O homem que impôs as condições mais duras para o resgate da Grécia, o alemão Wolfgang Schäuble, foi movido na estratégia de Angela Merkel e viria a revelar-se "impotente para fazer o que achava que devia ser feito". É Yanis Varoufakis que conta a história das negociações intensas em 2015.
A maioria dos europeus provavelmente desconhece, mas a história do resgate grego não só se fez de avanços e recuos. Pelo meio ficou por contar a história de um acordo secreto feito pela chanceler alemã, Angela Merkel, que viria a revelar uma nova face ao “ditador maquiavélico”, Wolfgang Schäuble.
Essa história é contada pelo antigo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, no seu livro “Adults In The Room: My Battle With Europe’s Deep Establishment”, e citada pelo jornal ‘Público’ desta segunda-feira.
Schäuble, o homem que tutela com mão firme a pasta das Finanças na Alemanha, e que foi uma das vozes mais críticas ao apoio financeiro à Grécia, viria mostrar pela primeira vez ser um homem poderoso e de rosto duro, “impotente para fazer o que achava que devia ser feito”, segundo afirma Varoufakis.
Estavamos então em fevereiro de 2015. O Governo grego, liderado pelo então recém-eleito Alexis Tsipras, apelava à União Europeia uma alteração aos termos do memorando da troika, sob o argumento de que havia sido para isso que foi eleito e a Grécia se encaminhava perigosamente para o beco sem saída da falência.
Durante um telefonema com Alexis Tsipras, Angela Merkel deu o ‘okay’ para que fosse feito um esboço para a extensão do prazo de financiamento à Grécia, que “substituiria o atual acordo”. A medida da chanceler vinha opor-se à ideia defendida veementemente por Wolfgang Schäuble, que entendia que o programa de assistência financeira era para cumprir, como estava, até ao fim.
Durante a reunião do Eurogrupo, o acordo com a Grécia para “mitigar os grandes custos sociais da crise grega” foi, tal como esperado, completamente arrasado pelo ministro das Finanças alemão. E a Wolfgang Schäuble juntaram-se a ministra portuguesa, Maria Luís Albuquerque, e o vizinho ministro espanhol Luis de Guindos, unidos em uníssono contra o esboço apresentado pela Grécia.
Num “monumento à ambiguidade calculada”, Yanis Varoufakis conta que a chanceler alemã confirmou nessa reunião o seu “poder para usurpar o controlo do Eurogrupo, ainda que momentaneamente, ao homem que geralmente o domina – o seu próprio ministro das Finanças”.
Christine Lagarde, do FMI, e Mario Draghi, do BCE, apoiaram também a criação de condições extraordinárias de financiamento à Grécia. Wolfgang Schäuble estava isolado.
“É mau para o seu povo”
“Ninguém defendeu o comunicado, mas também não se atreveram a criticá-lo”, explica Varoufakis, dando conta de que essa foi a reunião “mais fácil de todas”, com a chanceler alemã a elaborar uma estratégia paradoxal para seguir as regras que lhe interessavam. Uma verdadeira ode à intriga e à estratégia paradoxal.
Mas Wolfgang Schäuble não se deu por vencido. Numa conversa com Yanis Varoufakis no seu gabinete em Berlim, numa altura em que o ministro grego já estava quase de saída, o homem que impôs as condições mais duras para o resgate da Grécia pedia-lhe que assinasse o memorando da troika. Foi então que Yanis Varoufakis lhe perguntou o que faria se estivesse no seu lugar. A resposta caiu com uma bomba.
“Estava à espera que me respondesse previsivelmente – que dadas as circunstâncias não há alternativa – usando os mesmos argumentos comuns e destituídos de sentido. Ele não o fez. Em vez disso, olhou pela janela, para a rua. Para os padrões de Berlim, estava um dia quente e ensolarado. Depois voltou-se e espantou-me com a sua resposta. ‘Como um patriota, não. É mau para o seu povo”, escreve o ex-ministro grego.
Schäuble, a Nemesis de Varoufakis e o peso-pesado do Eurogrupo, era afinal apenas um homem “impotente para fazer o que achava que devia ser feito”.
Joana Almeida | Jornal Económico
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