domingo, 8 de maio de 2016

Sangue: fonte de vida

Dar sangue é dar vida. Esta é uma das frases promocionais que o tempo fez entrar na nossa memória. Nos dias que correm, dar sangue é cada vez mais importante. Porque as solicitações são cada vez maiores. Em média, são cinco a seis os litros de sangue que nos correm pelo corpo. Uma fonte de vida… e de alguns problemas.
O sangue é um tecido constituído por várias células sanguíneas, suspensas num líquido que se chama plasma. O plasma é constituído por água, sais minerais, moléculas hidrossolúveis como por exemplo a glucose e proteínas. As células sanguíneas são os Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos, os Glóbulos Brancos ou Leucócitos e as Plaquetas. É a medula óssea que se encarrega da sua produção, sendo constantemente renovadas.
São várias as funções do sangue, todas elas de grande importância para o vital funcionamento do corpo humano. Algumas dessas funções são bem complexas, entre as quais o transporte de oxigénio, nutrientes, hormonas, dióxido de carbono e outros produtos do catabolismo

Os componentes
Os Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos têm a particularidade de serem elásticos e deformáveis, permitindo assim um fluxo normal dentro dos vasos sanguíneos. Têm na sua membrana exterior elementos que são específicos para cada indivíduo, são herdados de pais para filhos, e permitem diferenciar as células de uma pessoa das de outra pessoa – são os grupos sanguíneos. Os mais importantes na transfusão sanguínea são o sistema ABO e Rh.
Os Glóbulos Brancos, ou Leucócitos, podem ser classificados de acordo com as diferentes morfologias e funções – Granulócitos Neutrófilos, Eosinófilos e Linfócitos. Têm um papel muito importante na defesa do organismo contra os vários agentes infecciosos.
As Plaquetas são as células mais pequenas do sangue, tendo cerca de 1/3 do diâmetro dos Glóbulos Vermelhos. São elas que actuam de imediato quando há uma hemorragia, formando o rolhão plaquetário tendo um papel muito importante na coagulação sanguínea.
 
A importância de dar sangue
O sangue não se fabrica artificialmente e só o ser humano o pode dar. Assim dito, facilmente se percebe que o sangue é um bem escasso. Por esta razão, o sangue existente nos serviços hospitalares depende inteiramente do gesto de cada um.
Todos os anos, com regularidade, as autoridades de saúde lançam campanhas de recolha de sangue. O gesto é rápido e demonstra preocupação pelos outros. Dar sangue é, pois, um gesto de vida, verdadeiramente essencial, porque alguns minutos perdidos na nossa vida podem ser suficientes para salvar outras.
O sangue é necessário todos os dias, pois todos os dias existem doentes com anemia, pacientes que vão ser submetidos a cirurgia, acidentados com hemorragias, doentes oncológicos que fazem tratamento com quimioterapia, transplantes, etc., que necessitam de fazer tratamento com componentes sanguíneos.
Enquanto um doente com anemia pode necessitar de uma ou duas unidades de sangue, um doente com transplante de fígado pode necessitar de mais de 20 unidades e um doente com leucemia pode necessitar de mais de 100 unidades.

O que o dador deve saber
Cada indivíduo tem em circulação 5 a 6 litros de sangue, dependendo da superfície corporal. Uma unidade de sangue representa 450ml. Mas o sangue doado é rapidamente reposto pelo nosso organismo. Daí não haver qualquer problema em dar com alguma frequência 3 a 4 vezes por ano, dependendo do sexo e constituição física do dador é a mais recomendada.
Outro aspecto importante a ressaltar: não existe qualquer possibilidade de contrair doenças através da dádiva de sangue, porque todo o material utilizado na recolha é estéril e descartável – é usado uma única vez -, garantindo assim por completo a saúde de quem, voluntariamente, se dispôs a um gesto benemérito.

O que acontece depois
O sangue proveniente de uma unidade total vai ser posteriormente separado nos seus constituintes: Glóbulos Vermelhos, Plasma e Plaquetas, com o objectivo de uma maior rentabilização e eficácia na terapêutica dos doentes com componentes sanguíneos, de acordo com a deficiência que apresentam. Assim, uma dádiva de sangue pode beneficiar pelo menos três doentes.
O sistema de sacos múltiplos para onde o sangue é colhido permite que todo o processo seja feito em circuito fechado e estéril, garantindo assim a segurança e qualidade máximas na obtenção dos componentes sanguíneos.
O sistema de sacos contém anti-coagulante para que o sangue não coagule e substâncias nutrientes para prolongar a viabilidade dos eritrócitos durante o armazenamento.
Numa primeira centrifugação vão ser separados os eritrócitos e um plasma rico em plaquetas. Numa segunda centrifugação obtêm-se as plaquetas e o plasma.
Cada saco contém o componente que foi separado – Concentrado de Eritrócitos, Concentrado de Plaquetas e Plasma Fresco. Estes componentes têm indicações clínicas específicas.
O Concentrado de Eritrócitos tem indicação para doentes com anemia, o Concentrado de Plaquetas para doentes com deficiência de plaquetas, e o Plasma Fresco para doentes com deficiência de factores da coagulação.
Paralelamente, cada dádiva é submetida a um conjunto de análises laboratoriais que tecnicamente garantem a melhor qualidade do sangue a transfundir, de acordo com o estado da arte em cada momento.
 
Receber o seu próprio sangue
A situação mais frequente é o nosso sangue ser aproveitado para salvar outras vidas. M as há casos em que o sangue que damos é o mesmo que recebemos.
A Transfusão Autóloga ou Autotransfusão consiste num processo de colheita prévia de sangue de um doente que vai ser operado para posterior administração, durante ou após a cirurgia. Neste caso o dador é o próprio doente.
Podem integrar um programa de Transfusão Autóloga doentes com bom estado geral e sem anemia, com valores de hemoglobina igual ou superior a 11g/dl. Os critérios de aceitação são mais flexíveis pois o dador é o próprio doente. O médico de Imunohemoterapia vai avaliar a situação clínica do doente antes de lhe ser colhido o sangue. Não há limite de idade e as crianças também podem entrar num programa de Transfusão Autóloga. As unidades de sangue colhidas vão ser submetidas aos testes analíticos, de acordo com a legislação existente para o sangue homólogo.
Além de permitir poupar sangue aos serviços hospitalares, este processo em que o doente recebe o seu próprio sangue tem inúmeras vantagens, para já não falar nos benefícios especiais para os doentes com grupos sanguíneos raros ou para que têm determinadas crenças religiosas.
Assim, se vai ser operado, e tem um bom estado geral, contacte o seu médico assistente para saber se está em condições de se submeter a um programa de Transfusão Autóloga. É necessário saber a data da intervenção cirúrgica e o número de unidades de sangue previstas para a operação.
As unidades são colhidas com uma semana de intervalo e a última ser colhida 72 horas antes da operação. Os doentes recebem um suplemento de ferro para melhor recuperação durante as colheitas.

As questões essenciais – será que posso dar sangue?
Podem dar sangue todas as pessoas com bom estado de saúde, com hábitos de vida saudáveis, peso igual ou superior a 50kg e idade compreendida entre os 18 e 65 anos. Para uma primeira dádiva o limite de idade é os 60 anos.
Os homens podem dar sangue de 3 em 3 meses (4 vezes/ano), e as mulheres (3 vezes/ano), sem nenhum prejuízo para si próprios. Dar sangue não engorda, não enfraquece e não causa habituação.
De qualquer forma, a dádiva de sangue não deve ser efectuada em jejum. Deve-se tomar uma refeição ligeira sem álcool e sem gorduras, como por exemplo uma sandes e um sumo.

Onde me devo me dirigir?
Os Centros Regionais de Sangue do Instituto Português do Sangue em Lisboa, Porto e Coimbra, por norma os mais utilizados, embora haja outros locais adequados, como por exemplo o Posto Fixo da Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro – ADASCA, localizado no 1º. Piso do Mercado Municipal de Santiago, onde decorrem 6/7 sessões de colheitas de sangue por mês, podendo ser consultadas as datas no site www.adasca.pt

Já há tanta gente a dar sangue. Não devem precisar de mim
Não pense nisso, porque não é verdade. A procura de sangue, componentes e derivados não cessa de aumentar, graças aos progressos da ciência médica e à crescente extensão dos benefícios de uma assistência que se pretende da melhor qualidade, a um número cada vez maior de pessoas. As necessidades terapêuticas dos doentes exigem cada vez mais dadores, isto é, pessoas em boas condições de saúde e com hábitos de vida saudáveis.

Quem não pode dar sangue?
Uma entrevista prévia com o médico permite eliminar todos os doadores de risco. Dura um quarto de hora na primeira vez, cinco a sete minutos para um dador “habitual”. Por uma questão de segurança, as pessoas que acabam de sair de um episódio infeccioso, ou as que estão a seguir um tratamento medicamentoso (anti-inflamatórios, corticóides, hipotensores, etc.) são sempre excluídas.
Em princípio, as pessoas que algumas vezes receberam uma transfusão não podem dar sangue. Elimina-se desta maneira o risco de ver emergir uma contaminação ignorada durante a primeira transfusão. Da mesma maneira, os viajantes que residiram num país atingido pelo paludismo serão temporariamente recusados. A entrevista médica abordará, por último, os hábitos sexuais a fim de determinar se apresentam algum risco.
Todos os anos, um número significativo de doadores é afastado por uma ou outra destas razões.
 
Que testes fazem ao meu sangue?
Cada recolha de sangue – da qual se deve guardar uma amostra pelo menos durante cinco anos – é submetida a testes serológicos que permitem detectar as doenças transmissíveis como a sida, as hepatites B e C, o paludismo ou a sífilis.
Se análise demonstrar que uma amostra de sangue está contaminada, o doador é identificado e advertido de maneira confidencial.

Passados estes testes, já não há risco?
Não. É preciso ainda ter em conta a “janela serológica”, em período que pode durar dias, até mesmo várias semanas, durante o qual a pessoa ignora ter sido contaminada. Por exemplo, decorre um período de mês e meio a três meses antes que um organismo infectado pelo vírus da hepatite C (VHC) produza anticorpos detectáveis no sangue. Mas, na prática, para um resultado seguro, recomenda-se que seja feito um teste três meses após a eventual contaminação. Por isso, é absolutamente indispensável responder com franqueza total às perguntas, por vezes indiscretas, do médico durante a entrevista.

O meu sangue poder ser congelado?
Congelar e armazenar os produtos sanguíneos é muito caro. Actualmente, apenas as pessoas de grupos sanguíneos raros (além dos a, b, 0. Rh) podem “pôr de reserva” o seu sangue na previsão de uma necessidade vital.

NR: Tendo em conta o interesse público do presente artigo tomamos a liberdade de compilar para este espaço.


Fonte: Artigo da revista Farmácia Saúde do nº. 52 de Janeiro de 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário