terça-feira, 13 de março de 2018

Um intervalo para as notícias

P
 
 
4.0 Tecnologia, inovação e empreendedorismo
 
 
  João Pedro Pereira  
São há muito um cliché, mas continuam a funcionar: com um grau maior ou menor de neo-ludismo, surgem frequentemente na imprensa textos em que alguém descreve a maravilhosa experiência de ter reduzido, ou cortado, a utilização da Internet. O que se segue é um período de paz interior, uma maior capacidade de concentração, um maior auto-conhecimento, mais produtividade no trabalho e/ou mais tempo para a família e para novas actividades, da olaria às palavras-cruzadas. O facto de estes textos repetitivos serem abundantemente partilhados na Internet é um reflexo de que muitas pessoas sabem – ou, pelo menos, intuem – que existe algo de pernicioso ou contra-producente em muitos dos seus hábitos online.
Recentemente, um desses textos foi escrito por um jornalista e colunista do New York Times, que decidiu acabar com o consumo de notícias online e substituí-las pela assinatura de jornais em papel e de uma revista. Numa altura em que o consumo de informação é fragmentado e se faz entremeado com todo o tipo de tarefas e conteúdos, aquele texto tem uma lição importante. E não tem tanto a ver com a discussão das plataformas impressas vs. digitais (que já era velha há dez anos), mas com a gestão do tempo.
Argumenta o autor – e faz sentido – que a experiência verdadeiramente gratificante para quem é um consumidor ávido de informação não é voltar à tinta e ao cheiro do papel, mas ter um período definido do dia em que se consomem notícias acabadas. Isto é, notícias que já foram feitas até ao fim e verificadas dentro do possível; e que explicam o que se passou, por oposição a fragmentos de factos e a notificações apressadas. Este momento pode ser ocupado com um jornal de manhã. Mas também pode ser um podcast, uma newsletter ou, simplesmente, meia hora do dia que se reserva para ler na Internet uma ou duas publicações de qualidade.
A disseminação de informação (e ruído) pela Internet não é reversível, seja através das redes sociais e das notificações, ou do que quer que as venha a substituir. Mas, apesar de todos os perigosos truques de psicologia por trás do funcionamento de algumas daquelas plataformas, a gestão do tempo continua nas mãos de cada utilizador.

Digno de nota

- O Arquivo.pt, um serviço que armazena antigas páginas da web portuguesa, lançou um prémio para trabalhos de investigação que usem o acervo que está há dez anos a ser recolhido. “Nas gerações futuras, ninguém se vai lembrar de páginas que não existem, ou que eram diferentes”, diz Daniel Gomes, responsável pelo Arquivo.
- Quando Safiya Noble pesquisou na Internet actividades para a filha e sobrinhas, a expressão "black girls" não lhe devolveu os resultados que esperava. Passou os últimos sete anos a pesquisar situações de injustiça e preconceito criadas por algoritmos. Acabou a publicar um livro.
- A Karla Pequenino esteve na sede da Microsoft, em Redmond, e explica como a empresa está a investir em tecnologia de inteligência artificial que seja capaz de ouvir os utilizadores – e de aprender sobre eles.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.
Fonte: Público

Nenhum comentário:

Postar um comentário