quinta-feira, 15 de junho de 2017

ENTREVISTA | Conflito na RDC: Que perigos para Angola?


O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas disse que há confrontos entre o exército nacional e grupos rebeldes da RDC. O professor Eugénio Almeida alerta para eventuais infiltrados entre os refugiados.

Geraldo Sachipengo Nunda, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, garantiu que as fronteiras de angola estão seguras, apesar do registo de confrontos entre forças de defesa nacional e grupos rebeldes da República Democrática do Congo (RDC). No entanto, pode haver alguns perigos, alerta Eugénio Costa Almeida, professor do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL).

DW África: Quais são os principais perigos para Angola do ponto de vista militar?

Eugénio Almeida (EA): Mais do que propriamente termos conflitos que possam existir é: quem está a entrar em Angola sob a capa de refugiado? Isto vai parecer um bocadinho anti-refugiados, mas não é.

É que certas organizações, com interesses em desestabilizar determinadas regiões, não têm qualquer problema em colocar homens seus infiltrados entre os refugiados. Em termos de segurança das fronteiras, neste momentos as fronteiras que estão mais em causa são as do leste e estão seguras por causa das forças de defesa de Angola. Os infiltrados [podem] aproveitar-se da oportunidade que Angola dá, em determinadas zonas, de permitir o garimpo de ouro e diamantes nos rios, pode revitalizar os chamados diamantes de sangue e é aí que as forças armadas vão ter um grande papel. Porque juntamente a vinda de rebeldes congoleses poderá também despertar alguns sentimentos de rebeldia junto dos Tchokwés, nas Lundas, devido às atividades políticas do autodenominado Protetorado das Lundas.

DW África: Que papel Angola, enquanto presidente da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, pode ter na resolução do conflito na RDC?

EA: É um pouco difícil haver quem consiga resolver politicamente aquela questão na zona.

Terá que ser a União Africana e as Nações Unidas a determinarem um meio e um veículo que possa pôr fim a esta situação, porque o problema no Congo não passa só pelo Congo, mas também pelos vizinhos. Angola poderá ter um papel residual, apesar de ter uma voz forte na região.

Eugénio Costa Almeida
DW África: Segundo as Nações Unidas quase cinco mil refugiados já chegaram à Dundo, na Lunda Norte. E a ONU espera 50 mil até ao final deste ano. Quais as consequências da vaga de refugiados congoleses para Angola?

EA: Naturalmente, vai ter consequências do ponto de vista económico, pois sabemos que Angola passa por uma crise forte, nomeadamente económica. Angola vai precisar de apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Mas mesmo outro país, nas circunstâncias de Angola, não estaria preparado para receber o número de refugiados que de repente apareceu. E fala-se que poderá ascender a um milhão a breve prazo. Depois, as eleições levam um pouco do erário público nacional. Aqui Angola vai ter de gerir muito bem as suas finanças para poder dar a ajuda que os refugiados necessitam, carecem e têm direito.

Glória Sousa | Deutsche Welle

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