A
série documental “Transamazônica – Uma Estrada para o Passado”,
que venceu o prémio de Melhor Série Documental do Grande Prémio do
Cinema Brasileiro 2022, vai ser debatida em Coimbra, nos próximos
dias 21 e 23 de setembro, com a presença do produtor Nuno Godolphim.
A
iniciativa terá lugar no Centro Cultural Penedo da Saudade e é
promovida pelo Núcleo de Antropologia Visual (NAV) e pelo Centro de
Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em
colaboração com a Sci-Tech Asia–Rede Internacional de Pesquisa.
Com
criação, argumento e produção de Nuno Godolphim, e dirigida por
Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel, a série de seis episódios conta a
história da autoestrada BR-230, conhecida como rodovia
Transamazónica, e dos seus impactos socioeconómicos, ambientais e
políticos.
A
construção da Transamazónica foi «uma
saga gigantesca, o maior exemplo das obras faraónicas do governo
militar brasileiro. Mas a estrada que iria promover a integração
nacional ficou mais conhecida por ligar a fome do Nordeste com a
miséria da Amazónia e foi abandonada no meio do caminho sem ter
sido concluída», explicam os autores
da série, que foi realizada para a HBO, acrescentando que conta a
história «quilómetro a quilómetro,
encontrando as pessoas que viveram esta experiência e
confrontando-as com material de arquivo inusitado».
Relatada
na primeira pessoa pelo cineasta Jorge Bodanzky, a série dá a
conhecer diferentes personagens, cidades e situações ao longo da
estrada, desde a costa atlântica da Paraíba, onde começa, até à
beira do rio Purus, onde acaba. São abordados «os
dilemas do passado e do presente, resgatando os dramas de quem
acreditou na propaganda dos militares e foi abandonado no meio do
caminho, vivendo na prática o que ficou conhecido como
“Transamargura”, uma mistura de fome, desesperança e injustiça
social, somada a um projeto de desenvolvimento pela destruição que
deixou marcas nesta região até hoje».
Nuno
Godolphim, produtor, argumentista e documentarista brasileiro
bastante premiado, é considerado um dos precursores da moderna
Antropologia Visual brasileira e reconhecido por realizar projetos
com responsabilidade social e ambiental, conciliando a sua formação
em ciências sociais com as narrativas cinematográficas e
televisivas, em parceria com a HBO e GLOBO, entre outras.
Nas
duas sessões de conversas em Coimbra, entre as 18h e as 19h30, vão
ser exibidos os episódios 4, no dia 21 de setembro, e 5, no dia 23.
O debate após cada exibição é moderado por Gonçalo Santos,
professor de Antropologia Social-Cultural na FCTUC; Luís Quintais,
antropólogo e poeta; e Raoni Arraes, antropólogo e fotógrafo.
__________________
Conversas
sobre a série documental: TRANSAMAZÔNICA - UMA ESTRADA PARA O
PASSADO (2021), com a presença de Nuno Godolphim
Ficha
Técnica
TRANSAMAZÔNICA
- UMA ESTRADA PARA O PASSADO (2021)
Direção:
Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel
Criação,
argumento e produção: Nuno Godolphim
Realização:
HBO e Ocean Films
Organização
do Evento
NAV-UC—Núcleo
de Antropologia Visual da Universidade de Coimbra
Centro
Cultural Penedo da Saudade
CIAS—Centro
de Investigação em Antropologia e Saúde
Sci-Tech
Asia—Rede Internacional de Pesquisa
Primeira
sessão
21 de
setembro, 18h00 - 19h30
Centro
Cultural Penedo da Saudade
18h00-19h00
- Projeção de Episódio 4 de Transamazónica: Vetores da Destruição
19h00-19h30
- Debate com Nuno Godolphim
Moderação:
Gonçalo Santos e Raoni Arraes (ambos do NAV/UC, CIAS / UC)
SINOPSE
do Episódio 4
Neste
episódio vamos acompanhar como a estrada acelerou os principais
vetores de degradação da floresta: o desmatamento predatório, a
venda ilegal de madeira, o garimpo e a mineração. Recentemente a
expansão da soja que tinha seu epicentro no centro-oeste começa a
chegar na transamazónica levantando uma sombra sobre o futuro da
região. A partir dos personagens apresentados, o quarto capítulo da
série explora temas chaves para o destino da floresta amazônica,
jogando luz sobre as ações predatórias que seguem agindo de forma
perversa. A narrativa revela e faz um raio X dessa degradação que
redunda na extinção de espécies, desequilíbrio no ecossistema e
erosão do solo, mostrando as etapas do modelo de desmatamento
seletivo que caracteriza a ação dos madeireiros, trabalhando
estrategicamente para não serem percebidos pelos satélites, abrindo
estradas ilegais, falsificando “planos de manejo”, esquentando
“guias de madeira certificada”, etc, sempre em nome da fortuna
que as madeiras “de lei” significam no mercado. Vamos conhecer
mais de perto a atividade garimpeira, que apesar de ser altamente
nociva ao meio ambiente tornou-se uma das principais fontes de renda
da região, mobilizando uma grande população que acaba gerando um
modelo contraditório de colonização, poluindo e solapando o meio
ambiente para onde os garimpeiros acabam se instalando para viver.
Além dos personagens, acompanharemos uma ação do Ibama na luta
pela preservação da floresta.
Segunda
sessão
23 de
setembro, 18h00 - 19h30
Centro
Cultural Penedo da Saudade
18h00-19h00
- Projeção de Episódio 5 de Transamazónica: No Caminho dos Índios
19h00 -
19h30 – Debate com Nuno Godolphim
Moderação:
Luís Quintais e Raoni Arraes (ambos do NAV/UC, CIAS / UC)
SINOPSE
do Episódio 5
Havia
homens na “terra sem homens”. Eram índios. E eram muitos.
Araras, Tenharins. Parakanãs. Gaviões. Mundurukus... Populações
que, desde antes da estrada, já se batiam contra a sociedade
envolvente. Mas com a chegada da obra este conflito se ampliou.
Disputas com empreiteiros, colonos, garimpeiros, madeireiros,
grileiros e com os planos do governo federal de ocupar suas áreas
sem pedir licença e respeitar seu território milenar. Algumas
etnias simplesmente foram varridas do mapa. Outras fugiram da
estrada. Ou foram atropeladas por ela sendo obrigados a prestar
serviços numa semiescravidão, ou quase desaparecer. Os Araras
lutaram contra as obras da estrada na época e recentemente brigaram
contra a construção de Belo Monte, em ambos os casos sem muito
sucesso. Os Mundurukus que viram a estrada passar raspando em suas
terras, sofreram com a chegada de levas de garimpeiros e madeireiros
nos anos seguintes. Lutaram contra a construção de um conjunto de
grandes hidrelétricas no Rio Tapajós, enquanto se empenhavam num
vitorioso projeto de autodemarcação, para evitar que inundassem
suas terras. Neste episódio vamos investigar o que está além da
estrada. As histórias dessas populações que historicamente ficaram
à sombra dos grandes projetos. E para fazer isso teremos que sair da
estrada para ver como o povo Munduruku tem convivido com os brancos e
seus empreendimentos, seus modelos de desenvolvimento e ocupação da
Amazônia. A resistência deste povo guerreiro, que não tinha em sua
cultura a noção de “Posse” para a terra, as matas e os rios,
passou por um longo aprendizado, que os transformou no povo mais
aguerrido da Amazônia na defesa de seu território, contra qualquer
atividade predatória. Um espírito de luta que é repassado para as
novas gerações.
Nota
Biográfica de Nuno Godolphim
Nuno
Godolphim é um produtor, argumentista, e documentarista brasileiro
bastante premiado. Destacou-se por realizar projetos com
responsabilidade social e ambiental, conciliando a sua formação em
ciências sociais com as narrativas cinematográficas e televisivas
em parceria com HBO, GLOBO, entre muitos outros. É considerado um
dos precursores da moderna Antropologia Visual brasileira.
Cristina
Pinto
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