Num estudo inédito, um grupo de alunos da Escola Básica de Mira comparou o efeito das cinzas de eucaliptos e de pinheiros na germinação e crescimento nas plantas. Os resultados foram surpreendentes: as cinzas dos pinhais são um ótimo fertilizante, mas as dos eucaliptais prejudicam fortemente a germinação e crescimento das plantas. Resultados podem ter importância na gestão mais rentável e ecológica da floresta em Portugal.
Em outubro do ano passado, um enorme incêndio consumiu 60 por cento da mancha florestal do concelho de Mira, constituída essencialmente por pinheiros e eucaliptos. Em poucas horas, toneladas de cinzas cobriram o solo desta região, “pintando” a paisagem de negro.
Num projeto de investigação financiado pela fundação Ilídio Pinho, uma turma do 5º ano da Escola Básica de Mira realizou, pela primeira vez, um estudo em que se comparou o efeito das cinzas de eucaliptais e de pinhais na germinação e crescimento de feijões e de lentilhas em condições bem controladas. Os jovens estudantes observaram e registaram, durante dois meses, os resultados da cultura das duas espécies em cinzas diluídas a 10 por cento em água destilada.
Até ao momento, os estudos sobre o efeito das cinzas vegetais eram escassos. Mas todos tornavam evidente que as cinzas vegetais são benéficas para a germinação e crescimento de várias plantas como, por exemplo, a alface. Na realidade, as cinzas vegetais possuem minerais essenciais para o crescimento das plantas como o potássio, o sódio, zinco, cálcio, magnésio e ferro. Por outro lado, o cálcio presente nas cinzas dos incêndios pode também corrigir solos demasiadamente ácidos.
Contudo, no estudo desenvolvido em Mira e na concentração usada, as cinzas de eucalipto tiveram um efeito bastante negativo quer na germinação (menos 30%), quer na biomassa produzida (menos 40%) que nas plantas do grupo controlo.
Até agora, a única explicação proposta será a de que as cinzas de eucaliptais ardidos podem conter micronutrientes e metais pesados (Cu, Zn, Mn, Pb, Cd, Cr, Hg, Ni). Em concentrações baixas, estes metais pesados não prejudicam o crescimento das plantas, porém, em doses elevadas, estes micronutrientes podem afetar o crescimento vegetal. Na verdade, um estudo recente, levado por uma equipa de investigadores australianos, demonstrou que os eucaliptos podem acumular vestígios de metais pesados tóxicos nas folhas, como por exemplo o ouro.
Em conclusão, pode-se referir que os resultados deste estudo, a serem confirmados por outra equipas de investigação, indicam que podemos ter estratégias de reflorestação e de utilização das cinzas, do ponto de vista económico e ecológico, mais favoráveis para o nosso país.