segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mundo | 10 milhões de pessoas vão marchar em defesa das crianças


Fonte: DN

Marcha contra o abuso sexual e a violência contra crianças vai percorrer vários estados da Índia

Começa esta segunda-feira na Índia aquela que será a maior marcha alguma vez organizada no mundo contra o tráfico de menores, a exploração infantil e o abuso sexual de crianças. A marcha deverá contar com mais de 10 milhões de participantes - ou seja, o equivalente a toda a população portuguesa - que irão percorrer o país durante um mês.

A marcha vai partir da cidade de Kanyakumari, o ponto mais a sul da Índia, e deverá chegar à capital Nova Deli a 16 de outubro, segundo a Reuters.

O evento, chamado Bharat Yatra, foi organizado pelo galardoado com o prémio Nobel da Paz Kailash Satyarthi, que diz estar na hora de tornar a Índia num país seguro para as crianças.

"A Índia é conhecida por ser um país onde as crianças são violadas e vendidas. Elas não estão seguras nas escolas nem em casa", disse Satyarthi, num discurso esta segunda-feira. "Se uma criança está em perigo, então toda a Índia está em perigo", continuou o ativista.

"O sol nasce todas as manhãs, mas esta manhã é diferente e o sol é diferente. Hoje o sol brilha para dispersar o medo, o desespero e a vergonha que as nossas crianças sentem. Hoje marchamos para acabar com isto", continuou Satyarthi, que descreve violência contra as crianças como uma epidemia moral.

Os participantes da marcha vão percorrer cerca de 11 mil quilómetros e andar por 22 dos 29 estados da Índia. Há sete rotas que os participantes podem seguir para se juntar ao movimento e todas se encontram em Nova Deli. A marcha vai passar por várias aldeias e cidades, onde serão organizados eventos com líderes religiosos e as autoridades locais para arrecadar apoios e consciencializar a população sobre este problema.

Centenas de pessoas viajaram para Kanyakumari com os filhos para poderem participar na marcha. Satyarthi escreveu no Twitter que no arranque da marcha participaram mais de cinco mil pessoas.
Entre os participantes estão também pessoas que foram vítimas de abusos sexuais ou de exploração infantil ou cujos filhos foram vítimas destes crimes.

Moti é uma dessas pessoas. Aos 35 anos, conta que descobriu recentemente que as duas filhas adolescentes eram violadas por um amigo da família há vários anos.

"Não fazia a mínima ideia de que isto estava a acontecer às minhas filhas. Eu confiei as minhas filhas a este homem", contou Moti à Reuters, no meio da multidão de manifestantes. "Se tivesse havido uma marcha destas antes eu teria sabido mais" sobre este problema "e poderia tê-las salvado", continuou o homem.

"Agora estou aqui a participar na marchas para que o mesmo não aconteça a outras crianças e os pais não tenham de passar pelo que passei", disse Moti.

Estima-se que mais de nove mil crianças tenham sido vítimas de tráfico humano na Índia em 2016, o que representa uma subida de 27% em relação ao ano anterior, segundo a Reuters, que cita números do governo.


A maioria das vítimas vem de famílias de camponeses pobres. As crianças são levadas para as cidades, onde são vendidas para trabalharem em fábricas, fazendas ou casas de prostituição.

Há ainda dados que mostram que 15 mil crianças foram abusadas sexualmente na Índia em 2015, mas ativistas dizem que o número é muito maior pois as vítimas raramente apresentam queixas por medo de represálias ou por vergonha.

Satyarthi criou uma organização de solidariedade na Índia que salvou cerca de 80 mil crianças que eram escravizadas. Nas redes sociais, o vencedor do Nobel pede à população que se junte à marcha e lança vários apelos.

"Recuso-me a acreditar que oito crianças desapareçam e duas sejam violadas a cada hora. Cada vez que uma criança está em perigo, a Índia está em perigo", escreveu esta segunda-feira no Twitter.

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