sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Ricardo Toscano Quarteto é já um disco essencial para a história do jazz português

Ipsilon
 
 
  Vasco Câmara  

Se há muito que o jazz português aguardava o álbum de estreia do saxofonista Ricardo Toscano, ei-lo à frente do seu quarteto fundado na tradição norte-americana. Não há decepção possível. Ricardo Toscano Quarteto é disco sem tempo – indo lá atrás buscar uma elegância musical que poucas vezes terá emergido no jazz português, segundo escreve Gonçalo Frota. É o tema de capa da edição de hoje:
Leiam Frota aqui aqui: "A 'cena' de [Ricardo] Toscano, [João Lopes] Pereira, [Romeu] Tristão e [João Pedro] Coelho" - o quarteto milagroso - "é especialmente deslumbrante porque soa a ontem e a hoje, não esconde uma intensa ligação com o passado ao mesmo tempo que não se demite de pensar a música para além de qualquer constrangimento temporal. Soa tão antiga, pelo conforto de nos encontrarmos diante de uma combinação de elementos reconhecível e familiar desde os anos 50/60, quanto nova".
Um disco pode salvar músicos, dizem-nos. Acreditamos. O White Album, dos Beatles, por exemplo. É um álbum que pela sua extensão e abrangência estética muitos consideram intrigante, outros vêem como frustrante - e quase todos viram nele o retrato de uma banda a implodir. 50 anos depois, na edição comemorativa do menos ordeiro álbum do quarteto (é hoje reeditada em CD, LP e Blue-Ray), Gonçalo Frota e Mário Lopes contam a história. E ouviram os músicos que o White Albumsalvou.
Ponham ainda em agenda: acaba de chegar às livrarias a primeira tradução da controversa biografia do controverso repórter Ryszard Kapuscinski (os críticos acusavam-no de exagerar a realidade). E agora, estreia Mais Um Dia de Vida, filme baseado no relato da viagem que o repórter de guerra polaco fez a Angola antes da independência. É um híbrido que combina a animação com entrevistas aos amigos angolanos de Kapuscinski e imagens reais de Angola hoje e em 1975, e algumas fotos que o próprio Kapuscinski tirou. O desafio, a aventura e as zonas nebulosas do mito estão já aqui, no texto de Bárbara Reis: Pronto para ser co-piloto de Kapuscinski em Angola?
Já invadiu exposições, já foi censurada, já passou por importantes instituições das artes do Brasil. É um dos nomes mais desafiadores de uma nova geração de artistas brasileiros. Vamos vê-la no Maus Hábitos, no Porto, a partir de dia 15, na colectiva Adorno Político. Com curadoria de Tales Frey, a exposição reúne obras de artistas brasileiros de diferentes gerações, da performance, body art, vídeo, fotografia, corpos e existências fora da norma; corpos historicamente subalternizados na esfera política, social, artística. Questões relacionadas com o sexismo, o racismo, a LGBTfobia e as heranças da colonização atravessam a exposição e são indissociáveis da prática militante de Lyz Parayzo, a artista de quem falamos, pessoa trans não-binária, criada numa família pobre que não pediu licença para entrar no circuito artístico brasileiro. Mariana Duarte entrevista-os, Lyz Parayzo e o curador Tales Frey.
Hipnótico, tragicamente cómico, grotesco, O Tango de Satanás é um romance sobre um mundo em decadência (o cineasta Béla Tarr filmou-o). Traz finalmente à edição portuguesa um dos mais inovadores autores contemporâneos: László Krasznahorkai. Lê-lo é uma tarefa de resistência com recompensa assegurada, diz Isabel Lucas. Que entrevista Krasznahorkai.
Deixo-vos com o paradoxo que começa por instalar a crónica de António Guerreiro: actualmente, é mais fácil para nós imaginarmos o fim do mundo do que o fim do capitalismo...

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