sábado, 17 de outubro de 2020

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”

 

  • Hélio Brambilla

Muito se tem falado e escrito sobre a recuperação do Brasil pós-Covid, apesar de alguns insistirem quase tão-só nos aspectos econômicos. Não deixa, contudo, de ser verdade que os indicadores econômicos funcionam como as muretas nas rodovias: se não as há, corre-se o risco, em caso de acidente, de rolar ribanceira abaixo, ou ainda de invadir a pista contrária e consumar uma tragédia. Com efeito, a pista de rolagem é o que realmente importa para o condutor atento.

Além do mais, não podemos nos submeter à mentalidade marxista de considerar que o centro de tudo é a economia. Ela é apenas parte componente, pois o núcleo verdadeiro são os valores morais e a virtude empreendedora das forças vivas, ou ainda a capacidade real de o país enfrentar seus opositores internos e, sobretudo, externos, que maquinam contra o verdadeiro progresso, e manter a brasilidade em pé.

O Presidente advertiu há poucos dias sobre períodos amargos que poderão advir no início de 2021, quase todos sob o ponto de vista econômico. É verdade que governadores e prefeitos mancomunados com forças escusas internacionais obrigaram a população a uma prisão domiciliar, batizada com lindos nomes como quarentena, lockdown, distanciamento social, entre outros. Isso levou ao desemprego milhares de pessoas em decorrência do fechamento de mais de 600 mil empresas em todo o Brasil.

Se isso é verdade, temos alguns fatores positivos em sentido contrário. Citarei quatro deles.

  1. Agronegócio: serão gerados mais de 700 bilhões de reais de Valor Bruto de Produção (VBP). Esse índice calcula uma riqueza que não existia, a qual nasceu, cresceu e foi colhida por detrás das porteiras. Em 2020, nossas exportações de produtos agropecuários certamente ultrapassarão a casa dos 100 bilhões de dólares.
  2. Exportações: estão batendo recordes, puxadas pelo minério de ferro e pelo petróleo.
  3. Poupança: ao que parece, o temor da crise levou o povo a poupar. Pela primeira vez na nossa história, a poupança da população ultrapassou a casa de um trilhão de reais.
  4. Reservas cambiais: outro fator que deve ser lembrado são as reservas cambiais, que em setembro de 2020 representavam 344 bilhões de dólares. Esse patamar não é nada desconfortável, uma vez que poucos países podem usufruir desse privilégio.

Enumeramos esses pontos para mostrar que, ao lado das previsões catastrofistas desejosas a todo custo de empurrar o Brasil para a esquerda, existem reservas morais e riquezas incomensuráveis em nosso País. O interesse mais imediato das presentes linhas é mostrar como as forças do Brasil real não estão em convergência com a visão entreguista dos comunistas de plantão: aqueles da “esquerda-caviar”, que pouco se importam com a mortandade de pessoas indefesas.

Outro Brasil está se levantando e se impondo. Por exemplo, um pequeno município de 40 mil habitantes no norte do Paraná, Santo Antônio da Platina, acaba de dar um exemplo ao Brasil e ao mundo. Os vereadores queriam votar aumentos descabidos em seus salários. O salário do prefeito subiria de R$ 14.760,00 para R$ 22.000,00, enquanto o deles ascenderia de R$ 3.745,00 para R$ 7.500,00.

A cidade se levantou como um todo. O comércio fechou. A população se reuniu na Câmara para protestar. O resultado foi que, em vez de aumentarem, os salários diminuíram. O prefeito passará a ganhar R$12.000,00 e os vereadores R$970,00, ou seja, menos que um salário mínimo.

Em escala mundial, outro exemplo foi o da Croácia. Com a herança maldita da nomenclatura comunista, a alta cúpula governista ganhava somas exorbitantes. No entanto, a corajosa ex-presidente Kolinda Grabar baixou pela metade os ordenados da alta cúpula dos três poderes, vendeu cinco jatinhos do governo e mais 32 carros de alto luxo da marca Mercedes Benz. Agora todos vão para o trabalho utilizando seus próprios meios de locomoção. Como resultado, o país já registra os melhores índices de crescimento da Europa.

Na Suécia, o apartamento de parlamentares é de apenas 40 metros quadrados, não há empregadas e cada um deve cuidar da própria manutenção e limpeza. O Gabinete da Câmara tem apenas 18 metros quadrados e não há nenhum secretário.

Conclusão: se em Brasília fossem adotados os exemplos citados, em breve sobraria muito dinheiro para as necessidades prementes da Nação.

Contudo, o melhor sintoma de recuperação do País que pude perceber foi de ordem religiosa e moral, na recente peregrinação ao Santuário de Aparecida por ocasião da festa de nossa Padroeira, quando milhares de devotos para lá se dirigiram caminhando a pé pelas rodovias.

Venho participando há alguns anos dessa peregrinação, mas dessa vez fiquei um pouco apreensivo por causa da campanha contrária a esta manifestação de piedade tradicional feita pelo arcebispo e pelo clero melancia que fechou as igrejas durante a pandemia a fim de desestimular qualquer romaria.

Tendo como pretexto a Covid, espalharam o boato de que os portões do estacionamento estariam fechados, que as poucas missas seriam em lugar com acesso restrito e que não haveria confissões para os fiéis. Mesmo assim, os romeiros não deram a menor atenção e afluíram aos milhares.

A única notícia da mídia cúmplice foi que à meia-noite do domingo um peregrino morreu atropelado. A lamentável ocorrência foi obra de um louco, bêbado ou drogado que perdeu o controle do carro e atropelou um pobre casal que ia agradecer por ter terminado sua casa. A esposa sobreviveu e passa bem. No entanto, essa mesma mídia cúmplice não noticiou que no mesmo dia três pessoas morreram afogadas em Brasília…

Terrorismo psicológico em mão dupla. O clero cúmplice de um lado e a extrema imprensa de outro. Tudo para mutilar a índole cristã do povo brasileiro.

Talvez pela pressão sobre o bispo e o clero, consentiram que além da passagem diante da imagem, somente ficassem abertos os portões do estacionamento e os dos banheiros do porão da basílica. O resto era literalmente uma “cortina de ferro”, pois todos os lugares de acesso estavam fechados com centenas de metros de tapumes de aço, que davam a sensação de estarmos num verdadeiro campo de concentração nazista ou comunista, aliás, bem no feitio da psicologia esquerdista do arcebispo.

Em um dos corredores, no momento em que um padre de batina que guiava romeiros ia impor um escapulário ou uma medalhinha a uma senhora que lhe havia pedido, os seguranças os ameaçaram, nos mesmos moldes das cenas de Wuhan, na China, e de governadores e prefeitos comunistas no Brasil durante a quarentena.

Não contente, o arcebispo da “teologia da libertação”, que no mesmo dia 12 de outubro do ano passado fez um discurso de cunho esquerdista e antigovernista, contra o dragão do tradicionalismo, neste ano falou contra as queimadas e o corte das árvores.

Os romeiros da Padroeira não deram a menor atenção às proibições e furaram o bloqueio ao percorrerem dezenas de quilômetros a pé, desdenhando a ideologização de uma data que lhes é tão sagrada. Um peregrino arguto comentou com muito espírito: “Nem a Covid, nem o episcopado, nem o clero da teologia da libertação conseguem tirar a fé do povo brasileiro”.

Quando em 12 de outubro de 1978 Plinio Corrêa de Oliveira organizou uma peregrinação da TFP (Tradição Família e Propriedade) a Aparecida, em desagravo pelo atentado que a imagem sofrera, ele comentou que havia como que uma centelha de absoluto na rota de Aparecida, ou seja, algo à maneira de um pequeno facho da luz celeste que iluminava os caminhantes.

Pude constatar algo disso na fisionomia dos peregrinos de 2020, e creio que tenham sido a fé, a determinação e o ânimo decorrentes dessa luz que levaram incontáveis brasileiros a desafiar a pandemia e palmilhar com destemor vias dos quatro quadrantes para chegar aos pés da Padroeira.

Era isso que o arcebispo teria a obrigação discernir e incentivar. E não ficar falando de queimadas e de outros temas que não são atribuição da esfera espiritual, da qual, infelizmente, ele cuida tão mal. Para isso há um poder temporal que Nosso Senhor Jesus Cristo definiu muito bem nos Evangelhos: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12,17).

Ó Senhora Aparecida, Esposa do Divino Espírito Santo, pedi uma centelha do fogo que desceu em Pentecostes a fim de que se renovem o Brasil e toda a face da Terra!

ABIM

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