sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Série documental sobre a polémica autoestrada Transamazónica do Brasil debatida em Coimbra

 

A série documental “Transamazônica – Uma Estrada para o Passado”, que venceu o prémio de Melhor Série Documental do Grande Prémio do Cinema Brasileiro 2022, vai ser debatida em Coimbra, nos próximos dias 21 e 23 de setembro, com a presença do produtor Nuno Godolphim.

A iniciativa terá lugar no Centro Cultural Penedo da Saudade e é promovida pelo Núcleo de Antropologia Visual (NAV) e pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com a Sci-Tech Asia–Rede Internacional de Pesquisa.

Com criação, argumento e produção de Nuno Godolphim, e dirigida por Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel, a série de seis episódios conta a história da autoestrada BR-230, conhecida como rodovia Transamazónica, e dos seus impactos socioeconómicos, ambientais e políticos.

A construção da Transamazónica foi «uma saga gigantesca, o maior exemplo das obras faraónicas do governo militar brasileiro. Mas a estrada que iria promover a integração nacional ficou mais conhecida por ligar a fome do Nordeste com a miséria da Amazónia e foi abandonada no meio do caminho sem ter sido concluída», explicam os autores da série, que foi realizada para a HBO, acrescentando que conta a história «quilómetro a quilómetro, encontrando as pessoas que viveram esta experiência e confrontando-as com material de arquivo inusitado».

Relatada na primeira pessoa pelo cineasta Jorge Bodanzky, a série dá a conhecer diferentes personagens, cidades e situações ao longo da estrada, desde a costa atlântica da Paraíba, onde começa, até à beira do rio Purus, onde acaba. São abordados «os dilemas do passado e do presente, resgatando os dramas de quem acreditou na propaganda dos militares e foi abandonado no meio do caminho, vivendo na prática o que ficou conhecido como “Transamargura”, uma mistura de fome, desesperança e injustiça social, somada a um projeto de desenvolvimento pela destruição que deixou marcas nesta região até hoje».

Nuno Godolphim, produtor, argumentista e documentarista brasileiro bastante premiado, é considerado um dos precursores da moderna Antropologia Visual brasileira e reconhecido por realizar projetos com responsabilidade social e ambiental, conciliando a sua formação em ciências sociais com as narrativas cinematográficas e televisivas, em parceria com a HBO e GLOBO, entre outras.

Nas duas sessões de conversas em Coimbra, entre as 18h e as 19h30, vão ser exibidos os episódios 4, no dia 21 de setembro, e 5, no dia 23. O debate após cada exibição é moderado por Gonçalo Santos, professor de Antropologia Social-Cultural na FCTUC; Luís Quintais, antropólogo e poeta; e Raoni Arraes, antropólogo e fotógrafo.

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Conversas sobre a série documental: TRANSAMAZÔNICA - UMA ESTRADA PARA O PASSADO (2021), com a presença de Nuno Godolphim

Ficha Técnica

TRANSAMAZÔNICA - UMA ESTRADA PARA O PASSADO (2021)
Direção: Jorge Bodanzky e Fabiano Maciel
Criação, argumento e produção: Nuno Godolphim  
Realização: HBO e Ocean Films 

Organização do Evento
NAV-UC—Núcleo de Antropologia Visual da Universidade de Coimbra
Centro Cultural Penedo da Saudade
CIAS—Centro de Investigação em Antropologia e Saúde
Sci-Tech Asia—Rede Internacional de Pesquisa

Primeira sessão
21 de setembro, 18h00 - 19h30
Centro Cultural Penedo da Saudade

18h00-19h00 - Projeção de Episódio 4 de Transamazónica: Vetores da Destruição
19h00-19h30 - Debate com Nuno Godolphim
Moderação: Gonçalo Santos e Raoni Arraes (ambos do NAV/UC, CIAS / UC)

SINOPSE do Episódio 4
Neste episódio vamos acompanhar como a estrada acelerou os principais vetores de degradação da floresta: o desmatamento predatório, a venda ilegal de madeira, o garimpo e a mineração. Recentemente a expansão da soja que tinha seu epicentro no centro-oeste começa a chegar na transamazónica levantando uma sombra sobre o futuro da região. A partir dos personagens apresentados, o quarto capítulo da série explora temas chaves para o destino da floresta amazônica, jogando luz sobre as ações predatórias que seguem agindo de forma perversa. A narrativa revela e faz um raio X dessa degradação que redunda na extinção de espécies, desequilíbrio no ecossistema e erosão do solo, mostrando as etapas do modelo de desmatamento seletivo que caracteriza a ação dos madeireiros, trabalhando estrategicamente para não serem percebidos pelos satélites, abrindo estradas ilegais, falsificando “planos de manejo”, esquentando “guias de madeira certificada”, etc, sempre em nome da fortuna que as madeiras “de lei” significam no mercado. Vamos conhecer mais de perto a atividade garimpeira, que apesar de ser altamente nociva ao meio ambiente tornou-se uma das principais fontes de renda da região, mobilizando uma grande população que acaba gerando um modelo contraditório de colonização, poluindo e solapando o meio ambiente para onde os garimpeiros acabam se instalando para viver. Além dos personagens, acompanharemos uma ação do Ibama na luta pela preservação da floresta.

Segunda sessão
23 de setembro, 18h00 - 19h30
Centro Cultural Penedo da Saudade

18h00-19h00 - Projeção de Episódio 5 de Transamazónica: No Caminho dos Índios
19h00 - 19h30 – Debate com Nuno Godolphim
Moderação: Luís Quintais e Raoni Arraes (ambos do NAV/UC, CIAS / UC)

SINOPSE do Episódio 5
Havia homens na “terra sem homens”. Eram índios. E eram muitos. Araras, Tenharins. Parakanãs. Gaviões. Mundurukus... Populações que, desde antes da estrada, já se batiam contra a sociedade envolvente. Mas com a chegada da obra este conflito se ampliou. Disputas com empreiteiros, colonos, garimpeiros, madeireiros, grileiros e com os planos do governo federal de ocupar suas áreas sem pedir licença e respeitar seu território milenar. Algumas etnias simplesmente foram varridas do mapa. Outras fugiram da estrada. Ou foram atropeladas por ela sendo obrigados a prestar serviços numa semiescravidão, ou quase desaparecer. Os Araras lutaram contra as obras da estrada na época e recentemente brigaram contra a construção de Belo Monte, em ambos os casos sem muito sucesso. Os Mundurukus que viram a estrada passar raspando em suas terras, sofreram com a chegada de levas de garimpeiros e madeireiros nos anos seguintes. Lutaram contra a construção de um conjunto de grandes hidrelétricas no Rio Tapajós, enquanto se empenhavam num vitorioso projeto de autodemarcação, para evitar que inundassem suas terras. Neste episódio vamos investigar o que está além da estrada. As histórias dessas populações que historicamente ficaram à sombra dos grandes projetos. E para fazer isso teremos que sair da estrada para ver como o povo Munduruku tem convivido com os brancos e seus empreendimentos, seus modelos de desenvolvimento e ocupação da Amazônia. A resistência deste povo guerreiro, que não tinha em sua cultura a noção de “Posse” para a terra, as matas e os rios, passou por um longo aprendizado, que os transformou no povo mais aguerrido da Amazônia na defesa de seu território, contra qualquer atividade predatória. Um espírito de luta que é repassado para as novas gerações.

Nota Biográfica de Nuno Godolphim
Nuno Godolphim é um produtor, argumentista, e documentarista brasileiro bastante premiado. Destacou-se por realizar projetos com responsabilidade social e ambiental, conciliando a sua formação em ciências sociais com as narrativas cinematográficas e televisivas em parceria com HBO, GLOBO, entre muitos outros. É considerado um dos precursores da moderna Antropologia Visual brasileira. 

Cristina Pinto

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