Brany Cunha, Lisboa – Téla Nón, opinião

No entanto, é em São Tomé e Príncipe que as coisas acontecem. Lá entraram em jogo das eleições uma tal Comissão Eleitoral Nacional, que devia ser o primeiro garante do bom funcionamento do processo eleitoral, e um tal poder assumido como independente denominado Tribunal Constitucional para baralhar tudo e deixar a situação política do país mais confusa do que nunca. Primeiro, vem um que diz que o processo está concluído à primeira volta e que temos um vencedor. A seguir, o mesmo reaparece e desdiz-se quando aventa que afinal não houve vencedores nem vencidos e que se calhar pode haver uma segunda volta. Depois, vem o outro que garante que sim, teremos uma segunda volta.
Perante tudo isto, enquanto eleitor no meio de tanta reviravolta, ainda procuro entender como decorreu todo o processo eleitoral e imagino que a maioria dos são-tomenses também estarão a tentar fazê-lo. Para complicar ainda mais, aqueles senhores que vieram com pompas para vigiar as eleições, os tais observadores internacionais, fizeram uma comunicação ao público em que basicamente não disseram nada. A frase que toda a gente queria ouvir era: “as eleições foram justas e transparentes”, no lugar disso, ouvimos qualquer coisa como “decorreram conforme a carta africana da democracia, blá blá blá”.
No final das contas houve reclamações aqui e acolá e parece que uma vez mais o “Banho”, ou a compra de consciência, continua a dominar quando já vamos em mais de duas décadas de democracia. Essa pode ser para já uma das conclusões, tendo em conta que, logo após a divulgação dos resultados preliminares, tanto o segundo mais votado como o terceiro uniram-se num pedido conjunto de impugnação do pleito. Essa ilação é ainda reforçada pela mea culpa da Comissão Eleitoral Nacional, que ao mesmo tempo que tentou negar a sua propalada incompetência para conduzir todo o processo reconheceu que houve algumas irregularidades.
Mas há outra vertente a ser considerada, que nos remete para o pensamento de que se calhar não houve na verdade algo de significativo que pudesse beliscar os resultados do escrutínio. É a razão defendida pelo Tribunal Constitucional, que não só fixou a segunda volta para 7 de Agosto como indeferiu liminarmente o recurso de impugnação intentado pelos segundo e terceiro classificados no apuramento geral de votos.
Em que ficamos afinal? Houve ou não fraude? Pode o candidato Evaristo de Carvalho ir sozinho à segunda volta de acordo com o n.º 15.º da Lei Eleitoral?
Já enraivecido com a forma que tudo isto ganhou, o segundo classificado Manuel Pinto da Costa, o tal político são-tomense com 20 anos de poder e que almeja continuar a tê-lo, já garantiu publicamente que se retira da corrida. Pinto da Costa diz que “participar num processo eleitoral viciado seria caucioná-lo”, só que, de acordo com a Lusa, parece que a candidatura do mesmo esqueceu-se de formalizar a sua retirada junto do Tribunal Constitucional, o que o configura ainda candidato à segunda volta. Será que foi mesmo esquecimento?
Já o “pau mandado de Patrice”, (vêdê-cu-mintxila), não sei se é mesmo verdade, estou a falar de Evaristo de Carvalho, já começou a sua campanha para a segunda volta. Foi à roça histórica de Batepá tentar continuar a convencer os são-tomenses de que afinal é um homem independente que pensa pela sua cabeça. Ou seja, que não é controlado pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada e o mais importante que é o homem certo para comandar os destinos do país. Por fim, a tal senhora que queria o título de primeira mulher são-tomense a ganhar uma corrida presidencial, ou seja, Maria das Neves.
Vai ter de se contentar apenas com o rótulo de segunda mulher são-tomense a tentar atingir tamanho feito, mesmo que nos Estados Unidos da América as coisas pareçam estar bem encaminhadas para a democrata Hillary Clinton. Digo bem encaminhadas porque nunca se sabe, não venha o Trump convencer o equivalente à Comissão Eleitoral Nacional e o Tribunal Constitucional americano de que é ele o melhor para a América.
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