal of Cavellian Studies. Um dos seus últimos livros é Escrita em Movimento: Apontamentos Críticos sobre Filmes (Documenta, 2020).

Sobre Ida Alves

Professora titular de literatura portuguesa do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense-UFF, Niterói, Brasil. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura - UFF.

Colidera os Grupos de Pesquisa Estudos de Paisagem nas Literaturas de Língua Portuguesa – UFF/CNPq - http://www.gtestudosdepaisagem.uff.br/ e Poesia e Contemporaneidade – UFF/CNPq. É Vice-coordenadora do Pólo de Pesquisas Luso-Brasileiras (PPLB), sediado no Real Gabinete Português de Leitura (www.realgabinete.com.br). É pesquisadora do CNPq e Cientista do Nosso Estado – FAPERJ. Organizou o site Escritor Carlos de Oliveira (https://escritorcarlosdeoliveira.com.br/). Organizou diversas coletâneas de estudos sobre poesia portuguesa moderna e contemporânea e representações da paisagem nas literaturas de língua portuguesa.

Sobre Rita Patrício

Professora Associada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro do seu Centro de Estudos Comparatistas. Publicou Episódios. Da teorização estética em Fernando Pessoa (2012) e Apontamentos. Pessoa, Nemésio, Drummond (2016); e co-editou com Osvaldo M. Silvestre as Conferências do Cinquentenário da Teoria da Literatura de Vítor Aguiar e Silva (2020). É autora de vários ensaios, em volumes coletivos e em revistas especializadas, decorrentes dos seus estudos sobre literatura portuguesa moderna e contemporânea, nomeadamente sobre Fernando Pessoa e Vitorino Nemésio.

Sobre Osvaldo Manuel Silvestre

Professor Associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde dirige o Instituto de Estudos Brasileiros e o Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas. Publicou ensaios e livros sobre Carlos de Oliveira e por decisão da família do escritor é o responsável científico pelo espólio do autor no Museu do Neorrealismo em Vila Franca de Xira, onde coordenou, em 2017, a sua primeira exposição, com o título “Carlos de Oliveira: a parte submersa do iceberg”.

Sobre António Pedro Pita

Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX – CEIS20, da mesma Universidade. Sócio fundador da Associação da Casa da Achada-Centro Mário Dionísio e membro do respetivo Conselho Consultivo. Pertence ao Comité Científico ou Conselhos Editoriais de várias revistas. Professor visitante na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade de Santiago de Compostela. Diretor Científico do Museu do Neo-Realismo (2014-2017). Delegado Regional da Cultura do Centro (2005-2007) e Diretor Regional de Cultura do Centro (2007-2011).

Recentemente, publicou: Aqui estamos lado a lado, como sempre. E assim continuaremos – Joaquim Namorado e Mário Dionísio: Correspondência. Leitura, apresentação e notas. Coimbra/Lisboa: Lápis de Memórias/Casa da Achada, 2020.


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