quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Futebolistas descobrem que o esporte não constitui um fim em si

Plinio Maria Solimeo
“uma coisa que tem me ajudado a me acalmar e encontrar um sentimento de paz, é rezar o Rosário. Eu o faço nos dias de jogo", afirmou Taylor Kemp (na foto, à direita)
“Uma coisa que tem me ajudado a me acalmar e encontrar um sentimento de paz, é rezar o Rosário. Eu o faço nos dias de jogo”, afirmou Taylor Kemp (na foto, à direita)
O futebol é o esporte mais popular do mundo. E no Brasil é uma verdadeira religião. Entretanto, dificilmente se ouve falar aqui de um jogador famoso que tenha profundas convicções religiosas ou que pratique com empenho sua fé.
Por isso é ilustrativo tomar conhecimento de dois exemplos de futebolistas de outros países — Estados Unidos e França —, que não encontraram o sentido de suas vidas nos gramados, mas na prática convicta de seu catolicismo.
O que nos surpreende nesses exemplos é a conversão dos dois esportistas, e como procuraram ser coerentes em relação a ela.

Grande astro americano

Um dos exemplos é o de Taylor Kemp [à direita, foto acima], na primeira divisão de futebol nos Estados Unidos desde 2012, defensor do clube DC United, da capital americana, uma das melhores equipes da liga daquele país. Com efeito, o DC United foi o primeiro vencedor da MLS Cup, o primeiro time americano a vencer a U.S. Open Cup, e o primeiro a vencer a Concacaf Champions League.
Nascido em Highlands Ranch, no Colorado, Taylor, de 26 anos, despontava desde os bancos escolares como uma estrela em ascensão.
Nesse ano, Taylor Kemp atingiu a melhor temporada de sua carreira, chegando a um elevado nível técnico, e sendo o jogador que jogou mais partidas pelo seu time. Sobre seu sucesso, ele afirma de modo surpreendente: “a razão principal para que esta temporada fosse, sem dúvida nenhuma, a minha melhor, é porque eu me tornei um católico totalmente praticante”.
Segundo ele, praticar seriamente a religião fez com que melhorasse até no campo esportivo.

Constante torcida e ansiedade

Em entrevista ao “National Catholic Register” de 15 de dezembro, na qual nos baseamos, ele afirma que, apesar de ter conquistado fama, vivia em estado de constante torcida e persistente ansiedade, que o atormentavam: “Em vez de desfrutar o futebol, eu ficava pensando durante toda a semana que [no jogo seguinte] eu poderia não ser suficientemente bom. Antes, durante e depois dos treinos e dos jogos, minha grande preocupação não era como jogar bem, mas como jogar para evitar o fracasso. Esse temor tornou minha vida miserável, [embora] eu estivesse fazendo algo que deveria me tornar feliz”.
A Religião então para ele não contava para nada: “Fui batizado como católico, mas não cresci como católico. Eu me chamaria então ‘um cristão sem denominação’, porque o que importava era ser um cristão nominal. Eu talvez rezasse uma vez por mês, mas não fazia esforço para olhar para a vida de Cristo, ou do que Ele esperava de nós”.

A influência de uma esposa praticante

Entretanto, essa situação mudaria radicalmente sua vida, devido à influência de sua esposa, Brittany.
Declara Kemp: “O ponto decisivo [para minha conversão] foram as orações e ações de minha esposa, católica desde o berço. Ela me encorajava a ingressar na Igreja, mas eu, durante algum tempo, afastei delicadamente essa hipótese. Entretanto, há cerca de dois anos e meio, comecei a ir com frequência à Missa com ela. Eu me sentia bem com isso, mas não pensava em me tornar um membro praticante da Igreja”.
Brittany então conseguiu que ele se matriculasse num curso para adultos em sua paróquia. Surpreendentemente esse curso era muito conservador, de maneira que Kemp, incentivado pela esposa, passou a praticar seriamente a religião, tornando-se um católico não só de nome, mas na vida prática, muito versado na Religião Católica, como se pode confirmar por suas afirmações.
Perguntado por um repórter o que o impressionara no estudo da Religião, ele afirmou: “Uma das coisas que mais distinguem a Igreja Católica é sua natureza sacramental. Eu me dei conta de que, recebendo qualquer dos Sacramentos, eles me proporcionavam um senso de paz e de calma, que nada na vida pode dar. Neles, a presença de Deus torna-se aparente, e um vazio em minha alma foi preenchido”.

Observações sobre o Sacramento do matrimônio       

Sua formação foi integral. Ele quis aprofundar-se mais no Sacramento do matrimônio. “Eu tinha antes apenas respeito pelo matrimônio, pois não me tinha dado conta de que ele é um dos sete Sacramentos. Eu também aprendi que o celibato, antes do casamento, ajuda os futuros esposos a amar-se mutuamente de um modo abnegado e centralizado em Deus”. Isso dito por um jogador famoso nos dias tão permissivos de hoje, é digno de admiração!
Entretanto, isso é só um aspecto do casamento, o esportista acrescenta: “ele só é possível se o casal estiver aberto para a vida. Ouve-se falar que se é um ‘pró-vida’ em geral. Mas não ouvimos dizer que a procriação e a educação dos filhos é o propósito do casamento; e sim falar que este consiste em procurar estar seguro de ter somente os filhos que se julgue conveniente. O que está estabelecido [pela sã doutrina], é que se tenham os filhos que Deus queira, para que Ele abençoe o casamento. E caso houver uma razão séria para postergar a gravidez, isso só poderá ser feito mediante o planejamento familiar natural”.

Tirar o futebol do pedestal

Para acabar com a torcida e a ansiedade antes dos jogos, ele afirma: uma coisa que tem me ajudado a me acalmar e encontrar um sentimento de paz, é rezar o Rosário. Eu o faço nos dias de jogo, que antes eram os mais desgastantes para mim. Agora, eles o são significativamente menos, porque há uma rotina fixada que me lembra das coisas espirituais que tenho que levar mais seriamente que o futebol”.
O mais importante para Kemp passou a ser sua vida espiritual, o estar em dia com Deus Nosso Senhor: “Eu concluí que minha vida não me pertence, e que devo existir para Deus, e não para mim. Isso tirou o futebol do pedestal que eu o tinha colocado por longo tempo. Quando chegaram, recentemente, as notícias da queda do avião que transportava um clube de futebol do Brasil, eu senti um incrível senso de tristeza, e meu primeiro pensamento foi: ‘Rezo para que todos no avião tenham tido uma relação com Deus’, pois isso significa que nossa vida aqui não é o fim, e que temos um lar para ir depois que morremos”.

Papel da adoração ao Santíssimo Sacramento

Taylor Kemp termina sua entrevista dizendo: “agora sei que a Igreja Católica, que Cristo estabeleceu, é onde se pode encontrar a paz da mente. Eu digo isso às pessoas, mas algumas vezes elas se chocam com isso. Elas têm, como eu tinha, uma porção de idéias errôneas sobre o Catolicismo. Isso pode ser eliminado com oração e pesquisa. Eu ainda estou desenvolvendo minha vida de oração, e continuarei por um longo tempo. Mas descobri que a adoração à Eucaristia é um dos mais belos e úteis modos de rezar. Estando na igreja, na presença de Cristo, por 30 minutos ou uma hora, isso é extremamente poderoso. Algumas vezes é difícil disciplinar sua vida de oração, mas eu julgo que ir à adoração é um dos melhores meios para desarmar-se a si mesmo e ficar realmente mais perto de Cristo através da oração”.
Kemp diz comovido: “Sei que eu sou incrivelmente amado e abençoado por Deus, e que Ele me livrou do desgaste e da ansiedade que costumavam fazer parte de minha vida. As coisas agora estão na ordem correta e isso contagiou outras pessoas. Depois de ver que eu me tinha tornado um membro praticante da Igreja Católica no começo deste ano, um dos meus companheiros de time também se inscreveu no Curso de Iniciação para adultos, e tornou-se católico no mês passado. Depende de cada pessoa fazer suas próprias decisões, mas eu gosto de compartilhar o que aconteceu comigo, na esperança de que essas grandes coisas que encontrei no catolicismo sejam de utilidade para outros”[i].

Jogador francês só encontra paz na Religião

futebol
O francês Florian Boucansaud [foto ao lado] é outro futebolista que encontrou paz na prática da Religião. O futebol também não preenchia todas as suas aspirações e anseios. Diz ele: “Desde muito pequeno eu era apaixonado pelo futebol, e cresceu em mim um sonho: converter-me em um futebolista profissional. Aos 16 anos abandonei o ninho familiar para entrar em um centro de formação. E aos 20 anos meu sonho se tornou realidade. Havia fantasiado muito sobre a vida do futebolista, mas rapidamente senti que a pressão dos resultados seria difícil de suportar. Tinha que funcionar 100% para o futebol, nas partidas” [...]. “Estava consciente de que minha sensibilidade não aguentaria isso, e corria o risco de que me afetasse psicologicamente. Mas não podia dar marcha atrás, havia lutado muito por isso. Se o futebol se havia convertido em minha profissão, tinha vontade de fazer a carreira mais bonita possível, para ganhar dinheiro, ser famoso etc. Joguei nos níveis mais altos durante alguns anos. Ganhava dezenas de milhares de euros por mês, tinha uma casa bonita, carros, aparecia na televisão… mas, apesar de minha pequena glória, algo me faltava.


Débâcle, depois da fama

         “Na primavera de 2009, depois de uma temporada moralmente esgotante, elevei meu grito ao Céu — eu, que não me havia interessado nunca por Deus: ‘Não posso mais. Tirai-me daqui! Aceitarei tudo. Quero ser feliz!’”
         A reviravolta veio logo depois. Vencido seu contrato, seu clube, o Caen, não o renovou. E não vieram novas ofertas. Floriam teve de enfrentar uma situação muito dura. Mas afirma que se sentia liberado. “Com minha esposa Sandra, dizíamos: ‘Se perdermos tudo, ninguém nunca poderá tirar-nos o nosso amor, nem o nosso pequeno”.
Um ano depois, ocorreu um fato que mudaria sua vida. “Meu irmão me sugeriu: ‘Se queres voltar a encontrar o futebol de tua infância, e se não te importas o que ganhes, propõe teus serviços ao clube de Montceau-les-Mines, no qual tenho amigos’. E foi assim que me encontrei na quinta divisão, ganhando trinta vezes menos, mas sentindo-me muito bem entre essas pessoas simples”.
Floriam acrescenta: “Paralelamente, ao sair da bolha centrada no dinheiro, nas partidas, no êxito, tomei consciência da perfídia do mundo, e isto me levou a um desespero profundo. Eu me rebelava contra a injustiça, e o futuro me angustiava”.

O caminho de Deus

Era a graça de Deus operando em sua alma. No final de 2012 assistiu pela primeira vez, num vídeo na Internet, um discurso cristão. Chamava à conversão e a confiar em Deus. Aludia a Satanás como fonte do mal. “Por fim eu podia ‘entender’ todo o mal em meu redor. E se Satanás existia, eu ainda cria mais na existência de um Deus Amor, criador de tudo.
Daí a resolução: “No domingo vou à Missa”, coisa que não fazia desde sua Primeira Comunhão. “Pouco a pouco tive a sensação de que as escamas me caíam dos olhos”.
As coisas começaram a mudar: “Tenho necessidade de construir minha fé de maneira intelectual. Eu li muito, passei longo tempo diante do Santíssimo Sacramento. E depois de descobrir o amor infinito e eterno de Deus, confessei-meDespojei-me de toda a minha vida passada, de meus pecados, de meu orgulho, de meu egoísmo. E toda minha vida mudou”.
Floriam conclui: “Agora sei por que eu vivo, de onde venho, aonde vou. Encontrei a esperança, a paz, uma alegria profunda. Nosso filho Gabin foi batizado em junho. Sandra e eu recebemos a confirmação e nos casamos em setembro. Estou feliz numa vida humilde. E se hoje me propusessem jogar no Paris Saint-Germain [grande clube de Paris] por todo o ouro do mundo, mas renunciando à minha fé, não aceitaria. Encontrei meu tesouro: Cristo!”[ii].

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