domingo, 8 de julho de 2018

Administração António Pinto, envolta em má gestão e delapidação da falida LAM, foi demitida por deixar o primeiro-ministro em terra

O Conselho de Administração da deficitária companhia de bandeira moçambicana foi demitido nesta quinta-feira (05) pelos accionistas após deixarem em terra o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que pretendia embarcar para a cidade de Lichinga no corolário de uma semana de voos reprogramados e cancelados devido à falta de dinheiro das LAM para pagar o abastecimento de combustível das suas aeronaves. Em funções há cerca de 2 anos e meio estes gestores, encabeçados por António Pinto, agudizaram a situação de falência técnica que a empresa se encontra desde 2015 com inúmeros actos de má gestão e muita delapidação.
“A LAM – Linhas Aéreas de Moçambique informa que devido à limitações financeiras que enfrenta para viabilizar o abastecimento das aeronaves, ultimamente feito mediante pré-pagamento, ficou privada de realizar os primeiros voos (período da manhã) de hoje, dia 04 de Julho de 2018”, este comunicado de imprensa, repetido na quinta-feira (05), só peca por tardio pois desde o passado sábado (30) a companhia de bandeira nacional já atrasou, cancelou e reprogramou dezenas de voos deixando à beira de um ataque de nervos milhares de passageiros que, para grande parte das rotas em Moçambique, não têm companhias aéreas alternativas.
Mas na manhã desta quinta-feira um passageiro Very Very Important foi deixado em terra: o primeiro-ministro de Moçambique.
O @Verdade apurou que Carlos Agostinho do Rosário, informado que o voo que tinha marcado com destino à cidade de Lichinga não iria partir nem tinha hora prevista, terá contactado telefonicamente o seu ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, que na véspera quando questionado por jornalistas sobre a situação da LAM confirmou estar ao corrente. “Tenho conhecimento que houve um distúrbio sob o ponto de vista de gestão ao nível da LAM que criou de facto atrasos e cancelamentos de alguns voos, no período da manhã”.
“Tem basicamente a ver com um processo de reconciliação de contas entre a LAM e os fornecedores de combustíveis. Tenho também informações que ocorreram já reuniões de trabalho entre as empresas esta manhã para terminar a reconciliação de contas, porque os pagamentos estão a ser feitos e deve ter havido um ruído qualquer no processo de registo desses pagamentos e acredito que à esta hora estará ultrapassado esse diferendo e obviamente a LAM estará depois em condições de iniciar a rotina dos voos”, declarou Carlos Mesquita.
No entanto o titular dos Transportes e Comunicações terá sido erroneamente informado pela Administração das Linhas Aéreas pois não se trata de reconciliação de contas. O @Verdade apurou que há cerca de 4 meses que a companhia aérea moçambicana está a pagar todos os dias o abastecimento das suas aeronaves com a receita dos bilhetes que vende, em alguns casos, no próprio dia.
Primeiro-ministro viajou para Lichinga no luxuoso jatinho da Força Aérea de Moçambique
É que o problema de tesouraria das Linhas Aéreas de Moçambique não se deve apenas ao passivo acumulado ao longo de vários anos de má gestão e evidente delapidação da companhia pelos seus gestores mas também ao facto de todas as contas bancárias da empresa estarem congeladas por decisão judicial relativamente a um processo de pedido de indemnização que foi movido, e ganho em primeira instância, pelo antigo Administrador Delegado Iacumba Aiuba.

O @Verdade sabe que os gestores das LAM têm de colectar as receitas diárias, contornar os bancos onde a empresa tem passivos para amortizar, e proceder ao pagamento do combustível que necessitam para abastecer as cinco aeronaves que tem em operação.
Os tanques cheios custam cerca de 10 milhões de meticais que a Puma Energy Moçambique, petrolífera que assumiu o negócio da aviação da também deficitária petrolífera estatal Petromoc no início deste ano, não permite que seja realizado a crédito, tendo em conta o historial de calotes da companhia aérea nacional.
Entretanto, perto das 12 horas, o Boeing 737-500 que deveria fazer a ligação Maputo – Lichinga foi abastecido, após mais uma operação de tesouraria diária, os passageiros embarcaram, o avião fez-se a pista do Aeroporto de Mavalane mas avariou.
O @Verdade apurou que o primeiro-ministro acabou por viajar para Lichinga no luxuoso jatinho Beechcraft modelo Hawker 850XP da Força Aérea de Moçambique, que era o avião presidencial entretanto preterido por Filipe Nyusi à favor de um outro jatinho de luxo Bombardier, modelo Challenger 850, comprado em 2017.
Caixa de papel onde são introduzidas as refeições leves custa muito mais do que a sandes e do sumo
Mas se o Conselho de Administração nomeado em Fevereiro de 2016 e que foi presidido por António Pinto de Abreu, até ao seu falecimento, e executivamente é comandado por Antonio Pinto – co-adjuvado pelos Administradores Hélder Fumo, Carlos Sitoe, Faizal Gafar, Renato Matusse e Paulo Negrão – caiu por ter deixado o primeiro-ministro em terra os seus actos de má gestão têm agravado a situação de falência técnica da LAM revelada pelo @Verdade em Junho de 2017.
O @Verdade sabe que pelo menos um dos Embraer que as Linhas Aéreas de Moçambique alugam na África do Sul, pagando cerca de 1.800 dólares norte-americanos por cada hora de voo, apenas para fazer a rota Maputo – Vilanculo nem sequer consegue cobrir os seus custos operacionais mesmo voando cheio e com todos os passageiros a pagarem a tarifa mais elevada da empresa.

O drama da reposição de peças, tendo em conta a diversidade de aeronaves que a LAM opera, é agravado pelo facto da empresa ter preferência por um fornecedor particular que na realidade é um intermediário com preços muito mais elevados do que o fabricante.
Outros actos de má gestão acontecem na relação com a subsidiaria MEX que usa as Linhas Aéreas de Moçambique para obter fundos para pagar as suas despesas mas as suas receitas não retornam à empresa mãe.
Do rol de actos de delapidação da LAM o @Verdade descortinou ainda que cada caixa de papel onde são introduzidas as refeições leves que as Linhas Aéreas de Moçambique serve custa aos cofres da empresa cerca de 10 dólares norte-americanos, muito mais do que o custo da sandes e do sumo que habitualmente é servido das viagens que duram mais do que 1 hora de voo.

Nomeado para sanear a companhia aérea e prepara-la para os novos tempos de abertura efectiva do espaço aéreo nacional, e agora africano, com real concorrência António Pinto e a sua equipa aparentam terem-se concentrado em delapitar e afundar ainda mais as LAM. Nos 2 anos e cinco meses de actividades não publicaram um único Relatório e Contas, à semelhança anteriores gestores, alguns deles envolvidos em casos de corrupção.
O comunicado o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) que informa sobre a “cessação de funções dos membros do Conselho de Administração”, e que nem sequer está assinado e carimbado, refere ainda que os accionistas das Linhas Aéreas de Moçambique, SA, que são o Estado com 96 por cento do capital social a a Vintelam com os restantes 4 por cento, deliberaram em Assembleia Geral extraordinária que aconteceu após o incidente com o primeiro-ministro “A criação de uma Comissão de Gestão, para transitoriamente assegurar o normal funcionamento da empresa”.
O @Verdade sabe que pelos menos durante os próximos dias não haverão atraso por falta de combustível pois o IGEPE pagou a aquisição do mesmo para cerca de uma semana.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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