sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O elogio a Fernando

Celso  Filipe
Celso Filipe 11 de janeiro de 2018 às 23:00
Ao fim de 17 anos, Fernando Pinto diz adeus à liderança da TAP. O gestor brasileiro sai pela porta grande e terá um lugar de destaque reservado na companhia aérea nacional. Pelas boas razões.

É claro que a longa gestão da transportadora não é isenta de críticas. A compra da Portugália ao Grupo Espírito Santo e, sobretudo, o negócio de aquisição da brasileira Varig Engenharia e Manutenção são duas histórias que o futuro se encarregará de explicar melhor. Sobretudo esta última, a qual ainda continua a pesar negativamente nas contas da TAP SGPS.

O balanço, contudo, é largamente positivo. Fernando Pinto e a sua equipa de gestão chegaram à TAP em Outubro de 2000, pela mão do então ministro Jorge Coelho, com o objectivo de fazer a venda da companhia à Swissair. A operação borregou e essa circunstância obrigou a uma redefinição da estratégia da companhia. Na carta de despedida que enviou aos trabalhadores, Fernando Pinto refere-se a 15 anos em modo de "sobrevivência", os quais acabaram com a entrada dos accionistas privados da Atlantic Gateway em 2015.

A realidade é que durante o período de "sobrevivência", Fernando Pinto devolveu o futuro à TAP, deu-lhe um rumo, apostou em mercados que se tornaram relevantes (por exemplo, o Brasil), imprimiu-lhe uma imagem de modernidade, competência e fiabilidade e foi capaz de a manter à tona num sector que teve um enorme abalo concorrencial com a entrada em cena das "low-cost". Com altos e baixos, conseguiu uma relativa paz social na companhia, a qual lhe permitiu fazer mudanças e adaptar a força de trabalho aos novos desafios.

Pelo caminho, o próprio Fernando Pinto foi um sobrevivente, resistindo a governos de cores políticas diferentes e aos apetites ocasionais que a empresa sempre gerou, tanto junto de apaniguados do PS como do PSD. E também foi sendo capaz de manter o equilíbrio, conciliando interesses contraditórios e lóbis casuísticos, sem perder de vista o objectivo primordial, o de assegurar a viabilidade da transportadora nacional. E fê-lo de forma hábil e diplomática.

Fernando Pinto e a sua equipa inicial (Manoel Torres, Luís Mor e Michael Connolly) escreveram na TAP uma história que contrariou o triste fado das empresas públicas. Os bons ventos que sopram para a companhia são também fruto da forma abnegada como Fernando Pinto serviu a TAP. O elogio é o mínimo a que tem direito nesta hora de despedida.

Fonte: Jornal de Negócios


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